quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Philokalia - São Gregório Pálamas - A oração interior

 
Que ninguém pense, meus queridos Cristãos, que apenas os monges e os padres precisam orar sem cessar e que os leigos não. De modo algum, não: todo Cristão sem exceção deve residir sempre na oração. Gregório, o Teólogo, ensina a todos os Cristãos que o Nome de Deus deve ser lembrado em oração tão frequentemente quanto inalamos o ar.

Quando o Apóstolo nos ordena: “Orai sem cessar” (1 Thess v. 17), ele quer dizer que devemos orar internamente com nossa mente; e isso é algo que podemos fazer sempre. Pois quando estamos engajados em algum trabalho manual, quando andamos ou estamos sentados, quando comemos ou quando bebemos, internamente podemos sempre orar e praticar a prece interior da mente, a verdadeira oração que agrada a Deus. Vamos, portanto, trabalhar com nossos corpos e orar com nossa alma. Que nosso homem exterior realize o trabalho físico e nosso homem interior esteja concentrado total e completamente no serviço de Deus e que nunca enfraqueçamos o trabalho espiritual da oração interior. Isso é também ordenado por Jesus, o Deus-homem, quando Ele diz no Santo Evangelho: “Tu, porém, quando orardes, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai, que vê em segredo” (Mat. 6:6). O quarto da alma é o corpo, as postas são os cinco sentidos. A alma entra no seu quarto quando a mente não vagueia aqui e ali sobre as coisas mundanas, mas permanece dentro do nosso coração. Nossos sentidos são fechados e permanecem assim quando não permitimos que eles se apeguem a coisas visíveis e externas, dessa forma nossa mente fica livre de todo apego mundano e através de sua oração secreta e interna é unida a Deus nosso Pai.
Você se lembra da afirmação de São Paulo: “nosso corpo é o templo de Espírito Santo dentro de nós” (1Cor.6:9) e: “somos a casa de Deus” (Ref. Heb.3:6), como o próprio Deus confirma quando diz: “Eu habitarei e caminharei neles e serei Seu Deus”(2Cor. 6:16). Portanto, uma vez que o corpo é a morada de Deus, que pessoa sã iria se opor a manter seu intelecto nele? E como foi que de início Deus estabeleceu o intelecto no corpo? Ele fez isso de maneira errada?

Quando lutamos com uma sobriedade diligente para guardar vigília sobre nossas faculdades racionais, para controlar e corrigi-las, de que maneira podemos ter êxito nessa tarefa a não ser ao coletar nossa mente que está dispersa por aí através dos sentidos e trazê-la de volta para o mundo interno, para o próprio coração, que é o armazém de todos os pensamentos?

Quando a oração de Jesus está ausente, somos atacados por todas as sortes de coisas danosas, não sobrando espaço para nenhuma coisa boa na alma. Mas quando nosso Senhor está presente na oração, tudo o que é estrangeiro é banido.

‘Fica atento a ti mesmo’, disse Moisés (Deut.15:9) – isto é, à totalidade de ti mesmo, não apenas a poucas coisas que pertencem a você, negligenciando o resto. De que maneira? Indubitavelmente, com o intelecto. Esteja em guarda, portanto, vigiando sua alma e seu corpo, pois assim você prontamente irá se livrar das paixões malignas do corpo e da alma. Desse modo, assuma o controle sobre si, fique atento a si mesmo, analise-se minuciosamente, ou melhor, guarde, observe e teste a si mesmo, pois dessa maneira você irá subjugar seu ser rebelde e não regenerado ao Espírito, e assim jamais haverá ‘alguma iniquidade em seu coração’ (Deut.15:9). Se, por acaso, o Pregador (o espírito que governa os demônios e paixões do mal) se erguer contra você, não deserte seu posto (ref. Ecl.10:4) – ou seja, não deixe nenhuma parte da sua alma ou do seu corpo sem ser vigiada. Dessa forma você dominará os espíritos do mal que lhe assaltam e irá audaciosamente apresentar-se Àquele que examina os corações e as mentes (ref. Sal.7:9) e Ele não irá examiná-lo minuciosamente porque você já o fez. Como disse São Paulo: ‘Se examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados’ (1Cor.11:31).
Então você experimentará a bênção que Davi experimentou e dirá para Deus: ‘A escuridão não será escuridão junto a Ti, e a noite será clara como o dia para mim, pois tomaste posse de minha mente’ (Sal.139:12:13). É como se Davi estivesse dizendo que Deus não apenas tornou-se o único objeto de desejo de sua alma, mas também que qualquer fagulha desse desejo em seu corpo retornou para a alma que produziu esse desejo, e através da alma elevou-se a Deus, juntando e unindo-se a Ele. Pois da mesma forma que aqueles que se unem aos prazeres perecíveis dos sentidos expandem todos os desejos da alma ao satisfazerem suas propensões carnais, assim tornando-se tão completamente materialistas que o Espirito de Deus não pode habitar neles (ref.Gen.6:3), também, no caso daqueles que elevaram o intelecto a Deus e que através do anseio divino anexaram sua alma a Ele, a carne também é transformada, é exaltada juntamente com a alma e comunga com a alma no Divino tornando-se posse e morada de Deus, não abrigando mais nenhum inimigo Dele ou quaisquer desejos que sejam contrários ao Espírito (ref.Gal.5:17).