terça-feira, 26 de maio de 2009

Philokalia - São Gregório Palamas (1296 - 1359)

O intelecto que foi julgado digno da luz da Santíssima Trindade também transmite ao corpo que está unido a ele muitos sinais da beleza divina, agindo como um intermediário entre a graça divina e o caráter grosseiro da carne e conferindo sobre a carne o poder de fazer o que está além de seu poder. Isso faz nascer um divino e incomparável estado estável de virtude, bem como uma disposição que não tem nenhuma ou pouca inclinação para o pecado. É aí então que o intelecto é iluminado pelo divino Logos que capacita-o a perceber claramente as essências interiores das coisas criadas e por conta de sua pureza revela a ele os mistérios da natureza. Dessa maneira, através de relacionamentos de correspondência, a inteligência percebedora encarregada é elevada à apreensão das realidades supernaturais – uma apreensão cujo Pai do Logos se comunica através de uma união imaterial. Disso surgem vários outros efeitos milagrosos, tais como insights visionários, visão de coisas futuras e a experiência de coisas que estão acontecendo a distância como se estivessem acontecendo diante dos olhos da pessoa. Mas o que é mais importante é que aqueles que são abençoados dessa maneira não aspiram atingir tais poderes. Ao invés disso, é como se a pessoa estivesse olhando para um raio da luz do sol e ao mesmo tempo percebesse as pequenas partículas no ar, embora essa não fosse sua intensão. Assim é com aqueles que comungam diretamente com os raios da luz divina, que por natureza revela todas as coisas de acordo com seu grau de pureza. Eles verdadeiramente atingem (se bem como algo acidental) um conhecimento do que é passado, do que é presente e até mesmo do que está por vir. Mas a preocupação principal deles é o retorno do intelecto para si mesmo e a concentração dele em si mesmo. Ou, preferencialmente, o objetivo deles é a reconvergência de todos os poderes da alma no intelecto (por mais estranho que possa parecer) e atingir o estado onde Deus e o intelecto trabalham juntos. Dessa maneira eles são restaurados ao seu estado original e assimilados a seu arquétipo, a graça renova neles sua inconcebível beleza original. A tal consumação, portanto, o pesar, traz aqueles que são humildes no coração e pobres no espírito.

Visto que por conta de nossa preguiça inata tal consumação está além de nós, vamos retornar a fundação disso e falar um pouco mais sobre o próprio pesar (aflição). Pesar também acompanha todo tipo de solicitação de necessidades mundanas não atendidas. Pois como pode uma pessoa precisando de dinheiro não sentir tristeza, ou alguém que sente fome contra sua vontade ou que sofre dor ou desonra? Tal pesar, de fato, não tem consolo, quanto mais consolo mais aguda a necessidade se torna, especialmente se quem está sofrendo não possui conhecimento verdadeiro. Pois se você não mantiver um controle inteligente sobre os prazeres sensuais e as dores, mas em vez disso, permitir-se ser dominado por eles através do mal uso de sua inteligência, você desvantajosa e erroneamente irá multiplicá-los, até mesmo causando injúria a si mesmo. Pois assim você dá evidência clara e auto-acusativa de que você não adere aos Evangelhos de Deus e aos profetas que O precederam e àqueles que vieram depois Dele e foram Seus discípulos e apóstolos. Pois todos esses ensinam que intermináveis riquezas vêm através da pobreza, que uma glória inefável vem através da simplicidade da vida, que deleite sem dor vem através do auto-controle, e que através do suportar pacientemente as provações e tentações que caem sobre nós, somos livrados das tribulações e aflições eternas armazenadas para aqueles que escolhem uma vida fácil e amena neste mundo ao invés de entrar pelo portão estreito (Mat. 7:14).