sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Hazrat Inayat Khan (1882–1927) - O Mistério da Cor e do Som

Tanto do ponto de vista Sufi quanto do de todos os místicos, o estado original de toda a criação é a vibração e a vibração manifesta-se em duas formas ou estágios. Na sua condição original a vibração é inaudível e invisível, mas, em seu primeiro estágio para a manifestação torna-se audível e no seu próximo estágio, visível. Na sua fase audível, em termos Vedânticos, é chamada Nada- uma palavra que significa som - ou Nada Brahma que representa: Som o Criador, Som o Espírito Criativo. A próxima etapa é chamada Jatanada - uma palavra que significa luz. São os diferentes graus dessa luz e a comparação entre eles, o que dá origem às diferentes cores. As cores são apenas as diferentes tonalidades da luz; comparadas umas com as outras são cores, mas na realidade, a luz faz todas as cores. Isso é demonstrado pela luz do sol que não tem nenhuma cor especial que lhe é própria, mas a luz que as plantas partilham manifesta-se nas cores das suas flores. Essas cores parecem ser as cores das flores, dos vegetais e folhas, quando na realidade são as cores do sol.

No caso das almas também podemos perceber que a manifestação de tal variedade entre elas é uma ilusão também. Esquecemos que todas as várias faces e as infinitas formas dos seres humanos pertencem a um Espírito e que são as manifestações daquele Espírito único. Quando começamos a compreender a teoria da cor e do som, podemos começar a entender isso também. Por exemplo, o que é o som? As diferentes notas são os diferentes graus de respiração: a respiração humana ou o eco proveniente de um vaso, de um instrumento, ou de um sino - pois isso também é respiração - a respiração dos seres humanos, bem como a respiração dos objetos. De uma respiração muitos sons manifestam-se, portanto, isso nos leva de volta à idéia de unidade. Toda essa variedade de cores, formas e sons provêm de uma única fonte.

Associado a isso, há a questão do misticismo do número. Essa é a idéia de ritmo. Cada movimento deve ter o seu ritmo. Não pode haver movimento sem ritmo. Por ritmo imaginamos os intervalos de tempo, como horas ou minutos ou como colcheia, semicolcheia e semibreve na música. Todos eles surgem do nosso hábito de dividir o tempo em ritmo. Fazemos isso porque a nossa própria vida depende de ritmo. O batimento do pulso, do coração, na cabeça - todos mostram o ritmo da vida. A ciência dos números vem da ciência do ritmo. Um certo número surge para denotar um certo período de tempo, cada ação ou movimento requer um certo tempo e tem um efeito correspondente. Todo efeito que é produzido por cor, som ou número depende de seu efeito harmonioso ou desarmonioso. Se o som não é harmonioso, não tem um efeito desejável sobre nós, se uma cor não é harmoniosa também tem um efeito indesejável. Isso mostra que não é o número ou o som particular que dá o efeito desejável, mas a harmonia. É por isso que o conhecimento do efeito do som, da cor ou do número é insuficiente sem um desenvolvimento de um sentido de harmonia em nós mesmos, para que possamos entender o efeito harmonioso dessas coisas.

Os místicos têm visto cinco tatwas, ou elementos, trabalhando por trás tanto do som quanto do ritmo, embora os músicos considerem sete notas em uma escala. A escala original conhecida pelos místicos tinha cinco números, e havia cinco tipos de escalas entre as pessoas antigas, com cinco diferentes classes de ritmos. Tomava-se cinco cores para representar os cinco elementos. As pessoas frequentemente dizem: "Esta cor dá sorte", e que "aquela dá azar". "Este número dá sorte e aquele dá azar". Mas são a cor ou o número especiais em si, é a harmonia da situação que dá sorte ou azar: em que relação aquele determinado número e cor estão a você, aos negócios da sua vida, à sua própria constituição e ao seu estágio de evolução. Se eles estão em harmonia com a sua vida, então são harmoniosos e dão sorte. Se não, eles são desarmônicos e dão azar. Isto não significa que uma determinada cor é desarmoniosa; o que decide se ela é ou não harmoniosa está relacionado apenas com o 'como' ela surge na sua vida.

Da mesma forma com os sons. Mas o poder do som é maior que o poder das cores. Por que é que isso acontece? É porque o som surge das profundezas de nosso ser e porque o som pode também tocar as profundezas do nosso ser. O mantra-yoga dos hindus é baseado nesse princípio. O termo Sufi para isso é Dhikr (Zikar): que é o uso das palavras para o desvendamento da alma. Mas não é meramente para trazer algum resultado desejado que as palavras podem ser utilizadas no dhikr. As pessoas muitas vezes cometem o erro de usar a palavra sem qualquer idéia espiritual por trás dela, simplesmente para atingir algum poder mágico. Os Sufis de todos os tempos têm alertado contra esse erro, e têm constantemente ensinado que existe apenas um objeto pelo qual vale a pena se esforçar, o objeto essencial da vida, ou seja, Deus. É apenas quando a ciência das palavras está sendo usada para a realização da verdade, isto é, para a realização de Deus, que está sendo utilizada no modo correto. Usá-la para qualquer outra finalidade que seja, é como pagar por pérolas e levar pedras sem valor.

Embora não haja mal algum em aprender tudo que pudermos, não é bom dar vasão à superstição. Caso contrário, seria melhor realmente nunca ter conhecido essas coisas. O objetivo de todo o Sufi é chegar à verdade, e qualquer coisa que diga respeito a superstição deve ser evitada. O que é a cor afinal? É uma ilusão. O que é o número? É uma ilusão. O que são as formas? Elas também são ilusões. É interessante até certo ponto saber sobre essas coisas e distingui-las. Isso dá um certo conhecimento. Mas uma vez que são todas ilusões, como pode ser útil dar-se totalmente a elas negligenciando o desvendamento do Ser (Self), além de, ao mesmo tempo, negligenciar a busca pela verdade - que é o único objetivo da alma? Por conseguinte, a todos os outros conhecimentos e todas as outras coisas almejadas devem ser dados um lugar secundário. Nossa principal busca deve ser pela Verdade, acreditando assim como nós acreditamos, que na verdade está Deus.