sábado, 11 de dezembro de 2010

Philokalia - Os Monges Callistus e Ignatius - Direções aos Praticantes da Quietude


São Isaac fala assim sobre o deslize: “Não lamentemos quando cometemos um deslize, mas sim quando nos tornamos presos nele. Pois mesmo alguém perfeito desliza com frequência, mas ficar preso no mesmo deslize significa morte absoluta. O pesar que experimentamos em nossos deslizes é contado, pela graça, como uma ação pura. Mas aquele que desliza uma segunda vez, apoiando-se no arrependimento está sendo desonesto com Deus. A morte o golpeia sem aviso, não deixando-lhe tempo para cumprir os trabalhos de virtude que ele esperava fazer.” Novamente: “Deveríamos perceber constantemente que em cada uma destas vinte e quatro horas do dia e da noite necessitamos de arrependimento. O significado da palavra arrependimento, conforme aprendemos a partir da verdadeira qualidade das coisas, é o seguinte: é uma petição incansável para Deus endereçada a Ele numa oração cheia de contrição, implorando-Lhe que não leve em conta o passado, também concerne com proteger o futuro.” E outra vez: “Como uma graça somada à graça do batismo o arrependimento foi dado aos homens; pois o arrependimento é um segundo nascimento vindo de Deus. Esse presente, cuja garantia recebemos pela fé, obtemos pelo arrependimento. O arrependimento é a porta para a misericórdia, aberta para aqueles que a buscam diligentemente, por essa porta nós entramos na misericórdia Divina e por nenhuma outra entrada podemos encontrá-la. “Visto que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus; e são justificados gratuitamente por sua graça” (Rom.3,23-24) dizem as Divinas Escrituras. O arrependimento é a segunda graça e é nascido no coração da fé e do temor. O temor é o bastão do Pai, que nos governa até que tenhamos atingido o paraíso espiritual. Quando atingimos isso, o temor nos abandonará e irá embora. O paraíso é o amor de Deus, que carrega a satisfação de toda graça”. Novamente: “Assim como é impossível cruzar um vasto oceano sem um navio ou um barco, também ninguém pode alcançar o amor sem o temor. O fétido oceano que jaz entre nós e o paraíso interno pode ser cruzado apenas pelo barco do arrependimento no qual o temor é os remos. Se o temor não dirige o barco do arrependimento através do oceano deste mundo para nos aproximar de Deus, afundamos nesse mar fétido”


Continuando as palavras de São Isaac: “O arrependimento é o barco e o temor o timoneiro, o amor é o porto Divino. O temor coloca-nos a bordo do barco do arrependimento, carrega-nos através do fétido oceano da vida e nos traz ao porto Divino, que é o amor. Todos aqueles que estão sobrecarregados com o arrependimento chegam à esse porto. Quando atingimos o amor, alcançamos Deus e nossa jornada está terminada, pois chagamos à ilha do outro mundo onde reside o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”


Sobre o afligir-se em busca de Deus, o Salvador diz: “Felizes os aflitos, porque serão confortados” (Mat.v,4). Sobre as lágrimas, São Isaac escreveu: “Lágrimas durante a oração são um sinal da misericórdia de Deus, garantida a alma em seu arrependimento. É um sinal de que a oração foi aceitada e através das lágrimas começou a adentrar o campo da pureza. Se os homens não estão livres dos pensamentos temporais, se não renunciam a esperança mundana e não desprezam o mundo, se não começaram se preparar para uma partida honrada deste mundo e não nutrem na alma pensamentos do que espera por eles além; então os olhos não poderão derramar lágrimas, pois as lágrimas vem de um pensamento de Deus puro e concentrado, de muitos pensamentos firmemente permanentes, da memória de algo sutil que acorre na mente, uma memória que traz pesar ao coração, de onde as lágrimas fluem mais livre e abundantemente.


E São João da Escada: “Assim como o fogo queima a madeira, as lágrimas puras queimam toda a imundice visível e mental.' E: “Tentemos conseguir lágrimas puras, livres de ilusões, pois com tais lágrimas não há espoliação e nem auto-exaltação, mas apenas purificação, progresso no amor de Deus, limpeza do pecado e desapego.” E: “Não confie em suas fontes de lágrimas antes de estar totalmente purificado das paixões, pois o vinho que acabou de sair da espremedeira não é confiável.


Sobre a auto-censura Antonio o Grande disse: “Um grande trabalho para um homem é arrepender-se de seus pecados diante de Deus e esperar a tentação até a sua última respiração.” E outro padre sagrado em resposta à questão: “Que coisa especial você encontrou em seu caminho?” Disse: “que devemos censurar a nós mesmos em todas as coisas,” ao que o questionador louvou dizendo: “não há outro caminho senão esse.” E Abba Pimen disse com lamento: “Todas as virtudes entram neste mundo. Mas pegue uma virtude – sem a qual um homem mal pode manter seu chão.” Perguntaram-lhe qual era e ele disse: “que um homem deveria sempre censurar a si mesmo.” Ele também disse: “Aquele que cesura a si mesmo nunca será perturbado, não importa o que aconteça com ele: seja perda, desonra ou pesar, pois ele considera-se antecipadamente como merecedor daquilo.”

São Paulo também escreve da atenção e da firmeza circunspecta: “Vede, pois, que andais cuidadosamente: não como tolos mas como sábios. Redimindo o tempo, porque os dias são maus.” (Efé.v15-16). E são Isaac diz: “Ó sabedoria quão maravilhosa você é. Quão perspicaz e providente! Abençoado é aquele que lhe adquiriu, pois ele está livre dos descuidos da juventude, aquele que compra a cura para grandes paixões a preço baixo faz bem. O amor pela sabedoria significa estar sempre vivamente atento na pequenas e até mesmo nas menores ações. Tal homem ganha o tesouro da grande paz, tal homem é desprovido de sono de modo que nada de adverso aconteça com ele, e corta suas causas de antemão; ele sofre um pouco em pequenas coisas, dessa forma evitando grande sofrimento.” E em seguida: "o Sábio portanto diz: 'Seja sóbrio e vigie sua vida, pois o sono da mente é aquém da morte real e é sua imagem.'” E o abençoado Basil diz: “Aquele que é desatento em pequenas coisas não pode ser confiado como sendo zeloso em grandes coisas”.

Portanto, tome zeloso cuidado em tudo isso e especialmente lute para permanecer quieto e manso e clame por nosso Senhor Jesus Cristo nas profundezas de seus coração com uma consciência pura, como dissemos. Pois, se você avançar dessa maneira, a graça Divina irá repousar em sua alma. São João da Escada diz: “Não deixe que nenhum homem viciado em irritação e presunção, hipocrisia e rancor jamais ouse tocar em mesmo uma franja de silêncio a fim de que não ele não enlouqueça. Mas um homem puro dessas paixões finalmente aprenderá ele mesmo o que é útil. Ainda assim penso que mesmo ele não aprenderá sozinho.” Não apenas a graça Divina repousará em sua alma, mas também a sua alma estará em repouso, libertada de tudo que a perturbava e oprimia antes – demônios paixões. Pois mesmos se eles continuarem a assolá-la, não haverá consequências, poia a alma não irá mais ir para o lado deles e não ansiará pelos prazeres que eles contém.


Em tal homem todo desejo, todo o amor extático sentido por seu coração e toda tendência são dirigidos para a beleza Divina transubstancial e mais abençoada, a qual os divinos padres chamam de mais elevado de todos os objetos de desejo.

Assim Basil o Grande diz: “Quando o amor justo (isto é, amor por Deus) engloba a alma, ela ri de todas as formas de batalha (ou seja, das tentativas de seduzir e afastá-la do caminho) e tortura é mais alegria do que dor pelo amor do Senhor que ela ama.” E: "O que é mais maravilhoso do que a beleza Divina? Que pensamento é mais rejubilante do que o pensamento do esplendor de Deus? Que desejo da alma é tão fervente, tão insaciável, quanto aquele que Deus implanta na alma purificada de todo o mal, que clama com toda sinceridade de suas profundezas: “Estou doente de amor” (Cant.II,5).

Ainda assim, mesmo tal homem pode estar sujeito à batalha, ao ser deixado por Deus para aprender, embora não ficando abandonado por esse afastamento de Deus. Para que? Para que sua mente não se encha de orgulho por causa das graças que ele adquiriu, mas que, sendo atacado e dessa forma ensinado que ele deve sempre manter a humildade, através da qual somente ele poderá não apenas sempre derrotar aqueles que o atacam em seu orgulho, mas também receber bênção ainda maiores, avançando o máximo que é possível para a natureza humana e assim ele poderá seguir adiante na direção da perfeição em Cristo e no estado de ausência de paixões (de desapego), a despeito de estar atado e preso pelas inevitáveis algemas e pelo peso da carne. São Diadochus fala assim “O próprio Senhor disse que Satã caiu do céu (Luc.X,18), para impedir esse monstro de ver as moradas dos anjos sagrados. Como pode então ele, que foi julgado indigno da comunhão com os bons servos de Deus, compartilhar com Deus a morada da mente humana? Mesmo se alguém disser que isso pode ocorrer pela vontade de Deus, tal argumento não pode ser considerado válido. Pois ser deixada por Deus para aprender não priva de maneira nenhuma a alma da luz Divina. Como já disse, a única coisa que acontece quando a alma está sujeita a essa influência maligna da mente é que a graça oculta sua presença da mente, de modo a incitar a alma a experimentar o fel dos demônios para buscar a ajuda de Deus com todo temor e grande humildade. Dese modo, quando um bebê se comporta mal e se recusa a submeter-se às regras apropriada de mamar, sua mãe coloca-o no chão por um pequeno tempo para que ele possa ficar assustado com as pessoas estranhas ou os animais à sua volta e com grande temor ele estica seus braços na direção dela e implora com lágrimas para ser trazido para cima outra vez. Mas a alma que não deseja ter Deus em si mesma, é abandonada pelo afastamento de Deus e é entregue, como se estivesse confinada, aos demônios. Mas cremos que não somos enjeitados mas verdadeiros filhos da graça Divina. Alimentados pelo leite de sua graça, raramente deixados e frequentemente consolados, vamos, sob a influência de tal generosidade, até o Homem Perfeito, até a medida da estatura da plenitude de Cristo (Efé.iv,13).” Em seguida ele continua: “Primeiramente, ser abandonada atinge a alma com grande pesar, um sentimento de depreciação e uma certa medida de desespero, a fim de matar nela toda vaidade e desejo, para impressionar e trazê-la a um estado apropriado de humildade. Então isso imediatamente traz para a alma um temor afeiçoado de Deus, uma confissão dos pecados cheia de lágrimas e um grande desejo pelo mais excelente silêncio. Mas quando Deus abandona uma alma, afastando-se dela, Ele a deixa sozinha e a alma é preenchida de desespero e descrença, arrogância e raiva. Conhecendo ambos os casos, ou seja, quando Deus deixa a alma para aprender e quando ele a abandona, devemos tentar nos aproximar de Deus de acordo com o caráter de cada um. Num caso, devemos trazer a Deus nossa gratidão e nossos votos, uma vez que Ele piedosamente puniu o desgoverno de nossa disposição, ao privá-la de conforto, para nos ensinar, em Sua solicitude Paterna, a discriminar de maneira sã entre o bem e o mal. O outro caso requer uma constante confissão dos pecados, lágrimas incessantes e muita solicitude, na esperança de que através desses labores possamos conseguir conquistar a misericórdia de Deus e fazê-Lo tomar conta de nossos corações, como antes. Ademais, é necessário perceber que quando Deus faz a alma passar pelo sofrimento de entrar num combate sozinha com Satã para sua edificação, embora a graça se oculte, ela ajuda a alma secretamente para mostrar a seus inimigos que a vitória sobre eles deve-se apenas à alma”. São Isaac diz: “É impossível para um homem tornar-se sábio na batalha espiritual, conhecer a Providência de Deus, sentir seu Deus e ser secretamente fortalecido em sua fé Nele, exceto na proporção da severidade da provação que ele suportou. Assim que a graça nota o menor traço de opinião própria aparecer nos pensamentos do homem, assim que ela vê que um homem começa a pensar grandemente de si mesmo, ela imediatamente permite que as tentações cresçam e ganhem força contra ele, até que ele perceba sua fraqueza e corra para agarrar-se a Deus em humildade. Assim um homem chega à medida da coragem através da fé perfeita e da confiança no filho de Deus e é elevado ao amor. Pois o maravilhoso amor de Deus pelo homem torna-se manifesto quando ele encontra-se em circunstâncias que destroem sua esperança. É aqui que Deus mostra Seu poder ao salvá-lo. Pois o homem jamais pode aprender o poder de Deus no sossego e na liberdade, e em parte alguma Deus manifestou tão palpavelmente Sua ação quanto na terra do silêncio e no deserto, em lugares desprovidos de multidões e rumores, os quais estão sempre presentes quando vivendo com pessoas.”