quinta-feira, 22 de abril de 2010

Bhagavan Ramana Maharshi - Trechos de Discursos em fevereiro de 1937



Pergunta: O que é o estado Turiya?
Bhagavan: Existem apenas três estados, vigília, sonho e sono. Turiya não é um quarto estado, ele é o que sublinha esses três. Mas as pessoas não o compreendem de imediato. Por isso, é dito que esse é o quarto estado e é a única Realidade. Na verdade ele não está à parte de tudo, pois forma o substrato de todos os acontecimentos, ele é a única verdade e é o seu próprio Ser. Os três estados aparecem como fenômenos fugazes sobre ele e depois se afundam para dentro dele. Portanto, eles são irreais. As imagens em um cinema são apenas sombras passando sobre a tela. Elas tem seu aparecimento, movem-se para frente e para trás, mudam de uma para outra, dessa forma são irreais, enquanto que a tela o tempo todo mantém-se inalterada. Da mesma forma, numa pintura: as imagens são irreais e a tela é real. Assim também é conosco: o mundo dos fenômenos, dentro ou fora, é apenas um fenômeno passageiro e não é independente de nosso Ser. Somente o hábito de olhar para eles como sendo reais e localizados fora de nós é que é responsável por deixar escondido o nosso verdadeiro Ser e aparente todo o restante. A única Realidade sempre presente, o Ser, ao ser encontrado, fará todas as outras coisas irreais desaparecerem, deixando como resíduo o conhecimento de que elas não são nada além do Ser. Turiya é apenas um outro nome para o Ser. Cientes dos estados de vigília, sonho e sono, continuamos inconscientes do nosso próprio Ser. No entanto, o Ser está aqui e agora, é a única Realidade. Não há nada mais. Enquanto dura a identificação com o corpo o mundo parece estar fora de nós. Apenas realize o Ser e ele não estará mais fora.
P: Eu consigo entender a unidade na variedade, mas não consigo percebê-la.
B: Porque você está na variedade você diz que entende a unidade, que tem flashes da realidade, que se lembra dela, etc., você considera esta variedade como sendo real. Por outro lado, a Unidade é a realidade e a variedade é falsa. A variedade deve ir antes que a unidade se revele, antes que se revele a sua realidade. Ela é sempre Real. Ela não envia flashes de seu ser nesta variedade falsa. Pelo contrário, esta variedade obstrui a verdade.
P: A graça é necessária para a remoção da ignorância.
B: Com certeza. Mas a Graça está o tempo todo aí. A Graça é o Ser. Não é algo a ser adquirido. Tudo o que é necessário é conhecer sua existência. Por exemplo, o sol é só brilho. Ele não vê escuridão. Ao passo que as pessoas falam da escuridão fugindo do sol enquanto ele se aproxima. Da mesma forma, a ignorância também é um fantasma e não é real. Devido à sua irrealidade, ao descobrirmos sua natureza irreal, se diz que ela foi removida. Novamente, o sol está lá e também está brilhando. Você está rodeado pela luz solar. Ainda assim, para você conhecer o sol você tem de voltar seus olhos na direção dele e olhar para ele. Da mesma forma, a Graça só é encontrada através de práticas, embora esteja aqui e agora.
P: Espero eu, que pelo constante desejo de me render, uma Graça crescente seja experimentada.
B: Renda-se de uma vez por todas e acabe com os desejos. Enquanto o senso de ser o fazedor é mantido existem os desejos; isso também é a personalidade. Se isso for embora o Ser será descoberto brilhando de maneira pura. A sensação de ser o fazedor é aprisionamento, e não as próprias ações. "Aquietai-vos e sabeis que Eu sou Deus." Aqui, quietude é a rendição total, sem nenhum vestígio de individualidade. A quietude prevalecerá e não haverá agitação da mente. A agitação da mente é a causa do desejo, do sentimento de ser o fazedor e da personalidade. Se ela é interrompida, há serenidade. Desse modo, "Saber" significa "Ser". E não é um conhecimento relativo envolvendo a tríade - conhecimento, sujeito e objeto.
P: Após o retorno da consciência-corpo ...
B: O que é a consciência-corpo? Diga-nos isso primeiro. Quem é você à parte da consciência? O corpo é encontrado porque há a consciência-corpo que surge da "consciência-eu", que novamente surge da Consciência. Consciência → 'consciência-eu' → consciência-corpo → corpo. Há sempre a consciência e nada mais que isso. O que você está agora considerando ser a consciência-corpo deve-se à sobreposição. Se houvesse somente a consciência e nada além dela, o significado da Escritura 'Atmanastu kamaya bhavati priyam sarvam' - (Todos são queridos por causa do amor do Ser) se tornaria claro.