terça-feira, 30 de março de 2010

Hafiz - Estou cheio de amor / A Festa / Gostaria de poder falar como a música

Estou cheio de amor esta noite

Venha olhar em meus olhos e vamos partir

Navegando, meu querido, num longo passeio no oceano.


Este mundo não irá tocá-lo,

Vou mantê-lo aconchegado em meu assento.

Vamos conspirar

Para deixar a Lua enciumada

Com um resplendor saltando de nossos rostos.

Estarei cheio de amor esta noite,


Venha olhar dentro destes antigos olhos!

E vamos partir navegando, meu querido,

Com nossos espíritos entrelaçados.

Seu corpo é apenas um velho banco de areia

Numa ampulheta onde o tempo está passando.

O amor vai virar a tristeza

De cabeça para baixo. Deixe seu coração começar seu destinado

Carrilhão de risos! Hafiz estará cheio de amor até a borda esta noite,

Por que ficar tímido? Venha olhar os divertidos olhos de meu verso,

Eles estão eternamente marcados,

Marcados com o Sol!


__________________________________________



O ouvido fica alerta quando a musica diz:

"Estou aqui.”

O olho se põe de plantão,

Coloca-se em boas condições,

Quando a beleza assovia e aponta para o seu vestido


No chão. Deus enviou dez mil mensageiros

Anunciando uma grande festa que alguns dos planetas

Estarão dando esta noite

Onde o cantor principal é Deus,

Ele próprio. Mas a maior parte desses mensageiros

Embriagou-se, foi atacada de surpresa,

Ficaram tão completamente desorientados

Com uma notícia tão exaltada como essa,

Que não conseguem mais lembrar


A hora e o local.

O quê isso tem a ver com você? Muito.


Hafiz o substituirá depois

Se necessário.


________________________________________


Gostaria de poder falar como a música.

Gostaria de colocar o esplendoroso balançar dos campos nas palavras

Para que você pudesse abraçar a Verdade

Contra seu corpo

E dançar.

Estou tentando o melhor que posso

Com este pincel cru - a língua -

Cobrir você de luz.

Gostaria que eu pudesse falar como a música divina.

Quero dar-lhe os ritmos sublimes

Desta terra e os braços do céu

enquanto eles giram e se entregam alegremente,

Entregam-se

à respiração luminosa de Deus.

Hafiz quer que você me segure


Contra seu corpo precioso

E dance,


Dance.

Tukaram - Ensinamentos Místicos

A santidade não pode ser comprada no mercado, nem pode ser adquirida ao vagarmos pelas florestas e montanhas. Também não pode ser comprada com grandes quantidades de riquezas, nem pode ser encontrada nos mundos superiores e no além. A santidade pode ser adquirida apenas a custo da vida. Aquele que não está preparado para sacrificar sua vida não deveria vangloriar-se da espiritualidade.
Para o santo não sobrou nenhum lugar para pecado e mérito, ou para felicidade e miséria. A morte ocorreu durante a vida e a distinção entre o Ser e o não-Ser desapareceu. Não há lugar para casta, cor ou credo ou para a verdade ou inverdade. Quando o corpo foi sacrificado para Deus toda adoração foi realizada.
O Santo também foi além da influência de todos os tipos de ações: ele não pode fazer nenhuma ação que carregue qualquer fruto. Deus assumiu o lugar da ação e preencheu o Santo por dentro e por fora. De fato, agora não sobrou nenhuma distinção entre Deus e o Devoto; e se agora Deus é encontrado em algum lugar, é para ser encontrado em tal Santo.
Viemos a conhecer agora Tua natureza real. Agora vi meu Ser real.
Da semente cresce uma árvore e da árvore vem o fruto. Desse modo, Tu e eu somos como semente e árvore. As ondas são o oceano e o oceano as ondas. A imagem e o reflexo agora fundiram-se um no outro.
Quando o Ser se transformou em Deus e quando a mente inundou-se na iluminação, toda a criação parece divina e de repente o influxo de Deus preenche o mundo todo.
Se eu proferir louvores para alguém além de Ti, que minha língua caia. Se minha mente desejar pensar em algo além de Ti, que minha cabeça quebre ao meio. Se meus olhos tiverem paixão por verem alguma coisa além de Ti, que eles ceguem-se no mesmo momento. Se meus ouvidos se recusarem a ouvir Teus louvores, eles serão imprestáveis. Minha própria vida não teria razão de ser se fosse para eu ficar esquecido de Tua presença mesmo que por um momento.
Teus pés e mãos tem de trabalhar pelo amor a Deus. Tens fala para louvá-Lo e ouvido para ouvir Sua grandeza. Tens olhos para ver Sua forma.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Siddharameshwar Maharaj - Permaneça Alerta Internamente

(Mumbai, 5 de outubro de 1935)

Não importa o quão erudito ou estudado você possa ser no mundo, isso é um show externo. Sua consciência deveria ficar firme e internamente constante. Um homem que tenha ganho grande fama no mundo, estará desperdiçando sua vida se não estiver livre e desperto internamente. Aquele que deixou escapar o Deus Um, jogou sua vida fora. Qual é a utilidade de ser famoso na vida pública? Quando a pessoa não tem Auto-Conhecimento, ela é ignorante do Ser. Se você é um devoto de Deus, o lugar onde você está agora, e seu lugar depois da morte, é o “Mundo de Deus”. Se você está apenas inclinado para as coisas mundanas, você voltará para o mundo. Quando você é devotado ao Ser, você permanece no Ser - Um com Ele.


O propósito de falar tudo isso é que você tem de queimar todo o lixo desnecessário e ser Um com “A Totalidade do Absoluto”. Se você dissolveu os desejos do corpo e os elementos que constituem o corpo estão fundidos nos vastos elementos do universo, então você está livre ainda que tenha um corpo externo. Isso em si é a Liberdade. Um homem que constantemente pense em mulheres, no próximo nascimento nasce mulher. De acordo com o que você pensa e medita, é naquilo que você se torna. Alguém cuja atenção está sempre voltada para as coisas mundanas, tem de vir repetidamente para este mundo.


Em outra criaturas “Este Conhecimento” está ausente. Apenas os seres humanos tem este Conhecimento, e, portanto, somente na vida humana fazer tal meditação é acessível. Não é verdadeiro afirmar que com a completa saturação nos múltiplos prazeres, você eventualmente se tornará sem desejos. Não! Os desejos não morrerão nunca dessa maneira, apenas aumentarão. Os desejos de alguém que não teve chance de desfrutá-los já são grandemente aumentados.


Todos, ocasionalmente, dirão que estão desgostosos com a vida, mas é porque não podem encontrar a solução para seus problemas. Isso é frustração e não a real ausência de desejos (Virakti). Você não pode ter um sonho do jeito que você deseja. A experiência do sonho é causada por algum anseio contínuo. De acordo como você coloca a sua energia em algum sentimento particular, você obtém aquilo. Se você se concentrar em Brahman, o qual é sem atributos (Nirguna), você irá experimentar Isso. Ali, os atributos ou qualidades (Gunas) terminam. É quando os gunas (ou desejos), repetem-se constantemente e se multiplicam, que eles assumem a forma do Universo. Essa é a Ilusão Original, Moolamaya, ou a “Ilusão que Produz a Consciência”.


Através da meditação “Naquilo sem Atributos” (Nirguna Brahman), nós alcançamos a dissolução dos atributos (Gunas). Dessa maneira você pode tornar-se Singularmente Um.

É uma regra que um renunciado (Sanyasi) tem de remover seu cabelo e raspar sua cabeça. Isso significa que o orgulho dos atributos deveria ser removido. Simboliza que qualquer coisa que tenha crescido sobre o Ser devesse ser removida. O que estava lá Originalmente parece ter-se tornado outra coisa diferente. A “outra coisa” precisaria ser removida e aquele “Ser Original” deveria permanecer. O Estado Original não tinha qualidades, tais como Sattva, Rajas ou Tamas. Então, uma dessas qualidades apareceu. A natureza desse Guna é o poder de imaginação. Abraçando esse Guna, o Ser considerou-o erroneamente como sendo Sua própria natureza e esqueceu sua “Natureza Original”. Aí foi onde a confusão tomou conta. O Ser tem que estar muito alerta ali. Ele deve perceber que o poder da imaginação não é Sua Verdadeira Natureza e que ele é sem dualidade. Ele não tem qualidades, Ele é o “Ser Totalmente Livre”.


O fruto final de tudo é apenas reconhecer o Deus Uno. Reconhecer Deus é pensar sobre o que você é. O pensar está apenas no campo da ilusão, desse modo qual é o significado disso? Significa pensar que “eu não sou nada” e o Ser prevalece. Pelo menos isso deveria ser entendido. Conhecer a Verdade é chamado Conhecimento Correto. “Conhecer a Verdade” é Conhecimento. Quando a convicção firme de que “Eu sou Aquilo” (Soham) estiver fixada, saberemos que somos nada. O que quer que exista é apenas Brahman. Agora, por que lutar contra a lógica? O Ser está no seu Lugar Correto. Sem o Ser pode alguém até mesmo dizer seu próprio nome? A criança diz que um certo nome lhe deveria ser dado? Você pode dar qualquer nome para Aquilo que não pode ser descrito? O que tinha de acontecer já aconteceu, surgiu, e então o nome foi dado pela imaginação. O nome foi dado a partir daquilo que a mente escolheu. Foi apenas por convenção social que o nome foi dado ao usar-se uma certa palavra. O nome Wadhi é dado a uma garota que serve comida. Wadhi significa aquela que serve comida. Similarmente, o nome Shende significa último, e esse nome é dado para aquele que é o último. Os nomes estão simplesmente surgindo da imaginação. As vezes eles denotavam adequadamente as qualidades da pessoa e as vezes esses nomes não eram suficientes, portanto, os sobrenomes foram criados. Foram adicionados porque os primeiros nomes não eram adequados.


O Ser está onde está. Não há sentido de corpo para Ele. Os cinco elementos estão em seus lugares. O corpo não está ali. Nós não estamos ali. O corpo é uma forma falsa. Ninguém jamais teve realmente um corpo real. Brahman também não tem um corpo real. Ninguém pode ter um corpo real. Ninguém é real por causa do corpo. Qualquer que seja a forma, o corpo é falso. Tudo, na verdade, é sem forma. Todos deveriam olhar para si mesmos e alcançarem o que é para ser alcançado. Aquele que diz que o corpo é real, é um grande pecador. Ele é como o assassino de um Brahmin (um conhecedor de Brahman). Deus é sem forma. A partir de agora, sem mais conjecturas por favor. O Ser em Si mesmo, já é realizado (um siddha). Que práticas espirituais (sadhanas) mais Ele precisa? Uma vez que a cabeça está completamente raspada, como ela pode ser raspada de novo? Deveria a própria cabeça ser cortada? Como pode aquele que é livre ter aprisionamento? Práticas espirituais têm como seu propósito fazer com que encontremos o nosso Ser. Quando ele já foi encontrado, qual é a utilidade do Sadhana? Se um oleiro tornar-se rei, ele ainda ficará cuidando dos asnos? Por que ele se incomodaria em preparar o barro? Todos os vários tipos de esforços e práticas espirituais são os resultados de nossas próprias aptidões. Quando a pessoa está além delas, por que deveria se preocupar com elas?


Aquele que é um pecador, deveria fazer boas ações; se você pensa que algo de mau foi feito, você deve fazer algumas boas ações. Isso é uma atitude mental. Por que deveria aquele que renunciou, cair novamente nos humores da mente? O que há para ser atingido através de várias práticas? Que fruto é para ser obtido ao observarmos as regras de conduta? Quando a própria pessoa se tornou “Aquilo” que era o objetivo do Sadhana e “Aquilo” é experimentado internamente e embebido profundamente, então você pode continuar devoto do Guru por causa de seu amor por Ele. Entretanto, isso deveria acontecer sem desejo. Você já é “Um com Brahman”. De modo a manter em mente o que o Guru fez por você, você canta em louvor. Nós somos “Aquilo”. O corpo pertence aos cinco elementos. O indivíduo realmente é apenas Brahman. Pense profundamente a respeito apenas de “quem” você é e “onde” você está. Sem pensamento intencional, o que você sente que você é? Quando você pensa, você acaba por ver que você não é nada. O que é, é o Ser. O verbo “é” denota o Ser natural. Se você diz que você é um indivíduo, ou Jiva, você experimenta Jiva. O Ser verdadeiramente é Deus, LaxmiNarayana. Permeando em todos, Narayana é sua natureza, sua Grande Fortuna, ou “Laxmi”, é sua qualidade. Ele é RadhaKrishna. O Ser é Aquilo, qualquer que seja o nome que você o chame. Se você disser ilusão, ele é ilusão.


A “Totalidade do Ser” é “Tudo”, e aquele que é realmente uma pessoa sábia busca descobrir quem ele é. O homem examina tudo mas não pode reconhecer a si mesmo. Aquele que não pode reconhecer a si mesmo não pode ter a Realização. Quando a intenção de dizer “eu sou” é abandonada, então não há “coisa alguma”. O que sobra é Brahman, que realmente é o que você é. Estar convencido disso é muito profundo e é chamado de “A Realização da Espiritualidade”, e a “Ciência da Espiritualidade”. O caso não é que estamos separados do corpo e de Deus. O fruto não está separado, e nós não estamos separados. Somos o fruto. O objetivo é o Absoluto Final, o qual é Um conosco. A pessoa tornou-se o fruto quando esteve tentando obtê-lo. Um homem enquanto se preocupava a respeito de sua pobreza tornou-se Rei, então, por que ele deveria continuar se preocupando com sua pobreza? Nós já somos “Aquilo” que o buscador e o Mestre estavam tão ocupados fazendo Sadhanas para atingir.


É com o objetivo da pessoa encontrar a Si mesma que todos os caminhos são apresentados. Agora, nós somos “Aquilo”. Isso está provado, está Realizado. Agora, não há a questão de fazer ou não fazer algo. Aqueles que estavam com medo das ordens do Rei, tornaram-se Reis. O medo desapareceu junto com a pobreza. Que estudo a respeito dos Vedas os Vedas em si deveriam fazer? Como um local de peregrinação pode ir até si mesmo? Que Deus deveria ser encontrado por Deus? Que “Néctar da Imortalidade” deveria o néctar beber? Que “imensurável” deveria ser adorado pelo imensurável? Que “sem qualidades” deveria ser o objeto de adoração do sem qualidades? Que “Realidade” deveria desfrutar da Realidade? Como pode o “Brahman Imaculado” experimentar a Si mesmo? Como pode o “objeto da meditação” meditar sobre si mesmo? Quando você realiza a Si mesmo, tudo fica além das palavras. O “indescritível” está agora provado.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Bernard de Clairvaux - Felizes os Puros no Coração


“Felizes os puros de coração, pois verão a Deus”(Mat. 5:8). Essa é uma grande promessa, irmãos, e algo para ser desejado com todo o nosso coração. Pois ver dessa maneira é ser como Deus, como João, o Apóstolo diz: “Agora somos todos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que iremos ser. Pois sabemos que por ocasião dessa manifestação seremos como Ele, porque O veremos tal como Ele é.” (I João 3:2). Essa visão é a vida eterna, assim como a própria Verdade diz no Evangelho: “Esta é a vida eterna, que eles devem saber que Tu apenas é o verdadeiro Deus, Aquele que enviou Jesus Cristo.” (João 17:3)

Abominável é a deformidade que nos priva dessa visão abençoada. Detestável é a negligência que nos faz protelar a limpeza do olho. Pois, assim como nossa visão física é impedida tanto por um humor vindo de dentro quanto por poeira entrando no olho vinda de fora, também é a nossa visão espiritual perturbada pelos desejos de nossa própria carne ou pela curiosidade mundana e pela ambição. Nossa própria experiência nos ensina isso, não menos que a Página Sagrada, onde está escrito: “Um corpo corruptível pesa sobre a alma e esta tenda de argila faz o espírito pesar com muitas preocupações (Provérbios 9:15). Mas em ambos os casos é o pecado unicamente que entorpece e confunde a visão; nada mais parece se pôr entre o olho e a luz, entre Deus e o homem, pois, enquanto estivermos neste corpo, estaremos exilados do Senhor.

Isso não é culpa do corpo, exceto pelo fato dele ser mortal ainda; ao invés, é a carne que é um corpo pecaminoso, a carne onde não há boa coisa e onde reina a lei do pecado. Entretanto, assim como o olho físico que teve o cisco retirado ou soprado, mesmo sem a poeira em si, ainda parece obscurecido, da mesma maneira, e com frequência, experimenta aquele que caminha no espírito e vê profundamente. Pois, você não vai curar um membro ferido apenas retirando rapidamente a espada, só irá curá-lo se aplicar unguento para curá-lo. Porque ninguém deve achar que está purificado só porque saiu da fossa. Não. Em vez disso, primeiro é preciso perceber que estamos necessitando de uma lavagem completa. Também não podemos apenas ser lavados com água, precisamos ser purgados e refinados pelo fogo, para que possamos dizer: “passamos pelo fogo e pela água mas trouxeste-nos para um lugar de descanso.” (Sal. 66:12) “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mat. 5:8) “Agora vemos em espelho e de maneira obscurecida, mas, depois, veremos face a face.” (I Cor.13:12). Desse modo nossas faces verdadeiramente ficarão completamente limpas, para que Ele possa apresentar-se brilhante a elas, sem manchas ou rugas.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Rodney Collin - A Teoria da Vida Eterna (Parte 1)

A vida entre o nascimento e a morte *


O homem nasce e o homem morre. Entre esses dois pontos encontra-se uma linha de desenvolvimento que é chamada de vida.



Mas o nascimento não é o começo para um homem. Pois neste ponto o veículo físico que determina o que ele vai ser já está formado. Seus pontos fortes e fracos, suas inclinações inatas e potencialidades já estão estabelecidos. Na realidade, a carreira individual do homem começou muito antes, no momento da concepção, portanto:



Como deveria ser medida essa linha da carreira do homem? Contada em anos, a gestação é apenas a centésima parte dela. Mas a medida em anos é uma escala planetária, criada pelo movimento da Terra e não se refere ao tempo interior do homem. Para medir o seu desenvolvimento orgânico temos de encontrar uma escala completamente diferente. A chave para essa nova escala reside no fato de que o homem é concebido como uma única célula, sob as leis e escala de tempo do mundo das células, mas ele termina como um ser humano, com oitenta anos de memória atrás de si, sob as leis e escala de tempo dos homens.
Isso significa que durante o curso de sua carreira ele percorre todo o caminho do tempo celular para o tempo humano. Ele vive em um deslizamento ou numa escala logarítmica do tempo. Seus processos internos, lançados com velocidade quase inimagináveis no momento da concepção, ficam cada vez mais lentos, como um mecanismo de relógio desacelerando até sua cessação completa na morte. Nesta escala de trabalho realizado, o período de gestação não constitui apenas um centésimo, mas um terço da carreira do homem.
De outro ponto de vista, esse período pode ser tomado como o tempo de formação de um terço da natureza total do homem. Esse terço, a parte mais grosseira de seu organismo psico-físico final, consiste em seu veículo físico original, ou seu corpo orgânico. Após o nascimento o corpo de um homem pode ser mantido saudável ou ficar doente, uma ou outra função pode ser desenvolvida ou ser deixada dormente. Mas nunca pode ser transformado em um corpo diferente desse que já foi criado. Uma criança de cabeça redonda nunca poderá se transformar em um homem de cabeça alongada, nem uma de olhos castanhos num adulto de olhos azuis. Tanto a formação física fundamental quanto as reações que se originam dela já estão completamente determinadas no nascimento.
A formação da segunda parte da natureza do homem, sua personalidade, ocorre durante um segundo período chamado infância. Durante esse tempo o corpo físico, criado antes do nascimento, estabelece relações com o mundo exterior. Ele começa a considerar certos ambientes como naturais, familiares e reconfortantes, enquanto outros como estranhos e proibidos. Isso constitui a sua normalidade. Enquanto que dentro desse quadro determinado, suas próprias tendências físicas inatas estabelecem um gosto pessoal por companheiros, passatempos, estações do ano, lugares e assim por diante. No final da infância vem a capacidade de pensar em conceitos, em seu corolário civilizado, a arte da leitura. E dentre o número infinito de mundos da imaginação tornados disponíveis, o indivíduo vai escolher ou será escolhido para ele um ou dois que depois sempre irão influenciar o cenário de sua mente.
Por volta do final da infância, a personalidade, que é como se fosse o intermediário entre o organismo físico nu e o mundo em que ele existe, já está formada. Este mundo circundante é infinito, mas a personalidade assim criada na infância, como um filtro colorido, garante que o homem adulto veja-o sempre colorido de uma determinada cor, com todos os objetos dessa cor tendo valor muito elevado e os objetos de outras cores com valor diminuído ou completamente eliminados. Essa personalidade forma uma parte definitiva e duradoura do organismo do homem, e após a adolescência ela não é seriamente afetada até a morte. Este princípio é reconhecido por muitas ideologias religiosas e políticas que insistem num controle restrito sobre as crianças novas até à idade de sete ou dez anos, quando sua "doutrinação" é considerada segura. Durante o restante da vida, desde por volta dos sete anos até o fim do limite de tempo do homem, o organismo dual do corpo e da personalidade desenvolve todas as suas possíveis reações para as circunstâncias com as quais ele possa se defrontar. Este período, chamado de maturidade, é na maioria dos casos um resultado automático da exposição do ser já criado a novos problemas, lugares e pessoas e não envolve a criação de algo novo em si.
O significado desses três períodos da existência do homem pode ser explicado pela analogia de uma estátua. No primeiro período, a estátua é esculpida em pedra ou madeira; no segundo ela é pintada, decorada com jóias; no terceiro período a imagem terminada passa de mão em mão, é estimada por um proprietário que a aprecia, fica negligenciada em uma pilha de lixo - ora é limpa, ora suja, ora despojada de suas jóias, ora até mesmo redecorada. No entanto, até o momento da sua destruição final por desregramento, acidente ou decadência, ela continua a ser a mesma estátua que foi entregue ao mundo da oficina do artesão.
Assim é também com um homem comum. Mas nós temos evidências que sugerem que este terceiro período é potencialmente o do desenvolvimento de uma terceira parte, e normalmente uma parte latente da natureza do homem. Podemos chamá-la de alma. Mais tarde veremos porque podemos dizer que o homem comum tem apenas uma alma dormente e porque o despertar da alma pode ser considerado como a tarefa mais difícil a que um homem pode, eventualmente, propor-se. Comparável, na verdade, à transformação da estátua em um ser vivo. Como podemos compreender a escala dessa linha de vida na qual a gestação, a infância e a maturidade são de medida igual? O que esse desaceleramento dos processos vitais significa? Qual é a relação entre o tempo orgânico apresentado nessa escala e o tempo de meses e anos em que a idade humana é geralmente medida?
Imagine um peão que com um impulso normal gira por 75 segundos. No momento do lançamento, esse peão gira num ritmo de muitas dezenas de revoluções por segundo; no último segundo antes de cair imóvel ele pode completar somente uma única volta. A escala de segundos representa a nossa medida comum do tempo do homem por anos; a escala das voltas representa trabalho realizado, pois é cada volta e não cada segundo que representa uma quantidade fixa de energia gasta. Desta forma, é realizado dezenas de vezes mais trabalho no primeiro segundo do que no último. E assim é com os anos da vida do homem.
Vamos colocar uma duração média nos três períodos de vida já descritos. A gestação humana dura 280 dias ou 10 meses lunares; a infância dura cerca de sete anos ou 100 meses lunares, enquanto que o tempo tradicional de vida do homem, entre 70 e 80 anos, é equivalente a 1000 meses lunares.

Tal escala, abrangendo em distâncias iguais 1, 10, 100 e 1000 unidades, é chamada de uma escala logarítmica. Utilizando tal escala consistentemente, podemos obter as divisões mais finas numa base de trabalho orgânico igual:

Desta forma, a existência do homem é dividida em nove partes, cada uma dura um pouco mais do que todo o tempo que se passou antes.
Além disso, cada parte marca o surgimento de uma função de seu organismo. Todas essas funções estão presentes no homem, potencialmente ou em operação, durante toda a sua vida. Mas em cada marco uma função domina seu organismo, controla-o e empresta para a idade correspondente, sua própria cor específica.
Dois meses após a concepção, o embrião não é nada além de um organismo digeridor, uma máquina para transmutar a nutrição recebida na corrente sanguínea da mãe para o tecido celular de uma certa forma. De todas as funções depois familiares ao homem adulto - digestão, movimento, respiração, metabolismo instintivo, pensamento, emoção passional e função criativa ou sexual – apenas a primeira realiza-se plenamente no embrião nesta fase. O ponto 1 nessa escala logarítmica, portanto, pode ser dito como sendo dominado pela função da digestão.

Aos quatro meses e meio desde a concepção, uma nova função começa a se desenvolver. Ela está relacionada com a respiração e o movimento, que na verdade são dois aspectos da mesma coisa – a respiração, que determina o tempo do movimento e vice-versa, têm a mesma relação que há entre o fluxo de ar num forno de locomotiva e o potencial de velocidade do trem. Neste momento o embrião adquire movimento individual ou se mexe, como costumamos dizer, e, posteriormente, o seu sistema pulmonar começa a se desenvolver em prontidão para o início da respiração no instante do nascimento. Assim, no ponto 2, podemos dizer que entra a função do movimento e que no ponto 3 a da respiração.
No primeiro ano de vida o metabolismo físico conectado com o crescimento dos tecidos e com o aumento do volume está no seu máximo vigor. Neste ano, a criança ganha mais peso do que em qualquer outro ano da sua existência. Todas as melhores energias do organismo parecem agora ir para o metabolismo do crescimento físico, que, por falta de uma descrição melhor, podemos chamar de função característica do ponto 4.
No ponto 5, entre dois e meio e três anos, o rápido crescimento do cérebro dá ascendência à função intelectual; a criança adquire o poder da fala e de conceitos abstratos e através do agrupamento intelectual de impressões, culminando na capacidade de raciocinar, gradualmente, forma-se a personalidade. De maneira geral, o ponto 6 marca a conclusão deste processo.
O ponto 7 ou os quinze anos, marca a puberdade, onde a combinação das glândulas supra-renais e sexuais entram em jogo, e juntas estimulam o organismo à emoção passional e sua projeção. Essa projeção deve ser diferenciada de sexo verdadeiro, que é conscientemente criativo em sua natureza, enquanto que aqui está mais ligado aos impulsos violentos, agressivos e passionais, que marcam de maneira peculiar a adolescência, mas que para muitas pessoas permanecem como sua máxima expressão, mesmo na maturidade.
O sexo verdadeiro, no sentido da mais alta função criativa, que resulta na harmonização de todas as outras funções - seja na criação de filhos na imagem física de seus pais, na criação das artes ou na criação do verdadeiro papel do indivíduo na vida - é atingido apenas com o desenvolvimento de emoções mais elevadas no ponto 8, o auge da vida. Mas a plena expressão dessa função é dependente do crescimento de novos poderes e novas capacidades, potenciais no homem, mas só realizáveis com um trabalho e um conhecimento muito especiais. A chave para esses novos poderes reside na possibilidade do homem tornar-se consciente de si mesmo e de seu lugar no universo que o cerca. Pois a partir disso pode surgir - em casos muito afortunados - uma alma completamente formada ou um princípio permanente de consciência.

Comumente, não há nem permanência nem consciência no homem. Cada uma dessas funções fala nele automaticamente, com uma voz diferente, para seus próprios interesses, indiferente aos interesses das outras que formam a totalidade, mesmo que, usando língua e nome do indivíduo.
“Eu preciso ler o jornal!”, diz a função intelectual. “Eu vou caminhar!”, contradiz a função motora. “Estou com fome!", declara a digestão; “Estou com frio!", o metabolismo. E 'Eu não vou frustrar-me!" grita a emoção passional, em defesa de algumas delas.
Tais são os muitos 'eus' do homem. E neles reside a chave para todas as contradições internas e externas que mergulham-no em tal confusão, cancelam suas melhores intenções e mantêm-no ocupado pagando as dívidas que foram de forma imprudente efetuadas por cada um dos seus muitos lados. Cada função de sua essência, assim como cada imaginação de sua personalidade, faz promessas, incorre em obrigações pelas quais o homem como um todo deve aceitar a responsabilidade.
Assim, a primeira condição para uma alma ou um princípio unificador, reside no confinamento gradual de cada função a seu papel apropriado, através da auto-observação e da consciência e da remoção progressiva das contradições entre elas através do reconhecimento comum de todas elas desse objetivo único.
Um resumo das funções que entram em pontos sucessivos da linha da vida do homem vai, portanto, mostrar que apesar de que de um ponto de vista sua vida está se esgotando conforme ele envelhece, por outro ponto de vista novos poderes trabalhando com energias mais sutis e tendo possibilidades sempre maiores, periodicamente revelam-se nele.
Essas funções representam a ação no homem de diferentes níveis de energia, cada qual tendo seu próprio sistema adequado no corpo humano. Exatamente da mesma maneira que as diferentes energias e matérias que circulam em uma casa - água quente e fria, gás, luz elétrica e energia elétrica - são cada uma delas carregadas por seus próprios sistemas de tubos ou cabos. Mas, embora esses sistemas existam no organismo do homem desde seus primeiros dias, a energia ou matéria que opera através deles é liberada somente pela natureza numa certa idade, assim como a água, o gás e a eletricidade que servem a casa podem ser acionados de seus dispositivos apropriados, em datas diferentes e sucessivas.
Desse modo, a característica de todas as funções acima mencionadas e suas energias é que elas trabalham em um corpo orgânico, através de órgãos e tecidos de estrutura celular. Isso é evidente. Pois mesmo que as emoções superiores produzam fenômenos que pareçam ser supra-físicos, nós sabemos que ainda elas são transportadas por um cérebro tangível e um sistema nervoso cuja estrutura podemos examinar. Também não podemos normalmente conceber o seu funcionamento aparte desta máquina física.
No entanto, temos todas as razões para acreditar que o impacto das energias cada vez mais elevadas em fases sucessivas de desenvolvimento não termina no ponto 8, ou no auge da vida. No ponto 9 de uma escala logarítmica, o que equivale a cerca de setenta e cinco ou setenta e seis anos, uma energia ainda mais elevada e mais penetrante é projetada na existência do homem pela natureza.
Mas essa energia difere das outras porque é demasiadamente intensa para ser contida dentro de um corpo de estrutura celular, da mesma maneira que a energia de um raio é intensa demais para ser contida dentro do corpo de uma árvore, que ao ser atingida é imediatamente explodida e destruída. Essa energia cósmica final é de tal natureza que, com o seu impacto o corpo celular do homem é imediatamente cortado de qualquer princípio mais duradouro de vida que possa existir nele, e é deixado para se desintegrar. Este fenômeno surge para ele como a morte.
Negativamente, essa energia suprema destrói o corpo físico ou orgânico do homem. Mas, positivamente, o que ela faz? Podemos dizer que ela conecta a morte com a concepção. Isso significa que ela é de uma tal natureza que funciona fora do nosso tempo. Através dela a soma final ou a assinatura essencial de um indivíduo é transportada de volta para o momento em que os cromossomos do óvulo fertilizado executam a dança em pares pela qual todas as qualidades subsequentes do seu organismo virão a ser determinadas.
Como pode ser isso? O nosso sentido de tempo deriva do desdobramento fisiológico do corpo, assim como a nossa sensação de calor decorre da temperatura do sangue. O corpo celular é o nosso relógio e nosso termômetro. O choque que o destrói liberta-nos simultaneamente da temperatura e do tempo.
Na morte, entramos na atemporalidade ou na eternidade. A partir desse estado de atemporalidade, daquele prazer da eternidade, todos os pontos dentro do tempo estão igualmente acessíveis. Ou melhor, eles estão relacionados, não pelo tempo, mas pela intensidade da energia que os constitui.

Dois pontos no ciclo normal da vida humana são formados da energia mais poderosa e divina que conhecemos. Somente Deus dá a vida e só Deus leva a vida. A morte e a concepção estão conectadas fora do tempo pela intensidade divina da energia envolvida. Assim como um ímã, outro ímã e o Pólo Norte estão conectados fora do tempo por seu magnetismo comum, assim também a morte, a concepção e Deus estão ligados fora do tempo por sua potência comum.
A energia da morte reduz o ser total do homem, o produto de todos os seus dias, a uma essência invisível, como a destilação pode reduzir dezenas de milhares de flores a uma única gota de perfume essencial. E assim como este perfume tem o poder de passar através da fresta de uma porta, de uma forma que seria inconcebível para as flores na sua forma física original, desse modo a essência do homem destilada pela morte parece capaz de passar pelo tempo de uma forma bastante inconcebível do ponto de vista de seu corpo orgânico.
Portanto, a agonia da morte de um homem é idêntica ao êxtase de sua concepção; e o que ele tornou-se no primeiro momento deve controlar o que, inevitavelmente, surge do padrão criado no segundo.
Nossa figura agora assume a forma mostrada abaixo


O que pode ser dito da percepção comum do homem de sua vida em tal esquema? Qual é a natureza de sua consciência e memória do que tenha havido consigo? A consciência comum do homem de sua existência pode ser vista como um ponto fraco de luz ou de calor que viaja inexoravelmente ao redor deste círculo do nascimento à morte, suficiente, quando muito, para lançar seu brilho um ou dois dias para frente ou para trás, mas às vezes deixando em seu rastro uma certa energia residual que sentimos como a memória.
Para esse progresso da consciência e da memória, no estado frágil em que existem no homem comum, no entanto, o ponto de cima do círculo representa uma barreira insuperável. Além deste isolador da morte e da concepção, a consciência do homem comum não pode passar; e a respeito do que está além disso, quer para frente ou para trás, sua memória não lhe diz nada.
No entanto, por ele ser o maior de todos os mistérios, não podemos ignorá-lo. Todos devem chegar mais cedo ou mais tarde a esse ponto, e seria melhor que chegassem a ele com a total faculdade de compreensão de que dispõem na vida focalizada ali, ao invés de chegar de maneira cega e com medo. Pois do medo, nada além de aflição pode-se esperar como resultado.

sábado, 20 de março de 2010

G. I. Gurdjieff - Nova York, fevereiro de 1924

O homem, tal como o conhecemos, é uma máquina. Essa idéia da mecanicidade do homem deve ser muito bem compreendida e bem representada a si mesmo, a fim descobrir todo o seu significado e todas as conseqüências e os resultados dela decorrentes.
Primeiro de tudo, cada um deveria compreender a sua própria mecanicidade. Mas essa compreensão só pode vir como resultado de uma auto-observação corretamente conduzida. A observação de si, não é uma coisa tão simples como pode parecer à primeira vista. É por isso que este ensinamento considera fundamental o estudo dos princípios de uma auto-observação correta. Mas antes de passar para o estudo desses princípios, um homem deve tomar a decisão de ser absolutamente sincero consigo mesmo: não vai fechar os olhos para coisa nenhuma, não se desviará de nenhuma constatação que ela possa levá-lo, não recuará diante de nenhuma conclusão, e não deixará deter-se por nenhum muro de restrição já existente. Quem não tem o hábito de pensar desse modo, necessitará de muita coragem para aceitar sinceramente os resultados e conclusões que chegará. Isso transtorna toda a maneira de pensar do homem e o despoja de suas ilusões mais agradáveis e mais caras. Ele vê, antes de tudo, a sua total impotência e desamparo, literalmente, diante de todas as coisa que o cercam. Tudo o possui, tudo o domina. Ele não possui nem domina nada. As coisas o atraem ou o repelem. Toda a sua vida nada mais é que uma submissão cega às suas atrações e repulsões. Além disso, se ele não tiver medo das conclusões, verá como se constituíram aquilo que ele chama de seu caráter, seus gostos e hábitos, ou seja, como se formaram sua personalidade e individualidade.
Contudo, a observação de si, ainda que conduzida séria e sinceramente, não poderia, por si só, apresentar a ele um quadro absolutamente verídico de seu mecanismo interior.
O ensinamento que está sendo exposto aqui dá os princípios gerais da construção do mecanismo, e com a ajuda da observação de si, o homem pode verificá-los. A primeira exigência deste ensinamento é que nada deve ser aceito sem verificação. O esquema de construção da máquina humana deve servir apenas como um plano para a seu próprio trabalho, que continua sendo o seu centro de gravidade.
De acordo com esse esquema, o homem nasce com um mecanismo adaptado para receber muitos tipos de impressões. A percepção de algumas dessas impressões começa antes do nascimento. Depois, durante o crescimento, outros aparelhos receptores, cada vez mais numerosos, surgem e se aperfeiçoam.
A estrutura desses aparelhos receptores é o mesma em todas as partes do organismo. Ela lembra os rolos de cera virgem onde são feitas as gravações num fonógrafo. Desde o primeiro dia de vida, e até mesmo antes, todas as impressões recebidas são gravadas nesses rolos e bobinas. Além disso, o mecanismo tem um dispositivo automático graças ao qual todas as impressões recém-recebidas se conectam com as impressões semelhantes anteriormente registradas. Ao mesmo tempo, um registro cronológico é mantido.
Assim, cada impressão recebida está inscrita em diversos lugares sobre vários rolos. E ela se conserva intacta nesses rolos. O que chamamos de memória é uma adaptação muito imperfeita por meio da qual só podemos dispor apenas de uma pequena parte da nossa reserva de impressões. Mas uma vez experimentadas, as impressões nunca mais desaparecem; são preservadas nos rolos onde estão escritas.
Muitas experiências com hipnose foram feitas, que estabeleceram com exemplos incontestáveis, que o homem se lembra de tudo que ele já experimentou, até dos mínimos pormenores. Ele se lembra de todos os detalhes de seu entorno, até mesmo dos rostos e das vozes das pessoas em volta dele durante a sua infância, quando ele parecia ser um ser totalmente inconsciente.
É possível através da hipnose fazer todos esses rolos funcionarem, até mesmo os que estão esterrados nas profundezas do mecanismo.
Mas pode acontecer que esses rolos comecem a desenrolar por si mesmos após algum choque visível ou oculto, e cenas, imagens ou rostos, aparentemente esquecidos há muito tempo, de repente, vêm à tona.
Toda a vida psíquica do homem não é senão um desdobramento, aos olhos da mente, desses rolos com os seus registros de impressões. Todas as particularidades de concepção do mundo, todos os traços característicos da individualidade de um homem, dependem da ordem em que esses registros foram feitos e da qualidade dos rolos existentes nele.
Vamos supor que uma impressão foi recebida e gravada ao mesmo tempo que outra que não tenha nada em comum com ela; por exemplo, um homem ouve uma ária de dança muito alegre, no momento de um choque psicológico intenso: angústia ou tristeza. Então esta música irá sempre evocar nele a mesma emoção negativa e, correspondentemente, o sentimento de angústia vai lembrar-lhe daquela mesma ária.
É o que a ciência chama de associações de pensamento e de sentimento. Mas a ciência não percebe o quanto o homem é limitado por essas associações e como ele não pode libertar-se delas. A concepção de mundo para o homem é completamente definida pela natureza e quantidade dessas associações.
Vemos agora, até certo ponto, porque os homens não podem entender uns aos outros quando falam sobre o homem. Para falar sobre o homem com o mínimo de seriedade, é necessário saber muito sobre ele, caso contrário, a concepção de homem torna-se demasiadamente vaga e confusa. Somente quando conhecemos os primeiros princípios do mecanismo humano que podemos indicar de que aspectos e qualidades estamos aqui falando.

terça-feira, 16 de março de 2010

Meher Baba - A Remoção dos Sanskaras - Parte II

No fim da Parte I, estão explicados os métodos de remover os Sanskaras que dependem principalmente do princípio de negar os Sanskaras positivos, que também velam a Verdade da consciência e impedem a Auto-iluminação - por causa da qual toda criação veio a existir. Todos esses métodos de negar os Sanskaras positivos estão fundamentalmente baseados no controle do corpo e da mente. O controle das tendências habituais da mente é muito mais difícil do que controlar as ações físicas. Os pensamentos e desejos evasivos e passageiros da mente podem ser dominados somente com grande paciência e através de prática persistente. Mas a restrição dos processos mentais e das reações é necessária para reprimir a formação de novos Sanskaras e para desgastar e exaurir os Sanskaras antigos dos quais eles são expressão. Embora o controle possa ser difícil no início, através de sinceros esforços torna-se gradualmente natural e fácil de alcançar.

O controle é deliberado e envolve esforços enquanto a mente está tentando ‘descondicionar-se’ através da remoção dos Sanskaras. Mas depois que a mente é liberada dos Sanskaras, o controle torna-se espontâneo porque a mente está então funcionando com liberdade e compreensão. Tal controle é nascido da força de caráter e saúde da mente e ele invariavelmente traz consigo liberdade do medo e imensa paz e calma. A mente, que parece fraca quando está desenfreada e descontrolada no seu funcionamento, torna-se uma fonte de grande força quando é controlada. O controle é indispensável para a conservação da energia mental e o uso econômico do pensamento, para propósitos criativos.

Entretanto, se o controle é puramente mecânico e sem objetivo, ele derrota seu próprio propósito, que é tornar possível o funcionamento livre e não condicionado da mente. O controle que tem valor espiritual real não consiste na repressão mecânica dos pensamentos e desejos, mas é a restrição natural exercitada pela percepção dos valores positivos descobertos durante o processo da experiência. Controle verdadeiro, portanto, não é meramente negativo. Quando alguns valores positivos entram dentro do foco da consciência, seus clamores por serem expressados em vida geram respostas mentais que finalmente removem todas as tendências que obstruem uma expressão livre e completa desses valores. Assim, tendências por luxúria, avidez, e raiva são removidas através de um reconhecimento apreciativo do valor de uma vida de pureza, generosidade e gentileza. A mente, tornando-se acostumada a certos hábitos de pensamento e resposta, não acha fácil ajustar-se a esses novos clamores de suas próprias percepções, devido à inércia causada pelas impressões dos modos anteriores de pensamento e conduta. Esse processo de reajuste sob a luz de valores verdadeiros toma a forma daquilo que chamamos de - controlar a mente. Esse controle não é um confinamento mecânico ou forçado da mente. É um esforço da mente para superar sua própria inércia. É fundamentalmente criativo e não negativo em seu propósito, pois é uma tentativa da mente de chegar a um auto-ajuste a fim de liberar a expressão dos valores reais da vida.

O controle criativo torna-se possível porque a fonte de luz está dentro de todos; e embora a Auto-iluminação (ou Iluminação do Ser) esteja impedida pelo véu dos Sanskaras, não é tudo escuridão, mesmo dentro dos limites da consciência humana ordinária. O raio de luz consiste em uma sensibilidade por valores verdadeiros e guia o homem para diante com vários graus de claridade, de acordo com a espessura do véu dos sanskaras. O processo de negação dos Sanskaras é ao mesmo tempo o processo de compreender valores verdadeiros. O progresso espiritual é caracterizado, portanto, pelo aspecto dual de renunciar os falsos valores dos Sanskaras em favor dos valores verdadeiros da compreensão. O processo de substituir valores inferiores por valores mais elevados é o processo de sublimação, que consiste em desviar a energia mental encerrada nos velhos Sanskaras para fins criativos e espirituais. Quando essa energia presa nos Sanskaras é assim desviada, eles são desgastados e esgotados.

O método de sublimação é o método mais natural e eficaz de romper as rotinas dos velhos sanskaras e tem a vantagem especial de ser muito interessante para o aspirante em todos os estágios. O método da mera negação sem nenhuma substituição pode às vezes ser enfadonho e parecer conduzir à vacuidade. Mas o método de sublimação consiste em substituir valores mais baixos por outros mais elevados e é consequentemente cheio de atrativos interessantes em todos os estágios, trazendo um sentido crescente de realização. A energia mental pode ser sublimada em canais espirituais através (1) da meditação, (2) do serviço altruísta para a humanidade e (3) da devoção.

A meditação é concentração profunda e constante sobre um objeto ideal. Em tal concentração sobre de um objeto ideal, a pessoa fica consciente somente do objeto da meditação, esquecendo completamente a mente, bem como o corpo. Dessa forma, não são formados novos Sanskaras e os antigos são desgastados e esgotados através da atividade mental de permanecer no objeto da concentração. Finalmente, quando os Sanskaras desaparecem completamente, a alma individualizada é dissolvida na intensidade da concentração fundindo-se no objeto ideal.

Existem muitas formas de meditação de acordo com a aptidão das diferentes pessoas. A capacidade imaginativa das pessoas que têm de trabalhar duro, frequentemente fica esgotada devido ao trabalho demasiado. Para tais pessoas, a forma de meditação mais apropriada consiste em desconectar-se de seus pensamentos e então olhar para esses mesmos pensamentos e para o corpo objetivamente. Depois que o aspirante é bem sucedido em considerar seus pensamentos e seu corpo com completa objetividade, ele tenta identificar-se com o ser cósmico através de sugestões construtivas tais como “eu sou o infinito”, “Eu estou em todas as coisas,” “Eu estou em todos.”

Aqueles que têm imaginações vívidas e ativas podem tentar a concentração intensiva em algum ponto, mas fixar a mente em algum ponto deve ser evitado por aqueles que não têm nenhum gosto por isso. Geralmente, a energia da mente é dispersada através de seus diversos pensamentos. A meditação em um ponto é muito salutar para que a mente recolha-se e estabilize-se, mas é um processo mecânico e consequentemente carece de experiências criativas e felizes. Entretanto, nos estágios iniciais, esta forma de meditação pode ser usada como uma preparação para outras formas de meditação mais bem sucedidas.

As formas de meditação mais profundas e bem sucedidas são precedidas por um pensar deliberado e construtivo a respeito de Deus, o Amado. A meditação em Deus é espiritualmente mais fértil. Deus pode transformar-se no objeto da meditação tanto em seu aspecto impessoal como no aspecto pessoal. A meditação no aspecto impessoal de Deus é apropriada somente para aqueles que têm uma aptidão especial para isso. Ela consiste em focar todos os pensamentos sobre a existência abstrata e não manifesta de Deus. De outro lado, a meditação no aspecto pessoal de Deus consiste em centrar todos os pensamentos sobre a forma e os atributos de Deus.

Após intensiva meditação, a mente pode querer estabelecer-se não no objeto da meditação, mas na uniformidade da paz expansiva experimentada durante a meditação. Tais momentos são resultado natural da fadiga da faculdade de imaginação e sem esforço devem ser incentivados. A meditação deve ser espontânea e não forçada. Nos momentos de surgimento de impulsos divinos, a imaginação deve ser deixada solta e permitida voar alto. O vôo da imaginação deveria ser controlado apenas pelo objetivo proposto de tornar-se um com o Infinito. Não deveria ser influenciado pelas correntes dos sentimentos diversos de luxúria, avidez ou de raiva.

O sucesso na concentração vem apenas gradualmente, e é provável que o aspirante seja desencorajado por não conseguir resultados satisfatórios no começo. Frequentemente, o desapontamento que ele experimenta é em si mesmo uma séria obstrução para iniciar a meditação do dia e persistir nela. Outros obstáculos como ociosidade e saúde debilitada, igualmente podem ser difíceis de superar, mas podem ser superados ao se colocarem horários fixos e regulares para a meditação e a prática firme. Durante o começo da manhã ou no por do sol a condição silenciosa da natureza é particularmente útil para a meditação mas ela pode ser empreendida a qualquer hora apropriada.

A solidão é uma das condições essenciais para alcançar o sucesso na meditação. No mundo dos pensamentos há uma constante mistura de formas e de cores. Algumas idéias poderosas tendem a reforçar a mente facilitando a integração; enquanto que alguns pensamentos frívolos são dissipadores. A mente é atraída ou repelida por esses pensamentos diversos no ambiente mental. É aconselhável evitar a influência desses pensamentos variados a fim de conseguir estabelecer-se em seus próprios pensamentos ideais. Com esse propósito a solidão tem imensas possibilidades. A solidão significa economia de energia mental e aumento do poder de concentração. Não tendo nada externo para atrair ou repelir a mente, você é atraído para dentro e aprende a arte de abrir-se para as correntes mais elevadas, que têm a potência de lhe dar força, felicidade e pacifica expansibilidade.

Enquanto a meditação nos aspectos pessoais e impessoais de Deus requer a retirada da consciência para o santuário do seu próprio coração, a concentração no aspecto universal de Deus é melhor alcançada através do serviço altruísta para a humanidade. Quando uma pessoa está absorvida completamente no serviço para a humanidade, ela abstrai-se completamente de seu próprio corpo, sua mente ou de suas funções, assim como na meditação; e consequentemente novos Sanskaras não são formados. Ademais, os Sanskaras antigos que aprisionam a mente são destruídos e dispersados. Uma vez que agora o indivíduo está centrando sua atenção e interesse não no seu próprio bem, mas no bem dos outros, o núcleo do ego é privado da energia que o nutre. O serviço altruísta é, portanto, um dos melhores métodos de desviar e de sublimar a energia encerrada nos Sanskaras limitadores.

O serviço altruísta dá-se quando não há o menor pensamento de recompensa ou de resultado e quando há completa negligência do próprio conforto ou conveniência da pessoa e não há a possibilidade de que o serviço possa ser mal-entendido. Quando você está totalmente ocupado com o bem-estar dos outros, você quase não pode pensar em si mesmo. Você não está preocupado com seu conforto e conveniência ou sua saúde e felicidade. Ao contrário, você está disposto a sacrificar tudo para o bem estar dos outros. O conforto deles é a sua conveniência, a saúde deles é o seu prazer e a felicidade deles é sua alegria. Você encontra a sua vida ao perdê-la na vida deles. Você vive nos corações deles e seu coração transforma-se no abrigo deles. Quando há a união verdadeira dos corações, você se identifica completamente com a outra pessoa. Seu ato da ajuda ou palavra de conforto supre o que quer que possa estar faltando nas pessoas; e através dos pensamentos de gratidão e benevolência deles, você realmente recebe mais do que dá.

Assim, ao viver pelos outros, sua própria vida encontra sua amplificação e expansão. A pessoa que leva uma vida de serviço altruísta, consequentemente, quase não está consciente de que está servindo. Ela não faz aqueles a quem ela serve terem a sensação de que estão de maneira alguma sob obrigação para com ela. Ao contrário, ela mesma sente-se obrigada por ter tido a chance de fazê-los felizes. Nem para se mostrar nem para ter nome e fama ela os serve. O serviço altruísta é alcançado completamente, somente quando um indivíduo deriva a mesma felicidade em servir aos outros da que deriva quando é servido. O serviço altruísta ideal livra a pessoa dos Sanskaras de anseios por poder e posses, de auto-piedade e de inveja, de más ações desempenhadas através do egoísmo.

O serviço altruísta e a meditação são espontâneos quando inspirados pelo amor. O amor é, portanto, corretamente considerado como sendo a avenida mais importante que conduz à realização do mais elevado. No amor a alma é absorvida completamente no Amado e fica, portanto, desapegada das ações do corpo ou da mente. Isso coloca um fim na formação de novos Sanskaras e resulta também na destruição dos Sanskaras antigos ao dar uma direção inteiramente nova para a vida. Em parte alguma o auto-esquecimento vem tão natural e completamente como na intensidade do amor. Por isso foi-lhe dado o primeiro lugar entre os métodos de assegurar a liberação da consciência da sujeição aos Sanskaras.

O amor compreende em si as diferentes vantagens que pertencem aos outros caminhos que conduzem à emancipação e é em si o caminho mais distinto e eficaz. Imediatamente é caracterizado pelo auto-sacrifício e pela felicidade. Seu caráter único reside no fato de que ele é acompanhado de uma entrega exclusiva e devotada ao Amado sem admitir as reivindicações de qualquer outro objeto. Assim, não há nenhum espaço para a dispersão da energia mental e a concentração é completa. No amor, as energias físicas, vitais e mentais do homem são todas reunidas e tornadas disponíveis para a causa do Amado, com o resultado de que este amor se transforma em um poder dinâmico. A tensão do amor verdadeiro é tão grande que todo o sentimento externo que possa intervir é imediatamente jogado fora. A eficácia expulsiva e purificadora do amor é incomparável.

Não há nada artificial ou que não seja natural sobre o amor. Ele existe desde o início da evolução. No estágio inorgânico é expresso cruamente sob a forma de coesão ou atração. É a afinidade natural que mantém as coisas juntas e as aproxima. A tração gravitacional exercida pelos corpos celestiais uns sobre os outros é uma expressão deste tipo de amor. No estágio orgânico o amor torna-se auto-iluminado e auto-apreciativo e exerce uma parte importante desde as formas mais inferiores como a ameba até a forma mais evoluída de seres humanos. Quando o amor é auto-iluminado, seu valor é intensificado por seu sacrifício consciente.

O sacrifício do amor é tão completo e de bom grado que ele tem tudo para dar sem esperar por nada. Quanto mais ele dá mais quer dar e menos está ciente de ter dado. A corrente do amor verdadeiro é sempre crescente e nunca falha. Sua simples expressão é sua simples entrega. As complexidades do Amado são um interesse de sua melhor atenção e cuidado. Infinitamente e sem remorso ele procura satisfazer o Amado de milhares de maneiras. Não hesita em dar boas-vindas ao sofrimento a fim de satisfazer apenas um desejo do Amado ou para aliviar o Amado da menor dor vinda da negligência ou da indiferença. O amante alegremente sofreria e pereceria por causa do Amado. Aflito e atormentado, o amor espera não atender ao próprio corpo que o abriga e nutre. Ele não quebra nenhuma promessa e o Amado é a preocupação de toda a vida do amante. O tabernáculo do amor rompe o desassossego incontrolável e dá nascimento às correntes do amor e da doçura suprema, até que o amante abra o caminho das suas limitações e se perca no ser do Amado.

Quando o amor é profundo e intenso, é chamado de bkakti, ou devoção. Em seus estágios iniciais a devoção é expressada através de adoração de símbolos, súplica diante das deidades, reverência e fidelidade às escrituras reveladas, ou pela busca do mais elevado através do pensamento abstrato. Nos seus estágios mais avançados a devoção expressa-se como interesse no bem-estar humano e em serviço para a humanidade, o amor e a reverência pelos Santos e a fidelidade e a obediência a um mestre espiritual. Esses estágios têm seus valores relativos e resultados relativos. O amor por um mestre perfeito vivo é um estágio único da devoção, pois eventualmente ele se transforma em para-bhakti, ou no amor divino.

Para-bhakti não é meramente o bhakti intensificado. Ele começa onde o bhakti termina. No estágio de para-bhakti, a devoção não é somente honesta, mas é acompanhada de um extremo desassossego do coração e de um anseio incessante de unir-se com o Amado. Isso é seguido por uma falta de interesse em seu próprio corpo e seu cuidado, por isolar-se de seu próprio meio e expressar desinteresse pelas aparências ou criticismo - quando os impulsos divinos de atração pelo Amado tornam-se mais frequentes do que nunca. Essa fase mais elevada de amor é a mais fértil, pois tem como seu objeto Aquele que é o amor encarnado e que pode, como o Amado supremo, responder ao amante da maneira mais completa. A pureza, a doçura e a eficácia do amor que o amante recebe do Mestre contribui ao insuperável valor espiritual desta fase mais elevada do amor.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Philokalia - São Teóphanes o Recluso - Permaneça Firme

Não negligencie a coisa mais importante: estar concentrado com a mente no coração. Dirija todos os seus esforços principalmente para isso. A única maneira é tentar permanecer com atenção no coração, lembrando da onipresença de Deus e que os olhos Dele olham dentro do nosso coração. Firmemente acredite que embora você possa estar sozinho, você sempre tem, não apenas perto, mas dentro de você, alguém que está sempre presente, olhando para você e vendo tudo o que está em você.

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Montar guarda no coração, manter-se com a mente no coração, descer da cabeça para o coração – todas essas são uma e a mesma coisa. A essência do trabalho reside na concentração da atenção e em permanecer diante do Senhor invisível, não na cabeça mas dentro do peito, perto do coração e dentro do coração. Quando o aquecimento divino vier, tudo isso ficará claro.


Fique concentrado dentro de você mesmo e tente não deixar o coração, pois o Senhor está lá. Busque esse estado e trabalhe por ele. Quando você tiver atingido isso você verá o quão precioso ele é.

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O fato de que você está sendo dirigido pelo sentimento, ou que você tem sentimento espiritual em geral, não significa que você está permanecendo firme no coração. Quando esse último estado for atingido, a mente permanecerá no coração permanentemente, permanecendo diante do Senhor com temor e piedade, e ela não terá desejo de sair dali, assim como um bebê não deseja sair dos braços da mãe quando está descansando ali. Possa o Senhor ajudá-lo a atingir esse ponto.


Aonde é o coração? Onde a tristeza, a alegria, a raiva e as outras emoções são sentidas, ali é o coração. Fique ali com atenção. O coração físico é um pedaço de carne muscular, não é a carne que sente, mas a alma; o coração carnal serve como um instrumento para a mente. Permaneça no coração, com a fé de que Deus também está ali, mas não especule como. Ore e rogue para que no devido tempo o amor por Deus possa agitar-se dentro de você através de Sua graça.


Todo cristão real deve sempre lembrar e nunca deixar-se esquecer que é indispensável para ele estar unido em todo seu ser com nosso Senhor, o Salvador; deixar que o Senhor habite em sua mente e coração e começar a viver de acordo com Sua vida mais sagrada. O Senhor tomou nossa carne e nós devemos tomar Sua carne e Seu todo-sagrado Espírito, aceitando-os e nos mantendo firmes com eles para sempre. Apenas tal união com Nosso Senhor nos trará aquela paz e boa vontade, aquela luz e vida que perdemos no primeiro Adão, e que são agora renovadas dentro de nós pelo segundo Adão, o Senhor Jesus Cristo. E a maneira mais certa de alcançar essa união com o Senhor, próxima à comunhão da Sua Carne e Sangue, é a Prece Interna de Jesus*.


O Coração é o homem mais interno, ou o espírito. Nele se localizam a consciência de si, a consciência, a idéia de Deus e da nossa completa dependência Dele, e todos os tesouros eternos da vida espiritual.


O espírito da sabedoria e da revelação, e um coração que está purificado, são dois assuntos diferentes; o primeiro provém do alto, de Deus, o segundo de nós mesmos. Mas no processo de adquirir compreensão Cristã eles são unificados inseparavelmente, e essa compreensão não pode ser adquirida a menos que ambos estejam presentes e juntos. O coração sozinho não vai nos dar sabedoria; mas o espírito da sabedoria não virá à nós a menos que tenhamos preparado um coração puro para ser sua morada.


O coração é para ser entendido aqui, não no seu sentido ordinário, mas no sentido do 'homem interno'. Temos dentro de nós um homem interno, de acordo com o Apóstolo Paulo, ou um oculto homem do coração, de acordo com o Apóstolo Pedro. É o espírito divino que foi alentado no primeiro homem e ele permanece conosco continuamente, mesmo após a Queda. Ele mostra-se no temor a Deus, que é fundamentado na certeza da existência de Deus e na consciência de sua completa dependência Dele, nas exaltações da consciência e na nossa falta de contentamento com tudo que é material.


Após o despertar inicial através da graça, o primeiro passo cabe ao livre arbítrio do homem. Exercendo esse livre arbítrio, ele viaja para dentro de si mesmo de três modos. Primeiramente, sua vontade inclina-se na direção do bem e escolhe-o. Em segundo lugar, essa vontade remove os obstáculos: a fim de romper as amarras que o atam ao pecado, ela bane de seu coração a auto-piedade, o desejo de agradar os homens, a inclinação para as coisas sensoriais e mundanas, e ao estabilizar essas coisas estimula-o a ser impiedoso consigo mesmo, à ausência de desejos pelas coisas dos sentidos e à aceitação de todo tipo de desgraça. Faz o homem sentir que seu verdadeiro lar está no mundo que está por vir, enquanto que aqui ele é um andarilho e um exilado. Em terceiro lugar, o livre arbítrio é inspirado a começar de imediato no caminho correto, não permitindo nenhuma auto-indulgência e fazendo o homem manter-se constantemente em alerta.

Dessa maneira tudo se acalma na alma. Incitado pela graça, o homem é libertado de todas as algemas e com total prontidão diz para si mesmo: vou levantar-me e seguir adiante.

A partir desse momento um outro movimento inicia-se na alma – um movimento em direção a Deus. Tendo dominado a si mesmo através do entendimento dos motivos de todas as suas inclinações, reconquistando assim a liberdade interior, ele deve agora sacrificar-se completamente por Deus. Ainda assim, apenas metade do trabalho foi até aí alcançado.


Não digo que tudo se dá de uma só vez assim que atingimos o estado de comunhão consciente com Deus. Essa é apenas a fundação preparada para o próximo estágio, para um novo capítulo em nossa vida Cristã. Daqui para frente a transfiguração ou a espiritualização da alma e do corpo começará conforme compartilhamos cada vez mais no espírito da vida que está em Jesus Cristo. Tendo controlado a si mesmo, o homem começará a instilar dentro de si tudo o que é verdadeiro, sagrado e puro e começará a afastar tudo o que é falso, pecaminoso e corporal. Até agora ele fez esforços extenuantes para fazer isso, mas tinha os frutos de seus esforços roubados a cada momento do dia, de maneira que qualquer coisas que ele conseguisse alcançar era totalmente destruída de imediato. Agora o caso é diferente. Ele permanece firmemente sobre seus pés, não se rendendo de maneira nenhuma diante das dificuldades e conduz a si mesmo de acordo com o objetivo de sua vida.

De acordo com São Barsanouphios, quando recebemos em nosso coração o fogo que o Senhor veio trazer à terra (Lucas xii,49), todas as nossas faculdades humanas começam a queimar internamente. Quando através de longa fricção o fogo for aceso e as lenhas começarem a queimar com ele, as lenhas acesas dessa forma irão estalar e soltar fumaça até que estejam devidamente acesas. Mas quando estão devidamente acesas, elas parecem estar permeadas pelo fogo e produzem uma luz e um calor agradáveis sem fumaça e estalos. Assim também ocorre dentro dos homens. Eles recebem o fogo e começam a queimar – e quanta fumaça e estalos ocorrem apenas aqueles que o experimentaram conhecem. Mas quando o fogo está apropriadamente aceso, a fumaça e os estalos cessam, internamente reina apenas a luz. Essa condição é um estado de pureza, o caminho para ele é longo, mas o Senhor é o mais piedoso e todo poderoso. Portanto, é claro que quando o homem recebe a comunhão consciente com Deus, o que se apresenta diante dele não é a paz mas sim, muito trabalho. Mas desse ponto em diante, ele vai achar o trabalho doce e cheio de frutos, enquanto que antes o trabalho era amargo e carregava poucos ou nenhum fruto.


A ação divina não é algo material: é invisível, inaudível, inesperada, inimaginável e inexplicável por qualquer analogia feita com este mundo. Seu advento e seu trabalho dentro de nós são um mistério. Primeiro ela mostra ao homem seu pecado, aumentando-o em seus olhos e mantendo o horror do pecado constantemente diante de sua visão.

Conduzindo sua alma à auto-condenação, a ação divina mostra a ele nossa Queda – esse terrível, escuro e profundo abismo de destruição dentro do qual o homem caiu através do pecado de seu primeiro pai. Posteriormente, pouco a pouco, a ação divina garante ao homem atenção crescente e contrição do coração em oração. Tendo preparado o receptáculo dessa maneira, ela toca as partes separadas repentina, inesperada e imaterialmente, e elas tornam-se unidas em uma. Quem tocou-as? Eu não posso explicar: Não vejo nada, não ouço nada; mas reconheço e sinto uma mudança repentina em mim mesmo devida à uma ação toda-poderosa. O Criador agiu agora na renovação, do mesmo modo que Ele agiu na criação.

Diga-me: poderia o corpo de Adão, feito de poeira, ainda deitado diante do Criador e não estando animado pela alma, ter alguma concepção da vida ou qualquer sensação dela? Quando ele foi despertado repentinamente pelo sopro da vida, poderia ele ter considerado se o aceitaria ou rejeitaria? O Adão criado sentiu-se repentinamente vivo, pensando, desejando. A recriação é realizada com essa mesma subitaneidade. O Criador foi e é o Governador absoluto: Ele age autocraticamente, de uma maneira supranatural, muito acima de qualquer pensamento e concepção, com sutileza infinita. Ele age espiritualmente e não materialmente.

Pelo toque de Sua mão em todo meu ser, minha mente, coração e corpo foram unidos, compondo um todo único e unificado. Eles tornaram-se imersos em Deus e em Deus eles permanecem enquanto a Mão invisível, incompreensível e toda-poderosa mantém-nos ali.


*'Senhor Jesus Cristo Filho de Deus tende piedade de mim'.

domingo, 14 de março de 2010

Hafiz - Eu Aprendi Tanto / Um Buraco numa Flauta / Você, Eu e o Sol / Agora é o Momento/ Posso Ver Anjos

Eu aprendi tanto de Deus,

Que já não posso mais chamar-me


Cristão, Hindu, Muçulmano,

Budista, Judeu.


A verdade compartilhou tanto de si mesma comigo,


Que já não posso mais chamar-me

Homem, mulher, anjo

Ou mesmo uma alma pura.


O amor se amigou de Hafiz tão completamente

que transformou em cinzas e libertando-me


De todos os conceitos e imagens

que minha mente já conheceu.


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Eu sou

Um buraco numa flauta

na qual a respiração de Cristo se move.


Ouça esta música.


Eu sou o concerto

da boca de cada criatura

cantando uma miríade de acordes.


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Quero que nós dois

Comecemos a falar sobre este grande amor.


Como se você, eu e o Sol fôssemos casados

e morássemos num quarto pequenino,


Ajudando uns aos outros a cozinhar,

Lavar, tecer e costurar,

A cuidar dos nossos lindos animais.


A cada manhã todos nós saímos

Para trabalhar no campo da Terra.

Nenhum de nós fica sem carregar um grande fardo.


Quero que como dois trovadores,

nós dois comecemos a cantar

Sobre esta extraordinária existência

que compartilhamos,


Como se,

Você, eu e Deus fôssemos casados

e morássemos num quarto pequenino.

______________________________________


Agora é o momento de saber

que tudo o que você faz é sagrado.


Agora, por que não considerar

uma trégua duradoura entre você e Deus.


Agora é a hora de entender

Que todas as suas idéias sobre certo e errado

Eram apenas brinquedos de criança

Para serem deixados de lado

Quando você pudesse finalmente viver

Com veracidade

E amor.


Hafiz é um enviado divino

Sobre o qual o Amado

Escreveu uma mensagem sagrada.


Meu querido, diga-me, por favor,

Por que você ainda dá pauladas no seu coração

E em Deus?


O que há naquela doce voz interna

Que incita-lhe medo?


Agora é a hora do mundo saber

Que cada pensamento e ação são sagrados.


Este é o momento

De você computar profundamente a impossibilidade

De haver alguma coisa

Além da Graça.


Agora é a ocasião de saber

Que tudo o que você faz

É sagrado.

________________________________________


Posso ver anjos

sentados nas suas orelhas,


Polindo as trombetas,

Trocando as cordas do alaúde,

Esticando peles novas nos tambores

E apanhando lenha para o fogo da noite.


Todos eles dançaram a noite passada

Mas você não os escutou.


Se você pedir a Hafiz por conselhos

De como fazer amizade com suas doces vozes

E como ter a companhia nutridora

Dos mundos sutis,


Eu responderia,


“Eu não poderia falar nada

Que você não pudesse dizer para mim.”


Então,

Qual é a utilidade desta história?


Ah,

Eu apenas estava com vontade

De conversar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nisargadatta Maharaj - O Maior Milagre de Todos

Maharaj: O que quer que apareça não tem existência realmente. E o que não apareceu também, menos ainda; o que resta é Aquilo, o Absoluto. “Aquilo” é como Mumbai.
Visitante: Mumbai certamente parece estar aparecendo no momento. Deveríamos sugerir para ele outra cidade.
M: Mas eu normalmente coloco esse tipo de questão - se Mumbai dorme, se ela acorda de manhã, se tem preocupações, se tem prazer ou dor. Não me refiro às pessoas de Mumbai, nem à terra, mas àquilo que sobra.
Agora você sabe que você é. Antes deste momento, você tinha o conhecimento de que você existe? Esta consciência, o sentido de ser, que você está experimentando agora, estava aí anteriormente?
V: Tem estado; tem ido e vindo.
M: Esta confiança de que você é, o conhecimento de sua existência, estava aí anteriormente?
V: Quando faço o que o Maharaj me fala, isso é muito claro. Está ainda num estágio infantil, mas meu sentido de “mim” se desfaz completamente e surge uma grande felicidade, paz e claridade; mas isso vai e vem e eu esqueço.
M: A natureza inata disso é limitada ao tempo. Apareceu com a infância e está aí agora; mas não estava aí uns anos atrás. Portanto, você não pode dizer que é o Eterno. Então não acredite que é verdadeiro. E enquanto você estiver tendo esta consciência - “eu”, você estará tentando adquirir coisas; enquanto você souber que você é, as coisas que você possui têm uma significância emocional para você. Agora há o fato de que sua consciência–'eu' é ela própria limitada ao tempo. Então quando ela se dissolve, qual é o valor de todas essas coisas que você possuiu?
V: Nenhum.
M: Enquanto você não tiver entendido essa consciência-criança, você irá se envolver no mundo e nas suas atividades. Portanto, a liberação real é apenas quando você entende essa consciência-criança. Você concorda?
V: Eu concordo sim.
M: Durante toda a sua vida, você não teve nenhuma identidade permanente. O que quer que você se considere ser, muda de momento a momento. Nada é constante.
V: E o que pensamos que vamos nos tornar muda também com o tempo, a despeito de nós.
M: Essa mudança também se faz possível através dessa consciência-criança. Por causa dela, todas essas mudanças acontecem. É por isso que você deve compreender esse princípio.
Se você realmente quer entender isso, você deve abandonar sua identificação com o corpo. De todo modo, faça uso do corpo, mas não considere a si mesmo ser o corpo enquanto age no mundo. Identifique-se com a consciência que reside no corpo; com essa identidade você deveria agir no mundo. Será isso possível?
Enquanto você identificar a si mesmo como o corpo, suas experiências de pesar e dor aumentarão dia a dia. É por isso que você deve abandonar essa identificação e deveria considerar-se como a consciência. Se você se considera como o corpo, isso significa que você esqueceu seu verdadeiro Ser, que é o Atman. E, pesar é o resultado para aquele que esquece de si mesmo. Quando o corpo cai, o princípio que sempre permanece é Você. Se você identifica a si mesmo como o corpo, você sentirá que você está morrendo, mas na realidade não há morte, pois você não é o corpo. Esteja o corpo lá ou não, sua existência está sempre ali, ela é eterna.
Agora quem ou o que escutou minha fala? Não foi a orelha, nem o corpo físico, mas esse conhecimento que está no corpo; aquilo escutou-me. Portanto, identifique a si mesmo com aquele conhecimento, com aquela consciência. Qualquer felicidade que desfrutemos neste mundo é apenas imaginária. A felicidade verdadeira é saber da sua existência, que é aparte do corpo. Você não deveria nunca esquecer a verdadeira identidade que você possui. Considere, por exemplo, um paciente em seu leito de morte, certo de que irá morrer. Quando ele vem a saber a respeito de sua doença, digamos, câncer, ele recebe um tamanho choque que isso fica permanentemente gravado em sua memória. Dessa mesma maneira, você não deveria esquecer sua verdadeira natureza – a verdadeira identidade que eu lhe falei a respeito.
Um paciente que está sofrendo de câncer está o tempo todo cantando, por assim dizer, “estou morrendo de câncer”; e esse canto prossegue sem nenhum esforço. Similarmente, no seu caso: Assuma este canto “eu sou a consciência”. Esse canto, também, deveria prosseguir sem nenhum esforço. Uma pessoa que está constantemente desperta em sua verdadeira natureza – tendo esse conhecimento sobre si mesma – é liberada.
Um paciente sofrendo de câncer terminal sempre lembra de seu estado e finalmente experimenta aquele fim; isso é certo. Similarmente, aquele que se lembra que ele é o conhecimento, que ele é a consciência, tem este fim, ele torna-se Parabrahman.
Portanto, se você for fotografar esta cidade, eu diria, não fotografe … tire uma foto dela mas sem a terra. O que quer que seja Mumbai, tire uma foto dela e me mostre. Você pode?
V: Eu não poderia fazer isso.
M: Desse mesmo modo, é como fotografar você mesmo sem o corpo. Você é aquilo, como Mumbai. Lembrar que você é a consciência deveria ser sem nenhum esforço. Quando você diz “eu”, não se refira a este “eu” do corpo, mas àquele “eu” que representa a consciência. A consciência é “eu”, e faça uso desse conhecimento quando você age.
O prazer ou felicidade que você tem experimentado, devem-se às palavras que você escutou ou por que você teve um lampejo de seu Atman?
V: Tenho estudado muito, durante todo o tempo fazendo sadhana (práticas espirituais). Desde que encontrei Maharaj, as coisas estão se tornando claras e também estou tendo confirmação do que eu aprendi.
M: Qual deveria ser sua conclusão final depois de ter lido muito, feito sadhana e escutado estes discursos? É que este que ouve, o conhecedor, não está embaraçado com o upadhi – isto é, o corpo, a mente e a consciência- e que ele está separado desse upadhi que surgiu sobre ele.
V: Isso significa sakshivan - a consciência-testemunha?
M: Você usa a palavra sakshivan, mas o que realmente você quer dizer com isso? Que há senciência, através da qual você vê o que está acontecendo. Mas fora isso, algo é necessário para que o testemunho aconteça? O sol nasceu, e há a luz do dia. Você colocou-se para fora para testemunhar? Ou você vê sem esforço? Portanto, o processo de testemunhar simplesmente acontece. Não há nada que aquilo que você chama de “testemunha” tenha que fazer, o testemunho acontece puramente por si mesmo.
Esse conhecimento “eu sou” emergiu em você. Desde então, qualquer outro conhecimento que você adquiriu, qualquer experiência que você tenha tido, o que quer que você tenha visto do mundo, foi tudo testemunhado. Mas aquele para quem o testemunho acontece está totalmente separado daquilo que é testemunhado. Nesse testemunho, nessas experiências, você tem assumido que você é o corpo, e você está envolvido nisso. Portanto, você tem as reações do que quer que você tenha visto apenas através dessa identificação com o corpo. Mas na verdade, você não está concernido com aquilo que torna possível você ver e torna possível aquilo que foi visto. Você está aparte de ambos.
V: Vivendo a vida mundana e sendo um pai de família, dando duro, trabalhando, dormindo, dando risada, se misturando com as pessoas de todas as nacionalidades, é possível apenas ser, e totalmente não se identificar com o corpo?
M: Mostre-me uma amostra disso que você pensa que está se identificando com o corpo.
V: Geralmente, nos identificamos com o corpo. Não deveríamos fazer isso. Não somos o corpo, a consciência ou o intelecto. Somos algo diferente. O “eu” é algo diferente. Mas nos identificamos vivendo no mundo. É possível não se identificar completamente?
Interprete: Essa pergunta já foi colocada. Mas Maharaj está perguntando: “o que é esse 'eu' que não consegue evitar de se identificar com ...”
V: O mesmo “eu” do qual Maharaj fala.
M: Por que existe qualquer relação entre você e o que acontece no mundo? Como surge a relação entre você e o mundo?
V: Porque o “eu” está revestido pelo corpo. E é o corpo que continua tendo contato com seres materiais, com outros corpos, animados e inanimados.
M: Você pensa que é o corpo que está entrando em contato. Se essa consciência não tivesse estado ali, como o corpo teria tido contato com o resto do mundo? O que na verdade é isso que entra em contato com o mundo?
V: O “eu” entra em contato com o mundo através do corpo.
M: O que quer que seja madhyama, se essa consciência não estivesse ali, o que aconteceria com a mente ou com aquilo que ela entra em contato? Se a consciência não estivesse ali, existiria o corpo ou mesmo o mundo?
V: Correto.
M: Então considere esse sentido de ser ou essa consciência como o Deus supremo. E mesmo assim, você como o conhecedor disso está separado da consciência e do corpo.
V: Entendo.
M: Isso que você entendeu não pode mais causar dano a você. Não é?
V: Entendi com meu intelecto.
M: O que significa que você pode apenas usar o instrumento do intelecto para entender. Mas o que está antes do intelecto?
V: O Atman.
M: Você entende o Atman. Portanto, isso que entende o Atman deve ser anterior até mesmo ao Atman.
V: Quer dizer, o intelecto?
M: O Atman é anterior ao intelecto e você entende o intelecto e também que o Atman é anterior ao intelecto.
V: Eu entendo o Atman com o intelecto; meu intelecto me diz que existe o Atman. Eu quero entender o atman-jnana. Com o budhi-janana veio o atma-jnana. Quero atma-janana e não budhi-janana.
M: Não deve haver confusão. Entenda um simples fato, que qualquer tipo de experiência pode apenas vir sobre a consciência que está aí. E que você está separado tanto da consciência quanto das experiências que surgem nessa consciência.
A menos que haja a consciência, chame de Buddhi, de mente ou do que quer que seja, pode qualquer coisa existir? Obviamente, a resposta é não. Portanto, naquela consciência eu posso ver meu corpo e o mundo; e é basicamente apenas naquela consciência que qualquer movimento ou experiência pode ocorrer.
V: Então essa consciência tem o poder de pensar? Ou de sentir?
M: Naquela consciência algo acontece. Qualquer movimento, pensamento ou experiência que houver podem ocorrer apenas nessa consciência. E você é anterior a essa consciência; portanto, você não é nem a consciência - ou seja, o instrumento- nem nenhum pensamento ou experiência, ou o que quer que esteja acontecendo naquele instrumento. Você é totalmente aparte disso. Agora atenha-se a isso.
V: Aterme-me a quê?
M: Ao fato de que você está aparte disso.
V: E você é Isso. Isso eu sei. Mas muitas vezes, não conseguimos esquecer que estamos no corpo.
M: Lembre-se que este corpo é feito dos cinco elementos; é um corpo material; eu chamo-o de corpo-comida, e nele está essa consciência através da qual o corpo possui sua senciência, permitindo que os sentidos funcionem. Pois, estes sentidos no corpo operam apenas graças à consciência. Essa é a única coisa para se lembrar.
Tudo que você tem é a respiração vital, a força da vida. E parte do prana é o Atman. Fora isso, o que você tem? Eu continuo retornando à mesma coisa. Além disso, não há absolutamente nada.
[Maharaj está comentando sobre uma senhora que está com um monte de problemas]
Todas essas dificuldades que vêm e vão deveriam ser meramente assistidas como algo numa peça. Quando uma cena termina, outra cena acontece, seguindo na forma de um ato. Então, todo o ato e a peça toda, acontecem em algum outro lugar que não seja em você? Se ela não tivesse essa consciência, ela estaria ciente dessa peça que está acontecendo? Portanto, finalmente, qualquer que seja a peça, quaisquer cenas e atos que aconteçam, são meramente movimentos na própria consciência dela.
[Uma senhora pede que Maharaj (que estava com câncer terminal) se cuide]
Quem é para cuidar do que? Eu conheço o que surgiu sobre meu estado original, e não há nada para tomar conta daquilo. É um acontecimento que surgiu e irá tomar conta de si mesmo. E o que quer que tenha acontecido, eu não fui afetado. Portanto, novamente, quem é para tomar conta do que? Não estou preocupado em tomar conta de coisa alguma. O mundo tem existido por milhões de anos. Houveram milhares de grandes homens, avatares e personalidades importantes. Algum deles teve êxito em fazer algo para mudar o curso dos eventos no mundo?
O que quer que tenha surgido sobre meu estado original está limitado ao tempo, mas meu estado original é sem tempo e sem espaço. E ele é um todo, uma Totalidade. Na verdade não um, pois se você diz “um”, imediatamente existem dois.
V: O que Ramakrishna disse e o que Maharaj está dizendo são a mesma coisa?
M: Eu já disse a você, a essência básica é apenas o Todo. Todas essas diferenças são subsequentes, devem-se aos conceitos. Portanto, basicamente, quando na Totalidade, como pode haver pecado ou mérito, ou qualquer tipo de dualidade?
Existe algo através do qual você está apto a dizer que você entende. E você está separado daquilo. O que você pensa que você entendeu é apenas um movimento na sua consciência. E você está separado dessa consciência. No que diz respeito a você, não existe a questão de entender ou não entender.
V: Quando temos alguma compreensão mental do ensinamento de alguém, pensamos sempre que, de fato, realizamos aquele ensinamento. Mas na verdade esse não é o caso, somos essencialmente a mesma pessoa, sofrendo da mesma maneira.
M: Como aquela criação original assumiu o lugar do corpo quando criança? E mesmo antes do seu nascimento: Como a concepção aconteceu? Como a criança veio à existência, sem ter pedido por isso? Entenda isso. Entenda completamente aquela gota de material que eventualmente desenvolveu-se num corpo, e então você entenderá todo o mistério de que você não é aquilo. Este corpo está agora ocupando um certo espaço, quanto espaço ele ocupava no momento de sua concepção? E o que ele era naquela ocasião? Se você entender isso, você entenderá o mistério do Ser.
Você se baseia no corpo que você é agora e não entende a raiz dele. É por isso que pensamos que somos este corpo. E para isso, você precisa fazer meditação. O que é meditação? Meditação não é este corpo-mente meditando como um individuo, mas é esse conhecimento “eu sou”, esta consciência, meditando sobre si mesma. Desse modo, a consciência vai revelar seu próprio início.
Identificação com o quê? Com este corpo que está agora. Mas ele entende a sua origem? Se você entender o aspecto temporal, então você não vai se orgulhar tanto do corpo que está existindo agora.
[Maharaj falando a respeito dele mesmo] O corpo está totalmente velho, minha missão está cumprida. Agora vocês vêm aqui, o que está certo, mas minha missão está feita. Minha alma está quase para abandonar este corpo. Estou feliz. Eu bato palmas! (batendo as mãos). Estou num humor como o bater das palmas, por estar quase para morrer. Eu não estou mais apaixonado, ou atado por alguém ou alguma coisa, nenhum apego.
Esquecimento – aquele nobre e mais elevado esquecimento – não irá chegar até que todas as dúvidas sejam dissipadas. A menos que todas dúvidas sejam erradicadas, essa paz não prevalecerá.
Enquanto eu permanecer identificado com o corpo, quero estar ocupado com ações, pois não estou apto a sustentar aquele “eu” puro sem elas. Não posso suportá-lo porque eu o identifico com o corpo-mente, com todos os tipos de atividades. Chamo isso de jiva-atman, que significa “condicionado pelo corpo-mente”, ele é o ser que está ocupado com todas as atividades. E o “eu” que não é condicionado por, e não está identificado com o corpo-mente – que portanto não tem forma, desenho ou nome – é paramatman. O jiva-atman está sendo testemunhado pelo paramatman, que é nosso verdadeiro Ser apenas.
V: O que ele está fazendo? Ele está participando do funcionamento do mundo?
M: Paramatman não precisa participar das atividades do mundo, mas sem esse princípio nenhuma atividade pode acontecer de maneira alguma. Assim como no caso do espaço (akash): sem ele, nenhuma atividade é possível.
As atividades estão se desenrolando naturalmente, espontaneamente, da mesma maneira que no mundo dos seus sonhos a noite, não há nenhum autor ou fazedor. Entretanto, você coloca em uso seu mundo de sonhos totalmente. Você não vai conseguir compreender isso enquanto tentar entender as coisas como um indivíduo. Mas, uma vez que você é a consciência universal manifesta e reside naquele espírito paramatman - “eu sou” sem forma e distinção – desse modo você irá realizar como as coisas são.
V: Pode-se duvidar se Krishna era mesmo a encarnação de Deus na forma humana. Se realmente foi assim, entretanto, devemos dar importância ao que ele nos disse.
M: O que Krishna disse está perfeitamente correto. Para aquele momento, aquele período particular na história, foi o mais apropriado. Mas aquele momento, aquele tempo se foram. Ele também se foi. A elevação espiritual aconteceu nele, é por isso que ele é grande.
Você está vendo e compreendendo as coisas através dos conceitos que você absorveu. Mas, na verdade, a real situação é bem diferente. Você está se apegando a isso como sendo a verdade, mas o que quer que você tenha ouvido não permanecerá como autoridade ou como permanente; irá desaparecer. Dessa forma, depois do desaparecimento de tudo, o que sobra - aquilo é você: neti-neti.
Você tem mudado continuamente, você está num estado de fluxo. Nenhuma identidade sua tem permanecido como um traço permanente. E no devido tempo você também vai ficar bem velho. Desse modo, há alguma constância em tudo isso?
V: A verdade é que o corpo é perecível, mas o Atman é imperecível, eterno.
Outro Visitante: Você realmente experimenta isso ou leu a respeito?
V: Estou experimentando e também li. Estou ficando velho e tenho visto as pessoas perecerem.
M: Ainda assim, deve haver algum autor autorizando todas essas atividades. Considere os quatro elementos mais grosseiros que estão engajados em atividades. Esses quatro elementos são presididos pelo espaço. Em que atividade o espaço está envolvido? Se você for investigar o mundo da sua observação, você nunca vai chegar ao seu destino. A menos que você abandonar tudo que você ouviu e permanecer no seu Ser, você não entenderá tudo isso. Você pode assumir a tarefa de investigar todo este mundo manifesto e tudo o que você escutou, mas você irá ficar cada vez mais preso num atoleiro.
Quando a encarnação acontece, qual é a causa dela? E de que forma ela ocorre? As histórias você já escutou …
V: Por que todos não se tornam Krishna?
M: O que é aquela infância? O que é aquele princípio-criança? Investigue aquilo. O toque daquela qualidade, a qualidade criança, entenda e perceba isso. Quando você descobriu a si mesmo? Desde quando e como? Depois de coletar todas as mensagens e conceitos no mundo, você não pode investigar a si mesmo. Quando Krishna nasceu, ele tinha aquele toque de “eu-sou-ência”. O mesmo acontece em você. Entenda isso! O que é esse toque do sentido de “eu-sou”, esse toque de criança em você? Desde quando você sabe que você é? E com o que você soube que você é? Se você tentar empregar qualquer coisa que tenha escutado, você nunca vai conseguir entender isso. Você sabe que você não era, mas agora você sabe que você é. Como isso aconteceu, essa confluência? Você não era e de repente você é. Isso é o que queremos descobrir.
V: Acho que vou desistir disso tudo.
M: Você deve descobrir e inquirir sobre o seu próprio ser. Desde quando você veio a conhecer o seu ser? E como? Alguém lhe disse que você é? Ou você veio a saber espontaneamente?
V: Foi falado para mim e também isso seguidamente ocorreu a mim quando eu li as perguntas do Ramana Maharshi, “Quem é esse que sonha, quem é esse que dorme?”
M: Abandone sua identidade com o corpo. Desde quando você começou a conhecer-se? Concentre-se nisso apenas.
V: Quem é aquele que dormia?
M: Abandone essa pergunta, pois isso não é relevante. Não há valor na sua pergunta. Neste momento eu não quero responder nenhuma pergunta. Estou lhe direcionando para a fonte e ficaria satisfeito com seu conhecimento do que você é. Confine-se a essa área. Foque apenas no conhecimento de que “você é”. Como você sabe que você é? Apenas fique ali. Você tem lutado sozinho com os muitos conceitos que coletou do mundo – você está lutando com tudo isso. Para quê?
Você sabe que você é. Como você sabe isso? E com o que você veio a saber disso? Essa é a soma total do meu ensinamento necessária para colocar você no caminho correto, é a própria quintessência do ensinamento.
Quando suas perguntas são respondidas, meus discursos ficam muito fáceis de entender. E quando você entende, todas as perguntas se esvaem. É um círculo vicioso: Enquanto você tiver perguntas, não pode acompanhar o que está sendo dito.
V: O que acontece é que algumas questões continuam surgido.
M: Eu vou para as questões básicas apenas: O que é você? Desde quando você é? Com aconteceu de você ser? E devido a quê você é? Não quero lidar com uma porção de questões áridas; elas não têm valor para mim. Se você gosta do meu ensinamento, você pode sentar-se aqui, senão, sem exitar, vá embora.
Em qualquer busca espiritual verdadeira, o que quer que você tenha escutado, que você tenha feito, não tem utilidade nenhuma para chegar na verdade real. O conhecimento “eu sou” aconteceu. Devido a quê?
Primeiramente, você testemunha que você é. Atenha-se ali apenas, somente com esse “você é”. Esteja ali apenas. Então com a ajuda desse “você é”, você está testemunhando o mundo. Se você não estiver testemunhando o “você é”, você também não estará testemunhado o mundo.
Quando você não souber que você é, as pessoas também não saberão que você é e irão crema-lo. Enquanto você souber que você é, as pessoas respeitarão você, você é algo. Quando você não souber que você é, as pessoas irão aliená-lo. Fique aí. Você deve ficar presente ali apenas, neste ponto – o ponto “você é”, desprovido de todos os conceitos, de toda heresia. Quando você reconhecer e realizar o conhecimento que você é, você também saberá o que Krishna é. Um número de incarnações vieram e foram. Mas quando você entende a si mesmo, você realiza todas as incarnações.
Por saber que você é, você sabe que o mundo é. Você também sabe que Deus é. Se você não sabe que você é, onde está o mundo e onde está Deus?
Houveram muitas encarnações e agora você sabe que você é. Esse “você é” é o princípio divino por causa do qual as encarnações existiram. Muitas pessoas vieram aqui, mas raramente alguém, após ter me escutado, chegou mais perto de si mesmo; raramente alguém irá entender à quê estou conduzindo. Mas essa rara pessoa, no processo de entender-me, vai chegar mais perto de si mesma, aquele que escuta. Aqueles que realmente entenderem irão permanecer em si mesmos.
Você não conhecia seus pais antes do seu nascimento, nem seus pais conheciam você. A despeito disso, como o conhecimento “eu sou” brotou naquela situação particular? O que é essa coisa incrível? Estou novamente colocando a mesma questão. Os pais não conheciam a criança e a criança não conhecia seus pais antes do seu nascimento. Agora a criança diz, 'aqui estou eu', Como é isso?
Isso em si é o mais grandioso milagre - que eu recebi a notícia “eu sou”. Você tem alguma dúvida de que você é?
V: Não, isso é auto-evidente.
M: Antes de saber que você é, que conhecimento você tinha? Que questões você pode colocar aqui, neste ponto? O que você sabe?
Dhyana significa ter um objetivo. Você quer considerar algo. Você é esse algo. Apenas para ser, você é. Apenas para ser o ser, o “eu sou”. Você medita em algo. Aquele conhecimento “eu sou” é você mesmo. Permaneça apenas ali. Como você pode fazer qualquer pergunta neste ponto? Porque esse é o começo do conhecimento.
V: Não deveríamos fazer nenhuma pergunta até que tenhamos atingido o objetivo. Quando o atingirmos, as perguntas se dissolverão.
M: Isso é exatamente o que estou lhe falando. Você saber que “você é” é um milagre muito grande. Esse tipo de discurso não está sendo exposto em nenhum outro lugar. A própria fonte, a semente desta filosofia, ninguém irá expor. Eles vão falar para você ir adorar um certo Deus e você obterá sua bênção – você vai ter benefícios de modos diferentes. Faça isso e você obterá aquilo.
Aquela profunda necessidade de compreender definidamente a verdade vai ocorrer. Mas se você desejar inquirir neste mundo externo inteiro e for cativado por ele, você nunca vai alcançar o objetivo.
Ao tentar aprender toda a história de Rama, de Krishna, de Cristo, etc. você também não vai alcançá-lo, nunca ficará satisfeito. Você terá aquela paz e quietude apenas quando você conhecer a si mesmo, quando você tiver aquele conhecimento íntimo “eu sou”. Você sabe que você é. Como aconteceu de você ser como você é? Por causa do quê você é? Qual é a causa disso? Descubra isso.
Atualmente seu capital é o que você leu – tudo que você escutou e leu. Mas esse tipo de investimento não tem nenhuma utilidade no campo espiritual.
Como lhe digo, resida em si mesmo, seja o seu próprio ser, apenas dessa maneira você conseguirá aquela paz e quietude.
V: Então eu não deveria fazer nenhuma pergunta?
M: Correto, nenhuma pergunta. Apenas seja o que você é. Da maneira como lhe digo, quando você residir no seu próprio ser, todas as suas questões serão dissolvidas pelo conhecimento “eu sou”.
O manifesto estende-se além de qualquer limite, expande-se por toda parte, é amplo. Se esse conhecimento “eu sou” não estiver aí, aonde estará o mundo? E aonde estarão os deuses?
Ao ler vários livros e escutar uma porção de coisas, você não pode tornar-se um Mahatma, mas apenas através desse conhecimento “eu sou”. Não se concentre no corpo. Por causa do corpo vocês chamam a si mesmos de homem ou de mulher. Apenas segure-se nesse conhecimento “eu sou” somente, sem o sentido do corpo – além do nome, da forma ou do desenho. Mas você tem de empregar nomes, formas e desenho por causa das atividades mundanas.
Vocês têm sorte, eu não tenho exposto isso em grandes detalhes para as outras pessoas. Para elas eu simplesmente digo: 'Você é “você”, esse conhecimento “você é”. Aceite apenas isso e siga seu caminho'.
Não medite em ninguém, em nenhum deus ou sábio. E esse conhecimento “você é”, não o enfeite com o corpo. Eu não falo para as pessoas mais do que elas necessitam e posso não entrar em grandes detalhes. Porque seus pais chegaram à fruição, você está aqui neste momento. O conhecimento “você é” não tem forma e nem nome; ele é puramente conhecimento “eu sou”. Um nome e uma forma são bons apenas para os propósitos do mundo. Atualmente você é ajustável por esse nome, o nome significa “eu mesmo”. E para esse nome, você deu o disfarce do corpo. Após renunciar o nome que foi imposto a você, diga-me o seu nome. Sem escutar de ninguém, qual pode ser o seu nome?
V: Sem nome!
M: Similarmente você aceita este corpo como sua identidade. Bem aqui e agora, abandone sua identidade com o corpo e sente-se quieto. Abandone este corpo como um traje descartado; abandone também a identidade com o nome. E agora me conte a respeito de você mesmo. O que quer que você seja é o mais adequado - aquele princípio mais grandioso que você é, a respeito do qual você não pode dar nenhuma informação. Mas você é.
Contanto que você mostre que você está ficando mais íntimo consigo mesmo e começando a conhecer esse ser, seus comentários são bem vindos. O amor por esse conhecimento “eu sou”, o princípio mais adorável, é o próprio conhecimento “eu sou”. Não é assim? Esse ser, esse conhecimento “eu sou”, tem um imenso amor pelo ser apenas. Mas quando esse ser ou esse amor do ser tornam-se misturado ou associado com o corpo, as misérias começam.