quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Bhagavan Ramana Maharshi - 1938

Discípulo: (Fala sobre uma visão de Shiva )
Bhagavan: Você fala de uma visão de Shiva. A visão é sempre de um objeto. Isso implica a existência de um sujeito. O valor da visão é o mesmo que o valor daquele que vê (isto é, a natureza da visão está no mesmo plano que a daquele que vê). Aparecimento implica desaparecimento também. O que quer que apareça deve igualmente desaparecer. Uma visão nunca pode ser eterna. Mas Shiva é eterno. A Visão (Pratyaksha) de Shiva significa a existência dos olhos para ver; do intelecto (buddhi) que encontra-se atrás da visão; do sujeito que vê atrás do buddhi e da visão; e finalmente da consciência que é a base do sujeito que vê. Esta Pratyaksha (visão) não é tão real como se imagina ser, porque não é íntima e inerente; não é de primeira mão. É o resultado de diversas fases sucessivas da consciência. Dessas, apenas a consciência não varia. É eterna. É Shiva. É o Ser.
A visão implica na pessoa que vê. Esse que vê não pode negar a existência do Ser (self). Não há nenhum momento em que o Ser como consciência não exista; nem pode esse que vê permanecer separado da consciência. Essa consciência é o Ser eterno e o único Ser. Esse que vê não pode ver a si mesmo.
Quer dizer então, que ele nega sua existência porque não pode ver-se com os olhos como na visão (Pratyaksha)? Não! Assim, Pratyaksha não significa ver, mas sim ser. “SER” é realizar que - EU SOU AQUELE EU SOU. EU SOU é Shiva. Nada mais pode ser sem ele. Tudo tem seu ser em Shiva e por causa de Shiva. Portanto, questione “quem sou eu?” Mergulhe profundamente dentro de si e permaneça como o Ser. Aquele é Shiva - o Ser. Não espere ter visões repetidas dele .
Qual é a diferença entre os objetos que você vê e Shiva? Ele é tanto o sujeito quanto o objeto. Você não pode ser sem Shiva. Shiva é realizado sempre aqui e agora. Se você pensa que você não o realizou isso está errado. Esse é o obstáculo para realizar Shiva. Abandone esse pensamento também e a realização estará lá.
Discípulo: Sim. Mas como ter efetividade o mais rápido possível?
Bhagavan: Esse é o obstáculo para a realização. Pode haver o indivíduo sem Shiva? Mesmo agora Ele é você. Não há nenhuma questão de tempo. Se houvesse um momento de não-realização, a questão da realização poderia surgir. Mas sendo como é, você não pode ser sem Ele. Ele já está realizado, sempre realizado e nunca não-realizado. Renda-se a Ele e habite na vontade Dele; espere Seu prazer. Se você pede que Ele faça como lhe agrada, isso não é rendição mas sim, comando. Você não pode mandá-lo obedecer-lhe e ainda pensar que você se rendeu. Ele sabe o que é melhor e quando e como fazer. Deixe tudo inteiramente para Ele.
Dele é o fardo: você já não tem mais nenhuma preocupação. Todas as suas preocupções são Dele. Tal é a rendição. Isso é Bhakti. Ou, questione para quem essas perguntas surgem. Mergulhe fundo no coração e permaneça como o Ser. Um desses dois caminhos está aberto ao aspirante.
Não há nenhum ser que não esteja consciente e, portanto, que não seja Shiva. Não apenas ele é Shiva, mas também todas as coisas de que ele está ciente e das que ele não está. Contudo, em completa ignorância ele pensa que vê o universo de diversas formas. Mas se ele ver o seu Ser ele não estará ciente de estar apartado do universo; dessa forma, de fato, sua individualidade e as outras entidades desaparecem, embora persistam em todas as suas formas. Shiva é visto como o universo. Mas aquele que vê, não vê o próprio pano de fundo. Pense no homem que vê somente o pano e não o algodão do qual ele é feito; ou do homem que vê os filmes movendo-se sobre a tela num cinema e não vê a própria tela como o pano de fundo; ou outra vez, o homem que vê as letras que lê mas não o papel em que estão escritas. Os objetos são, portanto, consciência e formas.
Mas a pessoa ordinária vê os objetos no universo e não Shiva nestas formas. Shiva é o Ser assumindo estas formas e a consciência que as vê. Isso é dizer, Shiva é o pano de fundo que é a base tanto do sujeito quanto do objeto, e, outra vez, Shiva em Repouso e Shiva em Ação, ou Shiva e Shakti, ou o Senhor e o Universo. O que quer que digamos que exista, é somente a consciência em repouso ou em ação. Quem é que não está consciente? Então, quem não é realizado? Como então podem as perguntas surgirem duvidando da realização ou desejando-a? Se 'eu' não sou Pratyaksha para mim, então posso dizer que Shiva não é Pratyaksha.

Meher Baba - 1956

O silêncio que venho observando pelos últimos 31 anos não pretende velar a minha verdade, mas sim manifestá-la. Quando você realizar a verdade como sendo o núcleo do seu próprio Ser, você estará livre de todo medo e desamparo, e todas as rivalidades e conflitos revelar-se-ão serem sem sentido, pois você se conhecerá como sendo inviolavelmente um com tudo o que tem vida.
Para as lutas, faltas e falhas da humanidade Eu digo, “tenham fé”. Voltem-se para Deus em completa rendição e recebam o amor divino. Vocês são igualmente uma parte da vida divina una e indivisível. Não há um só átomo que não vibre com esta vida divina.
Não há mais necessidade de ninguém se desesperar. O maior dos pecadores bem como o maior dos santos têm a mesma infalível garantia divina.

Jalaluddin Rumi - “Por que fizeste os homens para depois destruí-los?”

Moisés disse: “Ó senhor do dia do ajuste de contas,
Tu fazes as formas; por que, então, as destróis?
Fazes formas encantadoras, tanto homens como mulheres;
Por que, então, Tu as devastas?”
Deus respondeu: “Sei que tua pergunta
Não procede de negação nem de curiosidade vã.
Senão te puniria e castigaria;
Sim, eu te censuraria por essa pergunta.
Mas procura descobrir em minhas ações
O princípio diretor e o mistério eterno,
Para informar teu povo a esse respeito
E tornar “madura” toda pessoa verde.
Sim oh mensageiro, tu me questionastes para que Eu possa revelar
Meus caminhos ao povo, embora tu os conheças.

Ó Moisés, vai e semeia a semente no solo
Para fazer justiça a essa pergunta”.
Quando Moisés havia semeado e sua semente crescera,
Ele tomou uma foice e ceifou o trigo;
Então uma voz divina chegou aos seus ouvidos:
“Por que semeaste e nutriste o trigo e
então o cortaste quando estava maduro?”
Moisés respondeu: “Senhor, eu o cortei e abati
Porque aqui tenho grão e palha.
O grão está fora de lugar no palheiro,
E a palha é inútil no celeiro.
É errado misturar esses dois,
É preciso peneirá-los para separar um do outro”.
Deus disse: “ De quem aprendeste esse conhecimento
Pelo qual instruíste uma eira?”
Moisés disse: “Ó senhor, deste-me o discernimento”.
Deus disse: “Então não tenho discernimento eu também?
Entre minhas criaturas há espíritos puros,
E também espíritos escuros e impuros.
As ostras não são todas do mesmo valor;
Algumas contém pérolas, outras pedras negras.
É preciso discernir as más das boas,
Tanto quanto separar o grão da palha.
A gente deste mundo existe para manifestar
E revelar o 'tesouro escondido'.
Lê: 'Eu era um tesouro escondido e queria ser conhecido';
Não escondas o tesouro escondido, mas revela-o
Teu verdadeiro tesouro está escondido debaixo de outro falso,
Assim como a manteiga está escondida na substância do leite.
O falso é esse seu corpo transitório,
O verdadeiro, tua alma divina.
Muito tempo esse leite fica exposto à vista,
E a manteiga da alma está oculta e não percebida.

Bate teu leite assiduamente misturando-o com o conhecimento,
Para que o que está oculto nele possa ser revelado;
Porque este mortal é o guia para a imortalidade,
Como os gritos dos ébrios indicam a taberna”.