sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ramesh S. Balsekar - A única verdade que não é um conceito é o sentido de presença, aqui e agora.

Pergunta: Eu acho você um personagem muito interessante. De fato, há muitos personagens interessantes nesta sala. Por que é que eu acho algumas pessoas mais interessantes do que as outras?
Ramesh: Basicamente, cada individuo é realmente um padrão individual de energia em vibração. Quando você encontra dois organismos onde os padrões são harmoniosos, você diz, “eu gosto dessa pessoa”.
Então, o padrão individual de energia em vibração responde. É possível então, que quando eu estou falando, a energia que transpira, atraia certos padrões individuais. Indo um passo adiante: é por isso que estes padrões individuais foram aqui reunidos para este propósito. É tudo parte do funcionamento da manifestação. Quando você vai ao potencial do Vácuo (Vazio), tudo isso é sem sentido: limitações, iluminação, conhecimento, tudo isso é baboseira! Você não precisa disso. Você apenas vê o funcionamento impessoal da manifestação que simultaneamente, espontaneamente surgiu do não-manifesto. A totalidade de todas as coisas veio do Nada. Certo, isso está entendido. Isso é tudo que precisa ser entendido, mesmo fenomenalmente. O resto é totalmente desnecessário. Mas como você descende, o individuo pensa que ele é um individuo e então mais palavras são necessárias.
Pergunta: Tudo que você está falando a respeito, não é um conceito?
Ramesh: É claro! A única verdade que não é um conceito é o sentido de presença, aqui e agora. O sentido de presença impessoal, “Eu sou”, e não o “eu sou Joe ou Jane”. Este sentido impessoal de presença no momento presente é a única verdade.
Pergunta: Seja a abordagem de Ramana Maharshi ou a do Nisargadatta Maharaj ou a sua, são um conceito?
Ramesh: Ó sim, mas ambos deixaram perfeitamente claro: nada foi criado, nada foi destruído. É tudo um sonho, e não há individuo além de uma aparência na consciência.
Pergunta: O despertar leva à consciência que persiste vinte e quatro horas por dia?
Ramesh: Sim, mas não há ninguém para estar consciente daquela ciência. Essa é a chave para a coisa toda. Não há individuo, nenhum ego para estar ciente daquela ciência. A ciência apenas está lá!
Pergunta:Mas, Ramesh, se tudo é dissolvido, como podemos nos render!?
Ramesh: Esse é o ponto; tudo se dissolve. Não há nenhum “alguém” para render-se, nem “alguém” para compreender. A rendição acontece. A compreensão acontece sem que nenhum individuo compreenda ou renda-se. E essa é a transformação; o desaparecimento do “eu”, da “pessoa”, do “quem”.
Pergunta: Então não há nenhum medo da rendição, nenhum sacrifício.
Ramesh: Exatamente! Enquanto há alguém para sacrificar, não é sacrifício. Pegue a humildade. Você diz, “Eu sou humilde. Eu não sou orgulhoso”. As pessoas mais orgulhosas fazem atos de humildade. A real humildade significa a ausência daquilo que pode sentir-se humilde ou orgulhoso. Isso é humildade verdadeira. Isso é compaixão verdadeira, quando não há ninguém que sinta, “eu estou sendo compassivo”. Existe amor quando não há ninguém para dizer, “eu amo”. Compaixão, amor, humildade, esses são vários nomes para aquele estado do aqui e agora, sem o “eu”.
Pergunta: Se todo esse mundo de pessoas e tudo se dissolvesse, o que a consciência seria?
Ramesh: Tudo o que permanece é a Consciência. A manifestação não estaria lá. A aparência não estaria lá.
Pergunta: O que haveria?
Ramesh: Aquilo que Sempre esteve: a plataforma divina, a consciência, a Totalidade, o verdadeiro sujeito uno, o Nada potencial, Deus, qualquer nome que você dê a isso.
Pergunta: Eu sei, mas com o que isso se parece?
Ramesh: Não se parece com nenhuma coisa, pois isso não é uma coisa.
Pergunta: Aceitar a vida como o funcionamento impessoal da totalidade é um retorno à devoção?
Ramesh: Sim, do ponto de vista devocional, é pura devoção. Do ponto de vista do conhecimento, é o retorno à impessoalidade.