segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Philokalia - São Máximo o Confessor - Sobre o Amor

O amor é um estado sagrado da alma dispondo-a a valorizar o conhecimento de Deus acima de todas as coisas criadas. Não podemos atingir a posse duradoura de tal amor enquanto estivermos apegados a qualquer coisa mundana.

O desapego engendra o amor, a esperança em Deus engendra o desapego e a paciência e a abstenção engendram a esperança em Deus, esses por sua vez são o produto do total autocontrole, o qual surge do temor a Deus. O temor a Deus é o resultado da fé em Deus.

Se tudo o que existe foi feito por Deus e para Deus e Deus é superior às coisas criadas por Ele, aquele que abandona o que é superior e devota-se ao que é inferior mostra que valoriza as coisas feitas por Deus mais do que o próprio Deus.

Uma vez que a alma é mais nobre que o corpo e que Deus é incomparavelmente mais nobre do que o mundo criado por Ele, aquele que valoriza o corpo mais do que a alma e o mundo criado por Deus mais do que o próprio Criador é simplesmente um adorador de ídolos.

Sendo que a luz do conhecimento espiritual é a vida do intelecto e sendo que essa luz é engendrada pelo amor por Deus, é correto dizer que nada é mais elevado do que o amor divino. (ref. 1 Cor. 13:13)

Quando na intensidade de seu amor por Deus o intelecto sai de si mesmo, ele não tem o sentido de si ou de qualquer coisa criada. Pois quando é iluminado pela luz infinita de Deus ele torna-se insensível a todas as coisas feitas por Ele, da mesma forma que os olhos tornam-se insensíveis às estrelas quando o sol nasce.

Todas as virtudes cooperam com o intelecto para produzir esse intenso anseio por Deus e acima de tudo a oração pura. Pois ao pairar em direção a Deus através dessa oração o intelecto eleva-se acima do reino dos seres criados.

Quando o intelecto é arrebatado através do amor pelo conhecimento divino e fica fora do reino dos seres criados ele torna-se ciente da infinitude de Deus. É então que, de acordo com Isaías, um sentimento de assombro o torna consciente de sua própria baixeza e com toda sinceridade ele repete as palavras do profeta: "Estou perdido, quão desprezível eu sou! Pois sou homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros e meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos" (Isa. 6:5).

A pessoa que ama a Deus não pode evitar de amar todos os homens como a si mesma, mesmo que ela seja afligida pelas paixões daqueles que ainda não foram purificados. E quando eles emendam suas vidas seu deleite é indescritível e sem limites.

Aquele que genuinamente renunciou as coisas mundanas e amorasa e sinceramente serve seus semelhantes, logo é libertado de todas as paixões e é tornado participante do amor e do conhecimento de Deus.

Aquele que realizou o amor por Deus em seu coração é incansável, como diz Jeremias (ref. Jer. 17:16), em sua busca pelo Senhor seu Deus e enfrenta todo tipo de dificuldade, reprovação ou insulto de forma nobre, jamais pensando o menor mal de alguém.

Assim como o pensamento sobre o fogo não aquece o corpo, também a fé sem amor não produz a luz do conhecimento espiritual na alma.

Assim como a luz do sol atrai um olho saudável, também através do amor o conhecimento de Deus naturalmente atrai para si o intelecto puro.

Um intelecto puro é aquele divorciado da ignorância e iluminado pela luz divina.

Uma alma pura é aquela liberta das paixões e constantemente deleitada pela luz divina.

A ausência de paixões é uma condição pacífica da alma na qual a alma não é facilmente movida para o mal.

Um homem que tem sido assíduo em adquirir os frutos do amor não deixará de amar mesmo que sofra centenas de calamidades. Nosso Senhor Ele próprio orou por seus assassinos e pediu ao Pai para perdoá-los pois eles não sabiam o que estavam fazendo (ref. Luc. 23:34).

Se o amor é paciente e prestativo (ref. 1 Cor. 13:4), um homem que é dissimulado e malicioso claramente aliena-se do amor. E aquele que é alienado do amor é alienado de Deus, pois Deus é amor.

Não diga que você é o templo do Senhor, escreve Jeremias (ref. Jer. 7:4), e você também não deveria dizer que a fé apenas em seu Senhor Jesus Cristo pode salvá-lo, pois isso é impossível a menos que você também adquira amor por Ele através de seus trabalhos. Pois no que diz respeito à fé por si só: "os demônios também crêem, mas estremecem" (Tiago 2:19).

Nós manifestamos ativamente o amor através do autodomínio e da paciência com nossos semelhantes, ao desejarmos verdadeiramente o bem deles e ao usarmos corretamente as coisas materiais.

Aquele que ama a Deus não aflige e nem é afligido por ninguém por causa de coisas transitórias.
Se um homem deseja algo, ele faz todo esforço para conseguí-lo. Mas de todas as coisas que são boas e desejáveis o divino é a melhor e a mais desejável. Quão assíduos, então, devemos ser para alcançarmos aquilo que é por sua própria natureza bom e desejável.

Pare de sujar a sua carne com ações vegonhosas e de poluir a sua alma com pensamentos maléficos, e então a paz de Deus descenderá sobre você e lhe trará amor.

Aquele ao qual o conhecimento divino foi concedido e que através do amor adquiriu a sua iluminação jamais será arrastado de um lado para o outro pelo demônio da auto estima. Mas aquele ao qual tal conhecimento não foi concedido, prontamente sucumbirá a esse demônio. Entretanto, se em tudo o que ele fizer ele mantiver seu olhar fixo em Deus, fazendo tudo por Ele, com a ajuda de Deus logo ele escapará.

Aquele que ainda não atingiu o conhecimento divino energizado pelo amor é orgulhoso de seu progresso espiritual. Mas aquele ao qual tal conhecimento foi concedido repete com profunda convicção as palavras proferidas pelo patriarca Abraaão quando lhe foi concedida a manifestação de Deus: "Sou poeira e cinzas" (Gen. 18:27).

A pessoa que teme a Deus tem a humildade como sua constante companheira e, através dos pensamentos que a humildade inspira, atinge um estado de amor divino e gratidão. Pois ela lembra-se de sua antiga forma de vida mundana, dos vários pecados que cometeu e das tentações que a atingiram desde sua juventude; ela lembra-se também de como o Senhor libertou-a de tudo isso e como Ele conduziu-a para longe dessa vida dominada pelas paixões para uma vida governada por Deus. Depois, juntamente com o temor, ela recebe também o amor e em profunda humildade continuamente agradece o Benfeitor e Timoneiro de nossas vidas.