sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Bhagavan Ramana Maharshi - Upadesa Manjari (Instrução espiritual)

Pergunta: Quais são as características de um professor real (Sadguru)?


Bhagavan: Permanência constante no Ser, olhar para todos com um mesmo olhar, ter coragem inabalável a todos os momentos, em todos os lugares e circunstâncias, etc.


P: Quais são os sinais indicativos de um discípulo sincero (sadsishya)?


B: Um anseio intenso pela remoção dos pesares e por alcançar a felicidade e uma intensa aversão por todos os tipos de prazeres mundanos.


P: Quais são as características da instrução (upadesa)?


B: A palavra upadesa significa, 'próximo ao local ou ao assento' (upa – próximo, desa – local, assento). O Guru, que é a encarnação daquilo que é descrito com os termos sat, chit e ananda (existência, consciência e graça), impede o discípulo - que devido à sua aceitação das formas dos objetos dos sentidos desviou-se do seu estado verdadeiro, e consequentemente, é molestado e golpeado por alegrias e tristezas - de continuar assim e estabelece-o na sua própria natureza real sem diferenciação.

Upadesa também significa mostrar um objeto distante bem próximo. É explicado para o discípulo que Brahman, o qual ele acredita estar muito longe e ser diferente dele mesmo, está próximo e não é diferente dele mesmo.


P: Se é verdade que o Guru é o nosso próprio Ser (Atman), o qual é o princípio que sublinha a doutrina que diz isso, não importa o quão estudado possa ser o discípulo, ou quaisquer poderes ocultos que ele possa ter, ele não poderá atingir a Realização do Ser (atmasiddhi) sem a graça do Guru?


B: Embora na verdade absoluta o estado do Guru seja o mesmo que o da própria pessoa, é muito difícil para o Ser, que tornou-se a alma individual (Jiva) através da ignorância, realizar sua verdadeira natureza sem a graça do Guru.

Todos os conceitos mentais são controlados pela mera presença do Guru real. Se ele dissesse para alguém que arrogantemente clama ter visto a costa mais longínqua do oceano do saber ou que clame arrogantemente que pode realizar ações que são quase impossíveis, se ele dissesse: “você aprendeu (conheceu) a si mesmo?” E, “você é capaz de fazer coisas quase impossíveis, mas você viu a si mesmo?” Ao serem questionados dessa maneira eles se curvariam (com vergonha) e ficariam em silêncio. Portanto, é evidente que apenas através da graça do Guru e por nenhuma outra conquista, é possível conhecer a Si mesmo.


P: Qual é o sinal indicativo da graça do Guru?


B: Isso está além das palavras ou dos pensamentos.


P: Se é assim, como é que é dito que o discípulo realiza seu estado verdadeiro através da graça do Guru?


B: É como um elefante que acorda ao ver um leão em seu sonho. Mesmo que o elefante tenha acordado com a mera visão do leão, também é certo que o discípulo acorda do sono da ignorância para o estado desperto do conhecimento verdadeiro através do benevolente olhar de graça do Guru.


P: Qual é o valor do dito: a natureza do Guru real é a do Senhor Supremo (Sarveshwara)?


B: No caso da alma individual que deseja atingir o estado do conhecimento verdadeiro ou o estado de divindade (Ishwara), e com esse objetivo sempre praticar devoção, o Senhor, que é a testemunha daquela alma individual e idêntico a ela, vem à frente quando a devoção do indivíduo alcança um estágio maduro na forma humana com a ajuda de sat-chit-ananda. Esses três traços naturais e a forma e o nome que ele graciosamente também assume, através do disfarce de abençoar o discípulo, ele absorve-o em Si mesmo. De acordo com essa doutrina o Guru pode realmente ser chamado de o Senhor.


P: Então como é que algumas grandes pessoas alcançaram o conhecimento sem um Guru?


B: Para algumas poucas pessoas o Senhor brilha como a luz do conhecimento e transmite a consciência da verdade.


P: Qual é o fim da devoção (Bhakti) e do caminho do Siddhanta (Saiva Siddhanta)?


B: É aprender a verdade de que todas as ações da pessoa, realizadas com devoção altruísta, a ajuda dos três instrumentos purificados (corpo, fala e mente), na capacidade de servo do Senhor, tornam-se as ações do Senhor e prosseguir assim livre do senso de 'eu' e 'meu'. É igualmente assim aquilo que o Saiva Siddhanta chama de parabhakti (devoção suprema) ou viver à serviço de Deus (irai-pani-nittral).


P: Qual é o fim do caminho do conhecimento (jnana) ou Vedanta?


B: É saber a verdade que o 'eu' não é diferente do Senhor (Ishwara) e tornar-se livre do sentimento de ser o fazedor (Kartritva, ahamkara).


P: Como pode ser dito que o objetivo desses dois caminhos são o mesmo?


B: Qualquer que seja o meio usado, a destruição do senso de 'eu' e 'meu' é o objetivo e sendo eles interdependentes, a destruição de um deles causa a destruição do outro, portanto, para se conseguir aquele estado de silêncio que está além dos pensamentos e das palavras, tanto o caminho do conhecimento que remove o senso de 'eu' quanto o caminho da devoção que remove o senso de 'meu', funcionarão. Assim, não há nenhuma dúvida de que o fim dos caminhos da devoção e do conhecimento são um e o mesmo.


P: Qual é a característica do ego?


B: A alma individual com o senso de 'eu' é o ego. O Ser, cuja natureza é a inteligência (chit) não tem sentido de 'eu'. Essa aparência misteriosa de um ego ilusório entre o inteligente e o insensível (o corpo), sendo a causa raiz de todos esses problemas, ao ser destruída por qualquer que seja o meio, aquilo que realmente existe será visto como ele é. Isso é chamado de liberação.