segunda-feira, 30 de março de 2009

Sri Adi Shankaracharya - Aparokshanubhuti (auto-realização direta) - parte 2

* O Supremo (Purusha) conhecido como o "eu" (ego) é apenas um, enquanto que os corpos grosseiros são muitos. Então como é que este corpo pode ser Purusha?

* O "eu" (ego) está bem estabelecido como o sujeito das percepções, enquanto que o corpo é o objeto. Isso é mostrado no fato que, quando falamos do corpo, dizemos: "Esse é meu corpo." Então, como é que este corpo pode ser Purusha?

* É um fato da experiência direta que o "eu" (Atman) é sem qualquer mudança, ao passo que o corpo está sempre sofrendo alterações. Então como é que este corpo pode ser Purusha?

* Os sábios têm determinado a (real) natureza de Purusha a partir do texto Shruti, "Não há nada superior a Ele (Purusha)," etc. Então como é que este corpo pode ser Purusha?

* Novamente, o Shruti declara no Purusha Sukta que "Tudo isto é verdadeiramente o Purusha". Então como é que este corpo pode ser Purusha?

* E também, é dito no Brihadaranyaka: "O Purusha é completamente desapegado." Como pode este corpo, onde estão inerentes inúmeras impurezas, ser o Purusha?

* Uma vez mais, é afirmado claramente que "o Purusha é auto-iluminado”. Então, como pode o corpo que é inanimado por natureza e é iluminado por um agente externo ser o Purusha?

* Além disso, o Karma-Kanda também declara que o Atman é diferente do corpo e é permanente, uma vez que perdura mesmo após a queda do corpo e colhe os frutos de ações (feitas nesta vida).

* Mesmo o corpo sutil é constituído por muitas partes e é instável. Ele também é um objeto de percepção, é mutável, limitado e é não-existente por natureza. Então, como é que ele pode ser o Purusha?

* O Atman imutável, o substrato do ego, é diferente, portanto, desses dois corpos e é o Purusha, o Ishwara (o Senhor de tudo), o Ser de todos, Ele está presente em toda forma e, ainda, transcende a todas elas.

* Assim, a enunciação da diferença entre o Atman e o corpo afirmou (indiretamente), de fato, pelo método do Tarkashastra, a realidade do mundo fenomenal. Mas, a que finalidade à vida humana isso serviu?

* Assim, a visão de que o corpo é o Atman foi denunciada pela enunciação da diferença entre o Atman e o corpo. Agora, é claramente afirmada a irrealidade da diferença entre os dois.

* Nenhuma divisão na Consciência é admissível, em qualquer momento, sendo que ela é sempre uma e a mesma. Mesmo a individualidade do Jiva deve ser tomada como falsa, assim como a ilusão de uma cobra numa corda.

* Da mesma maneira que através da ignorância da verdadeira natureza da corda, a própria corda aparece num instante como uma serpente, assim também, a pura Consciência aparece sob a forma do universo fenomenal, sem sofrer qualquer alteração.

* Não existe nenhuma outra causa material deste universo fenomenal, exceto Brahman. Assim, todo este universo, é apenas Brahman e nada mais.

* De uma declaração (do Shruti) como, "Tudo isto é Atman", segue-se que a idéia de que o permeado e o permeador é ilusória. Sendo realizada essa suprema verdade, onde há espaço para qualquer distinção entre causa e efeito?

* Certamente, o Shruti negou diretamente a multiplicidade de Brahman. A Causa não-dual sendo um fato estabelecido, como poderia o Universo Fenomenal ser diferente Dele?

* Além disso, o Shruti condenou a crença na variedade nas palavras: "A pessoa que," sendo enganada por Maya, "vê variedade neste Brahman vai da morte para a morte."

* Sendo que todos os seres são nascidos de Brahman, o Supremo Atman, eles devem ser entendidos como sendo o próprio Brahman.

* O Shruti claramente declarou que somente Brahman é o substrato de todas as variedades de nomes, formas e ações.

* Assim como uma coisa feita de ouro tem sempre a natureza do ouro, também um ser nascido de Brahman tem sempre a natureza de Brahman.

* O medo é um atributo daquele ignorante que persiste em fazer a menor distinção entre o Jivatman e o Paramatman.

* Quando a dualidade aparece através da ignorância, um vê o outro, mas quando tudo se torna identificado com o Atman, um não percebe o outro nem mesmo no mínimo modo.

* Naquele estado, quando se percebe tudo como idêntico ao Atman, não surge nem ilusão, nem tristeza em consequência da ausência de dualidade.

* O Shruti, sob a forma de Brihadaranyaka declara que este Atman, que é o Ser de todos, é o próprio Brahman.

* Este mundo, apesar de ser um objeto de nossa experiência diária e de servir a todos os propósitos práticos, é como o mundo dos sonhos, de natureza não-existente, uma vez que ele é contrariado no momento seguinte.

* A experiência do sonho é irreal ao acordarmos, enquanto que a experiência desperta está ausente no sonho. Ambos, no entanto, não existem no sono profundo, o qual, novamente, não é experimentado em ambos.

* Assim, todos os três estados são irreais, uma vez que são a criação dos três Gunas*; mas quem testemunha a realidade por trás deles está além de todos os Gunas, é eterno, um, e é a própria Consciência.

* Do mesmo modo que não estamos mais iludidos para ver um jarro de terra ou de prata na madrepérola (depois que a ilusão se vai), também não vemos o Jiva em Brahman quando este último é realizado (como sendo nosso próprio Ser).

* Assim como a terra é descrita como um jarro, o ouro como um brinco, e um nácar como prata, também é Brahman descrito como Jiva.

* Assim como o azul no céu, a água na miragem e uma figura humana num poste são apenas ilusórios, também é assim o universo em Atman.

*Gunas - Os três atributos ou qualidades da substância cósmica Prakriti - são elas a qualidade criadora (sattva), preservadora (rajas), destruidora (tamas).