quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Shri Samartha Ramdas Maharaj (1608-1681) - O Puro Brahman

1. Brahman é mais claro do que o céu sem nuvens, que parece vazio ao olharmos para ele. Tal como o céu, Brahman é sem forma, enorme, e ilimitado.
2. Vinte e um céus e sete mundos inferiores (Patalas) em conjunto estão contidos na esfera da criação. O ilimitado, puro Brahman permeia tudo isso.
3. Brahman é interminável acima e abaixo do universo. Não há nem um lugar, nem mesmo a mais pequena partícula, que não seja permeada por Ele.
4. Brahman permeia toda a água, a terra, a madeira, bem como todas as pedras, e nem mesmo um único ser está sem Ele.
5. Assim como a água está dentro e em torno dos animais aquáticos, da mesma forma, este puro Brahman está dentro e em torno de todos os seres vivos.
6. No entanto, esta comparação com a água não é totalmente adequada, pois há lugares secos que existem além da água, enquanto que não se pode nunca sair de Brahman.
7. Se tentarmos fugir do céu, não é possível, porque, basicamente, só céu é encontrado à nossa frente. Do mesmo modo, não há fim ao interminável Brahman.
8. Mas ainda que seja apenas Brahman que encontramos continuamente - Ele que é indissociável do corpo, e que é o que está mais próximo a todos - Ele também está oculto.
9. Existimos dentro Dele mas não O conhecemos. Imaginamos tê-Lo entendido, mas na verdade, Parabrahman, a Suprema Realidade, não pode ser entendido.
10. Quando nuvens são vistas no céu, parece que o céu está de alguma maneira manchado ou que algo tenha sido misturado a ele, mas isso é falso, o céu permanece claro e puro.
11. Se fixarmos nosso olhar no céu, minúsculos salpicos, como pequenas bolhas ou gotículas, são vistos pelos olhos. Do mesmo modo, as aparências visíveis são irreais para os "conhecedores" (Jnanis).
12. Embora sejam falsas, ainda são vistas como um sonho para alguém que está dormindo. Somente após tornarmos-nos despertos compreenderemos que não são verdadeiras.
13. Do mesmo modo, uma pessoa torna-se desperta com o auto-conhecimento na sua própria experiência, e assim começa a compreender a natureza da ilusão.
14. Agora chega dessa fala enigmática. Aquilo que está além do universo será agora demonstrado por meio de explicação e análise seletiva para que possa ser profundamente compreendido.
15. Brahman está misturado à criação inteira, está permeando todos os objetos e difundido em todas as partículas em existência.
16. Toda a criação aparece em Brahman, e Brahman está em tudo da criação. No entanto, a experiência desta aparição do mundo, este aspecto, é apenas uma pequena fração de Brahman.
17. Apenas uma pequena fração de Brahman está dentro da totalidade da criação. Quem pode conhecer seus limites fora da criação? Como pode o todo de Brahman estar contido dentro da criação?
18. É como tentar colocar o céu inteiro num pequeno pote; não é possível. Por isso, dizemos que o pote contém uma fração pequena do céu.
19. Brahman está misturado a tudo, mas não é perturbado. Ele existe em tudo, mas ainda está além de tudo.
20. Brahman está misturado com os cinco elementos, mas também está além deles e não é limitado por eles; como o espaço que permeado por lama, ainda assim não é sujo por ela.
21. Nada pode ser comparado à Brahman, ainda assim, afim de compreender, a parábola do céu é dada e alguns meios para sua explicação são requeridos.
22. Os Upanishads e outros textos antigos dizem que Brahman é como o céu, então, de modo a manter em conformidade com os textos, a parábola do céu é usada para Brahman.
23. Na ausência de ouro, o latão é dourado apenas na cor. Do mesmo modo, na ausência do atributo de vazio, o céu seria puro Brahman incorruptível.
24. Brahman é como o céu, e a Ilusão é como o vento que pode ser sentido, mas não pode ser visto.
25. A criação que é constituída de palavras aparece e dissolve-se de momento a momento. Como o vento, ela não pode ficar parada.
26. A ilusão é falsa assim, deixe-a ser como ela é. O eterno Brahman é um, mesmo assim, ainda é visto permeando todas as coisas.
27. Brahman existe penetrando a terra, mas não é duro como a Terra. Ao mesmo tempo, nenhuma alegoria pode ser usada para a sua suavidade e sutileza.
28. Entenda que a água é mais suave do que a terra, o fogo é mais suave que a água, e o vento é mais suave do que fogo.
29. Entenda, que o céu, ou o espaço, é muito mais suave e mais sutil do que o vento, e que a plenitude de Brahman é mais sutil do que o céu.
30. Brahman penetrou a mais dura das armas, e ainda assim não perdeu a sua sutileza. Não é nem duro nem mole. Não existe alegoria precisa para Ele.
31. Brahman permeia a Terra, mas a terra é destrutível e Brahman não é. Brahman está na água, mas a água seca, enquanto Brahman não seca.
32. Brahman está no fogo, mas não pode ser queimado. Brahman está no vento, mas Ele não se move. Ele está no céu, mas, o céu é conhecido, enquanto que a Suprema Realidade, Parabrahman, não pode ser conhecida.
33. Ele está ocupando todo o corpo, mas não pode ser encontrado. Está ao mesmo tempo muito próximo de nós e ainda assim muito longe. Como isso é incrível!
34. Ele está na nossa frente e por todos os lados, e tudo o que é visto ocorre nele. Ele é "Auto-evidente" e "Auto-estabelecido."
35. Nosso ser está nele somente, e é apenas Ele quem está dentro e em torno de nós mesmos. Se tivéssemos que compará-Lo com algo, poderíamos dizer que ele é como o céu sem nada "mais" apareça nele.
36. Não é sentido como sendo algo, mas ainda assim está preenchendo todas as coisas. É como uma grande riqueza que pertença à própria pessoa e ainda assim não pode ser vista.
37. Ele é anterior a qualquer objeto que seja visto. É preciso resolver esse mistério com a própria experiência.
38. O espaço está dentro, ao redor, e contém todos os objetos. Ainda assim permanece o mesmo, mesmo sem a presença dos objetos. Com ou sem a presença da terra, o espaço continua a ser o mesmo.
39. O que quer que tenha nome e forma é Ilusão e inexistente. O segredo além do nome e forma é conhecido apenas pelos iniciados.
40. Tal como uma enorme nuvem de fumaça subindo para o céu tem a aparência de montanhas, de forma semelhante, a Deusa da Ilusão (Maya) mostra o seu truque que se parece com a criação do universo.
41. Entenda que a Ilusão é impermanente e Brahman é eterno e espalha-se por toda parte em todos os momentos.
42. Ao ler este texto espiritual, Brahman é as letras e as palavras, a visão delas, bem como a presença sutil que está nos olhos que estão vendo.
43. Aquele que ouve as palavras quando escutamos, aquele que é a mente que vê os pensamentos e que permeia a mente por completo, é a Suprema Realidade apenas, o Parabrahman propriamente dito.
44. Os pés que estão caminhando, o percurso que está sendo percorrido, tudo o que for encontrado pelo corpo, e tudo o que for pego com as mãos ao longo do caminho é apenas Brahman.
45. Deixe que seja assim. Tudo existe em Brahman apenas. A compreensão desse fato em si é o que destrói o desejo pelos objetos dos órgãos dos sentidos.
46. Brahman é o que está mais próximo de nós. Se tentarmos vê-Lo, não poderá ser visto, no entanto, ele existe mesmo que não seja visto.
47. Brahman só pode ser entendido pela experiência. É apenas a ausência de aparência do visível que leva a essa "auto-experiência"(experiência do Ser), que é a realização de Brahman.
48. A visão correta deve ser com os olhos do conhecimento e não com os olhos físicos. O reconhecimento dessa visão interior "correta", é a testemunha da própria visão interior.
49. Entenda que aquele que conhece tanto Brahman quanto a Ilusão é aquele que tem a experiência de ser a "Testemunha de Tudo", que é chamado de o "quarto estado", ou Turya. (Os três primeiros são os estados desperto, de sonho, e de sono profundo)
50. Testemunhar é a causa instrumental das atitudes da mente, ou o foco de atenção. Entenda que a ausência das atitudes da mente é "não-mente", onde até mesmo a própria consciência de si mesmo como um indivíduo é dissolvida. Isso é chamado de "Conhecimento espiritual", ou Vidynana.
51. Onde a Ignorância (Avidya) desapareceu e o Conhecimento (Dynana; Jnana) não permanece, e até mesmo o maior Conhecimento Espiritual (Vidynana) é dissolvido - isso é Parabrahman, a Suprema Realidade.
52. Dessa maneira, Brahman é eterno onde toda a imaginação termina. Entenda que essa é a "Solidão Feliz" dos Yogis.