sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Hafiz - Poemas Místicos

Espero que você não processe este velho homem

Não tenho

Nada a dizer,

Pois Deus empunhou sua afiada faca

E me esburacou

Completamente.


Mesmo assim vem um vento misterioso

E move o invisível.


Eu adentro sua alma.

Sua beleza, peregrino querido, me alarma,

Faz escorregar os pés do meu espírito

De encontro a uma das cordas do alaúde em

Seu coração.
.
Então Hafiz apenas traduz

Os clamores de seu amor

Como se eles fossem minhas próprias palavras.

Espero que você não processe este

Velho homem embriagado por isso.

______________________________________

Um amante fiel


A lua visitou-me a noite passada

Com uma doce pergunta.

Ela disse:


“O sol tem sido meu fiel amante

Por milhões de anos.


Quando quer que eu ofereça meu corpo a ele

Luz brilhante se despeja do seu coração.

Milhares de pessoas notam então minha alegria

E deleitam-se apontando para

Minha beleza.


Hafiz,

É verdade que o nosso destino

É tornarmo-nos a própria

luz?”

E eu respondi,


Querida lua,

Agora que seu amor está amadurecendo,

Precisamos nos sentar juntos

Assim pertinho com mais frequência


Para que eu possa lhe instruir

Como tornar-se

Quem você

É!

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Eu vi dois pássaros


Nossas bocas podem ambas

Se encaixar nessa flauta que carrego.


Minha música vai soar

Tão mais doce desse jeito

Com seu sopro e meu sopro

Empurrando um ao outro nas fissuras

E se beijando.


Eu vi dois pássaros num galho essa manhã

Rindo com o sol.


Eles me lembraram como

um dia iremos existir.


Meu querido,

Continue pensando em Deus,

Continue pensando no Amado

E em breve nosso ninho será

Todo o firmamento.

Esqueça todos os seus desejos pela verdade,

Já fomos bem além disso,

Pois agora é apenas

Pura necessidade.


Nossos corações estão destinados a cantar.

Nossas almas a tocar e beijar

Essa flauta sagrada que Deus carrega.

Meher Baba - O Indivíduo-Verdade (o Verdadeiro Indivíduo)

A Verdade Eterna tem três aspectos -Dnyana ou conhecimento, Shakti ou poder e Ananda ou graça. Sakshatkara ou a realização dessa Divindade ou Verdade tripla é o alvo do buscador. As pessoas que estão no caminho da ação tornam-se Mahatmas e obtêm seu poder eterno. Aqueles que buscam sabedoria obtêm seu conhecimento eterno. Aqueles que tomam o caminho do Prema ou do amor obtêm sua alegria eterna. Mas no final do caminho, todos têm de chegar à completude indivisível da Verdade, em todos os seus aspectos, embora seus caminhos possam ter sido diferentes. Aquele que atinge a meta é o Verdadeiro-Indivíduo (ou Indivíduo-Verdade).
O caminho do amor é o mais rápido. O amor despertado no aspirante pode ser comparado ao apetite físico. O apetite é seguido por pensamentos sobre comida e depois, sucessivamente, por ir conseguir esse alimento, receber a ajuda de um cozinheiro e, finalmente, pela ação de comer a comida. Assim, o amor espiritual é seguido por pensamentos sobre Deus, que, em seguida, sucessivamente vai resultar em anseio por Deus, receber a ajuda do Verdadeiro-Indivíduo e, finalmente, a realização de Deus. Essa é a herança da bem-aventurança eterna. É a concretização de todos os outros êxtases maiores ou menores do caminho.
O Prema-yoga ou o caminho do amor não deixa espaço para paradas ou descanso no meio da jornada. Ele leva o aspirante inevitavelmente para o Indivíduo-Verdade e por meio dele para a própria Verdade. Esse amor faz a pessoa esquecer de si e do mundo, trazendo em sua esteira os êxtases ascendentes que acompanham os vislumbres inebriantes do Ser Divino. Na poesia de Hafiz e de outros poetas da tradição Sufi, ele é comparado ao vinho. Amor Divino e o vinho são ambos de natureza diferente dos credos estabelecidos da religião. O primeiro está além dos credos e esse último é proibido por eles. Ambos são inebriantes e tornam o homem esquecido. Mas enquanto o vinho conduz ao auto-esquecimento, o Amor Divino leva ao auto-conhecimento.
O Indivíduo-Verdade vê a si mesmo em todos. Ele habita na não-dualidade. A mesma água, quando colocada em frascos de cores diferentes, parece ter diferentes cores, verde em um, no outro amarelo, vermelho num terceiro. A diferença está apenas nas cores aparentes, mas a água é a mesma. Do mesmo modo, nas diversas e variadas formas, o mesmo Ser é visto por aquele que conhece a Verdade. Uma criança pequena em sua ignorância, pode ser impelida a disputar com sua própria imagem no espelho. Mas a pessoa adulta sabe que é a sua própria imagem. Ela não tem nenhum impulso do tipo. Da mesma forma, o mestre está livre dos impulsos aprisionadores da dualidade.
Lenta e gradualmente, o mestre leva seus discípulos para a Verdade ilimitável. Se há pressa demais, há o risco do discípulo abandonar seu corpo físico ou de virar um majzoob*, pois, nesse caso, sua mente-ego é aniquilada prematuramente. Todo indivíduo necessita de um tratamento distinto e individual, assim como as diferentes partes do corpo, quando fora de ordem, requerem um tratamento específico de acordo com a natureza de sua doença. O tratamento específico permite que as diferentes partes sejam reabilitadas a seu funcionamento normal e saudável. E então, todas elas podem trabalhar em harmonia perfeita para um objetivo comum. Do mesmo modo, todos os indivíduos são, por assim dizer, partes da vida universal da Verdade e cada um requer um tratamento especial.
Nos estágios mundanos das religiões estabelecidas, bem como nas primeiras fases do caminho interior, existem diversas regras úteis de acordo com a abordagem adotada (Margo, Talim ou Rah). Mas o aspirante deve saber desde o início que na iluminação final, não existem regras de modo algum. Nem pode a iluminação final ser provocada pela observância de qualquer regra. Isso tem de ser deixado inteiramente a cargo da graça do Mestre realizado na Verdade. A mente do discípulo aceito é como uma roda, girando na maioria das vezes em apenas uma direção. Ela está desenrolando as impressões adquiridas (despendendo-as). Mas a mente dos outros, que estão buscando sem um Mestre, é como um pêndulo de um relógio. Como regra, ela se move em ambas as direções. Às vezes despende as impressões, mas muitas vezes também as acumula.
É, no entanto, muito raro a mente do homem ser finalmente afastada das seduções do mundo. Para despertar você de um sonho bom e agradável, algo assustador como um tigre tem de aparecer no sonho. Da mesma forma, alguma coisa medonha e indesejável tem de ocorrer na vida daqueles que estão imersos no mundo, se quiserem ser livrados da ilusão e reverter a direção de sua mente. Essa inversão da direção se expressa primeiro através de um crescente desapego do corpo.
O corpo físico não é nada além da comida que o homem come. O corpo assimila a porção do alimento que é útil para sua sustentação e joga fora a parte que é inútil. O que é jogado fora é alimento tanto quanto o que é assimilado. Se o homem é tão supremamente indiferente com os restos eliminados, por que ele não tem o mesmo desprendimento com o alimento assimilado que se torna seu corpo? Por que ele derrama lágrimas quando, após a morte, o próprio corpo tem de ser jogado fora?
Afinal, o próprio corpo é um tipo de alimento para a alma quando ele serve para algum propósito da alma. Mas quando torna-se inútil, ele é abandonado pela alma como algo que já não serve a qualquer um de seus propósitos. Não há absolutamente nenhum ponto em lamentar a perda do corpo físico, não importa se nós perdemos nosso corpo ou se outros perderam os deles. Quando um corpo é abandonado, a alma pode tomar outro corpo quando ela precisar de um. Enquanto a alimentação dá saúde ao corpo, ela é bem-vinda. Mas se está estragada e se torna um perigo para o corpo, ela é justamente evitada. Enquanto o corpo for útil para o espírito, há algum sentido em atribuir importância a ele. Mas se ele não pode servir a esse fim, é pura ignorância e fraqueza lamentar sua perda.
O corpo é perecível pela lei imutável da natureza. Por que chorar e se preocupar no momento da sua dissolução? A alma permanece intocada pela morte. Você é a alma, não o corpo. No entanto, é um erro subestimar o corpo físico, e é o maior erro espiritual tentar colocar um fim nele. É somente no corpo físico que a alma tem alguma chance de alcançar a realização de Deus. Mesmo os Devas anseiam por obter uma forma física na terra. É um ato de pura insensatez não tomar os cuidados apropriados com o corpo, ou pôr um fim nele por problemas banais e supostos sofrimentos. Mas, embora seja correto cuidar do corpo, é errado ser apegado a ele, mimá-lo ou ser dominado por ele.
Quando a pessoa vira as costas para o mundo, voltando seu rosto para Deus, ela pode ouvir doces melodias, sentir perfumes ou ver esferas de luz. Na esfera de luz ele geralmente vê a figura de seu Mestre, revelando-se em sua glória divina resplandecente e perfeição. O brilho requintado e o esplendor de tais esferas de luz, é tão encantador e desconcertante que o aspirante não busca mais nada e fica completamente absorvido em olhar fixamente para elas. Essa Noor ou esfera de luz é um objeto real. Não é sonho ou alucinação. Mas é apenas a primeira etapa de um longo caminho. Não deve ser confundida com o objetivo, que é tornar-se o oceano sem margens e sem forma da Verdade.
Olhe para a sua própria sombra. Ela parece tão perto de você. Está a seu lado. Mas você não pode agarrá-la ou ultrapassá-la em uma corrida. Você pode seguir sua sombra até o fim dos dias, mas ainda assim ela vai fugir e estará um pouco adiante de você. Buscar a Deus através da mente-ego é como tentar ir na frente da sua própria sombra. Isso não pode ser feito, não porque Deus esteja longe, de maneira nenhuma, mas porque você nunca pode chegar ao Real através do falso. Deus está mais perto de você do que sua própria sombra. Na verdade, Ele não está apenas dentro de você, mas é seu próprio Ser. Mas você nunca pode chegar a Ele, porque você O busca através da mente-ego, que o converte em um fogo-fátuo. Não é uma coisa fácil realizar Deus, como alguns podem pensar. A mente-ego deve de fato morrer, para Deus poder ser visto e realizado.
Uma pessoa que esteja aprisionada na ilusão do mundo é como ouro misturado com minério. Conforme ela se afasta do mundo, as impurezas nela gradualmente são eliminadas até que finalmente, ela torna-se como ouro puro, sem o minério. Agora, quando ela volta para o mundo, é como se aceitasse conscientemente as impurezas. É por isso que ela sofre. Mas ela sabe que ela é realmente ouro e não as impurezas. Esse conhecimento sustenta a pessoa. Quando seu trabalho no mundo acaba, ela novamente vai para o estado de pureza ilimitada. E mesmo durante seu trabalho, ela nunca permite que a impureza seja qualquer coisa mais do que sua cobertura superficial, que ela coloca e retira quando deseja, sem se misturar a ela. O processo realmente difícil é a primeira ascensão, durante a qual o ouro do Ser é separado da liga de metais da ilusão.
Mesmo uma pessoa que esteja posicionada no sexto plano** ainda está na ilusão. Alguém que está no sexto plano tem a experiência de que tudo procede de Deus (Hameh Az Oost), e também de que Deus é tudo (Hameh Oost). Essa é a visão e a experiência direta dos Walis, que vêem o universo como emanado de Deus. Mas essa experiência de que Deus é tudo não deve ser confundida com a experiência suprema - "Eu-sou-Deus". Essa experiência suprema só pode vir quando a mente é descartada. Assim como o conhecimento dado pelos sentidos físicos é múltiplo e variado, o conhecimento dado pelas percepções e revelações supra-sensoriais também pode ser variado. Mas, para alcançar a verdade, todos esses suportes e estacas das percepções supra-sensoriais devem, como as percepções ordinárias dos sentidos físicos, ser abandonadas no limiar da fusão final da alma no Infinito. A verdadeira experiência de Deus só vem quando o homem e Deus se unem de forma tão completa que não há nenhuma possibilidade de qualquer demarcação, muito menos de uma divisão real.
Na estágios finais da ascensão, quando a mente está metamorfoseada na Verdade, a regra geral é que todos os três mundos (o grosseiro, o sutil e o mental) desaparecem do âmbito da consciência. Em muito poucos casos, a Realização da Verdade pode vir simultaneamente com a alma tendo a experiência dos três mundos. A experiência do mundo triplo em tais casos extremamente raros, torna-se, por assim dizer, o receptáculo da consciência "eu-sou-tudo" da Realização da Verdade. Se o Indivíduo-Verdade teve uma ampla gama de consciência do mundo antes de sua realização, ele exerce maior influência sobre a relatividade na existência ilusória do que se ele tivesse um leque menor de consciência do mundo. Ele também goza de maior autoridade e tem para o uso de seu poder toda a extensão dos três mundos, que se tornam o campo de seu trabalho divino. Entretanto, esses são somente casos raros e excepcionais. Aqui, é a partir do material das experiências do mundo do indivíduo, que surgem precipitadamente as experiências transcendentes da Verdade ilimitada, a não-dualidade sendo o ponto culminante da dualidade entendida.
Mas, como regra geral, antes da realização da Verdade há um completo desaparecimento da consciência de todos os três mundos. Com a dissolução da mente-ego, a consciência é mantida no nada, e como resultado, o ego limitado fica sem sucessor. Mas quando a Verdade que é realizada nessa consciência-nada começa a afirmar-se, ela vem como um estado de "Eu-Sou-Deus". Na fusão, a alma é destituída de toda a individualidade, mas na afirmação, ela é agraciada com a divina e ilimitada Individualidade-Verdade. A Verdade Encarnada assume controle total sobre o corpo universal (algumas vezes chamado de Virat Swarupa), por meio da qual o Mestre pode aparecer em seu corpo físico em lugares diferentes ao mesmo tempo em resposta instantânea a qualquer chamado agonizante dos devotos de Deus. Esse corpo não entra em funcionamento, exceto em circunstâncias muito especiais.
Não é um progresso agradável para o Indivíduo-Verdade, descender depois de atingir Divindade. Ele está sempre relutante em descer para a ilusão da dualidade novamente. Isso significa muito sacrifício de sua parte e muito sofrimento. Mas às vezes ele vem; o seu único objetivo é cumprir a missão espiritual de salvar outros indivíduos. Sua missão toma forma concreta de acordo com a época e as circunstâncias em que ele realiza a sua descida. Ele mesmo não tem nada a ganhar com a descida do oceano ilimitado da Verdade para as relatividades da existência ilusória. Mas em tal descida, ele também não perde de forma alguma a sua realização espiritual. Agora, ele combina em si mesmo os dois tipos de conhecimento, isto é, o conhecimento da unidade e o conhecimento das relatividades.
O Indivíduo-Verdade que desce para o mundo da dualidade ilusória é referido como Qutub, que literalmente significa "o centro". O mestre perfeito se torna o centro do universo. Ele encontra-se como o único ponto absoluto e imutável em torno do qual todo o universo está girando constantemente. O universo é como um moinho e o Mestre Realizado na Verdade é como seu pino central. Como Kabir declarou, ninguém pode escapar do eterno esmagamento que se passa neste moinho do universo. Apenas o Mestre fica ileso pelos acontecimentos do universo, embora ele seja seu próprio centro. Cada Indivíduo-Verdade está no centro, mas o centro é apenas um. Cada um tem uma identidade própria distinta (Husti). Esse âmago de identidade torna-se o núcleo da individualidade divina afirmativa da Verdade-Encarnada, sem desfocar ou limitar a sua unidade com a Verdade todo-inclusiva.
*Majzoob - Um dos tipos de Mast (o intoxicado ou louco de Deus)
** Sexto Plano - A Jornada da Alma, segundo a tradução Sufi e que segundo Meher Baba tem sete estágios ou planos, sendo o sétimo o fim da jornada.