quarta-feira, 21 de março de 2012

Ramesh S. Balsekar - Sobre Nisargadatta Maharaj

Embora pareça surpreendente, Maharaj era um ator soberbo. Seus traços tinham muita mobilidade e ele tinha olhos grandes e expressivos. Quando narrava um incidente ou discutia algum assunto seus traços respondiam espontaneamente a suas palavras e ações. Sua fala era muito articulada e quando falava ele fazia uso livre de gestos. Portanto, uma coisa era ouvir as fitas com as gravações de seus discursos e outra bem diferente escutar sua voz vibrante acompanhada das gesticulações apropriadas. Ele era um tremendo ator, uma estrela.
Certa manhã, dentre os ouvintes havia um ator europeu muito conhecido. Maharaj estava explicando como a imagem que temos de nós mesmos não é muito fiel. Ela fica mudando de tempos em tempos de acordo com as mudanças de circunstâncias. Ele percorreu por toda a gama de nosso tempo de vida, descrevendo a imagem que temos de nós mesmo quando crianças, não desejando nada além de mamar no peito; depois como um adolescente cheio de saúde e com ambições de conquistar o mundo, depois um homem apaixonado, seguindo para um provedor do sustento da família, com responsabilidades familiares e passando finalmente para um homem doente, que mal consegue abrir a boca incapaz até mesmo de controlar as funções de seu corpo. Qual é o verdadeiro você? Qual dessas diferentes imagens? Ele perguntava.
A narração de Maharaj era viva com ações e efeitos sonoros apropriados aos vários estágios da vida que ele descrevia. Era um puro drama! Escutávamo-nos com uma perplexa admiração e o ator profissional ficou espantado. “Nunca antes vi uma performance tão brilhante”, ele disse, embora ele não entendesse nenhuma palavra da língua que Maharaj falava de maneira tão efetiva. Ele ficou simplesmente encantado.    
Enquanto ele estava maravilhado, Maharaj, com um brilho malicioso em seus olhos disse-lhe: “Sou um bom ator, não sou?” E acrescentou: Contudo, você entende realmente onde estou querendo chegar? Sei que você apreciou essa pequena performance minha. Mas o que você viu agora não é nem mesmo uma parte infinitesimal do que eu sou capaz de fazer. O universo inteiro é meu palco. Eu não apenas atuo, mas construo o palco e o equipamento, escrevo o roteiro e dirijo os atores. Sim, eu sou o ator atuando os papeis das milhões de pessoas, e tem mais, este show nunca termina! O roteiro está sendo escrito continuamente, novos papeis estão sendo criados, novos cenários estão sendo erguidos para muitas situações diferentes. Não sou um ator/diretor/produtor maravilhoso?
A verdade, entretanto, ele adicionou, é que cada um de vocês pode dizer o mesmo sobre si mesmo. Mas é irônico, de fato, que embora você possa realmente sentir com uma profunda convicção que é assim, o show acaba para você! Você pode perceber que é apenas você que está atuando o papel de cada personagem no mundo? Ou você irá confinar-se ao pequeno papel que você designou para si mesmo e viverá e morrerá nesse insignificante papel?

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom!
Parabéns.