segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jalaluddin Rumi - FIHI MA FIHI (Discursos)

O longo canto suplicante da oração dos buscadores e viajantes conta uma história de vidas ocupadas em trabalho e devoção, com cada esforço atribuído a seu tempo especial. É como se um supervisor de hábitos conduzissem-nos à sua tarefa específica. Por exemplo, quando acordam de manhã, primeiro eles dão-se à contemplação e à adoração enquanto que a mente mantém-se calma e clara. Assim, cada um realiza o serviço que é adequado a si e que está no âmbito de sua nobre alma. Existem cem mil classes. Quanto mais pura a pessoa se torna, mais alto ela é elevada. Esta história de crescimento espiritual é uma história longa. Quem tentasse encurtá-la, estaria encurtando a sua própria vida e alma, exceto pela graça de Deus. No que diz respeito ao canto da oração daqueles que atingiram a união com Deus, devo falar dentro dos limites da compreensão, pois seu amor e a pureza de suas vozes atraem espíritos sagrados, anjos puros e aqueles visitantes que ninguém além de Deus conhece - os Silenciosos cujos nomes estão ocultos do mundo por ciúme demasiado.
Você está sentado ao lado deles agora, mas não os vê. Nem escuta suas falas, saudações ou risos. Ainda assim, o que é tão maravilhoso a esse respeito? Quando uma pessoa está doente, ela vê aparições que os outros não podem ver. No entanto, estes seres espirituais são mil vezes mais sutis do que essas aparições, pois enquanto a pessoa comum não consegue ver ou ouvir essas visões até que esteja doente, ela não verá esses seres espirituais, antes de morrer. Tais visitantes espirituais conhecem os estados refinados e a majestade dos santos. Eles vigiam desde manhã bem cedo, enquanto milhares de outros anjos e espíritos puros esperam pelos santos. Por esta razão, o Silencioso hesita infinitamente - não querendo intervir no meio de tal coro ou perturbar aqueles que desejam honrar. Os escravos estão presentes todas as manhãs na porta do palácio do rei. Cada um tem uma estação fixa, um serviço fixo e uma devoção fixa. Alguns servem de longe e o rei e não os vê nem os nota. Todos os escravos sabem qual dentre eles tem a honra da presença do rei. Quando o rei sai, os servos atendem àquele escravo de cada portão, pois não há maneira melhor de servir o rei. Ele assumiu as características do rei e se torna a audição e a visão do rei para todos os outros.

Esta é uma estação extremamente majestosa, inefável de fato. A majestade dela não pode ser compreendida ao soletrarmos M-a-j-e-s-t-a-d-e. Se até mesmo um pequeno vestígio dessa majestade penetrasse o mundo, a letra "M" seria impossível de ser escrita, o som "M" seria impronunciável, nem poderia alguma alusão ou símbolo permanecer. A cidade inteira seria devastada pelos exércitos da luz.

"Os reis, quando entram numa cidade, desordenam-na."

Um camelo entra numa casa e a casa é devastada, mas naquela ruína há milhares de tesouros.


Apenas nas ruínas um tesouro pode ser encontrado. Em uma cidade próspera um miserável ainda é um miserável.

Se eventualmente descrevi a estação dos buscadores, como posso explicar os estados daqueles que alcançaram? Eles não têm fim - apenas os buscadores têm um fim. O fim de todos os buscadores é a realização. Qual poderia ser o fim para aqueles que atingiram a união, uma união sem separação? Nenhuma uva madura volta a ser uma uva verde. Nenhum fruto maduro torna-se cru novamente.

Sim, é ilegal falar
Dessas coisas para homens e mulheres.
Mas uma vez que Seu nome é mencionado, oh Deus,
Estas palavras derramam-se para eles.
Por Deus, não vou torná-las longas. Vou torná-las curtas.
Minha vida é consumida, mas Você transforma
essa vida em vinho.
Você diz que tudo é dado, mas tome
Esta alma como Sua.

Quem corta e encurta essa história, é como se estivesse abandonando o caminho certo e tomando um caminho para a selva que destrói a vida, e lá diz: "Estas árvores parecem ser o caminho certo para casa."

Nisargadatta Maharaj - Ninguém jamais falha no Yoga

Pergunta: O que significa falhar no Yoga? Quem é um fracasso no Yoga (yoga bhrashta)?

Maharaj: É apenas uma questão de estar incompleto. Daquele que não pôde concluir seu Yoga por alguma razão é dito que falhou no Yoga. Esse fracasso é apenas temporário, pois não pode haver derrota no Yoga. Esta batalha é sempre vencida, pois é uma batalha entre o verdadeiro e o falso. O falso não tem chance.

P: Quem falha? A pessoa (vyakti) ou o Ser (vyakta)?

M: A questão está mal colocada. Não se trata de um fracasso, nem a curto prazo nem a longo prazo. É como viajar numa longa e árdua estrada em um país desconhecido. De todos os incontáveis passos apenas o último traz você para o seu destino. Ainda assim, você não irá considerar todos os passos anteriores como fracassos. Cada um lhe trouxe mais perto de sua meta, mesmo quando você teve de voltar para passar por um obstáculo. Na realidade, cada passo traz você para o seu objetivo, pois estar sempre em movimento, aprendendo, descobrindo, revelando, é o seu destino eterno. Viver é a única finalidade da vida. O Ser não se identifica com o sucesso ou o fracasso - a própria idéia de se tornar isto ou aquilo é impensável. O Ser entende que o sucesso e o fracasso são relativos e estão ligados, que são a própria teia e trama da vida. Aprenda com ambos e vá além. Se você ainda não aprendeu, repita.

P: O que devo aprender?

M: A viver sem auto-importância (egocentrismo). Para isso, você deve conhecer o seu verdadeiro Ser (swarupa) como indomável, destemido, sempre vitorioso. Uma vez que você sabe com certeza absoluta que nada pode lhe causar problemas, além da sua própria imaginação, você começa a ignorar seus desejos e medos, conceitos e idéias e passa a viver pela verdade apenas.

P: Qual pode ser a razão de algumas pessoas terem sucesso e outras falharem no Yoga? É o destino, caráter ou simplesmente acidental?

M: Ninguém jamais falha no Yoga. É tudo uma questão de grau de progresso. Ele é lento no início e rápido no final. Quando a pessoa está totalmente amadurecida, a realização é explosiva. Acontece espontaneamente ou ao menor sinal. A rápida não é melhor do que a lenta. O amadurecimento lento e florescimento rápido se alternam. Ambos são naturais e corretos. No entanto, tudo isto é assim apenas na mente. A meu ver, não existe realmente alguma coisa do tipo. No grande espelho da consciência imagens surgem e desaparecem e somente a memória lhes dá continuidade. E memória é material - destrutível, perecível, transitória. Em tais bases frágeis construímos um sentimento pessoal de existência - vago, intermitente, sonhador. Esta vaga persuasão: "eu sou tal e tal" obscurece o estado imutável de pura consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e para morrer.


P: Assim como uma criança não pode evitar de crescer, também um homem, compelido por sua natureza não pode evitar fazer progressos. Por que esforçar-se? Onde está a necessidade do Yoga?

M: Há progresso o tempo todo. Tudo contribui para o progresso. Mas este é o progresso da ignorância. Os círculos da ignorância podem estar cada vez se alargando mais, ainda assim permanecem igualmente sendo uma escravidão. No devido tempo, aparece um guru para nos ensinar e nos inspirar a praticar Yoga, e um amadurecimento ocorre, como resultado desse amadurecimento a imemorial noite da ignorância dissolve-se diante do sol nascente da sabedoria. Mas, na realidade, nada aconteceu. O sol está sempre ali, não há noite para ele; a mente cega pela idéia 'eu sou o corpo' vagueia infinitamente em sua trilha de ilusão.

P: Se tudo é uma parte de um processo natural, onde está a necessidade de esforço?

M: Mesmo o esforço é uma parte disso. Quando a ignorância se torna obstinada e dura e o caráter fica pervertido, o esforço e a dor se tornam inevitáveis nesse caso. Em total obediência à natureza, não existe esforço. A semente da vida espiritual cresce em silêncio e no escuro até sua hora designada.

P: Nós encontramos algumas grandes pessoas, que, na sua velhice, tornam-se infantis, mesquinhas, conflituosas e vingativas. Como podem deteriorar-se tanto?

M: Eles não eram perfeitos Yogis, não tendo colocado seus corpos sob completo controle. Ou, eles podem não ter tido cuidado de proteger seus corpos da deterioração natural. Não devemos tirar conclusões sem compreender todos os fatores. Acima de tudo, não devemos fazer julgamentos de inferioridade ou superioridade. Juventude é mais uma questão de vitalidade (Prana) do que de sabedoria (Jnana).

P: Podemos ficar velhos, mas por que deveríamos perder toda atenção e discriminação?

M: A consciência e inconsciência, enquanto no corpo, dependem do estado do cérebro. Mas o Ser está além de ambos, além do cérebro, além da mente. A falha do instrumento não é reflexo do seu utilizador.

P: Foi-me dito que um homem realizado jamais faz algo indecoroso. Ele vai sempre agir de uma maneira exemplar.

M: Quem define o que é exemplar? Por que é que um homem liberado, necessariamente segue as convenções? No momento em que ele se torna previsível, não pode ser livre. Sua liberdade reside em estar livre para cumprir a necessidade do momento, a observar a necessidade da situação. Liberdade para fazer o que se gosta é escravidão na verdade, enquanto que estar livre para fazer o que se deve, o que é certo, é verdadeira liberdade.

P: Ainda assim, deve haver alguma forma de discernir quem realizou-se de quem não. Se um é indistinguível do outro, de que utilidade ele é?

M: Aquele que conhece a si mesmo não tem dúvidas sobre isso. Nem se preocupa se outros reconhecem seu estado ou não. É raro o homem realizado divulgar sua realização, e afortunados são aqueles que o encontraram, porque ele faz isso para o bem-estar duradouro deles.