Devoto: Como podemos realizar o Ser (o Si mesmo real)?
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Bhagavan Ramana Maharshi - Manter-se no 'eu sou' com esforço é Vichara (investigação de Si)
Devoto: Como podemos realizar o Ser (o Si mesmo real)?
sábado, 29 de agosto de 2009
G. I. Gurdjieff - 3 de agosto de 1944 - O exercício de sentir o 'eu sou' em sete partes do corpo
Vocês fizeram esse exercício? Devem ter ficado surpresos no começo. Como podemos sentir nosso 'eu' na perna? Quem dirá que isso é possível? Apenas aquele que fez o exercício pode dizer. Sem prática é absurdo. Quem fez?
Posso repetir isso muitas vezes. Não filosofe. É bem simples. Só se pode entendê-lo ao fazê-lo bem, quando se está completamente relaxado. Muitas pessoas têm maus caráteres e são nervosas. Esse relaxamento irá aquietá-las e irá levar embora tudo o que elas tem nelas que é fútil e idiota.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Nisargadatta Maharaj - O 'eu sou' é uma pequena semente que irá tornar-se uma grande árvore
Pergunta: Como aprendermos a cortar as preocupações?
M: Você não precisa se preocupar com suas preocupações. Apenas seja. Não tente ficar quieto; não torne o "ficar quieto" uma tarefa a ser executada. Não se inquiete por causa do seu objetivo de "alcançar a quietude", não se sinta miserável a respeito de "ser feliz". Apenas esteja ciente de que você é, e permaneça ciente - não diga: 'sim, eu sou; e o que vem depois?' Não há 'o depois' no 'eu sou'. Ele é um estado atemporal.
P: Se é um estado atemporal, ele vai afirmar-se de qualquer maneira.
M: Você é o que você é, atemporalmente; mas de que serve isso a menos que você saiba disso e aja de acordo com isso? Sua cumbuca de mendigar pode ser de ouro puro, mas enquanto você não souber disso, você é um mendigo. Você deve conhecer o seu valor interior e confiar nele e expressá-lo no sacrifício diário dos desejos e dos medos.
P: Se eu conhecer a mim mesmo, não terei desejos e medos?
M: Por algum tempo os hábitos mentais podem se prolongar, a despeito da nova visão; o hábito de ansiar pelo passado conhecido e temer o futuro desconhecido. Quando você sabe que eles são apenas da mente, você pode ir além deles. Quando você tem todos os tipos de idéias sobre si mesmo, você conhece a si mesmo através da névoa dessas idéias; para conhecer a si mesmo como você é, abandone todas as idéias. Você não pode imaginar o gosto da água pura, você só pode descobri-lo ao abandonar todos os sabores.
Enquanto você estiver interessado no seu modo atual de vida, você não vai abandoná-lo. A descoberta não pode vir enquanto você se agarrar ao familiar. É só quando você perceber plenamente a imensa tristeza de sua vida e se revoltar contra ela, que uma saída poderá ser encontrada.
P: Eu posso ver agora que o segredo da vida eterna da Índia encontra-se nessas dimensões de existência, das quais a Índia sempre foi a detentora.
M: É um segredo aberto e sempre houveram pessoas dispostas e preparadas para compartilhá-lo. Professores - existem muitos; discípulos sem medo - muito poucos.
P: Eu estou muito disposto a aprender.
M: Aprender palavras não é suficiente. Você pode saber a teoria, mas sem a experiência real de si mesmo como sendo o centro impessoal e incondicional da existência, do amor e da felicidade, o conhecimento apenas verbal é estéril.
P: Então, o que devo fazer?
M: Tente ser, apenas ser. A palavra muito importante é "tente". Dispenda bastante tempo diário para se sentar calmamente e tentar, apenas tentar ir além da personalidade, com seus vícios e obsessões. Não me pergunte como, isso não pode ser explicado. Você apenas continua tentando até conseguir. Se você perseverar, não poderá haver falha. O que importa acima de tudo é a sinceridade, a seriedade; você tem estado realmente farto de ser a pessoa que você é, agora veja a necessidade urgente de se livrar desta auto-identificação desnecessária com um conjunto de memórias e hábitos. Essa firme resistência contra o desnecessário é o segredo do sucesso. Afinal, você é o que você é a cada momento de sua vida, mas você nunca está consciente disso, com exceção, talvez, no momento que acorda do sono. Tudo o que você precisa é estar ciente de ser (de estar existindo), não como uma declaração verbal, mas como um fato sempre presente. A consciência de que você é irá abrir seus olhos para o que você é. É tudo muito simples. Primeiro de tudo, estabeleça um contato constante consigo mesmo, esteja com você mesmo o tempo todo. Dentro da autoconsciência todas as bênçãos fluem. Comece como um centro de observação, de cognição deliberada, e transforme-se num centro de amor em ação. O "Eu sou" é uma pequena semente que irá tornar-se uma grande árvore - muito naturalmente, sem nenhum traço de esforço.
P: Eu vejo tanto mal em mim mesmo. Não devo mudar isso?
M: O mal é a sombra da desatenção. Na luz da consciência de si mesmo, ele vai murchar e cair.
P: O que fez você decidir se tornar um professor?
M: Eu fui tornado um professor ao começar a ser chamado assim. Quem sou eu para ensinar e para quem? O que eu sou, você é, e aquilo que você é - eu sou. O 'eu sou' é comum a todos nós, para além do "eu sou" há uma imensidão de luz e de amor. Nós não a vemos porque olhamos para outros lugares, só posso apontar para o céu, ver a estrela é trabalho seu. Alguns levam mais tempo antes de verem a estrela, alguns menos; depende da clareza de sua visão e sua seriedade e sinceridade na busca. Esses devem ser próprios de você, - eu só posso incentivar.
P: O que devo fazer quando me torno um discípulo?
M: Cada professor tem seu próprio método, geralmente moldado nos ensinamentos do Guru dele e na maneira como ele próprio atingiu a realização, e bem como na sua própria terminologia. Dentro desse quadro, são feitos ajustes para a personalidade do discípulo. Ao discípulo é dada total liberdade de pensamento e de questionamento e ele é encorajado a questionar até alcançar o contentamento de seu coração. Ele deve estar absolutamente certo da capacidade e da competência de seu Guru, caso contrário, sua fé não vai ser absoluta nem a sua ação completa. É o absoluto em você que o leva ao absoluto além de você - a verdade, o amor, o altruísmo absolutos são os fatores determinantes na autorealização. Com seriedade eles podem ser alcançados.
P: Quais são os sinais do progresso na vida espiritual?
M: A liberdade de toda ansiedade; uma sensação de tranquilidade e alegria; profunda paz interior e energia abundante exteriormente.
P: Como você conseguiu isso?
M: Encontrei isso tudo na santa presença de meu Guru (Siddharameshwar Maharaj) - Eu não fiz nada sozinho. Ele me disse para ficar quieto - e eu fiz isso - tanto quanto eu pude.
P: A sua presença é tão forte quanto a dele?
M: Como vou saber? Para mim, a dele é a única presença. Se você está comigo, está com ele.
P: Cada Guru irá referir-se a seu próprio Guru. Onde é o ponto de partida?
M: Há um poder no universo trabalhando para a iluminação e a liberação. Chamamo-lo de Sadashiva, o qual está sempre presente nos corações dos homens. É o fator unificador. A unidade liberta. A liberdade une. Em última análise, nada é meu ou seu - tudo é nosso. Basta ser um com você mesmo e você será um com tudo, estará em casa no universo todo.
P: Você quer dizer que todas essas glórias virão com a simples permanência na sensação de "eu sou"?
M: É o simples que é certo, não o complicado. De certo modo, as pessoas não confiam no simples, no fácil, no sempre disponível. Por que não testar honestamente o que eu digo? Pode parecer muito pequeno e insignificante, mas é como uma semente que cresce em uma árvore frondosa. Dê a si mesmo a chance!
P: Vejo tantas pessoas aqui em silêncio. Para quê eles vieram?
M: Para encontrarem a si mesmos. Em casa, o mundo é demais para eles. Aqui nada os perturba; eles têm a chance de se afastar de suas preocupações diárias e entrar em contato com o essencial em si mesmos.
P: Se eu tirar a minha atenção daquilo que acontece, eu vou viver através do quê?
M: Novamente, isso é como perguntar: 'O que devo fazer se eu parar de sonhar?' Pare e veja. Você não precisa ficar ansioso: "Qual é a próxima coisa?" Sempre há a próxima coisa. A vida nem começa nem termina: imóvel - ela se move, momentânea - ela dura. A luz não pode ser esgotada, mesmo se inúmeras imagens forem projetadas por ela. Assim, a vida preenche todas as formas até a borda e retorna à sua fonte quando a forma se rompe.
P: Se a vida é tão maravilhosa, como poderia acontecer a ignorância?
M: Você quer tratar a doença sem ter visto o paciente! Antes de perguntar sobre a ignorância, por que você não pergunta em primeiro lugar, quem é o ignorante? Quando você diz que você é ignorante, você não sabe que você impôs o conceito de ignorância sobre o estado atual de seus pensamentos e sentimentos. Examine-os conforme eles ocorrerem, dê a eles toda a sua atenção e você verá que não existe algo como a ignorância, apenas desatenção. Dê atenção ao que preocupa você, isso é tudo. Afinal, preocupação é dor mental e a dor é invariavelmente um chamamento por atenção. No momento que você dá atenção, o chamamento por ela cessa e a questão da ignorância, dissolve-se. Em vez de querer uma resposta para sua pergunta, descubra quem está fazendo a pergunta e o que a faz perguntá-la. Você vai logo descobrir que é a mente, instigada pelo medo da dor, que faz a pergunta. E no medo há memória e antecipação, passado e futuro. A atenção traz você de volta ao presente, ao agora, e a presença no agora é um estado sempre à mão, mas raramente observado.
P: Você está reduzindo o sadhana (a prática espiritual) à simples atenção. Como é que outros professores ensinam cursos difíceis e muito demorados?
M: Os Gurus geralmente ensinam sadhanas pelos quais eles mesmos tenham atingido seu objetivo, qualquer que seja seu objetivo. Isso é natural, pois o seu próprio sadhana eles conhecem intimamente. Fui ensinado a dar atenção ao meu sentido de "eu sou" e descobri que isso era extremamente eficaz. Portanto, posso falar sobre isso com plena confiança. Mas muitas vezes as pessoas vêm com seus corpos, cérebros e mentes tão mal administrados, pervertidos e fracos, que o estado de atenção sem forma está fora de seu alcance. Em tais casos, alguma demonstração mais simples de seriedade é adequada. A repetição de um mantra, ou focar o olhar numa foto irá preparar seus corpos e mentes para uma busca mais profunda e direta. Afinal, é a seriedade e sinceridade que são indispensáveis, o fator crucial. O Sadhana é apenas um vaso e ele deve ser preenchido até a borda com seriedade, que é na verdade - amor em ação. Pois nada pode ser feito sem amor.
P: Nós amamos apenas a nós mesmos.
M: Se fosse assim, seria ótimo! Ame a si mesmo sabiamente e você vai chegar ao cume da perfeição. Todo mundo ama o seu corpo, mas poucos amam o seu Ser real.
P: O meu Ser real precisa do meu amor?
M: Seu Ser real é o amor em si e seus muitos amores são reflexos dele de acordo com a situação no momento.
P: Nós somos egoístas, conhecemos apenas o amor-próprio.
M: É bom o bastante para um começo. De qualquer modo, deseje o bem a você mesmo. Pense a respeito, sinta profundamente o que é realmente bom para você e lute por isso com seriedade. Muito em breve você vai descobrir que o real é o seu único bem.
P: Ainda assim eu não entendo por que os vários Gurus insistem em prescrever sadhanas complicados e difíceis. Eles não conhecem nada melhor?
M: Não é o que você faz, mas o que você pára de fazer que importa. As pessoas que começam seu sadhana estão tão fervorosas e agitadas, que têm que estar muito ocupadas para se manterem no caminho. Uma rotina que absorva é boa para eles. Depois de algum tempo, eles se acalmam e desviam-se do esforço. Em paz e silêncio a casca do 'eu' se dissolve e o interior e o exterior tornam-se um. O sadhana real é sem esforço.
M: A essência da escravidão é que você não entendeu realmente que você está sonhando – é a mistura do real com o irreal. No seu atual estado apenas o sentido 'eu sou' refere-se à realidade, o "o quê eu sou” e o "como eu sou" são ilusões impostas pelo destino, ou pelo acidente.
P: Quando é que o sonho começou?
M: Parece ser sem princípio, mas na verdade é só agora. De momento em momento você está renovando-o. Uma vez que você viu que está sonhando, você deveria acordar. Mas você não vê, porque você quer que o sonho continue. Chegará o dia em que você vai desejar que o sonho termine, com todo seu coração e mente e estará disposto a pagar qualquer preço; o preço será o desapego e desprendimento, a perda de interesse no próprio sonho.
As pessoas são diferentes. Mas todos são confrontados com o fato de sua própria existência. "Eu sou" é o fato derradeiro; 'Quem sou eu?" é a questão fundamental para a qual todos têm de encontrar uma resposta.
P: A mesma resposta?
M: A mesma em essência, variada na expressão.
sábado, 22 de agosto de 2009
Siddharameshwar Maharaj - O suporte de tudo
Eventualmente, as posses acima mencionadas começam a encolher uma a uma. Quando as posses começam a se esvair de acordo com a lei da natureza, a memória do choque que ele recebeu inicialmente balança-o até suas raízes mais profundas e ele torna-se frustrado. Em pânico ele questiona: “O que farei agora? Estou perdendo suportes de todos os lados. O que acontecerá comigo?” Entretanto, esse homem ignorante não entende que todas essas posses tinham apenas um suporte sólido, que era a própria Existência dele, ou o sentido de “Eu Sou”. É através desse suporte apenas, que o dinheiro tinha o seu valor, que a esposa dele parecia charmosa, que as honras recebidas pareciam valer a pena, que a aprendizagem deu-lhe sabedoria, a sua forma adquiriu beleza e sua autoridade empunhava poder.
Ó pobre homem, você próprio é o suporte de toda a riqueza acima mencionada! Pode haver maior paradoxo do que sentir que a riqueza lhe dava suporte? Se somado à essa riqueza, poder, mulher, juventude, beleza da forma e honra, a pessoa adquirisse fortuna desonestamente, quão estranhas e pervertidas suas ações se tornariam?
Um poeta escreveu certa vez (descrevendo as palhaçadas da mente humana), “Primeiramente é um macaco, somado a isso, fica bêbado e além disso um escorpião o pica”. Mesmo tal poeta largaria sua caneta ao ver os ridículos absurdos desse ser humano e daria adeus aos seus talentos poéticos. O tipo de homem que considera seu corpo como Deus e está absorto em adoração a ele dia e noite, deveria ser considerado como um sapateiro. Há um provérbio apropriado que diz que um Deus chambhar* deveria ser adorado somente de sapatos. Isso nos diz a maneira que esse “Deus” (o corpo) de tal homem tem de ser adorado. A devoção de um ateísta é alimentar o corpo e sua liberação é a morte do corpo. Para tal homem cujo objetivo final da vida é alimentar o corpo e sua liberação é a morte não existe elevação acima do nível do corpo grosseiro. Não é surpresa no seu caso, que se devido a algum infortúnio, ele perdesse toda sua riqueza, ele ainda emprestaria dinheiro para satisfazer os seus hábitos de comida, bebida e diversão. Se os credores fossem atrás dele, ele declararia insolvência para se livrar de toda situação. Quando a morte o atinge, finalmente ele apenas cai morto. Ele morre assim como veio. Poderia haver algo mais trágico ou lamentável do que esse tipo de vida?
Por que deveria a mulher que despeja louvores em seu marido por dar-lhe um lindo brinco para o nariz, pensar no Senhor, que proveu-lhe um nariz para colocá-lo? Da mesma maneira, como podem os animalísticos seres humanos que olham apenas para o corpo como sendo tudo e o final de tudo da vida, ver Deus? Aquele cujo poder dá ao Sol a sua existência como Sol, à Lua sua existência como Lua, aos Deuses sua existência como Deuses, é Deus o Todo Poderoso. É Ele que é o suporte de tudo, que está presente no coração de todos os seres e se tornou invisível ao homem.
Aqueles cujos olhos são treinados em objetos externos vêem apenas aquilo que é externo. A palavra “Aksha” é um sinônimo para “olho” em Marathi. “A” é exatamente a primeira letra do alfabeto, e “ksha” é uma das últimas consoantes. Isso significa que o que os olhos vêem estará contido dentro do âmbito dessas duas letras do alfabeto. Eles trarão apenas informação ou conhecimento dos objetos externos. Os objetos grosseiros serão visualizados pelos olhos grosseiros, e o que é sutil será sentido pelos sentidos que são sutis. Entretanto, uma letra do alfabeto que vem depois de “ksha” em Marathi é “gnya”. A letra “gnya” indica o Conhecimento que não pode ser visto nem pelo olho grosseiro externo, nem pelo olho sutil do intelecto. Portanto, o intelecto e os sentidos indicam o “olho” com o sinônimo “aksha”. Como o olho, os outros órgãos dos sentidos, ouvido, nariz, língua, estão todos apontando para fora e continuam a existir pela força dos objetos externos.
O “Rei do Conhecimento” (“Eu Sou”) influencia todos os sentidos e parece garantir aos sentidos a “senhoria” sobre os objetos dos sentidos. É por causa dessa exteriorização que o fato de Ele estar antes dos sentidos, não atrai a atenção de ninguém. Através de muitos nascimentos, a mente e o intelecto têm adquirido o hábito de apenas olhar para fora. Portanto, “voltar-se para dentro” tornou-se uma tarefa muito difícil. Esse é chamado de “o caminho reverso” o qual os Santos seguem quando voltam-se para a direção oposta e observam a mente completamente, abandonando ver tudo o que é externo. Onde um homem ordinário está adormecido, os Santos estão despertos, e onde um homem ordinário está desperto, os Santos cochilam. Todos os seres encontram-se acordados para os objetos externos e tornaram-se extremamente habilidosos nesse tipo de despertar. Os santos entretanto, fecharam seus olhos para as coisas externas e é o Ser, para o qual os outros seres estão adormecidos, que mantém o Santo totalmente desperto.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Ibn Arabi - O contexto e a finalidade do caminho espiritual
Assim, Deus não move um servo de um lugar para outro a fim de que o servo possa vê-Lo, mas sim "para que Ele possa fazer com que o servo veja os Seus sinais" (Alc. 41:53), os quais eram invisíveis para ele. Ele disse: "Glória para Aquele Que fez Seu servo viajar numa noite do local Sagrado de adoração para o próximo local de adoração, cujo recinto Nós abençoamos, para que pudéssemos fazer-lhe ver os Nossos Sinais!"(Alc. 17:1) E similarmente, quando Deus move algum servo através de seu estado espiritual interior, de modo também a fazer-lhe ver os Seus Sinais, Ele o move através de Seus estados... Deus diz: "Eu só fiz ele viajar pela noite, a fim de que ele visse os Sinais, e não para trazê-lo a Mim: porque nenhum lugar pode prender-Me e a relação de todos os lugares para mim é a mesma. Pois sou tal, que apenas 'o coração do Meu servo, o homem de fé verdadeira, engloba-Me,' então como ele poderia ser "levado a viajar a Mim", sendo que eu estou com ele onde quer que ele esteja?"(Alc. 57:4)
Quanto aos santos, eles têm jornadas espirituais no mundo intermediário, durante as quais eles diretamente testemunham as realidades espirituais (ma'ani) incorporadas nas formas que se tornaram sensíveis para a imaginação; essas imagens sensíveis transmitem o conhecimento das realidades espirituais contidas dentro dessas formas. E assim eles têm uma jornada espiritual na terra e no ar, sem jamais terem sensorialmente colocado os pés nos céus. Pois o que distinguiu o Mensageiro de Deus de todos os outros (dentre os santos), foi que o corpo dele foi levado a viajar, de modo que ele passou através dos céus e das esferas de uma forma perceptível aos sentidos e percorreu distâncias reais, possíveis de serem sentidas. Mas tudo aquilo dos céus também pertence aos seus herdeiros, apenas em sua realidade espiritual (ma'na), não na sua forma sensível.
Assim, para aquilo que está acima dos céus, vamos mencionar o que Deus fez-me testemunhar diretamente; em particular, a jornada das Pessoas de Deus. Pois suas jornadas são diferentes (na forma), porque são realidades espirituais incorporadas na imaginação, ao contrário da jornada sensível do Profeta. Deste modo as ascensões (ma'arij) dos santos são as ascensões de seus espíritos e a visão de seus corações, a visão de formas no mundo intermediário e das realidades espirituais incorporadas. Portanto, sempre que Deus quer viajar com o espírito de quem Ele deseja entre os herdeiros de Seus mensageiros e Seus santos, para que Ele possa fazer-lhes ver Seus Sinais (Kor. 17:1) - pois essa é uma jornada para aumentar o conhecimento deles e abrir os olhos de sua compreensão - as modalidades de suas jornadas são diferentes para diferentes pessoas: e dentre elas estão aquelas às quais Ele causa a viagem Nele mesmo.
Agora essa viagem em Deus envolve a "dissolução" da natureza múltipla deles. Através dessa jornada, Deus, em primeiro lugar familiariza-os com o que corresponde a eles em cada mundo (de ser), ao passar com eles através dos diferentes tipos de mundos, ambos os compostos e os simples. Então, o viajante espiritual deixa para trás em cada mundo aquela parte de si próprio correspondente àquele mundo: a forma de deixar isso para trás é que Deus envia uma barreira entre a pessoa e aquela parte dela mesma que ela deixou para trás naquele tipo de mundo, de modo que ela não tenha conhecimento dela. Mas ela ainda tem a consciência daquilo que continua com ela, até que finalmente permanece sozinha com o Mistério divino que é o "aspecto específico" que se estende de Deus para ela. Então, quando apenas ela permanece (sem nenhum daqueles outros apegos com o mundo), em seguida, Deus retira dela a barreira do véu e ela permanece com Deus, assim como todo o resto nela permaneceu com o mundo correspondente a si. Assim, por toda essa jornada o servo permanece Deus e não-Deus. E, uma vez que ele permanece Deus e não-Deus, Deus faz o servo viajar - em relação a Ele, e não no que diz respeito ao que não é Ele – dentro Dele, numa jornada espiritual sutil (ma'nawi) .
Então, quando o servo tornou-se consciente do que acabamos de explicar, de forma que ele fica sabendo que ele não é criado de acordo com a forma do mundo, mas apenas de acordo com a forma de Deus (al-Haqq), então Deus o faz viajar através de Seus Nomes, de forma a fazer que ele veja Seus Sinais (Kor. 17:1) dentro de si. Assim, o servo vem a saber que Ele é o que é designado por cada Nome divino – seja ou não aquele Nome um daqueles descritos como "bonito".
É através desses Nomes que Deus aparece em Seus servos e é através Deles que o servo assume as diferentes "colorações" de seus estados: pois Eles são Nomes em Deus, mas "colorações" da alma em nós. E são precisamente os "negócios" com os quais Deus está "ocupado": portanto é em nós e através de nós que Ele age, da mesma forma que nós apenas aparecemos Nele e através Dele.
Assim, quando Deus faz o santo (al-Wali) viajar através de Seus Nomes mais belos para os outros Nomes e finalmente todos os Nomes divinos, ele vem a conhecer as transformações de seus estados e os estados de todo o mundo. E ele sabe que essa transformação é o que faz os próprios Nomes estarem em nós, assim como sabemos que as transformações de nossos estados manifestam as influências específicas (ahkam) desses Nomes ... Por isso, não há nenhum nome que Deus tenha aplicado a Si mesmo que Ele não tenha aplicado também a nós: através de Seus Nomes sofremos as transformações em nossos estados, e com Eles somos transformados por Deus... Agora, quando o viajante espiritual completou a sua quota da jornada através dos Nomes e veio a conhecer os Sinais que os Nomes de Deus deram a ele durante essa jornada, então, ele volta e "reintegra" seu Ser com uma composição diferente da natureza composta inicial, devido ao conhecimento que ele adquiriu, o qual ele não possuía quando foi "dissolvido" (na fase ascendente dessa jornada). Assim, ele continua a passar através de diferentes tipos de mundos, pegando de cada mundo aquele aspecto de si mesmo que ele havia deixado lá e reintegrando-o no seu Ser, e ele continua a aparecer em cada fase sucessiva (de ser) até que chega de volta a terra.
Então, "ele desperta entre seu povo" (como o Profeta), e ninguém sabe o que veio a ocorrer com ele no seu Ser mais íntimo (sirr) até que ele fale de sua jornada. Mas então eles ouvem-no falar uma língua diferente daquela que estão habituados a reconhecer como a dele; e se um deles disser para ele: "O que é isso?", ele responde que "Deus fez-me viajar pela noite e, em seguida, fez-me ver aqueles Seus Sinais que Ele queria que eu visse." Então, os que estão ouvindo-o dizem a ele: "Você não saiu do meio de nós, então estava mentindo a respeito disso que está afirmando." E o jurista (Faqih) entre eles diz: "Este camarada está mentindo alegando ser profeta (nubuwwa), ou o intelecto dele tornou-se demente: portanto ou ele é um herege – nesse caso ele deveria ser executado - ou então ele é louco, e nesse caso não temos nada que falar com ele." Assim, "um grupo de pessoas zombam dele" (Kor. 49:11), outros "aprendem uma lição com ele" (Kor.59:2), enquanto outros têm fé no que ele diz, portanto, isso torna-se um tema de controvérsia no mundo. Mas o jurista (Faqih) não tinha conhecimento do verdadeiro significado de Sua fala: "Vamos mostrar-lhes Nossos Sinais nos horizontes e nas suas almas ... "(Kor. 41:53), uma vez que Deus não especifica um grupo em detrimento de qualquer outro.
Portanto, quem quer que Deus faça ver alguma coisa desses Sinais no caminho que acabamos de mencionar, deveria mencionar apenas o que ele viu, mas não deveria mencionar o caminho. Pois então as pessoas terão credibilidade nele e olharão para o que ele diz, uma vez que só irão negar o que ele diz se ele alegar a respeito da forma na qual ele adquiriu esse conhecimento. Agora você deve saber que na realidade, não há diferença em relação a essa jornada entre as pessoas ordinárias e a pessoa distinguida por esse caminho e essa característica. Isso é porque essa jornada espiritual serve para ver os Sinais divinos e as transformações dos estados das pessoas comuns são como todos os Sinais: elas estão nesses Sinais, mas "não notam" (Kor. 23:56, etc). Assim, esse tipo de viajante é apenas distinto do resto das criaturas (iguais a ele), aqueles que estão velados (Kor. 83:15), por aquilo que Deus inspirou no seu Ser mais íntimo, quer através do seu pensamento e inquirição com o seu intelecto, ou através de sua preparação, ao polir o espelho de sua alma, para o desvelamento desses Sinais a ele, por meio de desvelamento interior e testemunho imediato, uma experiência direta e "descoberta" extasiada.
Assim, as pessoas comuns (quando se opõem àqueles que falam dessa jornada espiritual) estão negando precisamente Aquilo dentro do Qual elas estão e através do Qual elas subsistem. Portanto, se o viajante não mencionou a forma com a qual ele obteve o conhecimento interior dessas coisas, ninguém negará ou disputará com ele. Pois todas as pessoas comuns - e eu não excluo nem uma única delas - estão "criando imagens para Deus"; elas sempre concordaram e colaboraram com isso, assim nenhuma delas critica o outro por fazê-lo. Deus diz: "Não faça imagens para Deus ... "(Alc. 16:74) – Ainda assim eles permanecem cegos para esse Sinal. Mas, como para os amigos de Deus (Alc. 10:64-66), que não fazem imagens para Deus. Pois Deus é o que faz imagens para o povo (Alc. 14:25, 24:35), por causa de Seu conhecimento das intenções subjacentes desses símbolos, uma vez que Deus sabe. Mas nós não sabemos ver (Alc. 16:74; 3:66; 2:216). Assim, o santo (aquele verdadeiramente "perto de Deus") observa a imagem que Deus fez e naquele testemunho imediato ele realmente vê precisamente o que conecta a imagem Àquilo Que ela simboliza: pois a imagem é justamente o que é simbolizado, no que diz respeito àquilo que os conecta, mas é diferente, na medida em que é uma imagem. Portanto, o santo "não faz imagens para Deus", em vez disso, ele realmente sabe o que Deus simbolizou com aquelas imagens.
sábado, 15 de agosto de 2009
Tukaram (séc. XVII) - Quando me perco em Ti / Em mim vives Tu
Quando por fim me perco em Ti, meu Deus,
Vejo e sei então,
Que todo Yeu universo revela a Tua beleza,
Todos os seres vivos, e todas as coisas sem vida,
Existem através de Ti.
Todo este vasto mundo é apenas a forma
na qual mostras a Ti mesmo a nós,
É apenas a voz
Na qual falas a Ti mesmo para nós.
Qual a necessidade de palavras?
Venha, Mestre, venha,
E preencha-me totalmente com Ti.
_______________________________________________
Leva, Senhor, para Ti
Meu sentido de ser e faça-o esvair-se completamente.
Leva, Senhor, minha vida,
Vivas Tu minha vida através de mim.
Não vivo mais, Senhor
Mas agora em mim
Tu vives.
Sim, entre Tu e eu, meu Deus,
Não há mais espaço para “eu” e “meu”.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Jalaluddin Rumi - O despertar do verme / As visões de Daquqi
"É assim que um ser humano pode mudar:
Há um verme viciado em comer
folhas de uva.
De repente, ele acorda.
Chame isso de graça, o que quer que seja, algo
o desperta e ele já não é mais um verme.
Ele é a vinha inteira
e o pomar também, o fruto, os troncos,
uma sabedoria e felicidade crescentes
que não precisa mais
devorar."
Husam,
conta a história de Daquqi
que disse:
“Viajei o Oriente e o Ocidente sem saber
para que caminho eu estava indo, seguindo a lua,
perdido dentro de Deus.”
Alguém perguntou: “Por que você vai descalço
sobre as pedras e os espinhos?”
“O que?” - ele disse.
“O que?”
Um amante desnorteado não caminha com os pés.
Ele ou ela caminha com o amor. Não há viagens “longas”
O corpo aprendeu do espírito como viajar.
O corpo de um santo move-se de maneira incondicionada,
embora pareça ser em condicionamento.
Daquqi disse:
“Um dia eu estava indo por aí
procurando ver nas pessoas o brilho do Amigo,
para assim reconhecer o oceano numa gota,
o sol numa fagulha brilhante.
Eu vim para a costa
no crepúsculo e vi sete velas. Corri
pela praia na direção delas. A luz de cada uma
elevou-se ao céu. Fiquei maravilhado. Minha admiração
ficou admirada. Ondas de aturdimento
quebraram sobre minha cabeça.
O que são essas velas que ninguém parece ver?
Na presença de tais luzes as pessoas estiveram procurando
por lâmpadas para comprar!
Então as sete tornaram-se uma,
no meio da orla do céu.
Então aquilo
se abriu em sete novamente. Haviam conexões
entre as velas que não podem ser ditas.
Eu vi mas não posso dizer.
Corri mais perto. Caí. Fiquei deitado ali um pouco.
Levantei-me e corri novamente. Eu não tinha cabeça nem pés.
Elas se tornaram sete homens, e então sete árvores,
tão densas com folhas e frutas
que nenhum galho era visível.
Flashes de luz
brotavam de cada fruto como suco!
E o mais maravilhoso de tudo era que centenas
Faziam guarda-sóis peculiares
E nenhum via as árvores com suas tremendas sombras!
As caravanas não tinham comida, e ainda comida caía
'Olha! Aqui!'
eles teriam o considerado louco, ou bêbado.
Como isso pode acontecer? Ou estou sonhando?
Eu andei até as árvores. Comi o fruto.
Eu tenho que acreditar, portanto.
Ainda assim vejo as pessoas
com estas vinhas em torno delas,
lotadas com cachos perfeitos.
A cada segundo elas eram tanto sete quanto uma.
sem joelhos e sem cintura!
Então elas eram sete homens
Eu cheguei mais perto e acenei. Eles chamaram:
a glória e a coroa!'
'Como eles sabem meu nome?'
Eu pensei, 'eles nunca me viram antes.'
Imediatamente eles souberam meu pensamento
e sorriram uns para os outros.
'Honrado,
'Se este é o espírito da realidade,' disse a mim mesmo,
'como ele estava falando palavras e dizendo nomes?'
Um dos sete respondeu: 'Nomes, às vezes
Então todos eles disseram para mim:
'Você nos conduziria na oração?'
'Sim. Mas espere um pouco.
Estou ainda numa confusão temporária
que será resolvida estando na companhia de vocês.
Através da companhia do solo a videira cresce.
Eles consentiram, embora dizendo:
Fui libertado do tempo com horários,
Todos têm um estábulo
Você gosta de negar
"São as demandas do meu poderoso animal.”
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Meher Baba - Os estágios do Caminho
Assim como o peixe que é retirado da água anseia voltar para a água, o aspirante que percebeu o Objetivo final anseia ser unido com Deus. Na realidade, o anseio de voltar para a fonte está presente em cada ser, desde o momento em que ele é separado da fonte pelo véu da ignorância; mas o ser está inconsciente do anseio até que ele, como um aspirante, entra no caminho espiritual. A pessoa pode, num certo sentido, se acostumar à ignorância, assim como uma pessoa em um trem pode acostumar-se à escuridão de um túnel quando o trem estava passando por ele durante algum tempo. Mesmo assim, há um definido desconforto e um sentimento vago e indefinível de inquietação devido à sensação de que algo está faltando. Esse algo é percebido desde o início como sendo de enorme significado. Nos estágios de densa ignorância, esse algo é muitas vezes inadvertidamente identificado com sendo as variadas coisas deste mundo físico. Quando a experiência deste mundo está suficientemente madura, entretanto, as repetidas desilusões na vida colocam a pessoa no caminho certo para descobrir o que está faltando. A partir desse momento o indivíduo busca uma realidade que seja mais profunda do que as formas mutáveis. Esse momento pode ser descrito adequadamente como sendo a primeira iniciação do aspirante. A partir do momento de iniciação no caminho, o anseio de se unir com a fonte da qual ele foi separado torna-se articulado e intenso. Assim como a pessoa no túnel anseia pela luz muito mais intensamente depois que ela vê um vestígio de luz proveniente da outra extremidade, a pessoa que teve um vislumbre do Objetivo anseia para apressar-se na direção dele com toda velocidade que possa imprimir.
No caminho espiritual há seis estações, sendo a sétima a estação terminal, ou o Objetivo. Cada estação intermediária é, à sua maneira, uma espécie de antecipação imaginativa da meta. O véu que separa o homem de Deus é constituído de falsa imaginação e esse véu tem muitas camadas. Antes de entrar no caminho a pessoa está envolta nesse véu de múltipla imaginação, com o resultado de ela nem sequer poder cogitar o pensamento de ser diferente de um indivíduo separado, fechado e finito. A consciência-ego cristalizou-se devido ao trabalho da falsa imaginação múltipla e o anseio consciente pela união com Deus é o primeiro tremor de toda a estrutura do ego, o qual foi construído durante o período do falso trabalho da imaginação. Percorrer o caminho espiritual consiste em anular os resultados do falso trabalho da imaginação, ou deixar cair várias camadas do véu, que criou um sentimento intangível de separatividade e isolamento irremediável. Até agora, a pessoa tinha se apegado firmemente à idéia de sua existência separada, assegurando-a por trás dos formidáveis muros de espessa ignorância, mas a partir de agora, ela entra em algum tipo de comunicação com a Realidade maior. Quanto mais ela comunga com a Realidade, mais fino se torna o véu da ignorância. Com o progressivo desgaste da separatividade e do egoísmo, ela ganha um crescente sentimento de fusão com a Realidade maior.
A criação de um sentimento de separatividade é um resultado dos vôos da imaginação. Por conseguinte, a ruptura desse sentimento auto-criado de separatividade e ser unido com a Realidade são assegurados através da inversão do trabalho falso da imaginação. O ato de se livrar completamente da imaginação pode ser comparado com o ato de despertar do sono profundo. As diferentes fases no processo de libertar-se da falsa imaginação pode ser comparado com os sonhos que muitas vezes servem como uma ponte entre sono profundo e o estado totalmente desperto. O processo de se livrar do múltiplo trabalho da falsa imaginação é gradual e tem sete fases. O desprendimento de uma camada do véu da imaginação é decididamente um avanço em direção à Luz e à Verdade, mas isso não equivale a tornar-se um com a Realidade. Significa simplesmente renunciar a imaginação mais falsa em favor da imaginação menos falsa. Existem diferentes graus de falsidade da imaginação correspondentes ao grau do sentimento de separatividade constituído pela consciência-ego. Cada etapa do processo de libertar a si mesmo da falsa imaginação é um desgaste definido do ego. Mas todos os estágios intermédios no caminho, até a realização final do Objetivo, consistem em deixar um vôo de imaginação para tomar outro. Eles não conduzem à cessação da imaginação. Esses vôos da imaginação não trazem nenhuma mudança real no verdadeiro ser do 'Si mesmo real' (Self) como ele é. O que muda não é o 'Si mesmo real' (Self), mas a idéia do que ele é. Suponhamos, em um devaneio ou fantasia que você se imagine estar na China, enquanto na realidade o seu corpo está na Índia. Quando a fantasia chega ao fim, você percebe que seu corpo não está, de fato, na China, mas na Índia. Do ponto de vista subjetivo, isso é como regressar da China para a Índia. Da mesma forma, a gradual desidentificação com o corpo e a progressiva identificação com a Sobre-Alma é comparável ao real percorrer do caminho, embora, na realidade, os diferentes estágios intermédios no caminho são todos igualmente criações do jogo da imaginação.
Os seis estágios ascendentes estão todos, portanto, dentro do domínio da imaginação. No entanto, em cada fase, quebrar o sentido de separatividade e descobrir uma fusão na Realidade maior são ambos tão fortes e claros que muitas vezes a pessoa tem uma pseudo sensação de Realização. Assim como quando uma pessoa escalando uma montanha chega a um vale profundo e fica tão fascinada pela visão dele que se esquece do objetivo real e acredita por um momento que tenha chegado à sua meta, o aspirante também confunde as fases intermediárias pelo objetivo em si. Mas uma pessoa que esteja realmente séria e determinada sobre a escalada da montanha percebe depois de um tempo que o vale tem de ser atravessado, e mais cedo ou mais tarde o aspirante também percebe que a fase intermediária tem de ser transcendida. O pseudo sentimento de realização que vem com as fases intermediárias é como um indivíduo sonhando que despertou do sono, embora ele esteja realmente ainda dormindo. Após ficar desperto ele percebe que seu primeiro sentimento de despertar foi realmente um sonho.
Cada etapa definitiva de avanço representa um estado de consciência, e o avanço de um estado de consciência para outro prossegue lado a lado com atravessar os planos interiores. Assim, seis planos intermediários e os seus estados de consciência têm de ser experimentados antes de chegar ao sétimo plano, que é o fim da jornada e onde existe a realização final do estado de Deus.
Um plano é comparável a uma estação ferroviária onde o trem pára por algum tempo e o estado de consciência é comparável aos movimentos do passageiro após descer na estação. Depois de entrar em um novo plano de consciência, uma pessoa geralmente leva algum tempo antes que possa funcionar livremente naquele plano. Sendo que há uma mudança radical nas condições totais da vida mental, a pessoa experimenta uma espécie de paralisia da atividade mental conhecida como samadhi. Quando o peregrino entra em um novo plano, ele imerge dentro do plano antes que possa vivenciar o estado característico daquele plano. Assim como um peregrino que esteja cansado pelo desgaste de uma viagem as vezes vai dormir, a consciência - que fez o esforço de ascender para um novo plano, passa por um período de diminuída atividade mental comparável ao sono. No entanto, o samadhi é fundamentalmente diferente do sono.
Uma pessoa está totalmente inconsciente no sono, enquanto que em samadhi ela está consciente do êxtase ou da luz ou do poder, embora esteja inconsciente de seu corpo e do meio que a cerca. Após um período de comparativa quietude, a mente começa a funcionar no novo plano e experimenta um estado de consciência que é totalmente diferente do estado que deixou para trás. Quando o aspirante entra em um novo plano, ele fica fundido dentro dele e juntamente com a desaceleração da atividade mental, ele experimenta uma substancial diminuição na vida-ego. Esta redução da vida-ego é diferente da aniquilação final do ego, que ocorre no sétimo plano.
Mas como na aniquilação final no sétimo plano, as diferentes etapas da redução do ego nos seis planos intermediários, merecem menção especial devido à sua relativa importância. Na tradição espiritual Sufi, a aniquilação final do ego é descrita como Fana-Fillah. E o samadhi anterior dos seis planos da dualidade também foram reconhecidos como tipos de Fana, uma vez que também envolvem uma aniquilação parcial do ego.
Através de todos esses fanas de ordem ascendente, há uma continuidade de progressão em direção ao Fana-Fillah final, e cada um tem alguma característica especial. Quando o peregrino chega ao primeiro plano, ele experimenta seu primeiro fana, ou aniquilação menor do ego. O peregrino está temporariamente perdido para sua individualidade limitada e experimenta profunda bem-aventurança. Muitos peregrinos, assim imersos, acham que realizaram Deus e, portanto, ficam estagnados no primeiro plano. Se o peregrino mantiver-se livre de auto-engano ou vier a perceber que a sua realização é realmente uma fase transitória na sua jornada, ele avançará ainda mais no caminho espiritual chegando ao segundo plano.
A imersão no segundo plano é chamada fana-e-batili, ou a aniquilação do falso. O peregrino está agora absorvido em êxtase e luz infinita. Alguns pensam que atingiram o objetivo e ficam encalhados no segundo plano, mas outros que mantém-se livres de auto-ilusão marcham adiante e entram no terceiro plano.
A imersão no terceiro plano é chamada fana-e-zahiri, ou a aniquilação do aparente. Aqui o peregrino perde por dias toda consciência de seu corpo e seu mundo e experimenta poder infinito. Uma vez que ele não tem consciência do mundo, ele não tem oportunidade para a expressão desse poder. Esse é o videh samadhi, ou o estado de coma divino. A consciência está agora completamente afastada do mundo inteiro. Se o peregrino avança ainda mais, ele chega ao quarto plano.
A imersão no quarto plano é chamada fana-e-malakuti, ou a aniquilação que conduz em direção a liberdade. O peregrino experimenta um peculiar estado de consciência no quarto plano, já que ele agora não apenas sente poder infinito mas também tem muitas ocasiões para a expressão desse poder. Além disso, ele não só tem oportunidades para utilização dos seus poderes mas tem uma clara inclinação para expressá-los. Se ele cair presa dessa tentação, ele seguirá expressando esses poderes e ficará preso nas sedutoras possibilidades do quarto plano. Por esta razão, o quarto plano é um dos mais difíceis e perigosos de atravessar. O peregrino nunca está espiritualmente seguro, e sua queda sempre é possível até que ele tenha com sucesso atravessado o quarto plano e chegado ao quinto.
A imersão no quinto plano é chamada fan-e-jabruti, ou aniquilação de todos os desejos. Aqui, a incessante atividade do intelecto inferior chega a uma paralisação. O peregrino não pensa da maneira ordinária e ainda assim ele é indiretamente uma fonte de muitos pensamentos inspiradores. Ele vê mas não com os olhos físicos. A mente fala com a mente e não existe nem preocupação e nem dúvidas. Ele agora está espiritualmente seguro, além da possibilidade de uma queda; e ainda muitos peregrinos nesse exaltado plano tem dificuldade em resistir à ilusão de que ele tenha atingido Divindade (Godhood). Em sua auto-ilusão ele pensa e diz, "Eu sou Deus", e acredita ter ele próprio chegado ao final do caminho espiritual.
Mas se ele prossegue, ele percebe seu erro e avança para o sexto plano. A imersão no sexto plano é chamada de fana-emahabubi, ou a aniquilação do ser (amante) no Amado. Agora, o peregrino vê Deus tão direta e claramente como uma pessoa normal vê as diferentes coisas do mundo. Essa percepção e apreciação contínua de Deus não sofre interrupção nem mesmo por um instante. No entanto, o viajante não se torna um com Deus, o Infinito. Se o peregrino sobe para o sétimo plano, ele experimenta a última fusão, que é chamada Fana-Fillah, ou a aniquilação final do Ser (self) em Deus. Através dessa fusão o peregrino perde sua existência separada e se torna permanentemente unido com Deus. Ele é agora um com Deus e experimenta-se como sendo nada além de Deus. Esse sétimo plano Fana-Fillah é o término do caminho espiritual, o objetivo de toda busca e empenho. É o estado Nirvikalpa, que é característico da Divindade (Godhood) consciente. É o único despertar verdadeiro. O peregrino atingiu agora a costa oposta do vasto oceano da imaginação e percebe que esta última Verdade é a única Verdade e que todas as outras etapas no caminho são totalmente ilusórias. Ele chegou ao destino final.
Hazrat Inayat Khan - O poder da palavra
Eu compus músicas, cantei, e toquei Vina. Praticando essa música alcancei um estágio onde pude tocar a música das esferas. Então cada alma se tornou para mim uma nota musical e toda a vida se tornou música. Inspirado por isso eu falei com as pessoas e aqueles que eram atraídos pelas minhas palavras escutavam-nas ao invés de escutar minhas músicas.
Agora, se faço algo, é afinar almas em vez de instrumentos, harmonizar pessoas em vez de notas. Se há algo na minha filosofia, é a lei da harmonia: que a pessoa deve colocar-se em harmonia consigo mesma e com os outros.
Descobri em cada palavra um certo valor musical, uma melodia em cada pensamento, harmonia em cada sentimento e tenho tentado interpretar a mesma coisa com palavras simples e claras para aqueles que costumavam escutar minha música.
Toquei Vina até que meu coração transformou-se nesse mesmo instrumento. Então ofereci esse instrumento ao Músico divino, o único Músico existente. Desde então tornei-me Sua flauta, e quando Ele escolhe Ele toca Sua música. As pessoas me dão crédito por essa música que, na realidade, não deve-se a mim, mas ao Músico que toca Seu próprio instrumento.
O que os sábios de todos os tempos disseram – aquelas palavras foram guardadas pelas pessoas, por seus pupilos. Em qualquer parte do mundo que tenham nascido ou vivido, o que eles deixaram cair como palavras foi apanhado como pérolas reais e guardado como escrituras.
Alguém pode perguntar: 'Como uma pessoa espiritual pode intuitivamente trazer uma palavra que tenha poder?' A resposta é que existe a possibilidade de uma alma tornar-se tão sintonizada com todo o universo, que ela escuta, por assim dizer, a voz das esferas. Portanto, o que ela diz vem como um eco do universo todo. A pessoa que está sintonizada com o universo torna-se como um instrumento sem cordas; o que vem dela é a voz do universo.
O que é a palavra? A palavra é apenas o que falamos? Não, essa é a palavra da superfície. Nosso pensamento é uma palavra, nosso sentimento é uma palavra, nossa voz, nossa atmosfera é uma palavra. Existe um ditado: 'O que você é fala mais alto do que aquilo que você diz'. Isso mostra que o homem não fala sempre, mas sua alma fala sempre.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Adi Shankaracharya (séc. IX) - Vivekachudamani
*Entre as coisas que favorecem a Liberação, a devoção (Bhakti) detém o lugar supremo. A busca pela própria natureza real de si mesmo é designada como devoção.
*Existe um meio soberano que põe um fim ao medo da existência relativa; através dele você atravessará o mar de Samsara e atingirá a felicidade e bênção supremas.
domingo, 9 de agosto de 2009
G. I. Gurdjieff - Justiça
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Ashtavakra (mestre da India antiga) - Ashtavakra Gita
Ashtavakra: 2. Se você está buscando a liberação, meu filho, evite os objetos dos sentidos como se fossem veneno e cultive tolerância, sinceridade, compaixão, contentamento e veracidade como o antídoto.
3. Você não é nenhum dos elementos - terra, água, fogo, ar, ou mesmo o éter. Para ser liberado, conheça-se como sendo a consciência, a testemunha desses elementos.
4. Se você permanecer repousado na consciência, vendo-se como distinto do corpo, então, agora mesmo você se tornará feliz, em paz e livre de limitações.
5. Você não pertence à casta brâmane ou qualquer outra, você não está em qualquer estágio e nem é qualquer coisa que os olhos possam ver. Você é desapegado, independente e sem forma, a testemunha de tudo – então seja feliz.
6. Justiça e injustiça, prazer e dor são puramente da mente e não preocupações suas. Você não é o fazedor e nem quem colhe as consequências, portanto esteja sempre livre.
7. Você é a testemunha una de tudo e está completamente livre sempre. A causa de sua escravidão é que você vê a testemunha como sendo algo diferente disso.
8. Desde que você foi mordido pela serpente negra, sua opinião sobre si mesmo é: "Eu sou o fazedor", tome o antídoto da fé no fato de que "eu não sou o fazedor", e seja feliz.
9. Queime a floresta da ignorância com o fogo da compreensão de que "eu sou a pura consciência una", e seja feliz e livre de aflição.
10. Aquilo onde tudo isso aparece é imaginado, assim como a cobra em uma corda; aquela alegria suprema e a consciência são o que você é, assim, seja feliz.
11. Se você pensa em si mesmo como estando livre, você está livre, e se pensa de si mesmo como estando aprisionado, você está aprisionado. Aqui este ditado é verdadeiro: "No que pensamos nos tornamos".
12. Sua verdadeira natureza é consciência perfeita, una, livre e sem ação, a testemunha que permeia tudo - independente de qualquer coisa, sem desejos e em paz. É do ponto de vista da ilusão que parece que você está envolvido em Samsara.
13. Medite sobre si mesmo como sendo a consciência sem movimento, livre de qualquer dualismo, abandone a idéia errônea de que você é apenas uma consciência derivada ou algo externo ou interno.
14. Por muito tempo você tem estado preso na armadilha da identificação com o corpo. Corte-a com a faca do conhecimento "eu sou a consciência", e seja feliz, meu filho.
15. Você realmente já é ilimitado e imóvel, auto-iluminado e imaculado. A causa do seu aprisionamento é que você ainda abre mão de aquietar a mente.
16. Tudo isto é realmente preenchido por você e dependente em você, pois do que você consiste é da pura consciência - portanto, não tenha uma visão estreita.
17. Você é incondicionado e imutável, sem forma e sem movimento, consciência imensurável, imperturbável: assim, não se mantenha em nada além da consciência.
18. Reconheça que o aparente é irreal, enquanto que o não manifesto é permanente. Através desta iniciação na verdade você vai escapar de cair na ilusão novamente.
19. Assim como um espelho existe em toda parte, tanto dentro quanto fora da sua imagem refletida, também o Senhor Supremo existe em toda parte, dentro e fora deste corpo.
20. Assim como o mesmo espaço único que permeia tudo existe dentro e fora de um jarro, do mesmo modo, o eterno Deus infinito existe na totalidade das coisas.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Philokalia - Nikitas Stithatos (séc-XI) - Sobre o Conhecimento Espiritual
2. Aqueles que através de práticas ascéticas purificam a si mesmos 'de toda poluição da carne e do espirito' (Cor. 7:1) recebem os dons do Espirito Santo e assim se tornam receptáculos da realidade imortal. Tendo atingido esse nível são preenchidos com a luz da glória. Com seus corações agora serenos e em paz, eles proferem palavras sagradas e a sabedoria de Deus – conhecimento das coisas divinas e humanas – flui de seus lábios, enquanto que sua imperturbável inteligência interpreta as profundezas do Espirito Santo. Uma vez que foram unidos com Deus e experimentaram uma transformação abençoada, a lei não é mais limitadora em tais pessoas.
4. O homem é criado na imagem de Deus pela virtude da natureza espiritual de seu intelecto, o qual não está circunscrito pelo peso morto do corpo. Sendo que a natureza divina está fora de todo ser criado e de todo caráter grosseiro da matéria, não está circunscrita, mas é ilimitada e incorpórea, além de substância e de toda condição, sem qualidades, impalpável, inqualificável, invisível, imortal, incompreensível e totalmente além do nosso alcance. Similarmente, a natureza espiritual que nos foi dada por Deus é incircunscrita e fora do caráter grosseiro deste mundo, e também é incorpórea, invisível, impalpável, incompreensível e uma imagem da glória imortal e eterna Dele.
5. Sendo que Deus, como Rei soberano de tudo, é o Intelecto primordial, Ele possui dentro de Si Seu Logos e Seu Espírito, co-essenciais e co-eternos com Ele. Ele nunca está sem o Logos e o Espirito porque a natureza divina é uma e indivisível; nem é para Ele ser confundido com Eles, pois as três hipóstases em Deus são distintas e inconfundíveis. Portanto, ao gerar naturalmente o Logos de Sua essência, o Pai não é separado Dele, sendo que Ele próprio é indivisível. O co-eterno Logos, não separado do Seu Criador, possui o Espírito, o qual procede eternamente do Pai e compartilha com o Logos a mesma natureza não originada. Pois a natureza tanto do Logos quanto do Espirito é uma e indivisível, mesmo que, embora a título de distinção das hipóstases o Deus uno seja divido em pessoas e glorificado como a Trindade do Pai, Filho e Espirito Santo. Ainda assim, as pessoas não estão nunca separadas da essência e natureza co-eternas, sendo que Elas constituem uma natureza e um Deus. Observe, então, uma imagem dessa singular e tri-hipostática natureza divina no homem, o qual é criado por essa natureza e é a imagem dela, não de acordo com o seu ser visível mas de acordo com o seu ser espiritual, não de acordo com o que é mortal e perecível nele mas de acordo com o que é imortal e sempre o mesmo.
6. Deus é Intelecto e transcende as criaturas que em Sua Sabedoria Ele criou; ainda, Ele também gera imutavelmente o Logos como sendo o local para elas habitarem, e, como diz a escritura (João 14:26), envia o Espirito Santo para dotá-los com poder. Ele, portanto, está tanto de fora de tudo quanto dentro de tudo. Similarmente, o homem participa na natureza divina e de acordo com seu ser espiritual – isto é, como uma alma espiritual, incorpórea e imortal – é uma imagem de Deus e possui um intelecto que naturalmente gera consciência de sua essência; por isso tudo ele mantém o poder do corpo. Ele está, portanto, tanto fora da matéria e das coisas visíveis quanto dentro delas. E assim como o Pai que criou o homem é inseparável das outras duas hipóstases – isto é, do Logos e do Espírito – também a alma do homem é indivisível do seu intelecto e de sua consciência, pois eles são da mesma natureza e essência – uma essência não circunscrita pelo corpo.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
São Teófanes o Recluso - A Lembrança de Deus
Todo trabalho espiritual será em vão sem esta atividade, sem a lembrança de Deus, esse é o começo do silêncio pelo amor de Deus, e é também o fim. Esse Nome mais desejável é a alma da quietude e do silêncio. Ao chamá-lo na mente ganhamos alegria e contentamento, perdão dos pecados e fartura de virtudes. Poucos estiveram aptos a descobrir esse Nome mais glorioso, salvo apenas em quietude e silêncio. O homem não pode alcançá-lo de outra maneira, mesmo que com grande esforço. Portanto, conhecendo o poder desse conselho, eu suplico-lhe pelo amor de Cristo a sempre estar em quietude e silêncio, sendo que essas virtudes enriquecem a lembrança de Deus dentro de nós.
Em toda a parte e sempre, Deus está conosco, perto de nós e dentro de nós. Mas nós não estamos sempre com Ele, sendo que não lembramos Dele; e porque não lembramos Dele permitimo-nos muitas coisas as quais não permitiríamos se lembrássemos. Assuma para si esta tarefa – tornar um hábito tal recordação.
Faça uma regra para si mesmo - sempre estar com o Senhor, mantendo a sua mente no seu coração e não deixe seus pensamentos divagarem tão frequentemente quanto devaneiam; traga-os de volta novamente e mantenha-os em casa no armário do seu coração, deleitando-se na conversa com o Senhor.
Quanto mais firme você estiver estabelecido na lembrança de Deus – ao ficar mentalmente diante de Deus em seu coração – mais quietos seus pensamentos se tornarão e menos eles divagarão. A ordem interior e o sucesso na oração caminham juntos.
Dessa maneira nosso espírito é restaurado a seus direitos justos. Quando estiver assim restabelecido, ele iniciará uma transformação ativa e vital da alma e do corpo e dos relacionamentos externos, até que eles finalmente sejam purificados. E você se tornará um homem real.
Quando você se estabiliza no homem interior através da lembrança de Deus, então Cristo, o Senhor, entrará e habitará dentro de você. As duas coisas vão juntas.
E aqui há um sinal para você, através do qual, esteja certo, este trabalho glorioso se iniciou dentro de você: você experimentará um sentimento de entusiasmo para com Deus. Se você cumprir todo o prescrito, então esse sentimento logo vai começar a aparecer, cada vez com mais frequência e com o tempo se tonará contínuo. Esse sentimento é doce e beatífico e com seu primeiro aparecimento ele nos estimula a desejá-lo e a buscá-lo, a fim de que não deixe o coração: pois nele está o Paraíso.
Você deseja entrar nesse Paraíso o mais rápido possível? Aqui, então, está o que você deve fazer. Quando você rezar, não termine sua oração sem ter despertado no seu coração algum sentimento para com Deus, seja ele reverência ou devoção, ou gratidão, ou glorificação, ou humildade e contrição, ou esperança e confiança. Também quando depois da oração você começar a ler, não termine a leitura sem ter sentido no seu coração a verdade daquilo que você leu. Esses dois sentimentos – aquele inspirado pela oração e o outro pela leitura – aquecem mutuamente um ao outro; e se você prestar atenção a si mesmo, eles irão manter você sob sua influência durante o dia todo. Cuide de praticar esses dois métodos exatamente e você verá por si mesmo o que acontecerá.