sábado, 30 de junho de 2012

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Meher Baba - Trechos do livro "The Everything and the Nothing"


            O amante e o Amado

Deus é amor. E o amor deve amar. E para se amar deve haver um amado. Mas como Deus é Existência infinita e eterna, não há ninguém para Ele amar além Dele mesmo. E para poder amar a Si mesmo ele deve imaginar-se como o amado a quem Ele como o amante imagina amar. A relação amado e amante implica separação. E a separação cria anseio e o anseio resulta em procura. E quanto mais ampla e intensa é a procura maior será a separação e mais terrível será o anseio. Quando o anseio é o mais intenso a separação está completa e a finalidade da separação, que tinha a finalidade de permitir que o amor pudesse experimentar a si mesmo como o amante e o amado, é cumprida; e a União é o que resulta. E quando a União é atingida, o Amante vem a saber que o tempo todo ele próprio era o Amado a quem ele amou e com quem desejou a União e que todas as situações impossíveis que Ele superou eram obstáculos que Ele mesmo colocou no caminho para Si mesmo.  Atingir a União é tão incrivelmente difícil porque é impossível tornar-se o que você já é! A união não é nada além do conhecimento de si mesmo como o Sujeito Único. 

O vinho e o Amor 

Os poetas-mestres Sufi frequentemente comparam o amor com o vinho. O vinho é a figura mais apropriada para o amor porque ambos intoxicam. Mas enquanto o vinho causa o auto-esquecimento, o amor leva à auto-realização (A realização do Ser).  O comportamento do bêbado e do amante são semelhantes; ambos ignoram os padrões de conduta do mundo e são indiferentes à opinião do mundo. Mas há mundos de diferença entre o curso e o objetivo dos dois: um leva à escuridão subterrânea e à negação; o outro dá asas à alma para seu vôo para a liberdade. A embriaguez do bêbado começa com um copo de vinho que exalta seu espírito e afrouxa suas afeições e dá-lhe uma nova visão da vida que promete um esquecimento de suas preocupações diárias. Ele passa de um copo para dois copos, para uma garrafa; do companheirismo para o isolamento, do esquecimento ao oblívio — esquecimento, que, na realidade, é o estado Original de Deus, mas que, com o bêbado, é um estupor vazio — e ele dorme em uma cama ou uma sarjeta. E ele desperta em um amanhecer de futilidade, um objeto de repulsa e ridículo para o mundo. A embriaguez do amante começa com uma gota do amor de Deus que lhe faz esquecer o mundo. Quanto mais bebe mais perto ele se aproxima de seu Amado e mais indigno do amor do Amado ele se sente. E ele anseia sacrificar sua própria vida aos pés de seu Amado. Ele também não se importa se dorme em uma cama ou em uma sarjeta e torna-se um objeto de ridículo para o mundo; mas ele repousa em êxtase e Deus, o Amado, cuida do seu corpo fazendo com que nem os elementos e nem doença alguma possam tocá-lo. Um dentre os muitos amantes desse tipo vê Deus face a face. Então, seu anseio torna-se infinito. Ele é como um peixe jogado na praia, pulando e se contorcendo para recuperar o oceano. Ele vê Deus em toda parte e em tudo, mas não pode encontrar o portão da União. O Vinho que ele bebe transforma-se em fogo no qual ele queima continuamente numa bem-aventurada agonia. E o fogo torna-se eventualmente o Oceano da Consciência Infinita, no qual ele se afoga. 

Deus tem vergonha de estranhos 

Deus existe. Se você está convencido da existência de Deus, então cabe a você procurá-Lo, vê-Lo e perceber-Lo.  Não procure por Deus fora de você. Deus só pode ser encontrado dentro de você, pois sua única morada é o coração.  Mas você tem enchido Sua morada com milhões de estranhos e Ele não pode entrar, pois ele é tímido com estranhos. A menos que você esvazie sua morada desses milhões de estranhos com os quais você preencheu-a, você nunca irá encontrar Deus. Esses estranhos são seus velhos anseios — seus milhões de desejos. Eles são estranhos a Deus porque os desejos são uma expressão de incompletude e são fundamentalmente estranhos Àquele que é todo-suficiente e que não deseja nada. A honestidade em suas relações com os outros irá limpar os estranhos para fora de seu coração.  Então você vai encontrá-Lo, vê-Lo e perceber-Lo. 

Eu sou a Infinita Consciência 

Acredite que eu sou o Antigo. Não duvide disso nem por um momento. Não há nenhuma possibilidade de eu ser alguém mais. Eu não sou este corpo que você vê. É só um casaco que coloco quando venho visitá-los. Eu sou a Consciência Infinita. Eu sento com vocês, brinco e riu com vocês, mas estou trabalhando simultaneamente em todos os planos de existência.  Perante a mim estão os santos e os mestres e santos perfeitos das fases iniciais do caminho espiritual. Eles são formas diferentes de mim. Eu sou a Raiz de cada um e de cada coisa. Um número infinito de ramos brotam de mim. Trabalho através de cada um e sofro em cada um de vocês e para cada um de vocês. Minha felicidade e meu infinito senso de humor sustentam-me em meu sofrimento. Os incidentes divertidos que acontecem aliviam meu fardo. Pense em mim; mantenha-se alegre em todos os seus desafios e eu estarei com você ajudando-lhe.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Daniel Ladinsky - Sobre Meher Baba e sobre seu trabalho com a poesia de Hafiz

Santuário do túmulo de Meher Baba

Era minha segunda viagem à Índia, o ano era 1978. Eu tinha conseguido ficar em uma pequena hospedaria privada na propriedade de um advogado americano. Sou uma pessoa muito reservada e com o passar do tempo tornei-me quase recluso, às vezes inacessível. E descobri que esta casa de hóspedes onde eu iria ficar não estaria disponível até o dia seguinte, mas foi-me oferecido uma cama portátil para dormir no corredor da casa principal onde havia muito ruído e movimento; as pessoas literalmente passavam por minha cama. Essa cama e o fato de eu estar exposto ao público, era tão oposta à minha natureza que eu não poderia resistir por uma noite; mas eu pensei, é só por uma noite. Então algo extraordinário aconteceu de manhã cedo, muito extraordinário: aproximadamente três da manhã acordei; Eu estava sentado na cama, não estava sonhando – e o telhado da casa não estava lá. Ao longe eu podia ver uma estrela extremamente bonita, ela parecia estar apenas a umas duas milhas de distância e, portanto, parecia muito grande. Fiquei fascinado pelo esplendor daquela esfera luminosa, encantado; quem não ficaria sob as circunstâncias descritas. Meu fascínio de repente aumentou muito quando esta estrela começou a vir em minha direção. A certa altura ela parecia estar algumas centenas de metros de distância, e minha experiência então foi: que mesmo se um ateu testemunhasse o que eu estava vendo ali, sem dúvida alguma ele também iria dizer, eu estou olhando para Deus. Esta experiência começou a se tornar tão avassaladora que eu comecei a sentir--esta luz Imaculada jamais irá me abandonar, ela não pode deixar-me. Pensei que iria desfalecer olhando para ela; pois não sei como tal verdade pode nem sempre ser visível para mim agora. Em seguida, o impossível começou a acontecer, pelo menos foi o que senti--"Deus" começou a retroceder de sua "proximidade" a mim. Aquele "Sol" começou a mover-se para trás. Mas então ele parou. E, em seguida, uma consciência diferente entrou naquela cena. Agora eu via aquela luz acima de um túmulo. Um santuário tinha vindo visitar-me e vendo aquele resplendor em algum tipo de relação com uma forma deu-me algum equilíbrio. Mas então, novamente o impossível foi encenado: Aquela Luz que eu pensava ser realmente incapaz de ter qualquer tipo de identidade pessoal, "nome", ou até mesmo forma além de sua Resplandescência magnificamente soberana, desceu então sobre esse túmulo que eu tinha vindo visitar. E esta coisa/ser divino que eu estava chamado de Deus assumiu um nome e tomou uma forma. E essa forma e nome era - Meher Baba.
Tenho investigado esse assunto de Deus - e de Meher Baba - há mais de 40 anos. Eu sei quem ele diz que ele é: o Cristo, o Buda, o profeta vindo novamente. Quão objetivo eu poderia ser sobre tudo isso depois de passar seis anos vivendo na Índia. Provavelmente não muito. E eu tendo muito a não descrer que um dia a história confirmará a alegação de Meher Baba. Eu não me mudei, aliás, da casa de hóspedes no dia seguinte; fiquei naquela cama quase três meses após essa experiência. Eu só pensava que eu tinha que honrar um acontecimento tão profundo, se eu realmente acreditasse nele, como de fato acreditava e acredito.Se há um Deus, um Deus real com infinito poder, então é possível para Deus fazer qualquer coisa, qualquer coisa. Deus poderia, portanto, descer em um corpo humano e viver entre nós. Por Suas próprias "razões", Deus talvez só quer polir nossa pista de dança a cada poucos séculos e ajudar-nos a rir e amar mais. Para mim foi o que aconteceu com Jesus e Buda e Maomé, Krishna, Rama e Zoroastro; eles apenas - basicamente - mostraram-se um dia estar entre nós, para serem nossos companheiros e amigos e para revelar-nos nosso próprio potencial e destino sagrados. E naturalmente eles foram sucesso gigante, ou, pelo menos agora são.
O que, de fato, sabemos realmente sobre qualquer coisa afinal? Temos cérebros de amendoins. Todo mundo está realmente apenas adivinhando, especialmente sobre Deus. Quantos olhos refletem algum conhecimento desta terra de maravilhas onde nos movemos. Existência é um nocaute impressionante quando começamos verdadeiramente a ver.
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Sinto que minha relação com Hafiz extrapola toda a razão e é realmente uma tentativa de fazer o impossível: traduzir Luz em palavras – tornar a ressonância luminosa de Deus tangível aos nossos sentidos finitos. Quando havia uns seis meses que estava fazendo este trabalho tive um sonho impressionante no qual  eu via Hafiz como um sol transbordante infinito, que cantava centenas de linhas de sua poesia para mim em inglês, pedindo que eu levasse aquela mensagem aos “meus artistas e buscadores”.

* A grande maioria dos poemas de Hafiz presentes no blog são traduções de Ladinsky