quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Hakim Sanai (Sufi do século XII) - Orientação da minhoca


Deus sabe o quão profundo ou raso cada alma pode navegar,
Ele conhece a imagem de cada criatura. Deus cria a tua sabedoria
como parte da sabedoria Dele, não há mente nisso.
A mente é feita dos elementos, assim como os desejos vem ao corpo.

Outro conhecimento vive fora do tempo.
Silêncio diante disso é a maior eloquência, a sua melhor vida.
Você não tem nenhum desejo capaz de desejar por aquilo
que Deus já fez para você. Conecte o amanhã com hoje e,
entre numa nova alegria.

Deus fala! Isso é o bastante! Deus está procurando por você!
Seja como um aleijado. Permaneça calmo, e em um lugar;
a ignorância está justamente com aquela inteligência.
Aquele que transforma o existente em não-existente,
Pára o ritmo menstrual para construir uma criança.

A tua forma contém o mistério de Deus nela.
Deus te conhece muito melhor do que conheces a ti mesmo.
Não chora teus pesares. Deus já o está fazendo.
Ele ouve os passos das formigas no chão, a pedra à noite,
a pedra deslocando-se no rio e ouve as minhocas
cantando em louvor no interior da terra.

Assim como a minhoca recebe substância da terra na qual ela se move,
orientação nos é dada. Segue o que vives internamente, o que te foi dado;
ou chegarás ao final nadando num oceano da tua própria vergonha.

P. D. Ouspensky - Lembrança de si

Lembrar de si mesmo significa a mesma coisa que estar ciente de si - significa “eu sou”. Às vezes vem por si mesmo; é um sentimento muito estranho. Não é uma função, não é pensamento, não é sentimento; é um estado diferente de consciência. Por si mesmo ele vem apenas por momentos muito curtos, geralmente em arredores completamente novos, e dizemos para nós mesmos: 'Que estranho. Eu estou aqui'. Isso é lembrança de si, neste momento você lembra de si mesmo. Mais tarde quando você começa a distinguir estes momentos, você chega a uma outra conclusão interessante: você percebe que o que você se lembra da infância são somente os lampejos de lembrança de si, pois tudo o que você sabe de momentos ordinários é que as coisas aconteceram. Você sabe que você esteve lá, mas não se lembra de nada de maneira exata; mas se este flash acontece, então você recorda de tudo o que circundava aquele momento.

Para mim, pessoalmente, no início, a idéia mais interessante foi aquela da lembrança de si. Eu simplesmente não podia compreender como as pessoas puderam perder uma coisa dessas. Toda filosofia e psicologia européia simplesmente perderam este ponto. Existem vestígios disso nos antigos ensinamentos, mas eles estão tão bem disfarçados e colocados entre as coisas menos importantes que você não pode ver a importância da idéia. Quando tentamos manter todas essas coisas em mente e observarmos a nós mesmos, chegamos à conclusão muita definida de que no estado de consciência em que estamos, com toda essa identificação, consideração, emoções negativas e ausência de lembrança de si, nós estamos realmente adormecidos. Nós só imaginamos que estamos acordados. Por isso, quando tentamos lembrar de nós, isso significa somente uma coisa, nós tentamos acordar. E conseguimos despertar por um segundo, mas em seguida dormimos novamente. Este é o nosso estado de ser, então realmente estamos dormindo. Podemos acordar apenas se corrigirmos muitas coisas na máquina (corpo/mente/sentimento), e se trabalharmos muito persistentemente sobre esta idéia de despertar, e por um longo tempo.

A expressão, "lembrar de si mesmo” é usada especialmente, intencionalmente, porque em conversas comuns muito frequentemente dizemos: 'Ele esqueceu de si mesmo', ‘ele não lembrou dele mesmo', ou ‘ele lembrou de si mesmo à tempo’. Na realidade, nós nunca lembramos totalmente de nós mesmos. Nós nunca lembramos no momento. Nós nunca percebemos que estamos presentes, que estamos conscientes, que estamos aqui. Isto deve ser entendido, e, ao mesmo tempo, é preciso entender que, se fizermos esforços suficientes e por um período suficientemente longo, podemos aumentar a nossa capacidade para lembrar de nós mesmos, começamos a nos lembrar com mais frequência, começamos a nos lembrar com mais profundidade.