domingo, 6 de setembro de 2009

Meher Baba - O primeiro impulso (God Speaks 3)

No início, a alma não tinha impressões (sanskaras) e nem consciência. Portanto, nessa fase, ou, nesse estado, a alma não tinha forma ou um corpo grosseiro, corpo sutil ou corpo mental, pois apenas a existência de impressões grosseiras, sutis e mentais (sanskaras) pode dar existência aos corpos grosseiro, sutil e mental, e apenas a existência desses corpos pode tornar possível a existência dos mundos grosseiro, sutil e mental.
Portanto, no início, a alma não tinha consciência dos corpos grosseiro, sutil e mental e também era inconsciente de seu próprio Ser (Self), e a alma então, naturalmente, não tinha nenhuma experiência dos mundos grosseiro, sutil e mental e também não tinha nenhuma experiência da Sobre-Alma (Paramatma).
Esse estado infinito, sem impressões, inconsciente e tranquilo da alma reverberou com um impulso que nós chamamos O PRIMEIRO IMPULSO (de conhecer a si mesma).
O primeiro impulso estava latente em Paramatma.
Quando comparamos Paramatma a um oceano infinito e ilimitado e quando dizemos que Paramatma teve o primeiro impulso, também poderíamos dizer, a título de comparação, que o infinito e ilimitado oceano teve o primeiro impulso ou FANTASIA.
No infinito, tanto o finito quanto o infinito estão incluídos.
Agora, esse primeiro impulso foi infinito ou finito, e num primeiro momento foi finito e então infinito, ou vice-versa?
O primeiro impulso foi o mais finito, mas ele foi o primeiro impulso do Infinito. Esse primeiro impulso mais finito foi do oceano infinito - Paramatma e a manifestação desse primeiro impulso latente mais finito do Infinito foi restrito a um ponto mais finito no infinito Oceano ilimitado.
Mas como este ponto mais finito de manifestação do primeiro impulso latente, que era o mais finito, também foi no infinito Oceano ilimitado, esse ponto mais finito de manifestação do primeiro impulso foi também ilimitado. Através deste ponto mais finito de manifestação do primeiro impulso (também mais finito), a sombra do Infinito (sombra, que sendo da Realidade, é infinita) gradualmente apareceu e prosseguiu em expansão. Esse ponto mais finito de manifestação do primeiro impulso latente é chamado de Ponto "Om" ou Ponto da Criação e esse ponto é ilimitado.
Simultaneamente com as reverberações do primeiro impulso, a primeira impressão mais grosseira surgiu, objetivando a alma como a contraparte grosseira mais absolutamente oposta e mais finita do Infinito.
Devido a essa primeira impressão mais grosseira do primeiro impulso, a alma infinita experimentou pela primeira vez. Essa primeira experiência da alma infinita foi que ela (a Alma) experimentou uma contrariedade na sua identidade com o seu estado infinito, sem impressões e inconsciente.
Essa experiência de contrariedade gerou mutabilidade na estabilidade eterna e indivisível da alma infinita e, espontaneamente, ocorreu um tipo de erupção, perturbando o equilíbrio indivisível e a tranquilidade inconsciente da alma infinita com um rechaço ou choque tremendo que impregnou a inconsciência da Alma inconsciente com a primeira consciência de sua aparente separação do estado indivisível de Paramatma. Mas a Alma, sendo infinita, a primeira consciência que foi derivada do rechaço ou choque de uma primeira impressão mais grosseira absolutamente oposta de sua aparente separação, foi naturalmente e necessariamente uma primeira consciência finita.
Essa primeira consciência derivada pela Alma é evidentemente a mais 'maximamente-finita' em proporção à experiência de seu próprio estado original infinito, absolutamente oposto.
Isso significa então que, no início, quando a infinita Alma sem impressões foi pela primeira vez impressionada, teve como sua primeira impressão uma impressão absolutamente grosseira. E a primeira consciência que ela (a alma) derivou foi a mais 'maximamente-finita'.
Simultaneamente, nesse instante, a inconsciência da Alma infinita experimentou, de fato, a primeira consciência mais 'maximamente-finita' de todas, vinda da primeira impressão mais finita.
Essa Alma infinita e eterna teve consciência, mas essa consciência através de uma impressão não foi de seu estado eterno ou de seu Ser infinito, mas foi a consciência mais-finita, através da impressão mais-grosseira.
Então, como será explicado mais tarde, se a Alma estiver consciente de impressões (sanskaras), então a alma deverá necessariamente experimentar essas impressões, e para experimentar as impressões, a consciência da alma deve experimentá-las através de um meio adequado.
Conforme forem as impressões, serão as experiências das impressões e o meio para experimentar as impressões deverá ser de acordo. Isto é, as impressões dão origem às experiências, e para experimentar as impressões o uso de um meio (veículo) adequado é preciso.
Portanto, como a Alma infinita, eterna e sem forma agora tem a primeira consciência mais 'maximamente-finita' da primeira impressão mais 'maximamente-grosseira', obvia e necessariamente essa mais 'maximamente-finita' primeira consciência da alma deve utilizar o mais 'maximamente-finito' e o mais 'maximamente-grosseiro' primeiro meio para experimentar a mais 'maximamente-grosseira' primeira impressão.

Nesta fase, cabe aqui mencionar para a limitada compreensão humana que a mais 'maximamente-finita' primeira consciência da alma, enquanto experimentando a mais 'maximamente-groseira' primeira impressão, centrou-se em um meio adequado mais 'maximamente-finito' e mais 'maximamente-grosseiro' imperceptivelmente, criando a tendência da Alma (sem forma) associar e identificar seu próprio Ser infinito e eterno com essa forma limitada mais grosseira e mais finita como seu primeiro meio (veículo).
A primeira consciência da Alma indivisível, experimentando a primeira impressão através do primeiro meio, cria uma tendência na alma de associar e identificar seu Ser eterno e infinito com a primeira forma, a mais-finita e mais-groseira, que foi como a semente da contrariedade espontaneamente semeada pelas reverberações do primeiro impulso, imperceptivelmente germinada e manifestada na forma de dualidade pela primeira vez. Quando acontece de ela associar-se e identificar a si mesma, através de sua consciência recém-adquirida, com a forma ou meio finito e grosseiro, a consciência da alma faz realmente a Alma infinita, eterna, indivisível e sem forma ter a experiência que ela é aquela forma finita e grosseira.
Assim, a consciência adquirida pela alma inconsciente, ao invés de experimentar a realidade através da unidade e identidade com a Sobre-Alma, experimenta a ilusão através da dualidade e identidade com a forma grosseira, multiplicando diversificadas e inumeráveis impressões em uma série de experiências enquanto vai se associando com a forma grosseira e gradualmente ganhando ou evoluindo mais e mais a consciência.

Seguidamente, eras após eras e ciclos após ciclos, essa cadeia de sucessivas associações e dissociações com variadas espécies de uma forma em particular segue adiante constante e progressivamente e produz inúmeras impressões diferentes a serem experimentadas pela alma consciente. Direta e indiretamente, estas associações e dissociações da consciência da alma são absolutamente essenciais para manter girando a roda da evolução da consciência. A evolução das formas grosseiras é apenas um subproduto da fábrica universal de evolução da consciência.

Para atingir o desenvolvimento completo da consciência na forma humana, o processo evolutivo teve de dar sete grandes saltos, são eles: de pedra para metal, de metal para vegetal, de vegetal para verme, de verme para peixe, de peixe para pássaro, de pássaro para animal e, finalmente, de animal para o ser humano, cada transição com características diferentes.

Por a Consciência da alma estar totalmente desenvolvida na forma humana, a evolução da forma também está completa, e agora, quando a alma consciente identifica a si mesma com a primeira forma humana de todas, nenhuma nova forma superior é desenvolvida. Em resumo, na forma humana a consciência da alma é plena e completa. O processo de evolução da consciência é levado a uma paralisação. A forma humana é a mais elevada e mais sublime forma desenvolvida durante a evolução da consciência. Assim, no ser humano a consciência está totalmente desenvolvida e a forma moldada e projetada após eras e ciclos é a mais perfeita forma ou meio. A consciência da alma, portanto, utiliza esse meio perfeito para experimentar e esgotar completamente todas as impressões para que a alma plenamente consciente torne-se desprovida de qualquer impressão que seja, sendo assim capaz de perceber seu próprio estado real, eterno e infinito na Sobre-Alma.