terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Meher Baba - Sparks of the Truth


Deus é a eterna fonte da vida e do poder. As diferentes almas no mundo compartilham dessa vida e poder em vários níveis de acordo com sua proximidade espiritual a Deus. Quanto mais próximos estamos de Deus ou da verdade, menos separados nos sentimos e maior é nossa vida e nosso poder. Aqueles que se tornam um com Deus são o infinito reservatório de todo o poder, vida, sabedoria e felicidade. Mas os outros compartilham igualmente tudo isso em um grau limitado, de acordo com sua estação no universo. Se o mestre que realizou Deus for comparado a uma central de energia elétrica principal onde a eletricidade é gerada, as outras almas podem ser comparadas a centrais secundárias ou a baterias de armazenamento que recebem e conservam um grau limitado de eletricidade e também podem usá-la dentro dos limites de suas respectivas capacidades .

Meher Baba - O começo e o fim da criação

Enquanto a mente humana não experimenta diretamente a realidade final assim como ela é, a mente é frustrada em toda tentativa de explicar a origem do propósito da criação. O passado remoto parece ser carregado de insondável mistério e o futuro parece ser um livro completamente lacrado. A mente humana pode no máximo fazer conjecturas brilhantes sobre o passado e o futuro do universo, pois ela está limitada pelo feitiço de Maya. Ela não pode nem chegar ao conhecimento final desses pontos e nem permanecer satisfeita com a ignorância sobre eles.
“De onde?” e “Para onde?” são os dois questionamentos perpétuos e pungentes que tornam a mente humana divinamente inquieta. A mente humana não pode reconciliar-se ao infinito regresso na sua busca pela origem do mundo, nem pode reconciliar-se às infindáveis mudanças sem objetivo. A evolução é ininteligível se não tem uma causa inicial e é desprovida de qualquer significado se ela como um todo não levar a algum fim.
As próprias questões “De onde?” e “Para onde?” pressupõem o começo e o fim desta criação evolutiva. O começo da evolução é o começo do tempo e o fim da evolução é o fim do tempo. A evolução tem tanto começo quanto fim, porque o tempo também os têm. Entre o começo e o fim deste mundo mutável existem muitos ciclos, mas há, dentro e através desses ciclos, uma continuidade da evolução cósmica. O término real do processo evolucionário é chamado Mahapralaya, ou a grande aniquilação do mundo, quando o mundo torna-se o que ele era no início, digamos, Nada. O Mahapralaya do mundo pode ser comparado ao sono de uma pessoa. Assim como o variado mundo das experiências desaparece completamente para o indivíduo que está em sono profundo, o cosmos objetivo inteiro, que é a criação de Maya, se esvai dentro do nada na hora do Mahapralaya. É como se o universo realmente nunca tivesse existido.
Mesmo durante seu período evolucionário o universo é em si mesmo nada além de imaginação. De fato, há apenas uma realidade indivisível e eterna, e ela não tem começo e nem fim. Está além do tempo. Do ponto de vista dessa realidade atemporal, todo o processo do tempo é puramente imaginário. E os bilhões de anos que passaram e os bilhões que vão passar não tem o valor de nem mesmo um segundo. É como se eles nunca tivessem existido.
Portanto, o múltiplo universo evolutivo não pode ser entendido como sendo um resultado real desta Realidade única. Se ele fosse um resultado dessa realidade única, a Realidade seria ou um termo relativo ou um ser composto, o que ela não é. A realidade única é absoluta.
A Realidade única inclui em si mesma toda a existência. Ela é tudo, mas não tem nada como sua sombra. A idéia da existência que tudo inclui implica que ela não deixa nada fora do seu ser. Quando você analisa a idéia do Ser (da existência), você chega por implicação à idéia do que não existe. Essa idéia da não existência, ou do Nada ajuda você a definir claramente a idéia do Ser. O aspecto complementar do Ser é, portanto o não-ser ou o Nada. Mas o Nada não pode ser olhado como tendo sua própria existência separada e independente. Em si mesmo ele não é nada. Nem pode, em si mesmo, ser a causa de algo. O universo múltiplo e evolutivo não pode ser o resultado do nada tomado por si mesmo, e temos visto que ele também não pode ser o resultado da Realidade Una.
Como, então, o universo múltiplo e evolutivo surge?
O múltiplo e evolutivo universo surge da mistura da Realidade Una e do Nada. Ele brota do Nada, quando esse Nada é colocado contra o plano de fundo da Realidade Una. Mas isso não deve ser considerado como significando que o universo é parcialmente o resultado da Realidade Una, ou que ele tem um elemento de Realidade.
É um resultado do Nada e é nada. Ele só parece ter existência. Sua existência aparente é devido à Realidade Una, que está, nesse caso, atrás do Nada. Quando o Nada é adicionado à Realidade Una, o resultado é o múltiplo e evolutivo universo. A Realidade Una que é infinita é absoluta, não sofre nenhuma modificação, portanto. É absoluta e como tal não é afetada de forma alguma por nenhuma adição ou subtração. A Realidade Una permanece o que ela era, completa e absoluta em si mesma, não preocupada e não conectada com o panorama da criação que brota do Nada. Esse Nada pode ser comparado com o valor do zero na matemática. Em si mesmo não tem valor positivo, mas quando é adicionado aos outros números dá origem a outros valores. Da mesma maneira o múltiplo e evolutivo universo brota do Nada quando ele é combinado com a Realidade Una.
Todo o processo evolucionário está dentro do domínio da imaginação. Quando em imaginação o oceano uno da realidade fica aparentemente perturbado, surge o múltiplo mundo dos centros separados de consciência. Isso implica na divisão básica da vida - no ser e no não-ser, ou no “eu” e seu ambiente. Devido ao falso caráter incompleto desse ser limitado (que é apenas uma parte imaginada de uma totalidade realmente indivisível), a consciência não pode permanecer contente com a identificação eterna com ele. Portanto, a consciência fica presa na armadilha numa inquietude incessante, forçando-se a tentar a identificação com o não-ser. Essa porção de não-ser, ou o meio, com o qual a consciência identifica-se, torna-se afiliada ao ser na forma de “meu”. E essa porção do não-ser com a qual ela não identifica-se, torna-se o meio irredutível que inevitavelmente cria um limite e uma oposição ao ser. Portanto, a consciência não chega ao término da sua dualidade limitante, mas em sua transformação. Enquanto a consciência está sujeita ao trabalho da contaminada imaginação, ela não pode ter sucesso em dar um fim a essa dualidade. Todas as tentativas variadas que ela faz para a assimilação do não-ser (ou dos arredores, ou do meio) resultam meramente na substituição da dualidade inicial por outras inumeráveis formas novas da mesma dualidade. A aceitação e a rejeição de certas porções do meio expressam a si mesmas respectivamente como “querer” e “não querer”, dando assim origem aos opostos do prazer e da dor, do bem e do mal e assim por diante. Mas nem aceitação nem rejeição podem levar à libertação da dualidade, e a consciência encontra-se, portanto, engajada numa oscilação incessante de um oposto ao outro. O processo inteiro da evolução do individuo é caracterizado por essa oscilação entre os opostos.
A evolução do indivíduo limitado está completamente determinada pelos sanskaras acumulados por ele através das eras e embora seja tudo parte da imaginação, o determinismo é completo e automático.
Toda ação e experiência, não importa o quão efêmera, deixa para trás uma impressão no corpo mental. Essa impressão é uma modificação objetiva do corpo mental; e como o corpo mental permanece o mesmo, as impressões acumuladas pelo indivíduo são capazes de persistir por várias vidas.
Quando os sanskaras acumulados começam então a se expressar (em vez de meramente permanecerem latentes no corpo mental), eles são experimentados como desejos, isto é, eles são tomados como sendo subjetivos.
O objetivo e o subjetivo são os dois aspectos dos sanskaras: o primeiro é o estado passivo de latência, e o segundo é um estado ativo de manifestação.
Através da fase ativa, os sanskaras acumulados determinam cada experiência e ação do ser limitado. Assim como vários metros de filme têm de passar no projetor do cinema para mostrar uma ação breve na tela, muitos sanskaras estão frequentemente envolvidos em determinar uma única ação do ser limitado. Através de tais expressões e satsfação em experiências, os sanskaras são gastos. Os sanskaras fracos são gastos mentalmente e os mais fortes são gastos sutilmente na forma de desejos e experiência imaginativa; aqueles sanskaras que são poderosos são gastos fisicamente ao expressarem-se através de ações corporais. Embora esse consumo dos sanskaras prossiga continuamente, ele não resulta na libertação dos sanskaras, porque novos sanskaras estão inevitavelmente sendo criados - não apenas através das ações das pessoas, mas até mesmo pelo próprio processo de consumo. Então, a carga de sanskaras segue aumentando, e o indivíduo encontra-se indefeso diante do problema de se livrar do fardo. Os sanskaras depositados por experiências e ações específicas, tornam a mente suscetível a experiências e ações similares. Porém, depois de alcançado um certo ponto, essa tendência é contraposta e impedida por uma reação natural que consiste numa completa comutação para seu oposto direto, abrindo espaço para a operação dos sanskaras opostos.
Muito frequentemente, os dois opostos formam partes da mesma e única corrente de imaginação. Por exemplo, uma pessoa pode primeiro experimentar que é um escritor famoso – com riqueza, fama, família e todas a coisas agradáveis da vida – e depois na mesma vida, pode experimentar que perdeu sua fortuna, fama, família e todas as coisas agradáveis da vida. As vezes parece que uma corrente de imaginação não contém os dois opostos na mesma vida. Por exemplo, um homem pode experimentar durante sua vida que é um poderoso rei sempre vitorioso nas batalhas. Nesse caso ele tem que balancear essa experiência experimentando derrotas ou algo parecido na próxima vida, vivendo mais uma vida para completar sua corrente de imaginação. A compulsão puramente psicológica dos sanskaras está assim sujeita à necessidade mais profunda da alma em conhecer a si mesma.
Suponha que uma pessoa matou alguém nesta vida. Isso deposita no seu corpo mental os sanskaras de assassinato. Se a consciência viesse a ser determinada simplesmente e apenas por essa tendência inicial criada por esses sanskaras, ele seguiria matando os outros indefinidamente ad infinitum, cada vez reunindo momentuns seguintes dos atos subseqüentes do mesmo tipo. Não haveria escape desse determinismo recorrente, se não fosse pelo fato de que a lógica da experiência provê um impedimento necessário para isso. A pessoa logo percebe o caráter incompleto da experiência de um oposto, e, inconscientemente, busca restaurar o equilíbrio perdido indo para o outro oposto.
Assim, o individuo que teve a experiência de matar desenvolve uma necessidade psicológica e uma susceptibilidade por ser morto. Ao matar outra pessoa ele apreciou apenas uma porção da situação total na qual ele é um partido, ou seja, a parte do matador. A parte complementar da situação total (isto é, o papel de ser morto) permanece para ele não entendida e estranha, embora, tenha se introduzido na sua experiência. Surge assim, a necessidade de completar a experiência atraindo para si mesmo o oposto daquilo que ele experimentou pessoalmente e a consciência tem uma tendência de atender essa nova necessidade urgente. Uma pessoa que matou logo desenvolverá uma tendência a ser morto para cobrir a situação inteira através de experiência pessoal.
A pergunta que surge aqui é: quem aparecerá para matá-lo na próxima vida? Pode ser a mesma pessoa que foi morta na vida anterior, ou pode ser alguma outra pessoa com sanskaras similares. Em conseqüência da ação e da interação entre os indivíduos, entram em ação as ligações ou os laços “sanskaricos” e quando o indivíduo adota um novo corpo físico, pode ser entre aqueles que têm laços sanskaricos anteriores ou entre aqueles que têm sanskaras similares.
Mas o ajuste da vida é tal, que torna possível o jogo livre da dualidade evolutiva. Como o fio do tear do tecelão, a mente humana move-se dentro de dois extremos, desenvolvendo a trama e o tecido do pano da vida. O desenvolvimento da vida espiritual é melhor representado não como uma linha reta, mas como um curso em zigue-zague. Considere a função das duas margens de um rio. Se não houvesse nenhuma margem, as águas do rio iriam se dispersar, tornando impossível que o rio alcançasse seu destino. Da mesma maneira, a força-vida dissipar-se-ia de inumeráveis e infinitas maneiras, se não estivesse confinada entre os dois pólos dos opostos. Essas margens do rio da vida são melhor observadas não como duas linhas paralelas, mas como duas linhas convergentes que se encontram no ponto da Liberação. A quantidade de oscilação torna-se cada vez menor conforme o indivíduo aproxima-se do objetivo e cede completamente quando realiza o objetivo. É como o movimento de uma boneca que tem seu centro de gravidade na base, fazendo com que ela tenha a tendência de ficar parada quando sentada. Se for agitada, ela continua a balançar de um lado para o outro por algum tempo, mas a cada movimento ela cobre uma extensão mais curta, e por fim, a boneca estaciona. No caso da evolução cósmica, tal parada da alternação entre os opostos significa Mahapralaya, e na evolução espiritual do indivíduo, significa a Libertação.
O degrau da dualidade para a não dualidade não é meramente um caso de diferença no estado de consciência. Quando os dois são qualitativamente diferentes, a diferença entre eles é infinita. O primeiro é um estado de não-Deus e o segundo é um estado de Deus. Essa infinita diferença constitui o abismo entre o sexto plano de consciência e o sétimo. Os seis planos inferiores de involução da consciência* estão separados uns dos outros por um tipo de vale. Mas embora a diferença entre eles seja grande, não é infinita pois todos estão igualmente sujeitos à bipolaridade da experiência limitada, consistindo na alternância entre os opostos. A diferença entre o primeiro plano e o segundo, o segundo e o terceiro e assim por diante até o sexto plano, é grande mas não infinita. Segue-se que, estreitamente falando, nenhum dos seis planos da dualidade pode ser entendido como estando realmente mais perto do sétimo plano do que qualquer outro. A diferença entre qualquer um dos seis planos e o sétimo plano é infinita, assim como a diferença entre o sexto e o sétimo plano é infinita. O progresso através dos seis planos é o progresso na imaginação, mas a realização do sétimo plano é a cessação da imaginação e, portanto, o despertar do indivíduo na Consciência-Verdade. O progresso ilusório através dos seis planos não pode, entretanto, ser totalmente evitado. A imaginação tem que ser completamente exaurida antes que uma pessoa possa realizar a Verdade. Quando um discípulo tem um mestre perfeito, ele tem que atravessar todos os seis planos. O mestre pode levar o discípulo através dos planos interiores tanto com os olhos abertos ou sob um véu. Se o discípulo é levado sob a ação de uma venda e não está consciente dos planos que está passando, os desejos persistem até o sétimo plano; mas se é levado com os olhos abertos e está consciente dos planos que está passando, nenhum desejo resta a partir do quinto plano.
Se o mestre vem para trabalhar, ele frequentemente escolhe levar seus discípulos vendados, pois eles tenderão a ser mais ativamente úteis para o trabalho do mestre quando levados vendados do que com os olhos abertos.
O cruzamento através dos planos é caracterizado pelo desembaraçar dos sanskaras. Esse processo deve ser cuidadosamente distinguido daquele do despendimento. No processo de despendimento, os sanskaras tornam-se dinâmicos e liberam-se em ação ou experiência. Isso não leva à emancipação final dos sanskaras, sendo que as incessantes novas acumulações de sanskaras mais do que substituem os que foram despendidos, e o próprio despendimento é responssável pelos sanskaras seguintes. No processo de desembaraçamento, entretanto, os sanskaras são enfraquecidos e aniquilados pela chama do anseio pelo infinito.
O anseio pelo Infinito pode ser a causa de muito sofrimento espiritual. Não há comparação entre a agudez do sofrimento ordinário e a agudez do sofrimento espiritual que uma pessoa tem que passar enquanto cruza os planos. O primeiro é o efeito dos Sanskaras, e o segundo é o efeito do desembaraçamento. Quando o sofrimento físico chega ao seu clímax, a pessoa fica inconsciente e então tem alívio dele, mas não há tal alívio mecânico para o sofrimento espiritual. Sofrimento espiritual, entretanto, não se torna entediante, pois também é misturado com um tipo de prazer. O anseio pelo infinito fica acentuado e agudo até que chega em seu clímax, então gradualmente começa a esfriar. Enquanto esfria, a consciência não desiste de maneira nenhuma do anseio pelo infinito, mas continua buscando seu objetivo de realizar o Infinito. Esse estado de anseio esfriado, porém latente, é preliminar à realização do Infinito. O anseio nesse estágio é o instrumento para aniquilar todos os outros desejos e está pronto para ser minado pela insondável quietude do contentamento infinito. Antes do anseio pelo Infinito ser suprido pela realização do Infinito, a consciência tem que passar do sexto para o sétimo plano. Tem que passar da dualidade para a não-dualidade. Ao invés de vagar em imaginação, ela tem de chegar ao fim da imaginação.
O Mestre entende a realidade una como sendo a única Realidade e o Nada como sendo meramente sua sombra. Para ele, o tempo é engolido na eternidade. Como ele percebeu o aspecto atemporal da Realidade, ele está além do tempo e carrega no seu ser tanto o início como o fim do tempo. Ele permanece não mobilizado pelo processo temporal que consiste na ação e na interação dos muitos. A pessoa ordinária não conhece nem o começo nem o fim da criação. Assim, ela é derrotada pela marcha dos eventos, os quais parecem grandes por causa da falta de perspectiva apropriada enquanto ele está capturado pelo tempo. Ela olha para todas as coisas em termos da possível satisfação ou insatisfação dos seus sanskaras. Ela fica, portanto, profundamente perturbada pelos acontecimentos deste mundo. Todo universo objetivo aparece para ela como sendo uma limitação que não é bem-vinda e que tem que ser superada ou tolerada.
O Mestre, por outro lado, está livre da dualidade e dos sanskaras característicos da dualidade. Ele está livre de toda limitação. A tempestade e stress do universo não afetam o seu Ser. Todo o alvoroço do mundo, com seus processos construtivos e destrutivos, não pode ter importância especial para ele. Ele adentrou no santuário da verdade, que é a morada daquele significado eterno que é refletido apenas fraca e parcialmente nos valores transitórios da criação sempre em mudança. Ele compreende dentro de seu Ser toda existência, e olha para toda a peça da manifestação como meramente um jogo.