terça-feira, 4 de agosto de 2009

São Teófanes o Recluso - A Lembrança de Deus


Todo trabalho espiritual será em vão sem esta atividade, sem a lembrança de Deus, esse é o começo do silêncio pelo amor de Deus, e é também o fim. Esse Nome mais desejável é a alma da quietude e do silêncio. Ao chamá-lo na mente ganhamos alegria e contentamento, perdão dos pecados e fartura de virtudes. Poucos estiveram aptos a descobrir esse Nome mais glorioso, salvo apenas em quietude e silêncio. O homem não pode alcançá-lo de outra maneira, mesmo que com grande esforço. Portanto, conhecendo o poder desse conselho, eu suplico-lhe pelo amor de Cristo a sempre estar em quietude e silêncio, sendo que essas virtudes enriquecem a lembrança de Deus dentro de nós.

Em toda a parte e sempre, Deus está conosco, perto de nós e dentro de nós. Mas nós não estamos sempre com Ele, sendo que não lembramos Dele; e porque não lembramos Dele permitimo-nos muitas coisas as quais não permitiríamos se lembrássemos. Assuma para si esta tarefa – tornar um hábito tal recordação.
Faça uma regra para si mesmo - sempre estar com o Senhor, mantendo a sua mente no seu coração e não deixe seus pensamentos divagarem tão frequentemente quanto devaneiam; traga-os de volta novamente e mantenha-os em casa no armário do seu coração, deleitando-se na conversa com o Senhor.

Quanto mais firme você estiver estabelecido na lembrança de Deus – ao ficar mentalmente diante de Deus em seu coração – mais quietos seus pensamentos se tornarão e menos eles divagarão. A ordem interior e o sucesso na oração caminham juntos.
Dessa maneira nosso espírito é restaurado a seus direitos justos. Quando estiver assim restabelecido, ele iniciará uma transformação ativa e vital da alma e do corpo e dos relacionamentos externos, até que eles finalmente sejam purificados. E você se tornará um homem real.

Quando você se estabiliza no homem interior através da lembrança de Deus, então Cristo, o Senhor, entrará e habitará dentro de você. As duas coisas vão juntas.
E aqui há um sinal para você, através do qual, esteja certo, este trabalho glorioso se iniciou dentro de você: você experimentará um sentimento de entusiasmo para com Deus. Se você cumprir todo o prescrito, então esse sentimento logo vai começar a aparecer, cada vez com mais frequência e com o tempo se tonará contínuo. Esse sentimento é doce e beatífico e com seu primeiro aparecimento ele nos estimula a desejá-lo e a buscá-lo, a fim de que não deixe o coração: pois nele está o Paraíso.
Você deseja entrar nesse Paraíso o mais rápido possível? Aqui, então, está o que você deve fazer. Quando você rezar, não termine sua oração sem ter despertado no seu coração algum sentimento para com Deus, seja ele reverência ou devoção, ou gratidão, ou glorificação, ou humildade e contrição, ou esperança e confiança. Também quando depois da oração você começar a ler, não termine a leitura sem ter sentido no seu coração a verdade daquilo que você leu. Esses dois sentimentos – aquele inspirado pela oração e o outro pela leitura – aquecem mutuamente um ao outro; e se você prestar atenção a si mesmo, eles irão manter você sob sua influência durante o dia todo. Cuide de praticar esses dois métodos exatamente e você verá por si mesmo o que acontecerá.

Bhagavan Ramana Maharshi - O Caminho Direto


Pergunta: Qual é o melhor caminho para matar o Ego?

Bhagavan: Para cada pessoa o melhor caminho é aquele que parece mais fácil ou que atraia mais. Todos os caminhos são igualmente bons, pois levam ao mesmo objetivo, que é a fusão do Ego no Ser (Self). O que o devoto (bhakta) chama de rendição, aquele que faz vichara (investigação de si) chama de Jnana (conhecimento). Ambos estão apenas tentando levar o Ego de volta para a fonte da qual ele surgiu e fazê-lo fundir-se ali.

Pergunta: A graça não pode acelerar tal competência num buscador?

Bhagavan: Deixe isso para Deus. Renda-se sem reservas. Uma das duas coisas precisa ser feita. Ou se renda porque você admite a sua nulidade e inabilidade e requeira que uma força superior lhe ajude, ou investigue a causa da miséria indo para a fonte e se funda dentro do Ser.



Pergunta: É bom amar a Deus, não é? Então por que não seguir o caminho do amor?

Bhagavan: Quem disse que você não poderia segui-lo? Você pode fazer isso. Mas quando você fala de amor, há dualidade. Não existe a pessoa que ama e a entidade chamada Deus que é amada? O indivíduo não está aparte de Deus. Assim, amor significa que a pessoa tem amor pelo próprio Ser (Self) dela.

Pergunta: É por isso que estou lhe perguntando se Deus poderia ser adorado através do caminho do amor.

Bhagavam: Isso é exatamente o que eu tenho falado. O próprio amor é a forma verdadeira de Deus. Se ao dizer: 'eu não amo isso, eu não amo aquilo', você rejeita todas as coisas, aquilo que sobra é swarupa (Ser real), essa é a real forma do Ser. Ela é contentamento puro. Chame-o de bênção pura, Deus, Atma, ou do que você quiser. Isso é devoção, isso é realização e é tudo.
Portanto, se você rejeita tudo, o que permanece é o Ser apenas. Esse é o amor real. Aquele que conhece o segredo desse amor descobre o próprio mundo cheio de amor-universal.
Apenas a experiência de não esquecer a consciência é o estado de devoção (bhakti), experiência que consiste no relacionamento do amor real imperecível, pois o conhecimento real do Ser, que brilha como a própria bênção suprema indivisível, revela-se como sendo a natureza do amor.
Apenas quando a pessoa conhecer a verdade do amor, o qual é a verdadeira natureza do Ser, o nó emaranhado da vida será desatado. Apenas se a pessoa atingir as alturas do amor a liberação será atingida. Tal é o coração de todas as religiões. A experiência do Ser (o si mesmo real) é só amor, que está vendo apenas amor, escutando apenas amor, sentindo apenas amor, saboreando apenas amor, cheirando apenas amor, o qual é bênção.
O estado puro de estar apegado à graça (ao Ser), que é desprovida de qualquer apego, é o próprio estado de silêncio da pessoa, que é sem qualquer outra coisa. Saiba que o silencio - aquele desempenho da incessante adoração verdadeira e natural, na qual a mente é estabelecida submissivamente como o Ser uno, tendo instalado o Senhor no trono do coração - é a melhor de todas as formas de adoração. O maligno esquecimento do Ser, que nos faz cair daquele silêncio, é a não-devoção (vibhakti). Saiba que permanecer como aquele silêncio onde a mente retrocede ficando não-diferente do Ser, é a verdade de Shiva Bhakti (devoção a Deus).
Quando a pessoa rendeu-se completamente aos pés de Shiva, assim tornando-se da natureza do Ser, a paz abundante que resulta - na qual não há nem mesmo o menor espaço no Coração para a pessoa fazer nenhuma reclamação sobre seus defeitos e deficiências - é somente a natureza da devoção suprema. Dessa forma, a pessoa torna-se escrava de seu Senhor, e ficar quieta e silenciosa, sem nem mesmo o pensamento egoísta 'eu sou Seu escravo', significa permanecer no Ser, e esse é o conhecimento supremo.

Pergunta: Sri Bhagavatan delineia um caminho para encontrar Krishna no coração, ao nos prostrarmos perante todos e olharmos todos como sendo o próprio Senhor. Esse é um caminho que conduz à Realização? Não é mais fácil adorar Bhagavan não importando o que surgir na mente, do que buscar o que está além da mente através da inquirição mental 'quem sou eu'?

Bhagavan: Sim, quando você vê Deus em tudo, você pensa em Deus ou não? Certamente você tem de pensar em Deus se você quer ver Deus por toda sua volta. Manter Deus na sua mente dessa maneira se torna meditação (dhyana) e meditação é o estágio antes da Realização. A Realização só pode ser do Ser e no Ser (Self-o si mesmo real). Ela nunca pode ser aparte do Ser. Meditação deve preceder a Realização, mas se você faz meditação em Deus ou no Ser não faz diferença, pois o objetivo é o mesmo. De qualquer maneira, você não pode escapar do Ser. Você quer ver Deus em tudo, mas não em si mesmo? Se tudo é Deus, você não está incluído nesse tudo? Sendo Deus você mesmo, é uma admiração que tudo seja Deus? Esse é o método que foi aconselhado no Sri Bhagavatan, e em outros lugares por outros. Mas mesmo para essa prática, tem de haver o sujeito que vê e o que pensa. Quem é ele?

Pergunta: Como ver Deus que está permeando tudo?

Bhagavan: Ver Deus é ser Deus. Não existe o 'tudo' aparte de Deus para ele permear. Apenas Ele existe.

Pergunta: O devoto (bhakta) requer um Deus para o qual ele possa fazer a devoção (bhakti). Ele deve ser ensinado que só existe o Ser, e não um adorador e o Adorado?

Bhagavan: É claro, Deus é necessário para a prática espiritual (sadhana). Mas mesmo no caminho da devoção, o fim do Sadhana é atingido apenas após a completa rendição. O que isso significa, exceto que o apagamento do ego resulta no Ser ficando como ele sempre foi? Em qualquer caminho que for escolhido, o 'eu' é inescapável, o 'eu' que realiza ações altruístas (nishkama karma), o 'eu' que anseia por se unir com o Senhor do qual ele sente estar separado, o 'eu' que sente que afastou-se da sua natureza real, e assim por diante. A fonte desse 'eu' precisa ser descoberta. Então todas as questões serão resolvidas.

Este caminho (atenção ao 'eu'/investigação de si) é o caminho direto; todos os outros são caminhos indiretos. O primeiro conduz ao Ser, os outros para outros lugares. E mesmo se os outros chegarem ao Ser é apenas porque no fim levaram ao primeiro caminho, o qual finalmente conduz todos os outros ao objetivo. Portanto, no fim, o aspirante deve adotar o primeiro caminho. Por que não fazer isso agora? Por que perder tempo?