segunda-feira, 11 de maio de 2009

Hazrat Inayat Khan - A vida silenciosa

A vida absoluta da qual surgiu tudo o que é sentido, visto e percebido, e dentro da qual tudo submerge novamente no devido tempo, é uma vida silenciosa, sem movimento e eterna que dentre os Sufis é chamada de Dhat. Todo movimento que surge originário dessa vida silenciosa é uma vibração e um criador de vibrações. Dentro de uma vibração são criadas muitas vibrações.
Como movimento causa movimento, dessa forma a vida silenciosa se torna ativa numa certa parte, e cria a cada momento mais e mais atividade, perdendo dessa forma a paz da vida silenciosa original. É o grau de atividade dessas vibrações que contam para os vários planos de existência. Esses planos são imaginados como diferentes uns dos outros, mas na realidade eles não podem ser inteiramente separados e soltos uns dos outros. A atividade das vibrações torna-os mais grosseiros, e assim a terra é nascida dos céus.
Os reinos mineral, vegetal, animal e humano são mudanças graduais de vibrações, e as vibrações de cada plano diferem umas das outras em seu peso, largura, comprimento, cor, efeito, som e ritmo.
O homem não é apenas formado de vibrações, mas ele vive e move-se nelas: elas o circundam assim como o peixe é circundado pela água, e ele as contém dentro de si assim como um tanque contém água. Seus diferentes humores, inclinações, afazeres, sucessos e falhas, e todas as condições da vida dependem de uma certa atividade de vibrações, sejam elas pensamentos, emoções ou sentimentos. É a direção da atividade das vibrações que conta para a variedade de coisas e seres. Essa atividade vibratória é a base da sensação e a fonte de todo prazer e dor; seu sessar é o oposto da sensação. Todas as sensações são causadas por um certo grau de atividade de vibração.
Existem dois aspectos de vibrações: finas e grosseiras, ambas contendo vários níveis. Algumas são percebidas pela alma, outras pela mente e outras ainda pelo olho. O que a alma percebe são as vibrações dos sentimentos, o que a mente concebe são as vibrações dos pensamentos, o que os olhos vêem são as vibrações solidificadas de seu estado etéreo e transformadas em átomos que aparecem no mundo físico, constituindo os elementos éter, ar, fogo, água e terra. As vibrações mais finas são imperceptíveis mesmo para a alma. A própria alma é formada dessas vibrações; é a atividade delas que a torna consciente.
A criação começa com a atividade da consciência, que pode ser chamada de vibração, e cada vibração começando da sua fonte original é a mesma, diferindo apenas em seu tom e ritmo causados por um grau de força maior ou menor por trás dela. No plano do som a vibração causa diversidade de tom, e no mundo dos átomos diversidade de cor. É ao se ajuntarem que as vibrações se tornam audíveis, mas a cada passo na direção da superfície elas se multiplicam e, conforme avançam, elas se materializam.
O som dá à consciência uma evidência de sua existência, embora seja de fato a própria parte ativa da consciência que se transforma em som. O conhecedor, por assim dizer, torna-se conhecido para si mesmo; em outras palavras a consciência presta testemunho à sua própria voz. E, portanto, o som atrai o homem. Todas as coisas sendo derivadas e formadas de vibrações têm um som escondido dentro delas assim como o fogo está escondido dentro da pedra de produzir faíscas. E cada átomo do universo confessa pelo seu tom: “Minha única origem é o som”. Se qualquer corpo sólido ou sonoro for golpeado ele irá responder de volta: “Eu sou som”.
O som tem seu nascimento, morte, sexo, forma, planeta, Deus, cor, infância, juventude e idade. Mas aquele volume de som que está no abstrato – além da esfera do concreto – é a origem e a base de todo o som.