segunda-feira, 20 de abril de 2009

Siddharameshwar Maharaj -A cidade de Brahman

O estado do indivíduo, o Jiva, é a ilusão. É a ignorância, o pecado original. Ilusão significa aquilo que não é verdade. O estado do Jiva “não é verdade”. A palavra Jiva é composta de “Ja” mais “Iva”, que significa que é como se ele tivesse nascido, mas não é nascido na verdade. Ele é ilusório. Se esse indivíduo não é verdade, então o que é verdade? A verdade é “eu sou aquilo que não é nascido”. Não é verdade o fato - “eu nasci” e sou chamado por algum nome como Tom, Dick, ou Harry.
Há uma história sobre um leão que estava sob a ilusão de que era um homem. Ele foi até um pastor de ovelhas para ser seu servo. Por algum tempo, o pastor o alimentou com leite e depois começou a dar esterco para ele. Naturalmente, logo o leão estava faminto. Então o guru dele o encontrou. Ele disse para o leão: “você é um leão, que mata e come qualquer animal que escolher. Por que você está comendo esterco?” Quando o leão veio a saber de sua capacidade, ele foi para a floresta e começou a caçar e a alimentar-se adequadamente. Similarmente, o indivíduo é Paramatman, na verdade, mas considerou-se ser o Jiva e teve que tornar-se infeliz. Pare de ser um ser humano e abandone o hábito de comer o esterco, que são estes objetos os sentidos. Comer esterco significa assumir os resultados das ações (Karma). O resultado de qualquer ação que o individuo realiza é o esterco, que a ovelha (a ilusão - Maya), excretou.
Quando você está certo de que você é Shiva, esses resultados do Karma, que são como esterco, são evitados. Para Shiva, nenhum karma é comprometedor. O Ser é Brahman, por Seu consentimento. O corpo imaginário atua com todos os orgão dos sentidos. Com o conhecimento de si, aquele que herda os resultados do Karma é descartado, e não há nenhuma entidade para receber nenhum resultado, portanto, não há ninguém para ser “condenado”.

Quando a ilusão do Jiva se vai, todas as ações também se vão. Ele está livre de todo o Karma, as montanhas dos pecados são queimadas às cinzas, e montanhas de méritos são erguidas. Mérito aqui significa a Verdade, a Realidade. Aquele que realizou o Ser (Self) tornou-se Deus. O autoconhecimento é em si mesmo a montanha de mérito. Não há limite para o mérito daquele que tem autoconhecimento, enquanto que aquele que não tem, ganha montanhas de pecado. Pecado significa pensar que você é o indivíduo. Quando o Jiva é não-existente, o pecado também não está presente. Assim que a ilusão de ser um Jiva estiver lá, erguem-se montanhas de pecados. Através do entendimento da nossa própria “natureza verdadeira” como Brahman, as montanhas de pecados desmoronam. Um homem que era um sacerdote, um Brahmim, pensou ser um homem de uma casta inferior e comeu a carne de um búfalo. Aquele conceito de ser de uma casta inferior foi acompanhando pelo cometimento de pecado para o Brahmin. Se um escravo recebe a bênção de que ele pode viver para sempre, isso significa que ele permanecerá um escravo eternamente. Identificação errada é a criação do pecado. Grande é o ganho no dia em que passamos a saber que não somos o Jiva, mas que somos Brahman. Então, a escravidão se vai, a ilusão de ser um Jiva se vai. Nesse dia, as montanhas dos pecados são afundadas nas profundezas do oceano. O sol do Conhecimento nasce e a pessoa atinge novamente aquele lugar de onde originalmente ela veio. Alcança sua raiz e os quatro corpos se esvaem.

Voltar-se para os objetos dos sentidos é ir para baixo, descender. Voltar-se na direção do Ser é ir para cima. Quando a pessoa realiza o Ser, ela está totalmente livre. Isso é chamado Sayujya Mukti. A aniquilação total de todas as coisas é esse Sayujya Mukti. Onde não há “eu” e não há “você”, quem está lá para querer liberdade? Abençoado é aquele que pela dissolução do “eu” realizou Brahman. Ele é o proprietário dessa liberdade e pode outorgar esse estado às outras pessoas.
É o Jnani quem entendeu que o que quer que seja visível é falso. As coisas são vistas, sem dúvida, mas é apenas Brahman e não há nada separado. Nesta vasta cidade de Mumbai, se você pegar um punhado de terra, é terra ou é Mumbai? As pessoas dão o nome de Mumbai para a terra e agem de acordo com isso. Realmente é apenas terra. Não existe Mumbai. Sem essa terra, Mumbai não tem existência. Similarmente, sem a energia da vida, Chaitanya, o mundo não tem existência. Afinal, você não pode encontrar nada exceto esta energia da vida. Há apenas essa Chaitanya. Se você olhar cuidadosamente e ver de maneira apropriada, não existe mundo visível. Se você vê dessa maneira e realiza todas as ações sabendo totalmente que todas elas são falsas, comportando-se somente com essa atitude, isso é “liberdade enquanto você está no corpo físico”. Aquele que se lembra do aviso dado pelo Guru e coloca isso em prática é intitulado para a liberdade.

É necessário ter decorado o alfabeto inteiro para saber o que significa o pecado? Qual é a necessidade de todas as ciências quando você realizou que você é o Ser? Há um ditado: “Através do sofrimento o caminho do contentamento segue”. O Sadguru diz que isso é verdade, mas significa que o corpo deveria ser abandonado. Esse é o preço que você deve pagar. Não deveríamos viver a vida como sendo um corpo físico, mas como pura energia da vida, Chaitanya. A liberdade está muito perto e facilmente disponível quando você vai ao Guru. Entretanto, a ilusão possui uma arma muito poderosa para ser usada contra o discípulo. Essa arma é a falta de fé no Guru. Deveríamos servir o Guru e trabalhar com devoção para ele até que consiguíssemos o fruto. O devoto deveria esperar pacientemente e fielmente até que a fruta amadurecesse. Aqueles que declaram “eu sou Brahman”, mas não tiveram a realização, tornam-se demônios após a morte. Uma manga tem gosto azedo quando comida antes de amadurecer e você não aprecia o gosto bom. Você não pode obter o benefício real do fruto se ele não estiver totalmente maduro.
O Sadguru nos deu o terceiro olho que é a “Visão Interior da Percepção Direta da Verdade”. Esse é o terceiro olho do “Fogo do Conhecimento do Senhor Shiva”. Esse não é um olho físico. É o “Olho do Conhecimento”. Temos nossos dois olhos físicos e o Guru nos deu este novo olho que é o Sol do Conhecimento. O Senhor de todo o mundo, a Existência sem forma (Purusha) permeando tudo, é esse olho. Quando você vê com esse olho, o mundo todo desaparece. Ele é destruído e nós vemos apenas Brahman. Este mundo visível é o cativeiro da Ilusão e o novo olho dado pelo Sadguru destrói essa ilusão.

O devoto do Guru aprecia o “Contentamento da solidão” enquanto está no corpo. Quando o Senhor Shiva tem autoconhecimento, ele diz: “Eu estou experimentando este sonho do Meu próprio Ser. Agora eu conheci este sonho como sendo eu mesmo”. O sonho é de ser o Ser, a existência como o seu próprio Ser. A experiência é nossa e é assim apenas por causa de nossa existência, portanto, ela é chamada de “Autoexperiência”. Por causa do Ser e por usar o suporte que “Eu” concedo, esta chama da inteligência é acendida. Quando observamos tudo isto com a chama da inteligência, vemos que tudo é nascido apenas do Ser. Não há um “outro” nisso. Sendo que essa é a experiência do Ser, pelo Ser, ela é chamada de “Autoexperiência” (experiência do Ser). Todos os termos, Si mesmo, Brahman, Autoexperiência, significam apenas uma coisa, que tudo isso é o sonho do Ser (swapna). A “Autoexperiência” (Atma-Anubhava) é a Autorealização (realização de si mesmo). É dito que o mundo é a casinha de brinquedos dos adultos. Isso significa que os “adultos” são pessoas de conhecimento. Eles têm o autoconhecimento e são grandes. Para eles o mundo todo é um brinquedo, algo para se brincar. Neste jogo, eles não têm pesares ou exaltação, perdas ou ganhos, tristeza, morte, etc. Para aqueles que vêem este mundo como a “experiência do ser” (autoexperiência) o mundo é um jogo natural de alegria. As pessoas ignorantes tomam o mundo como sendo real. Para eles tristeza, pesar, preocupação e medo são o fardo da vida. O sábio, entretanto, sabe que o mundo não é real e vive felizmente na sua própria “Casa da felicidade”.

Um homem sábio diz, “vivemos naquele país onde ninguém pode ir”. Deveríamos viver em nossa própria cidade. Nossa cidade é aquele lugar de onde ninguém volta. Aquele que realizou Brahman fala sobre coisas naquela cidade e pergunta apenas sobre aquela cidade. Aquela cidade irá apenas falar sobre si mesma. As pessoas ricas irão falar sobre sua própria vida rica e aqueles de conhecimento de Si irão falar sobre Brahman apenas. Se encontrarmos outro homem, saberemos através de sua fala, seu comportamento, etc, qual é a sua casta, qual é sua religião, sua ocupação, etc. O comportamento, a fala e as ações do Jnani são sempre cheias de sabedoria. Uma pessoa sábia irá sempre viver como uma pessoa sábia.