segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Hafiz (mestre Sufi - séc. XIV) - Este trabalho de ensinar não é fácil

A tarefa mais difícil
ao caçar-te, Deus,
É usar aquele arco e aquelas flechas
que destes ao meu coração.
Eles são feitos de simples água.
Eu miro de uma longa distância
para o Sol.
Hafiz, quem pode entender
o profundo absurdo de todo
o esforço neste caminho?
Por que não colocar esse antigo dilema
de outra maneira?
Escute:
Não foi apenas uma vez em nossa história
que uma formiga saiu e capturou
um elefante com apenas uma mão.
Isso não te diz alguma coisa nova?
Talvez não.
Este trabalho de ensinar
não
é
fácil.

Philokalia - São Simeão o Novo Teólogo (séc. X)

Nenhum homem que se considere sábio, por ter estudado todas as ciências e ser letrado em sabedoria externa, jamais penetrará os mistérios de Deus ou os verá, a menos que primeiro se torne humilde e tolo em seu coração, repudiando a sua própria opinião juntamente com o que adquiriu em sua aprendizagem. Um homem que age assim, e segue com destemida fé aqueles que são sábios nas coisas divinas, é guiado por eles e com eles entra na cidade do Deus vivo, e, ensinado e iluminado pelo Espírito Santo, vê e sabe coisas que nenhuma outra pessoa pode ver ou saber. Assim, ele passa a ser ensinado de Deus.

Os alunos de sábios deste mundo consideram aqueles ensinados de Deus tolos, enquanto que são eles que são verdadeiramente insensatos, uma vez que são formados apenas em sabedoria externa e distorcida; são aqueles que, de acordo com o divino apóstolo, "Deus fez insensatos" (Cor. I-20), e sobre os quais é dito: "Sua sabedoria não descendeu do alto, mas é terrena, sensual e diabólica"(III-15). Estando fora do compasso da luz divina, essas pessoas não podem ver os milagres que ela contém, e consideram como iludidos aqueles que, residindo nesta luz, vêem e ensinam o que vêem. Mas, na realidade, são eles os iludidos, que nunca experimentaram as bênçãos divinas.

Mesmo agora, vivem entre nós homens que estão livres das paixões, santificados e preenchidos com a Luz Divina. Pessoas que têm mortificado seus membros terrenos, limpamdo-os de todas as impurezas e luxúrias apaixonadas, nelas não apenas os pensamentos de más ações nunca entram em sua mente, como também não permitem interferências no seu estado “sem paixões” quando os outros incitam-lhes ao mal. Mesmo aqueles que os tratam com desprezo, e que se recusam a acreditar quando os escutam ensinar sobre as coisas divinas na sabedoria do Espírito, teriam-nos reconhecido, se tivessem entendido as palavras divinas que estudam e cantam diariamente. Pois, se eles conhecessem perfeitamente as Divinas escrituras, acreditariam nas bênçãos prometidas e concedidas por Deus. Mas uma vez que eles não participam dessas bênçãos, devido à sua opinião própria e auto-negligência, eles condenam e desconfiam daqueles a quem têm sido concedidas participação nas bênçãos e ensinam-lhes a respeito delas.

A única razão pela qual os homens repletos da graça divina e perfeitos em conhecimento e sabedoria superior, desejam sair para o mundo afim de conhecer pessoas que ali vivem, é direcionar os homens para as boas obras, lembrando-lhes os mandamentos divinos, dando-lhes assim, uma oportunidade de ganhar uma certa recompensa; se, naturalmente, eles escutarem, ouvirem e se convencerem.

Não sendo guiados pelo Espírito de Deus, caminham no escuro, não sabendo para onde vão, ou se vão ou não vão progredir em praticar um ou outro mandamento, portanto, os homens que vivem em graça vêm a eles com lembretes, desejando ajudá-los e esperando que um dia eles aceitem o verdadeiro ensinamento do Espírito Santo, que irá erguê-los da opinião própria que os possui, e, ouvindo sinceramente a vontade de Deus, sem hipocrisia ou orgulho próprio, irão se arrepender, a fim de obedece-Lo e, desta forma, tornando-se participantes em alguns dons espirituais. Se um homem santo, falha em obter resultados com os leigos que ele visita, então, lamentando sobre a cegueira e dureza de seus corações, ele volta para sua cela e reza dia e noite para salvação deles. Para o homem que está constantemente com Deus, e está preenchido com todas as bênçãos, não pode haver outra preocupação.

Shri Siddharameshwar Maharaj - Junho de 1933

Os desejos mundanos penetraram e se entrelaçaram com os pensamentos. É na companhia do corpo que o pensamento deu forma a si mesmo com o molde dos desejos. Então, surge uma pergunta: "Como é que eles podem ser separados"?
O "conhecimento de Brahman" nunca pode ser adquirido a menos que os desejos sejam abandonados. Devido ao conceito habitual de "fazer alguma coisa" e colher os seus frutos, nossa "consciência-interior" (Antahkarana) está inclinada na direção da satisfação dos desejos, e isso tem dado origem ao ego. Ao esquecer a "verdadeira natureza" (Swaroopa), a pessoa agarra-se ao conceito "eu sou o corpo", e a mente torna-se identificada com a consciência individual (Jiva). Essa é a razão pela qual ela se torna fascinada com desejos mundanos, e amante de prazeres sensuais. Se alguma vez os pensamentos tivessem sido a verdadeira natureza do indivíduo, eles teriam gravitado apenas na direção da consciência individual, e nunca teriam se envolvido com os desejos.
A consciência individual, enquanto esquece seu "verdadeiro ser", se esforça para satisfazer o pensamento. Como o pensamento tornou-se apaixonado pelos desejos, a consciência individual, em conformidade, torna-se obsecada por eles também. A consciência individual, de fato, é eternamente livre, e está apenas na forma de energia-vida. O orgulho pelo corpo, e o orgulho da mente, juntamente com o orgulho pela sua forma de pensar, cristalizaram-se em um rígido, porém falso, orgulho. É devido a esse orgulho que a consciência individual parece ter-se tornado o corpo, e em sua companhia constante, tem se rendido aos desejos.
Aquele que abandona todo o orgulho atinge a liberdade da prisão e sai do oceano da existência mundana. Como todos os objetos são apenas Paramatman, nada pode ser alegado. Deve-se ter a atitude de que "Tudo isto pertence a Paramatman, deixe que as coisas tomem seu próprio rumo. O que cabe a mim? Aconteça o que acontecer, o que quer que for perdido, não é assunto meu." Aquele que se comporta dessa maneira é transformado em Paramatman.
É dito que "desapego intenso" é a renúncia total; que "desapego puro" é viver neste mundo como se estivéssemos numa casa de hóspedes; enquanto que o "desapego moderado" consiste em gradualmente se retirar das coisas mundanas. Quando nenhum desses três é possível, servir os santos e os sábios com uma total dedicação do nosso corpo, mente e riqueza pode ajudar a gerar desapego.
A fortuna do Yogi é verdadeiramente grande, quando o desapego do corpo é estabelecido. Deve-se renunciar a todos os desejos. O orgulho está associado à casa, à esposa, aos filhos, à riqueza e deve ser abandonado. Isso ajuda a nos livrar da escravidão. A fim de abandonar o orgulho, é preciso praticar a adoração. Deveríamos saber e dizer: "Eu não sou o corpo, eu sou o Ser (Self)". Devemos dizer: "Eu sou Ele, O que está em todos". Após a expulsão dos desejos, passamos a saber que todos os seres são Paramatman. É assim, quando a consciência individual atinge o estado de Paramatman. Uma vez que os desejos e os pensamentos são falsos, como é possível que alguma vez realmente afetem a consciência individual?
A consciência individual, com a ajuda do corpo tem satisfeito muitos desejos neste mundo transitório. Os pensamentos, na companhia dos desejos tornaram-se passionais. Dia e noite, o intelecto (Buddhi) pensa em desejos sensuais que lhe são queridos. Essa é a razão pela qual o orgulho associado aos desejos veio a existir. Laços fortes têm sido desenvolvidos com desejos mundanos, e seus conceitos tornaram-se uma obstrução. Devido ao orgulho associado com o corpo, a consciência individual considera todas as coisas relacionadas com o corpo, sejam boas ou ruins, como sendo dela própria. O indivíduo tem, portanto, esquecido sua própria "natureza real" (Swaroopa) e em vez disso, concentrou-se em desejos.
"Conhecimento" não é nada além de uma mudança radical no intelecto. No momento em que a pessoa for verdadeiramente iniciada, ou começar a comportar-se de acordo com o conselho do Mestre, pode imediatamente atingir a libertação. Escutar e refletir sobre o discurso espiritual é o único método para se chegar à "verdade última" (Paramartha).