sábado, 27 de fevereiro de 2010

Jalaluddin Rumi - Desmame-se / Tatuagem em Qazwin / O grão de bico


Pouco a pouco, desmame-se.

Isso é a essência do que tenho a dizer.



De um embrião cujo alimento vem pelo sangue,

mude para um nenê bebendo leite,

para uma criança comendo comida sólida,

para um buscador de sabedoria,

para um caçador de um jogo mais invisível.


Pense como é ter uma conversa com um embrião.

Você poderia dizer: “O mundo lá fora é vasto e complexo.

Existem campos de trigo, cadeias de montanhas

e pomares floridos.



À noite há milhões de galáxias e na luz do dia

a beleza de amigos dançando num casamento.”


Você pergunta ao embrião por que ele continua confinado

no escuro com os olhos fechados.


Escute a resposta:


“Não existe nenhum 'outro mundo'.

Sei apenas do que eu experimentei.

Você deve estar alucinando."

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Em Qazwin, eles têm o costume de se tatuar

com tinta azul para ter boa sorte, nas costas

das mãos, nos ombros ou em qualquer parte.


Um certo homem vai ao seu barbeiro

e pede que lhe seja feito um poderoso e heróico leão azul

em sua escápula. “E faça-o com gosto!

Eu tenho ascendente em leão. Quero muito azul!”


Mas assim que a agulha começa a perfurar,

ele grita:

“O que você está fazendo?”


“O leão.”


“Com que membro você começou?”


“Comecei com a cauda.”


“Bem, deixe a cauda de fora. O rabo desse leão

está num lugar ruim para mim. Ele me dá gases.”


O barbeiro continua, e imediatamente

o homem berra.


“Ooooooooooo! Que parte agora?”


“A orelha.”


“Doutor, vamos fazer um leão sem orelhas desta vez.”


O barbeiro balança sua cabeça e mais uma vez a agulha,

e mais uma vez uma queixa:

“Que parte você está agora?”


“A barriga.”


“Prefiro um leão sem barriga.”


O mestre que está fazendo o leão

fica um longo tempo com os dedos nos dentes .

Finalmente, ele joga fora a agulha.


“Ninguém jamais foi solicitado a fazer uma coisa dessas! Criar um leão

sem um rabo, uma cabeça ou um estomago.

Nem mesmo Deus poderia fazer isso!”



Irmão, aguente a dor.

Fuja do veneno dos seus impulsos.

Os céus se curvarão ante sua beleza, se você fizer isso.

Aprenda a acender a vela. Nasça com o sol.

Afaste-se da caverna do seu sono.

Dessa forma um espinho expande-se numa rosa.

Uma partícula resplandece no universal.


O que é para ser glorificado?

Tornem-se partículas.


O que é saber algo sobre Deus?

Queime dentro daquela presença. Queime.


O cobre se derrete no elixir curativo.

Assim, derreta o seu ser na mistura

que sustenta a existência.


Você aperta suas duas mãos juntas,

Determinado a não desistir de dizer “eu” e “nós”.

Esse aperto o bloqueia.

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O grão de bico pula quase para fora da panela
na qual ele está sendo fervido.

'Por que você está fazendo isso comigo?'

O cozinheiro o derruba com a concha.

'Não tente pular para fora.
Você pensa que eu estou lhe torturando.
Estou lhe dando sabor,
de modo que você possa misturar-se com os temperos e com o arroz
e ser a graciosa vitalidade de um ser humano.

Lembre-se de quando você bebeu chuva no jardim.
Era para isso.'

Primeiro a graça. Prazer sexual,
então uma nova vida fervendo se inicia,
e o Amigo tem algo bom para comer.

Eventualmente o grão de bico
dirá para o cozinheiro:

'Ferva-me um pouco mais.
Bata-me com a colher.
Não posso fazer isso sozinho.


Sou como um elefante que sonha com os jardins
no Hindustão e não presta atenção
ao seu cocheiro. Você é meu cozinheiro, meu cocheiro;
você é minha passagem para a existência. Eu amo o seu cozimento.'

O cozinheiro diz:

'Eu já fui como você,
fresco da terra. Então eu fervi no tempo,
e fervi no corpo, duas fervidas ardentes.


Minha alma animal cresceu poderosa.
Eu controlei-a com práticas,
e fervi um pouco mais, e fervi
ainda mais uma vez,
e me tornei seu professor.'