domingo, 14 de junho de 2009

Siddharameshwar Maharaj - "Conhecimento Puro"


Para entender melhor como exatamente o “puro conhecimento uno” está atuando, você tem apenas que sair de casa e olhar imediatamente para a lua. Com que velocidade, de dentro da janela da mente, a pura consciência se apressa até a lua? Veja como ela permeia o céu inteiro numa fração de segundo. Tente isso. A mente tem essa mesma velocidade? A mente recebeu essa velocidade de ciência da lua, apenas através da ajuda desse “Conhecimento”. Onde quer que a mente vá, a Consciência já está lá. Que admirável então, que o movimento da mente pereça emperrado nessa consciência! Você tem apenas que abrir as pálpebras e o "Conhecimento” (consciência) simultaneamente permeiará o céu inteiro e a vastidão que contém uma multitude de estrelas e a lua.
Em vez de dizer que ela permeia, é melhor dizer que ela já permeou tudo o que agora é experimentado. Quando a Consciência viaja do olho até a lua e a pessoa a reconhece como sendo a lua, tal é o conhecimento 'objetivo'. Nesse exemplo a lua é o objeto e a consciência assume a sua forma assim que ela sabe que aquilo é a lua. Se há uma nuvem na frente da lua, a Consciência assume o formato da nuvem e é vista como aquele objeto. Assim também, a consciência permeia a nuvem e sabe que a nuvem é um objeto.
Agora, tente notar a “camada” de consciência sem um objeto, o “Conhecimento Puro” sem a mistura de nenhum objeto. Aquele espaço ou vácuo, que existe entre os olhos e a lua, não foi notado por você, ainda assim, ele estava lá, permeando, existindo em sua própria natureza. Aquela é a forma pura do 'Conhecimento'. Quando um vácuo ou espaço vazio, que foi notado anteriormente, é propositalmente tornado o objeto da atenção, ele pode tornar-se o objeto da atenção como 'espaço'. O que é notado é Maya, e o que não pode ser visto é “Brahman”.
Enquanto olhamos para a lua, o vácuo ou o espaço intermediário, não vem à nossa atenção. Portanto, é consciência sem um objeto. Se esse espaço, ou vácuo, é separado e é tornado um objeto da visão, esse Conhecimento Puro é transformado num zero, porque se o espaço é visto separadamente, a modificação da mente torna-se um vácuo. Se existe alguma diferença entre o céu e o Puro Conhecimento, é essa: Olhar separadamente para nossa própria natureza é o céu e quando o ato de 'olhar' é abandonado, ele é “conhecimento puro”. Uma vez que o conhecimento puro é reconhecido apropriadamente dessa forma, mesmo quando misturado a qualquer objeto, ele pode ser selecionado e reconhecido. Uma vez que a água pura é conhecida, mesmo quando misturada com alguma outra coisa, sua porção pode ser reconhecida dentro da mistura.
A água é um fluído que pode ser condensado em gelo. Mesmo quando a água abandona sua fluidez e assume a densidade do gelo, ela ainda é reconhecida como água em forma de gelo. Não é difícil reconhecer a umidade da lama como sendo água. Similarmente, uma vez que o Conhecimento Puro é conhecido, sua existência estável nesse mundo móvel pode também ser reconhecida, na forma de Sat-chit-ananda (existência-consciência-graça).
A água pura é desprovida de qualquer cor, forma, gosto ou cheiro. Uma vez que isso é propriamente entendido, mesmo quando a água é condensada, assumindo uma forma densa, ou quando fica apimentada ao adicionarmos pimenta, ou doce ao adicionarmos açúcar, ou cheirosa, colorida em tom de rosa, ou usada como água na tinta, ainda assim é inconfundivelmente reconhecida como água pura, ou água menos a forma, gosto, cheiro e cor.
Assim, pelo mesmo método de eliminação, mesmo quando esse Conhecimento Puro está condicionado, ao subtrairmos o condicionamento e dividirmos a forma em seus respectivos elementos, ele será reconhecido absolutamente como sendo “Conhecimento Puro” apenas, que preenche todas as formas até à borda, em toda parte. Entretanto, antes de alcançar esse “Conhecimento Puro” pelo método da eliminação, se a pessoa aceita o método da enumeração (escutando as qualidades de Deus), e segue discursando como é que somente Deus permeia todos os seres e todas as formas, e que não existe nada além de Rama, e que “o mundo e o senhor do mundo, são apenas um” etc, etc, então tal balbuciação jamais poderia ser útil. Em contraste com esse tipo de fala, se a pessoa fala apenas palavras vazias sem ter a experiência por trás delas, tal como “Eu sou Brahman”, “os sentidos fazem seu trabalho, contudo eu não sou o fazedor”, e “ não há virtude ou pecado na soleira de minha porta”, etc, em vez de ganhar o Ser, ele apenas irá enganar seu Ser. Dessa forma, esses chamados “Auto-descobridores” perdem alegria no mundo, bem como no outro mundo . O santo Kabir disse “Ele foi embora como veio”. Isso significa que essas pessoas morrem no mesmo estado de consciência com o qual elas nasceram. Não obtêm nenhum benefício além disso.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ramakrishna - Deus com forma e Deus sem forma

Devoto: Deus tem forma ou é sem forma?

Ramakrishna: Espere, espere! Primeiro de tudo você tem que ir para Calcutá, só então você saberá onde estão localizados o Maidan, a Sociedade Asiática e o Banco de Bengala. Se quer ir para o bairro dos brâmanes de Khardaha, primeiro tem que ir para Khardaha. Por que não seria possível a prática da disciplina de Deus sem forma? É muito difícil seguir esse caminho. Não podemos segui-lo sem renunciar “mulher e ouro" (luxúria e cobiça). Deve haver completa renúncia, tanto interna como externamente. Você não pode ter êxito neste caminho se você tiver o menor vestígio de mundanidade. É fácil adorar a Deus com forma. No entanto, não é tão fácil como parece. Com um Bhakta (aspirante no caminho devocional), não devemos discutir a disciplina do Deus impessoal ou o caminho do Conhecimento (Jnana). Através de muitos esforços, talvez ele esteja nesse momento cultivando um pouco de devoção. Seria danoso dizer a um Bhakta que tudo é um mero sonho.

Kabir era um adorador do Deus impessoal. Ele não acreditava em Shiva, Kali ou Krishna. Costumava brincar com eles e dizia que Kali vivia de ofertas de arroz e banana e Krishna dançava como um macaco enquanto as gopis batiam palmas. Aquele que adora Deus sem forma, talvez no início veja uma deidade com dez braços, em seguida, com quatro braços e, em seguida, Krishna criança com dois braços. Finalmente vê a a Luz Indivisível e submerge nela. Diz-se que os sábios como Dattátreia e Yadabharata não retornaram ao plano relativo depois de terem tido a visão de Brahman. Segundo alguns relatos, Shukadeva provou apenas uma gota do Oceano da Consciência de Brahman. Ele viu e ouviu o rugido das ondas desse Oceano mas não submergiu nele. Uma vez um Brahmachari me disse: "Aquele que vai além de Kedar, não pode manter o seu corpo vivo". Assim, depois de atingir Brahmajnana um homem não pode preservar o seu corpo mais do que vinte e um dias.
Para além do muro elevado havia um campo infinito. Quatro amigos tentaram saber o que havia lá. Três deles, um após outro, escalaram o muro, viram o campo, deram uma gargalhada e saltaram para o outro lado. Estes três não puderam dar qualquer informação sobre o campo. Apenas o quarto homem voltou e disse para as pessoas como era. Ele é como aqueles que detêm o seu corpo, mesmo depois de atingir Brahmajnana, para ensinar aos outros. As encarnações Divinas pertencem a esta classe.

Parvati nasceu como a filha do Rei Himalaya. Após o seu nascimento, ela revelou ao rei Suas diversas formas divinas. O pai disse: 'Bem, filha, você me mostrou todas estas formas, isto é bom, mas você tem um outro aspecto, que é Brahman. Rogo-lhe para que me ensine. “Pai, disse Parvati, se buscas o conhecimento de Brahman, então renuncia o mundo e viva na companhia dos santos". Mas o rei Himalaia insistiu. Por conseguinte, Parvati revelou-lhe Sua forma de Brahman e imediatamente o rei caiu inconsciente no chão. Mas tudo o que acabei de dizer, pertence ao reino do raciocínio. Apenas Brahman é real e o mundo é ilusório - isso é raciocinar. E tudo, exceto Brahman, é como um sonho. Mas é um caminho muito difícil. Para aqueles que o seguem, até o jogo divino no mundo torna-se um sonho e é irreal, o seu 'eu' também desaparece. Os seguidores desse caminho não aceitam a Encarnação Divina. É um caminho muito difícil. Os amantes de Deus não deveriam ouvir muito de tal raciocínio. É por isso que Deus encarna-se como ser humano, para ensinar às pessoas o caminho da devoção. Exorta as pessoas a cultivarem a entrega a Deus. Seguindo o caminho da devoção, realizamos tudo através de Sua graça, Conhecimento e Sabedoria Suprema.

Deus atua neste mundo. Ele está sob o domínio dos Seus devotos. Shyama, a Mãe Divina, está atada pelas cordas do amor de Seu devoto. Às vezes Deus torna-se o ímã e o devoto a agulha, outras vezes, o devoto torna-se o ímã e Deus a agulha. O devoto atrai Deus até ele. Deus é o Amado de Seu devoto e está sob seu domínio. De acordo com uma escola, as gopis de Vrindavan, como Yashoda, em suas vidas anteriores acreditavam em Deus sem forma, mas não receberam nenhuma satisfação a partir dessa crença. É por isso que mais tarde gozaram de tanta felicidade na companhia de Sri Krishna no episódio da sua vida em Vrindavan. Um dia Krishna disse às gopis: 'Venham comigo. Vou mostrar-lhes a morada do Eterno. Nós vamos para o Yamuna para nadarmos.' Logo que eles imergiram na água, viram Goloka e, em seguida, viram a luz indivisível. Naquele instante Yashoda exclamou: "Ó Krishna, essas coisas já não nos importam. Gostaríamos de vê-lo em Sua forma humana. Quero tomar-lhe em meus braços e alimentar-lo".

Portanto, a maior manifestação de Deus é através de Suas encarnações. O devoto deveria servir e adorar uma encarnação de Deus enquanto ela viva em um corpo humano. “Ao amanhecer, ele desaparece na câmara secreta de sua morada." De maneira nenhuma podem todos reconhecer uma encarnação de Deus. Ao assumir um corpo humano, a encarnação cai vítima de doença, tristeza, fome, sede e outras dores, como qualquer mortal. Rama chorou por Sita. "Brahman chora, capturado na armadilha dos cinco elementos." Diz-se nos Puranas que Deus em Sua encarnação como um Marrana (porco) viveu feliz com Sua ninhada, mesmo depois de terem destruído Hiraniaksha. Como Marrana, ele os alimentou e cuidou e esqueceu tudo sobre a sua morada no céu. Finalmente Shiva matou o corpo do porco com o seu tridente e Deus, rindo, voltou para sua própria casa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Upasni Maharaj* - O Templo de Khandoba


Vocês me chamam de Deus, mas deixem-me adverti-los: Eu sou do templo de Khandoba. Talvez devido ao meu destino ou devido à vontade do Sadguru ou de quem quer que esteja acima de mim, tive que passar pela punição de ser um Khandoba e portanto fui mantido no templo de Khandoba. Khandoba significa eunuco, um eunuco é aquele que é incapaz de desfrutar de uma mulher de maneira mundana. Antigamente aqueles que eram incapazes de desfrutar de uma mulher eram chamados Shandas, entretanto eles não eram os verdadeiros Shandas, o verdadeiro Shanda é aquele que se tornou completamente sem desejos, e esse estado sem desejos traz o estado de Khandoba.

Por Khandoba ser único, garotas são oferecidas para ele, essas garotas são chamadas de Muralis. O que é Murali? Murali é a flauta nas mãos do Senhor Krishna. As Muralis, portanto, atingem então o estado que as leva ‘além do mundo’. Há um costume de oferecer garotas a Khandoba. Khandoba sendo Parabrhaman, as garotas oferecidas para ele, portanto, tornam-se o mesmo. Khandoba significa Shandoba e o mesmo é Vhitoba. Vhitoba é livre, nu, não afetado em todos os aspectos. Nestes dias de Kali Yuga, Vhitoba é considerado ser de importância, é ele que conduz à bênção infinita.

Já falei sobre isto, aquele cuja mente e sentidos não são de nenhuma utilidade do ponto de vista mundano, nem são de utilidade para atingir nenhum dos prazeres do mundo, tornar-se Shanda, o Shanda real é o Brhaman real, o Parabrahman, ele é Vhitoba, ele é o Khandoba. Você deveria lembrar-se bem disso; eu não sabia desses arranjos secretos, se eu soubesse não teria parado naquele templo. Naquele tempo eu comecei a pensar que estava sentando num vale em chamas. Mas sabe que as palavras que Sai Baba disse vieram a se tornar verdade, as de que eu seria a esposa de Khandoba.



*Upasni Maharaj - Mestre perfeito indiano que foi discípulo de Sai Baba de Shirdi (1838-1918), teve uma vida de renúncia extrema. Permaneceu de 1912 à 1914 em jejum de comida e água no templo de Khandoba, que na época era abandonado e infestado por cobras e escorpiões.

domingo, 7 de junho de 2009

Philokalia - São Teófanes o Recluso - Pobre, Nu, Cego e Sem Valor


Não há necessidade de ter medo da ilusão. Ela sobrepuja aqueles que se tornam vãos, que pensam que assim que um aquecimento venha ao coração já significa o cume da perfeição. De fato, esse aquecimento é apenas o começo e pode provar ser instável. Esse aquecimento e paz no coração podem ser apenas algo natural, fruto da atenção concentrada. Temos de labutar e labutar, esperar e esperar, até que o natural seja substituído pela graça ofertada.
É melhor nunca pensar de si mesmo como tendo atingido algo, mas sempre ver-se como pobre, nu, cego e sem valor.

O Senhor vê sua necessidade e seus esforços, e dará a você uma mão. Ele irá lhe dar suporte e estabelecerá você um soldado, totalmente armado e pronto para ir para a batalha. Nenhum suporte pode ser melhor do que o Dele. O maior perigo está em a alma pensar que ela pode encontrar essa ajuda dentro de si mesma; e então ela perde tudo. O mal irá dominá-la, eclipsando a luz que cintila ainda que fraca na alma, e irá extinguir aquela pequena chama que quase já não queima. A alma deveria perceber o quanto ela é impotente quando sozinha; portanto não esperando nada de si mesma, deixe-a cair em humildade diante de Deus e em seu próprio coração que ela se reconheça como sendo nada. Então a graça – que é toda poderosa – irá desse nada, criar nela tudo. Aquele que em total humildade coloca-se nas mãos do piedoso Deus, atrai o Senhor para si mesmo e torna-se forte em Sua força.
Embora esperando tudo de Deus e nada de nós mesmos, devemos, não obstante, forçarmos-nos à ação, empregando toda nossa força a fim de criar algo para o qual a ajuda divina possa vir, e o qual, o poder divino possa abarcar. A graça já está presente dentro de nós mas ela irá agir apenas depois que o próprio homem agiu, sentindo sua impotência com sua própria força. Estabeleça-se, portanto, firmemente no humilde sacrifício da sua vontade por Deus, e então tome ação sem nenhuma má vontade ou de maneira irresoluta.

sábado, 6 de junho de 2009

Gurdjieff - 7 de dezembro de 1941


Pergunta: Algo intolerável acontece no meu trabalho. A despeito dos meus esforços eu não posso lembrar de mim mesmo, ter uma qualidade melhor. É inútil fixar horas de trabalho no relógio. Não obtenho resultado. Por que?

Gurdjieff: Isso vem do seu egoismo. Egoismo particularmente grande no qual você tem vivido até agora. Você está enclausurado nele, você tem de sair dele. Para sair, você tem de aprender a trabalhar. Não apenas por você somente, mas para os outros. Você começou com trabalho relacionado aos seus pais. Você deve mudar sua tarefa. Assuma uma nova tarefa, a mesma com seus semelhantes, não importa quem, todos os seres; ou escolha dentre as pessoas à sua volta. Você deve trabalhar para si mesmo através da meta de estar apto a ajudá-los. Apenas isso irá lutar contra o egoismo. Vejo que vocês dois têm um passado muito ruim, um egoismo particular. Todo o material antigo vem à frente. É por isso que você não pode fazer nada. É normal; de acordo com a ordem, de acordo com a lei. Antes de atingir a meta, há muitas acensões e quedas. Isso deveria reassegurar você. Eu poderia reassegurar você completamente, mas é você quem deve trabalhar você mesmo.

P: Para sair deste estado de sofrimento tão vívido e tão negativo, posso fazer uso de algum meio exterior, tomar ópio, por exemplo?

G: Não, você deve trabalhar sobre si mesmo. Destrua o egoismo no qual você tem sempre vivido. Tente o que eu lhe digo. Mude sua tarefa. É necessário alcançar agora um novo estágio. Vocês dois estão a caminho da Gare de Lyon, mas vão por rotas diferentes, um vai por Londres e o outro pela Ópera. Vocês estão ambos à mesma distância.

P: Eu vejo minha impotência e minha covardia. Eu não posso dizer nada e fazer algo pelos outros. Pois minha cabeça não está clara. Sinto se uma coisa está correta ou não, mas não posso explicar claramente o porquê.

G: Você não pode dizer nem fazer nada pelos outros. Você não sabe o que você precisa para si mesmo, você não pode saber o que o outros precisam. Trabalhe com propósito por eles. Mas atue um papel. Esteja aparte internamente. Veja, externamente fale como a pessoa fala, para não machucá-la. Você deve adquirir a força para fazer isso. Atue um papel. Torne-se duplo. Para o presente momento trabalhe como capataz. Faça o que eu lhe digo, você não pode fazer mais que isso. Ame seu vizinho; Esse é o CAMINHO. Traga para todos aquilo que você sentia pelos seus pais.

P: No inicio do trabalho temos esse desejo.

G: Certamente, é a mesma coisa, sempre a mesma coisa que retorna num diferente grau. Agora é um outro grau. Você deve superar essa crise. Tudo vem do falso amor de si mesmo, da opinião que a pessoa tem de si mesma, que são mentiras.

P: Tudo virou de ponta cabeça em mim com o exercício, em todo meu trabalho. Tirou a alegria do trabalho, tornou-o doloroso, sem esperança, sinto-me como um asno puxando um carrinho muito pesado numa subida.

G: É porque em você há outras partes que são tocadas. É como um pintor que sempre mistura as mesmas cores e nunca há nenhum vermelho. Quando ele coloca vermelho na mistura, isso muda tudo. Você deve continuar.

P: Esse exercício me fez sentir algo que é novo para mim; quando tento fazê-lo e colocar minha atenção nesse pequeno ponto fixo e vejo que não posso segurar-me na frente dele, tenho uma sensação da minha nulidade e pareço entender melhor a humildade. Esse pontinho é maior que eu.

G: Porque você tem um cão em você mesmo que o impede em todas as coisas. Ele é chamado insolência perante você mesmo. Você deve destruir esse cão. Mais para frente você vai sentir-se mestre nesse ponto, sentir que você é mais forte que esse cão e que ele é nada. Não tenho confiança nesses tipos artísticos que vivem na imaginação, têm idéias atrás de sua cabeça, não dentro, que pensam que sentem e experimentam, mas na realidade estão apenas interessados em coisas externas. Vivem apenas na superfície, de fora, não dentro, não em si mesmos. Os artistas não sabem nada da realidade e imaginam que eles sabem. Não confie em você mesmo. Entre em você mesmo, em todas as partes de você mesmo. É absolutamente necessário aprender a sentir e a pensar ao mesmo tempo em todas as coisas que você faz na vida diária. Você é uma pessoa vazia.

P: Como deveríamos rezar?

G: Irei explicar, mas é para depois. Em nosso sistema solar certa substância emana do sol e dos planetas, da mesma forma que aquelas emanadas pela Terra, fazendo contato em certos pontos no sistema solar. E esses pontos podem refletir a si mesmos em imagens materializadas, as quais são as imagens invertidas do Todo-elevado – o Absoluto. Digo-lhe que sempre existe uma imagem materializada em sua atmosfera. Se as pessoas pudessem ter concentração o bastante para entrar em contato com essa imagem, elas receberiam essa substância; portanto, ao recebê-la, estabeleceriam uma linha telepática como o telefone.

P: Essas imagens se materializam na forma humana?

G: Sim.

P: Se alguém se colocar em contato com essa imagem e uma segunda pessoa puder colocar-se em contato com ela e uma terceira pessoa e uma quarta, poderão todas elas receber essa imagem?

G: Se sete pessoas puderem concentrar-se o bastante para colocarem-se em contato com essa imagem, elas poderiam se comunicar, a qualquer distância, pela linha entre e elas e as sete formam um. Elas podem ajudar-se umas às outras. Diga-se de passagem, é apenas ao explicar algo aos outros que entendemos e assimilamos nós mesmos completamente.

P: Gostaria de saber se ao materializar a imagem de um santo, isso irá me dar o que eu particularmente desejo?

G: Você pensa como uma pessoa ordinária. Você não tem meios de materializar nada agora. Para o momento assuma a tarefa de auto-sugestão, para que uma parte de você convença a outra e repita, repita para ela o que você decidiu (a meta de despertar). Há uma série de sete exercícios para o desenvolvimento sucessivo dos sete centros. Nós citamos o primeiro, o cérebro, aquele que conta na vida ordinária (a cabeça é uma luxúria). O outro, o emocional também; mas o único que é necessário é a medula espinhal, aquele que você tem que desenvolver e fortalecer primeiro. Esse exercício irá fortalecê-lo: segure os dois braços horizontalmente num ângulo exato, ao mesmo tempo olhando fixamente para um ponto diante de você. Divida sua atenção exatamente entre o ponto e os braços. Você descobrirá que não há nenhuma associação, nenhum lugar para elas, de tão ocupado que você estará com o ponto e a posição dos braços. Faça isso sentado, de pé, e então de joelhos. Vinte e cinco minutos em cada posição, várias vezes por dia – ou menos. Tive um aluno uma vez que podia ficar duas horas sem mexer os braços nem um centímetro. Para outras coisas ele era uma nulidade.

P: Quando quero fazer tais esforços para o trabalho, uma dura barreira se forma no meu peito, impossível de superar. O que eu deveria fazer?

G: Isso não é nada. Você não está habituado a usar esse centro – é um músculo que contrai – é apenas muscular. Continue, continue.

P: Tenho feito esse exercício até ficar com os ombros ardendo. Ao fazê-lo, eu tive a sensação de “Eu”. Senti a mim mesmo realmente separado, realmente “Eu”.

G: Você não pode ter “Eu”. O “Eu” é uma coisa muito cara. Você é barato. Não filosofe, isso não me interessa, e não fale de “Eu”. Faça o exercício como um serviço, como uma obrigação, não por resultados (como o “Eu”). Os resultados virão mais tarde. Hoje é apenas serviço. Apenas isso é real.

P: Sinto-me mais dentro de mim mesmo, mas como se estivesse diante de uma porta fechada.

G: Não é uma porta mas sim muitas portas. Você deve abrir cada porta, aprenda a abrir.

P: Tenho trabalhado especialmente sobre o amor-próprio.

G: Sem amor-próprio um homem não pode fazer nada. Existem duas qualidades de amor-próprio. Uma é uma coisa suja. A outra, um impulso, amor do “eu” real. Sem isso, é impossível mover-se. Um ditado Hindu antigo diz: "Feliz é aquele que ama a si mesmo, pois ele pode amar a Mim”.
Vejo pelo relatório de Madame de Salzman que ninguém me entendeu. Você precisa de fogo. Sem fogo, nunca haverá nada. Esse fogo é o sofrimento, sofrimento voluntário, sem o qual é impossível criar algo. É preciso preparar-se, você deve saber o que irá fazê-lo sofrer e quando isso estiver lá, faça uso disso. Apenas você pode preparar, apenas você sabe o que o faz sofrer, que faz o fogo que cozinha, que cimenta, que cristaliza, que FAZ. Sofra pelos seus defeitos, pelo seu orgulho, pelo seu egoísmo. Lembre a si mesmo da meta. Sem sofrimento preparado não há nada, pois quanto mais se é consciente, não há mais sofrimento. Não há progresso adiante, nada. É por isso que com sua consciência você deve preparar o que é necessário.

Você deve à natureza. A comida que você come, que nutre a sua vida. Você deve pagar por essas substâncias cósmicas. Você tem um débito, uma obrigação, tem que repagar com trabalho consciente. Não coma como um animal, mas renda à natureza pelo que ela tem dado a você, a natureza, sua mãe. Trabalhe – uma gota, uma gota, uma gota – acumuladas durante dias, meses, anos, séculos, talvez darão resultados.

P: Cheguei num ponto onde estou muito infeliz, tudo é desgostoso para mim, de desinteresse.

G: E esse lenço arrumado desse jeito no seu bolso? Isso lhe interessa. Bem, a natureza deseja bem a você, estou contente. Ela traz você para o trabalho real ao fazer todo o reto desgostoso – é um certo cruzamento que você tem que atravessar. Quanto mais você trabalhar, mais você irá sair deste desconforto, desse vazio, dessa carência.

P: Até o trabalho está desgostoso para mim.

G: Então você deve mudar a maneira de trabalhar. Em vez de acumular durante uma hora, você deve tentar manter constantemente a sensação orgânica do seu corpo. Sinta seu corpo novamente, continuamente sem interromper suas ocupações ordinárias – para manter um pouco de energia, para tomar o hábito. Pensei que esse exercício permitiria você manter a energia um tempo maior, mas vejo que não funcionou assim. Molhe um lenço, amarre-o, coloque na sua pele. O contato irá lembrar você. Quando ele secar, comece novamente. A CHAVE PARA TODAS AS COISAS – permanecer aparte. Nossa meta é ter uma sensação constante de nós mesmos, de nossa individualidade. Essa sensação não pode ser expressada intelectualmente, porque é inorgânica. É algo que torna-o independente quando você está com outras pessoas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Meher Baba - Como amar a Deus


Amar a Deus na forma mais prática é amar aos nossos semelhantes. Se sentirmos pelos outros da mesma forma que sentimos pelos nossos queridos mais próximos, amamos a Deus.

Se, em vez de ver falhas nos outros, olharmos dentro de nós, estaremos amando Deus.

Se, em vez de roubar os outros para ajudar a nós, roubarmos a nós mesmos para ajudar os outros, estaremos amando Deus.

Se sofrermos com o sofrimento dos outros e sentimos-nos felizes na felicidade dos outros, estaremos amando Deus.

Se, em vez de nos preocuparmos com as nossas próprias adversidades, pensarmos que temos mais sorte que muitos, muitos outros, estaremos amando Deus.

Se suportarmos nosso fado com paciência e contentamento, aceitando-o como a Vontade Dele, estaremos amando Deus.

Para amar a Deus como Ele deve ser amado, temos de viver para Deus e morrer por Deus, sabendo que o objetivo da vida é amar a Deus e descobri-lo como sendo nosso próprio Ser.


Ó Parvardigar! O preservador e protetor de tudo,
Tu és sem começo e sem fim.
Não-dual, além das comparações
e ninguém pode medí-lo.
Tu és sem cor, sem expressão,
Sem forma e sem atributos.
Tu és ilimitado e insondável,
Além da imaginação e da concepção,
Eterno e imperecível.
Tu és indivisível
E ninguém pode vê-Lo senão com os olhos divinos.
Sempre fostes, sempre és,
E sempre serás.
Estás em toda parte, estás em todas as coisas e
Também estás além de toda parte e além de todas as coisas.
Estás no firmamento e nas profundezas,
Tu és o manifesto e o não manifesto;
Em todos os planos e além de todos os planos.
Estás nos três mundos
E também além dos três mundos.
Tu és imperceptível e independente.
Tu és o criador, o Senhor dos Senhores,
O conhecedor de todas as mentes e corações.
Tu és Onipotente e Onipresente.
Tu és conhecimento infinito, poder infinito e graça infinita.
Tu és o oceano do conhecimento,
Todo-sabedor, o Infinito-saber,
O conhecedor do passado, do presente e do futuro,
E Tu és o próprio conhecimento.
Tu és Todo-piedoso e eternamente benevolente.
Tu és a Alma das almas, aquele com infinitos atributos.
Tu és a trindade da verdade, conhecimento e graça,
Tu és a fonte da verdade, o oceano do amor.
Tu és o antigo, o mais elevado dos elevados.
Tu és Prabhu e Parameshwar;
Tu és o além de Deus e o além do além de Deus também;
Tu és Parabrahma; Paramatma; Alá; Elahi; Yezdan;
Ahuramazda, Deus todo poderoso e Deus, o Amado.
Tu és chamado Ezad, o único digno de adoração.
(A prece universal, por Meher Baba 1953)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hafiz - Qual é a raiz?


Qual
É a
Raiz de todos estes
Mundos?
Uma só coisa: o amor.
Mas um amor tão profundo e doce
Que teve que expressar a si mesmo
Com fragrâncias, sons e cores
Que nunca antes
Existiram.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ramesh S. Balsekar - A busca pela verdade

Senhor Krishna falou: “Dentre milhares de pessoas raramente há uma que busca a Mim, e dentre essas que estão buscando, raramente uma Me conhece em princípio”. Agora, quem decide quem será um buscador? De fato, a própria busca é a vontade de Deus, a graça de Deus. Você pensa que você é o buscador buscando Deus, mas a busca não foi escolha sua. Você pode dizer que você tem sorte ou é afortunado pela Fonte, ou por Deus, por ter sido decidido que a busca iria começar neste organismo corpo-mente. Então a busca não começou porque você decidiu num certo momento, “a partir de amanhã buscarei a verdade”. Na verdade a busca aconteceu a despeito de você. A busca começa com a pessoa pensando, “estou buscando Deus, ou a iluminação, ou a paz”. A busca começa com a pessoa pensando que ela está fazendo a busca e a busca só pode terminar quando houver a realização de que nunca houve um buscador. A busca é a graça de Deus, e a Realização é a graça de Deus, ou a vontade da Fonte.
A busca começa com o individuo pensando que ele é o buscador e não pode acabar até que haja uma firme realização de que nunca houve um buscador. Realmente, nunca houve um pensador, o pensar estava acontecendo; nunca houve um fazedor, as ações estavam acontecendo; nunca houve um experimentador, experimentação estava acontecendo. O pensar, o fazer, o experimentar são parte do funcionamento da manifestação que pode apenas acontecer através de um organismo corpo-mente.
Por que a busca por Deus aconteceu neste organismo corpo-mente, enquanto que no outro a busca é por dinheiro? Ele busca apenas dinheiro e pensa que você está louco procurando por algo no ar e que você seria muito mais feliz se buscasse dinheiro, fama ou poder. Agora, por que a busca por dinheiro está acontecendo através de um organismo corpo-mente, e por que a busca por Deus ou pela Verdade está acontecendo através do outro? Isso é o que chamo de vontade de Deus ou intenção da Fonte.


O ponto todo é que toda pergunta é feita pelo ego. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego quer atingir a iluminação. Por que o ego faz a pergunta? Porque o ego é o buscador. Portanto a busca está acontecendo através de um ego particular, e o ego (através do qual a busca está acontecendo) não escolheu fazer isso. Se ele soubesse a miséria que a busca é, ele teria escolhido não buscar. Então a busca é algo que está acontecendo e você não escolheu buscar. Isso é a base do que estou falando.
Esse “um dentre milhares” que o senhor Krishna está falando sobre, não escolheu ser um buscador – a busca aconteceu.
A Fonte iniciou a busca e ao fazer isso iniciou o curso da destruição do ego – que é o que o Ramana Maharshi disse: “Sua cabeça já está na boca do tigre. Não tem escapatória”. Significando que a Fonte iniciou o processo de destruir o ego e é apenas a fonte que pode fazer isso.
Então o ponto fundamental é que a Fonte criou o ego e a Fonte está no processo de destruir o ego num organismo corpo-mente particular. Portanto o ego não tem nada a ver com isso. O ego está no processo de ser destruído. Essa é a aceitação principal. Portanto se o ego está no processo de ser destruído, então como o ego pode buscar sua própria destruição? E é isso o que está acontecendo, não é?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Rodney Collin - O trabalho espiritual


Existe um trabalho que tem tido muitos nomes. No século I foi chamado de Trabalho da Fé, no Século XII foi chamado de o Trabalho dos Trabalhos, no século XVI de Trabalho das Leis, no XVIII - o Trabalho da Razão. No nosso tempo, deve ser chamado de Trabalho de Harmonia. Ele é muito maior do que qualquer trabalho do homem, é o trabalho de todos aqueles seres elevados colocados juntos. Cada um contribuiu com algo. Nosso trabalho é harmonia em todas as coisas, sermos honestos, verdadeiros e sinceros.
É um trabalho maravilhoso, que nos enche de alegria. Se o trabalho não é alegre, não está certo. É bonito porque une tudo e traz tudo para um nível superior. O trabalho é a verdade, nós não percebemos o quanto ele é elevado. Estamos aqui simplesmente para transmiti-lo, mas continuamos a complicá-lo. Toda pergunta é respondida em nosso trabalho, é simplificada para que nós compreendamos. Se estamos abertos e somos objetivos, vamos ver como ele é simples. O trabalho é tornarmos-nos sensíveis à vida diária e ao cumprimento dos requisitos dela.

Existe apenas uma escola: a escola da verdade. Facções utilizam rótulos porque sabem só metade da verdade. A verdade não tem nome. A verdade está em tudo. Nosso trabalho está em todas as religiões, ele é a real compreensão. Qual é a diferença entre o cristianismo antigo e a forma de hoje? É a mesma coisa. O trabalho não pode ser novo, mas a verdade deve sempre ser expressada em uma linguagem nova. As palavras de Cristo têm esperado dois mil anos para serem entendidas. Elas podem ser entendidas de uma vez, com pensamentos claros e mentes limpas. Os evangelhos não foram escritos apenas para as pessoas de dois mil anos atrás. Eles são sempre uma força nova e é nosso dever relacionar a situação de cada indivíduo a cada passagem dos Evangelhos, interpretando não só com a mente, mas com as emoções de nossos corações. O trabalho está sempre ali, ele não muda. Nós é que devemos mudar, encontrar uma maneira de expressá-lo.

Todo mundo tem a verdade de Deus em si mesmo, mas o problema é que todos acreditam que a verdade que vêem é a única. Quando sabemos que a nossa visão é limitada, vemos mais. Por que as pessoas querem impor suas idéias aos outros? Elas até mesmo querem impor suas próprias idéias de gosto aos outros. Quando tentamos forçar nossos pensamentos a uma pessoa não estamos ensinando, mas se tentarmos ouvir o que ela não compreende, estamos aprendendo e, depois, podemos sentir a pessoa e podemos ensiná-la. Existe apenas uma verdade e as pessoas devem chegar a ela de sua própria maneira. Se pessoas intelectuais recebem imposições elas vão embora, se as pessoas simples recebem imposições elas seguem cegamente, o que de nada serve para elas próprias ou para terceiros. Se quisermos ajudar devemos fazê-lo; podemos ensinar, ajudar, mas não impor. Para ensinar aos outros o que fazer, é preciso primeiro saber o que nós mesmo devemos fazer. Aquele que não sabe nadar não pode mergulhar na água para salvar os outros.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Siddharameshwar Maharaj - Ausência do medo


O autoconhecimento é o conhecimento a respeito de nosso Ser. Uma vez que reconhecemos quem realmente somos, então é feita a determinação sobre o que é permanente e o que é transitório. Em seguida, segue-se a renúncia do impermanente e a aceitação do permanente. Por causa da natureza transitória das coisas, o medo da dissolução é inevitável. Aquele que é assolado por esse medo da dissolução, ou da morte, continuamente luta para assegurar que tal coisa particular não lhe seja tirada. Ele toma toda precaução para preservar seu dinheiro, tenta duramente assegurar que a juventude e a beleza de sua esposa não se deteriorem e luta para manter sua autoridade e seu status. Entretanto, não importa o quanto ele tenta, nada jamais acontece de acordo com seus desejos e vontades. Ninguém pode escapar do seu destino, e por a morte ser toda-consumidora, tudo eventualmente vai ser destruído por sua mandíbula.
Mesmo se tudo o que tal homem que esconde seus medos desejasse lhe fosse dado, poderia ele evitar de ficar amedrontado? Se há algo que ele realmente necessita, é o presente da ausência do medo. O aspirante deve encontrar aquilo que irá libertá-lo permanentemente do medo. Este mendigo chamado homem, que perdeu o tesouro do seu próprio Ser, continuamente canta, “eu sou o corpo, eu sou o corpo”. Ele está sempre descontentado dizendo: “eu quero isso, eu quero aquilo”, e perambula por aí sempre mendigando por algo no mundo.
Ele apenas pode realmente ser pacificado com o presente do Ser. O homem que canta: “o que acontecerá comigo, com minha mulher e filhos e com o dinheiro que eu considero serem meus?” está sempre perturbado e chateado. Esse tipo de homem precisa receber o presente da bravura. E então tornar-se sem medo. Apenas o Sadguru é generoso o suficiente e capaz de outorgar esse presente da ausência de medo, que é o mais nobre de todos os presentes.

As coisas do mundo que são estimadas pelas pessoas sempre geram medo. Quando alguma ação é feita após ouvirmos as opiniões das pessoas mundanas, ela aumenta muitos tipos de medo. Visto que essas coisas que aparecem na ilusão são definitivamente perecíveis, ficamos completamente exaustos ao tentar mantê-las. De outro lado, a pessoa torna-se sem medo ao escutar as histórias dos Santos. Aquilo que é ganho ao escutar os Santos, aquilo que é alcançado, não é perecível. Conquistas espirituais são cheias de felicidade. Quando você ganhar experiência na vida espiritual, então você conhecerá a bênção que você recebeu do Sadguru.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Farid ud-Din Attar - O mundo segundo um Sufi

Um louco de Deus chorava abundantemente durante a noite e dizia: “Eis aqui o que é o mundo conforme o vejo: é um cofre fechado onde estamos trancados, entregues sem medida à loucura, perdidos na escuridão de nosso pecado e de nosso orgulho. Quando a morte levanta a tampa deste cofre, aquele que tem asas voa até o dia eterno. Porém, aquele que está desprovido de asas permanece no cofre, presa de mil angústias.
Dá pois ao pássaro da ambição espiritual a asa do sentido místico; dá coração à razão e êxtase à alma. Antes que tirem a tampa desta caixa, faze-te pássaro do caminho espiritual e estende tuas asas e tuas plumas - ou melhor ainda - queima tuas asas e tuas plumas; e para chegar antes de todos, destrói a ti mesmo pelo fogo.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Philokalia - São Gregório Palamas (1296 - 1359)

O intelecto que foi julgado digno da luz da Santíssima Trindade também transmite ao corpo que está unido a ele muitos sinais da beleza divina, agindo como um intermediário entre a graça divina e o caráter grosseiro da carne e conferindo sobre a carne o poder de fazer o que está além de seu poder. Isso faz nascer um divino e incomparável estado estável de virtude, bem como uma disposição que não tem nenhuma ou pouca inclinação para o pecado. É aí então que o intelecto é iluminado pelo divino Logos que capacita-o a perceber claramente as essências interiores das coisas criadas e por conta de sua pureza revela a ele os mistérios da natureza. Dessa maneira, através de relacionamentos de correspondência, a inteligência percebedora encarregada é elevada à apreensão das realidades supernaturais – uma apreensão cujo Pai do Logos se comunica através de uma união imaterial. Disso surgem vários outros efeitos milagrosos, tais como insights visionários, visão de coisas futuras e a experiência de coisas que estão acontecendo a distância como se estivessem acontecendo diante dos olhos da pessoa. Mas o que é mais importante é que aqueles que são abençoados dessa maneira não aspiram atingir tais poderes. Ao invés disso, é como se a pessoa estivesse olhando para um raio da luz do sol e ao mesmo tempo percebesse as pequenas partículas no ar, embora essa não fosse sua intensão. Assim é com aqueles que comungam diretamente com os raios da luz divina, que por natureza revela todas as coisas de acordo com seu grau de pureza. Eles verdadeiramente atingem (se bem como algo acidental) um conhecimento do que é passado, do que é presente e até mesmo do que está por vir. Mas a preocupação principal deles é o retorno do intelecto para si mesmo e a concentração dele em si mesmo. Ou, preferencialmente, o objetivo deles é a reconvergência de todos os poderes da alma no intelecto (por mais estranho que possa parecer) e atingir o estado onde Deus e o intelecto trabalham juntos. Dessa maneira eles são restaurados ao seu estado original e assimilados a seu arquétipo, a graça renova neles sua inconcebível beleza original. A tal consumação, portanto, o pesar, traz aqueles que são humildes no coração e pobres no espírito.

Visto que por conta de nossa preguiça inata tal consumação está além de nós, vamos retornar a fundação disso e falar um pouco mais sobre o próprio pesar (aflição). Pesar também acompanha todo tipo de solicitação de necessidades mundanas não atendidas. Pois como pode uma pessoa precisando de dinheiro não sentir tristeza, ou alguém que sente fome contra sua vontade ou que sofre dor ou desonra? Tal pesar, de fato, não tem consolo, quanto mais consolo mais aguda a necessidade se torna, especialmente se quem está sofrendo não possui conhecimento verdadeiro. Pois se você não mantiver um controle inteligente sobre os prazeres sensuais e as dores, mas em vez disso, permitir-se ser dominado por eles através do mal uso de sua inteligência, você desvantajosa e erroneamente irá multiplicá-los, até mesmo causando injúria a si mesmo. Pois assim você dá evidência clara e auto-acusativa de que você não adere aos Evangelhos de Deus e aos profetas que O precederam e àqueles que vieram depois Dele e foram Seus discípulos e apóstolos. Pois todos esses ensinam que intermináveis riquezas vêm através da pobreza, que uma glória inefável vem através da simplicidade da vida, que deleite sem dor vem através do auto-controle, e que através do suportar pacientemente as provações e tentações que caem sobre nós, somos livrados das tribulações e aflições eternas armazenadas para aqueles que escolhem uma vida fácil e amena neste mundo ao invés de entrar pelo portão estreito (Mat. 7:14).

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Jalaluddin Rumi - FIHI MA FIHI (Discursos)

O longo canto suplicante da oração dos buscadores e viajantes conta uma história de vidas ocupadas em trabalho e devoção, com cada esforço atribuído a seu tempo especial. É como se um supervisor de hábitos conduzissem-nos à sua tarefa específica. Por exemplo, quando acordam de manhã, primeiro eles dão-se à contemplação e à adoração enquanto que a mente mantém-se calma e clara. Assim, cada um realiza o serviço que é adequado a si e que está no âmbito de sua nobre alma. Existem cem mil classes. Quanto mais pura a pessoa se torna, mais alto ela é elevada. Esta história de crescimento espiritual é uma história longa. Quem tentasse encurtá-la, estaria encurtando a sua própria vida e alma, exceto pela graça de Deus. No que diz respeito ao canto da oração daqueles que atingiram a união com Deus, devo falar dentro dos limites da compreensão, pois seu amor e a pureza de suas vozes atraem espíritos sagrados, anjos puros e aqueles visitantes que ninguém além de Deus conhece - os Silenciosos cujos nomes estão ocultos do mundo por ciúme demasiado.
Você está sentado ao lado deles agora, mas não os vê. Nem escuta suas falas, saudações ou risos. Ainda assim, o que é tão maravilhoso a esse respeito? Quando uma pessoa está doente, ela vê aparições que os outros não podem ver. No entanto, estes seres espirituais são mil vezes mais sutis do que essas aparições, pois enquanto a pessoa comum não consegue ver ou ouvir essas visões até que esteja doente, ela não verá esses seres espirituais, antes de morrer. Tais visitantes espirituais conhecem os estados refinados e a majestade dos santos. Eles vigiam desde manhã bem cedo, enquanto milhares de outros anjos e espíritos puros esperam pelos santos. Por esta razão, o Silencioso hesita infinitamente - não querendo intervir no meio de tal coro ou perturbar aqueles que desejam honrar. Os escravos estão presentes todas as manhãs na porta do palácio do rei. Cada um tem uma estação fixa, um serviço fixo e uma devoção fixa. Alguns servem de longe e o rei e não os vê nem os nota. Todos os escravos sabem qual dentre eles tem a honra da presença do rei. Quando o rei sai, os servos atendem àquele escravo de cada portão, pois não há maneira melhor de servir o rei. Ele assumiu as características do rei e se torna a audição e a visão do rei para todos os outros.

Esta é uma estação extremamente majestosa, inefável de fato. A majestade dela não pode ser compreendida ao soletrarmos M-a-j-e-s-t-a-d-e. Se até mesmo um pequeno vestígio dessa majestade penetrasse o mundo, a letra "M" seria impossível de ser escrita, o som "M" seria impronunciável, nem poderia alguma alusão ou símbolo permanecer. A cidade inteira seria devastada pelos exércitos da luz.

"Os reis, quando entram numa cidade, desordenam-na."

Um camelo entra numa casa e a casa é devastada, mas naquela ruína há milhares de tesouros.


Apenas nas ruínas um tesouro pode ser encontrado. Em uma cidade próspera um miserável ainda é um miserável.

Se eventualmente descrevi a estação dos buscadores, como posso explicar os estados daqueles que alcançaram? Eles não têm fim - apenas os buscadores têm um fim. O fim de todos os buscadores é a realização. Qual poderia ser o fim para aqueles que atingiram a união, uma união sem separação? Nenhuma uva madura volta a ser uma uva verde. Nenhum fruto maduro torna-se cru novamente.

Sim, é ilegal falar
Dessas coisas para homens e mulheres.
Mas uma vez que Seu nome é mencionado, oh Deus,
Estas palavras derramam-se para eles.
Por Deus, não vou torná-las longas. Vou torná-las curtas.
Minha vida é consumida, mas Você transforma
essa vida em vinho.
Você diz que tudo é dado, mas tome
Esta alma como Sua.

Quem corta e encurta essa história, é como se estivesse abandonando o caminho certo e tomando um caminho para a selva que destrói a vida, e lá diz: "Estas árvores parecem ser o caminho certo para casa."

Nisargadatta Maharaj - Ninguém jamais falha no Yoga

Pergunta: O que significa falhar no Yoga? Quem é um fracasso no Yoga (yoga bhrashta)?

Maharaj: É apenas uma questão de estar incompleto. Daquele que não pôde concluir seu Yoga por alguma razão é dito que falhou no Yoga. Esse fracasso é apenas temporário, pois não pode haver derrota no Yoga. Esta batalha é sempre vencida, pois é uma batalha entre o verdadeiro e o falso. O falso não tem chance.

P: Quem falha? A pessoa (vyakti) ou o Ser (vyakta)?

M: A questão está mal colocada. Não se trata de um fracasso, nem a curto prazo nem a longo prazo. É como viajar numa longa e árdua estrada em um país desconhecido. De todos os incontáveis passos apenas o último traz você para o seu destino. Ainda assim, você não irá considerar todos os passos anteriores como fracassos. Cada um lhe trouxe mais perto de sua meta, mesmo quando você teve de voltar para passar por um obstáculo. Na realidade, cada passo traz você para o seu objetivo, pois estar sempre em movimento, aprendendo, descobrindo, revelando, é o seu destino eterno. Viver é a única finalidade da vida. O Ser não se identifica com o sucesso ou o fracasso - a própria idéia de se tornar isto ou aquilo é impensável. O Ser entende que o sucesso e o fracasso são relativos e estão ligados, que são a própria teia e trama da vida. Aprenda com ambos e vá além. Se você ainda não aprendeu, repita.

P: O que devo aprender?

M: A viver sem auto-importância (egocentrismo). Para isso, você deve conhecer o seu verdadeiro Ser (swarupa) como indomável, destemido, sempre vitorioso. Uma vez que você sabe com certeza absoluta que nada pode lhe causar problemas, além da sua própria imaginação, você começa a ignorar seus desejos e medos, conceitos e idéias e passa a viver pela verdade apenas.

P: Qual pode ser a razão de algumas pessoas terem sucesso e outras falharem no Yoga? É o destino, caráter ou simplesmente acidental?

M: Ninguém jamais falha no Yoga. É tudo uma questão de grau de progresso. Ele é lento no início e rápido no final. Quando a pessoa está totalmente amadurecida, a realização é explosiva. Acontece espontaneamente ou ao menor sinal. A rápida não é melhor do que a lenta. O amadurecimento lento e florescimento rápido se alternam. Ambos são naturais e corretos. No entanto, tudo isto é assim apenas na mente. A meu ver, não existe realmente alguma coisa do tipo. No grande espelho da consciência imagens surgem e desaparecem e somente a memória lhes dá continuidade. E memória é material - destrutível, perecível, transitória. Em tais bases frágeis construímos um sentimento pessoal de existência - vago, intermitente, sonhador. Esta vaga persuasão: "eu sou tal e tal" obscurece o estado imutável de pura consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e para morrer.


P: Assim como uma criança não pode evitar de crescer, também um homem, compelido por sua natureza não pode evitar fazer progressos. Por que esforçar-se? Onde está a necessidade do Yoga?

M: Há progresso o tempo todo. Tudo contribui para o progresso. Mas este é o progresso da ignorância. Os círculos da ignorância podem estar cada vez se alargando mais, ainda assim permanecem igualmente sendo uma escravidão. No devido tempo, aparece um guru para nos ensinar e nos inspirar a praticar Yoga, e um amadurecimento ocorre, como resultado desse amadurecimento a imemorial noite da ignorância dissolve-se diante do sol nascente da sabedoria. Mas, na realidade, nada aconteceu. O sol está sempre ali, não há noite para ele; a mente cega pela idéia 'eu sou o corpo' vagueia infinitamente em sua trilha de ilusão.

P: Se tudo é uma parte de um processo natural, onde está a necessidade de esforço?

M: Mesmo o esforço é uma parte disso. Quando a ignorância se torna obstinada e dura e o caráter fica pervertido, o esforço e a dor se tornam inevitáveis nesse caso. Em total obediência à natureza, não existe esforço. A semente da vida espiritual cresce em silêncio e no escuro até sua hora designada.

P: Nós encontramos algumas grandes pessoas, que, na sua velhice, tornam-se infantis, mesquinhas, conflituosas e vingativas. Como podem deteriorar-se tanto?

M: Eles não eram perfeitos Yogis, não tendo colocado seus corpos sob completo controle. Ou, eles podem não ter tido cuidado de proteger seus corpos da deterioração natural. Não devemos tirar conclusões sem compreender todos os fatores. Acima de tudo, não devemos fazer julgamentos de inferioridade ou superioridade. Juventude é mais uma questão de vitalidade (Prana) do que de sabedoria (Jnana).

P: Podemos ficar velhos, mas por que deveríamos perder toda atenção e discriminação?

M: A consciência e inconsciência, enquanto no corpo, dependem do estado do cérebro. Mas o Ser está além de ambos, além do cérebro, além da mente. A falha do instrumento não é reflexo do seu utilizador.

P: Foi-me dito que um homem realizado jamais faz algo indecoroso. Ele vai sempre agir de uma maneira exemplar.

M: Quem define o que é exemplar? Por que é que um homem liberado, necessariamente segue as convenções? No momento em que ele se torna previsível, não pode ser livre. Sua liberdade reside em estar livre para cumprir a necessidade do momento, a observar a necessidade da situação. Liberdade para fazer o que se gosta é escravidão na verdade, enquanto que estar livre para fazer o que se deve, o que é certo, é verdadeira liberdade.

P: Ainda assim, deve haver alguma forma de discernir quem realizou-se de quem não. Se um é indistinguível do outro, de que utilidade ele é?

M: Aquele que conhece a si mesmo não tem dúvidas sobre isso. Nem se preocupa se outros reconhecem seu estado ou não. É raro o homem realizado divulgar sua realização, e afortunados são aqueles que o encontraram, porque ele faz isso para o bem-estar duradouro deles.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Meher Baba - A Formação e a Função dos Sanskaras

Existem dois aspectos da experiência humana - o subjetivo e o objetivo. De um lado existem processos mentais que constituem os ingredientes essenciais da experiência humana, e do outro existem as coisas e os objetos aos quais eles se referem. Os processos mentais são parcialmente dependentes da situação objetiva dada, e parcialmente dependentes do funcionamento dos Sanskaras acumulados, ou impressões de experiências passadas. A mente humana encontra-se então, entre um mar de Sanskaras passados de um lado, e de outro lado, todo o extensivo mundo objetivo. As ações humanas estão baseadas nas operações das impressões armazenadas na mente através de experiências passadas. Cada pensamento, emoção e ato estão retidos em grupos de impressões que, quando considerados objetivamente, são vistos como sendo modificações da mente. Essas impressões são depósitos de experiências passadas e tornam-se os fatores mais importantes em determinar o curso das experiências presentes e futuras. A mente está constantemente criando e agrupando tais impressões no curso de suas experiências.

Quando ocupada com os objetos físicos deste mundo (tais como o corpo, a natureza e outras coisas), a mente é, assim por dizer, exteriorizada e cria impressões grosseiras. Quando ela está ocupada com seus próprios processos mentais subjetivos, que são as expressões dos Sanskaras já existentes, cria impressões sutis e mentais. A questão: se os Sanskaras vêm primeiro ou as experiências vêm primeiro é como a questão do ovo ou a galinha vir primeiro. Ambos são condições um do outro e se desenvolvem lado a lado. O problema de entender o significado da experiência humana, portanto, gira em torno do problema de entender a formação e a função dos Sanskaras.

Os Sanskaras são de dois tipos - naturais e não-naturais, de acordo com a maneira na qual eles vêm à existência. Os Sanskaras que a alma reúne durante o período da evolução orgânica, são naturais. Esses Sanskaras vêm à existência enquanto a alma sucessivamente adquire e abandona as várias formas sub-humanas, passando assim, gradualmente, dos estados aparentemente inanimados (tais como pedra e metal) ao estado humano, onde há o desenvolvimento completo da consciência. Todos os Sanskaras que se incrustam ao redor da alma antes dela atingir a forma humana são o produto da evolução natural e são referidos como Sanskaras naturais. Eles devem ser cuidadosamente distinguidos dos Sanskaras cultivados pela alma depois de atingir a forma humana.

Os Sanskaras que são anexados à alma durante o estágio humano são cultivados sob a liberdade moral da consciência com a responsabilidade que a acompanha de escolher entre o bem e o mal, a virtude e o vício. Eles são referidos como Sanskaras não-naturais. Embora esses Sanskaras pós-humanos sejam diretamente dependentes dos naturais, eles são criados sob condições fundamentalmente diferentes da vida e são, na sua origem, comparativamente mais recentes que os Sanskaras naturais.

Essa diferença na duração dos períodos formadores e nas condições da formação é responsável pela diferença no grau de firmeza do apego dos Sanskaras naturais e não-naturais à alma. Os Sanskaras não-naturais não são tão difíceis de erradicar quanto os naturais, que têm uma antiga herança e estão, portanto, mais firmemente arraigados. A obliteração dos Sanskaras naturais é praticamente impossível a não ser que o aspirante seja o recipiente da graça e da intervenção de um Sadguru, ou Mestre Perfeito.

Os Sanskaras não-naturais são dependentes dos naturais, e os Sanskaras naturais são um resultado da evolução. A próxima questão importante é: Por que a vida manifestada em diferentes estágios da evolução emerge da Realidade absoluta, que é infinita? A necessidade pela vida manifestada surge do ímpeto do Absoluto de tornar-se consciente de si mesmo. A manifestação progressiva da vida através da evolução é finalmente trazida pela vontade-de-ser-consciente, que é inerente ao Infinito.

Para entender a criação em termos de pensamento, é necessário colocar essa vontade-de-ser-consciente no Absoluto num estado latente precedente ao ato da manifestação. Embora para o propósito de uma explanação intelectual da criação, o ímpeto no Absoluto tenha que ser tomado como uma vontade-de-ser-consciente, pois descrevê-lo como um tipo de desejo inerente é falsificar sua verdadeira natureza. É melhor descrito como um lahar, ou um impulso, que é tão inexplicável, espontâneo e imediato que chamá-lo de isto ou aquilo é desfazer a sua realidade. Como todas as categorias intelectuais necessariamente mostram-se inadequadas para captar o mistério da criação, a abordagem mais próxima do entendimento da sua natureza não é através de conceitos intelectuais, mas sim através de analogias.

Assim como uma onda seguindo através da superfície de um calmo oceano produz uma agitação turbulenta de inumeráveis bolhas, o lahar cria miríades de almas individuais (Atmas) da infinita indivisibilidade da Sobre-Alma (Paramatma). Mas o todo abundante Absoluto permanece sendo o substrato de todas as almas individuais. As almas individuais são as criações de um repentino e espontâneo impulso, e assim, não têm quase nenhuma antecipação de sua continuidade da existência destinada através do período cíclico até a cessação final da agitação inicial. Dentro do indiferenciado ser do Absoluto nasce o ponto misterioso (o ponto Om) através do qual surge a multiplicidade variada da criação. E a profunda imensidão, que uma fração de um segundo antes era uma congelada imobilidade, é posta em movimento com a vida dos inumeráveis seres frívolos que asseguram sua separação em tamanho e forma definidos, através da auto-limitação dentro da superfície espumante do oceano.

Todo isso é apenas uma analogia. Seria um erro imaginar que alguma mudança real aconteça no Absoluto quando o lahar da latente vontade-de-ser-consciente torna-se efetiva ao trazer para a existência o mundo da manifestação. Não pode haver nenhum ato de involução ou evolução dentro do ser do Absoluto; e nada real pode nascer do Absoluto, sendo que qualquer mudança real é necessariamente uma negação do Absoluto. A mudança implícita na criação do mundo manifesto não é uma mudança ontológica – isto é, não uma mudança no ser da Realidade absoluta. É só uma mudança aparente.

Em um sentido, o ato da manifestação deve ser considerado como um tipo de expansão do ilimitável Ser do Absoluto, sendo que através desse ato o Infinito, que é sem consciência, busca atingir sua própria consciência. Sendo que essa expansão da Realidade é efetuada através de sua auto-limitação em várias formas de vida, o ato da manifestação deve, com aptidão igual, ser chamado o processo de contração atemporal.
Se o ato da manifestação é visto como um tipo de expansão da Realidade ou como sua contração atemporal, ele é precedido por um urgir ou um movimento, que pode (em termos de pensamento) ser considerado como um desejo inerente e latente de se tornar consciente. A multiplicidade da criação e a separação das almas individuais existem apenas na imaginação. A própria existência da criação ou do mundo da manifestação é baseada em bhas, ou ilusão; então, a despeito da manifestação das inumeráveis almas individuais, a Sobre-alma (Paramatma) permanece a mesma sem sofrer nenhuma expansão real ou contração, gradação ou degradação. Embora a Sobre-alma não passe por nenhuma modificação devido às bhas, ou ilusões da individualização, sua aparente diferenciação em muitas almas individuais vem à existência.
As bhas mais originais, ou ilusões, para as quais a Sobre-alma foi atraída sincronizam-se com a primeira impressão. Isso marca, portanto, o início da formação dos Sanskaras . A formação dos Sanskaras começa no centro mais finito, que se torna o primeiro foco para a manifestação da individualidade da alma. Na esfera grosseira um foco dessa manifestação é representado pela pedra tridimensional e inerte, que tem a consciência mais rudimentar e parcial. Esse estado vago e não desenvolvido de consciência é suficiente no máximo para iluminar sua própria forma e figura, e é inadequado para atender o propósito da criação, que seria o permitir a Sobre-alma conhecer a si mesma.

Qualquer que seja a pequena capacidade para iluminação da consciência existente na fase de pedra (fase mineral) é definitivamente derivada da Sobre-alma e não do corpo da pedra. Mas a consciência fica inapta a alargar sua esfera de ação independentemente do corpo da pedra, porque a Sobre-Alma primeiro fica identificada com a consciência e depois através dela com a forma de pedra.
Desde que todo desenvolvimento conseguinte da consciência esteja aprisionado pelo corpo da pedra e sua debilidade, a evolução de formas superiores, ou veículos de manifestação, torna-se indispensável. O desenvolvimento da consciência tem de proceder lado a lado com a evolução do corpo ao qual ela está condicionada. Portanto, a vontade-de-ser-consciente, que é inerente na vastidão da Sobre-alma, busca por determinação divina uma evolução progressiva dos veículos de expressão.

Assim a Sobre-alma forja para si mesma um novo veículo de expressão na forma de metal, na qual a consciência torna-se um pouco mais intensificada. Mesmo nesse estágio ela é muito rudimentar, e então tem que ser transferida para formas ainda superiores de vegetação e árvores, nas quais há um apreciável avanço no desenvolvimento da consciência através da manutenção do processo vital de crescimento, deterioração e reprodução. A emergência de uma forma ainda mais desenvolvida de consciência torna-se possível quando a Sobre-alma busca manifestação através da instintiva vida dos insetos, pássaros e animais, que são totalmente cientes de seus corpos e respectivo meio ambiente, um sentido de auto-proteção e um objetivo de estabelecer domínio sobre o meio ambiente.

Nos animais superiores, o intelecto ou o raciocínio também aparece numa certa extensão, mas seu trabalho é estritamente limitado pela ação de seus instintos, como o instinto de auto-proteção e o instinto pelo cuidado e preservação dos jovens. Então mesmo nos animais, a consciência não tinha tido seu desenvolvimento total, resultando que ela não está apta para servir ao propósito inicial da Sobre-Alma de ter auto-iluminação. Finalmente a Sobre-Alma toma a forma humana, na qual a consciência atinge o desenvolvimento mais completo com completa ciência de si e do meio ambiente. Nesse estágio a capacidade de raciocinar tem um alcance de atividade maior e é ilimitada no seu raio de ação. Porém, enquanto a Sobre-Alma ficar identificada através da consciência com o corpo grosseiro, a consciência não servirá ao propósito de iluminar a natureza da Sobre-Alma. Entretanto, como a consciência tem seu desenvolvimento completo na forma humana, há nela uma potencialidade latente para a auto-realização. E a vontade-de-ser-consciente com a qual a evolução começou torna-se frutificada no Sadguru, ou Homem-Deus, que é a mais linda flor da humanidade.
A Sobre-Alma não pode atingir o Auto-conhecimento através da consciência ordinária da humanidade pois essa está envolta numa multidão de Sanskaras , ou impressões. Enquanto a consciência passa do estado aparentemente inanimado de pedra ou metal, para a vida vegetativa das árvores, seguindo então para o estado instintivo dos insetos, pássaros e animais, e finalmente para a consciência do estado humano, ela está continuamente criando novos Sanskaras e tornando-se envolta neles. Esses Sanskaras naturais são aumentados mesmo após atingirem o estado humano pelas criações seguintes de Sanskaras não-naturais através de múltiplas experiências e múltiplas atividades.

Assim, a aquisição dos Sanskaras está acontecendo incessantemente durante o processo de evolução bem como durante o período posterior, período das atividades humanas. Essa aquisição dos Sanskaras pode ser comparada ao enrolar-se um pedaço de corda em volta de um bastão – a corda representando os Sanskaras e o bastão representando a mente da alma individual. O enrolamento começa no início da criação e persiste através de todos os estágios evolucionários e na forma humana; e a corda enrolada representa todos os Sanskaras, naturais bem como não-naturais.

Os novos Sanskaras que estão sendo constantemente criados na vida humana são devidos aos múltiplos objetos e idéias com os quais a consciência se confronta. Esses Sanskaras trazem importantes transformações nos vários estados de consciência. As impressões criadas por lindos objetos têm a potência de evocar na consciência a inata capacidade para apreciar e desfrutar a beleza.
Quando uma pessoa escuta uma bela música ou vê uma linda paisagem, as impressões absorvidas desses objetos dão à pessoa um sentimento de exaltação. Da mesma maneira, quando se contata a personalidade de um pensador, podemos adquirir interesse em novas avenidas de pensamento e inspirarmo-nos por um entusiasmo que anteriormente era completamente estranho à consciência. Não apenas impressões dos objetos ou pessoas, mas também impressões de idéias e superstições têm grande eficácia em determinar as condições da consciência. O poder das impressões das superstições pode ser ilustrado através de uma história de fantasmas.
Dos diferentes reinos do pensamento humano talvez não haja nenhum tão abundante em superstições quanto aqueles conectados com fantasmas, que de acordo com a crença popular existem para importunar e torturar suas vítimas de maneiras curiosas.
Era uma vez, durante o governo Mogul na India, um homem altamente educado que era muito cético a respeito de histórias sobre fantasmas decidiu verificá-las por experiência pessoal. Ele tinha sido avisado para não visitar certo cemitério na noite de amavasya (a noite mais escura do mês); porque era dito que lá era a habitação de um fantasma terrível que infalivelmente fazia aparições quando quer que um prego de ferro fosse martelado no chão dentro dos limites do cemitério.
Com um martelo numa mão e um prego na outra, ele andou direto para o cemitério na noite de amavasya e escolheu um local sem grama para colocar o prego. O chão estava escuro, e a capa comprida que vestia era igualmente escura. Quando ele sentou no chão e tentou martelar o prego, a ponta da sua capa ficou entre o prego e o chão, e foi pregada. Ele terminou de martelar e sentiu que tinha tido sucesso com o experimento sem encontrar o fantasma. Mas quando ele tentou levantar para sair daquele lugar, sentiu um forte puxão na direção do chão; e ele teve um ataque de pânico. Devido à operação das impressões anteriores, ele não podia pensar em nada exceto no fantasma, pelo qual pensou ter sido pego por fim. O choque do pensamento foi tão grande que o pobre homem morreu de um ataque do coração. Essa história ilustra o tremendo poder que às vezes reside nas impressões criadas por superstição.

O poder e efeito das impressões dificilmente podem ser subestimados. Uma impressão está solidificada com força e sua inércia a torna imóvel e durável. Ela pode tornar-se tão gravada sobre a mente de uma pessoa que apesar de seu sincero desejo e esforço para erradicá-la, ela toma seu próprio tempo e tem uma maneira de colocar-se em ação direta ou indiretamente. A mente contém muitos Sanskaras heterogêneos, que quando buscam expressão na consciência, frequentemente colidem uns com os outros. A colisão dos Sanskaras é experimentada na consciência como um conflito mental. A experiência está limitada a ser caótica e enigmática, cheia de oscilações, confusão e complexos emaranhamentos, até que a consciência seja libertada de todos os Sanskaras , bons e ruins. A experiência pode tornar-se verdadeiramente harmoniosa e integral apenas quando a consciência for emancipada das impressões.

Os Sanskaras podem ser classificados de acordo com as diferenças essenciais na natureza das esferas a que eles se referem. Referindo-se a essas diferentes esferas de existência, eles vêm a ser de três tipos: (1) Sanskaras grosseiros, que permitem a alma experimentar o mundo grosseiro através do meio grosseiro compelindo-a a identificar-se com o corpo grosseiro. (2) Sanskaras sutis, que permitem a alma experimentar o mundo sutil através de um meio sutil compelindo-a a identificar-se com o corpo sutil. (3) Sanskaras mentais, que permitem a alma experimentar o mundo mental através de um meio mental compelindo-a a identificar-se com o corpo mental.

As diferenças entre os estados das almas individuais devem-se inteiramente às diferenças existentes nos tipos de Sanskaras com os quais sua consciência estiver carregada. Assim, almas com consciência grosseira experimentam apenas o mundo grosseiro; almas com consciência sutil experimentam apenas o mundo sutil; e almas com consciência mental experimentam apenas o mundo mental. A diversidade qualitativa na experiência desses três tipos de alma é devido à diferença na natureza de seus Sanskaras.
As almas conscientes de si mesmas são radicalmente diferentes de todas as outras almas porque elas experimentam a Sobre-Alma usando como meio o Ser; enquanto que as outras almas experimentam apenas seus corpos e os mundos correspondentes. Essa diferença radical entre a consciência das almas conscientes de si mesmas e as outras almas é devido ao fato de que enquanto a consciência da maioria das almas estiver condicionada por alguns tipos de Sanskaras, a consciência das almas conscientes de si mesmas estará completamente livre de todos os Sanskaras. É apenas quando a consciência não estiver obscurecida e não condicionada por nenhum Sanskaras que a vontade-de-ser-consciente inicial chegará à sua fruição final e real, e a unidade infinita e indivisível do Absoluto será conscientemente realizada. O problema do descondicionamento da mente através da remoção dos Sanskaras é, portanto, extremamente importante.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

G. I. Gurdjieff - Um livro muito interessante ...



França, 21 de outubro de 1943

Pergunta: Senhor, perguntei-lhe na última quinta-feira, se havia uma maneira de desenvolver atenção, você disse que a atenção era medida de acordo com o grau em que a pessoa lembra de si mesma. Você me disse para olhar especialmente em mim mesmo. Eu perguntei sobre isso porque eu não estava conseguindo colocar minha atenção na leitura dos “Relatos de Belzebu a seu neto”. Durante essa semana eu entendi que atenção era o que eu sou. De acordo com os 'eu's que ocorriam, haviam diferentes atenções. Eu gostaria de perguntar se para desenvolver atenção existe apenas o método do “eu sou” ou se há outros métodos especiais.

Gurdjieff: Uma coisa eu posso lhe falar. Métodos não existem. Eu não conheço nenhum. Mas posso explicar agora tudo de maneira simples. Por exemplo, no Belzebu, eu sei, há tudo o que uma pessoa deve saber. É um livro muito interessante. Todas as coisas estão lá. Tudo o que existe, tudo o que existiu, tudo o que pode existir. O começo, o fim, todos os segredos da criação do mundo, tudo está lá. Mas a pessoa deve entender, e entender depende da individualidade da pessoa. Quanto mais o homem for instruído de uma determinada maneira, mais ele poderá ver. Subjetivamente, todos estão aptos a entender de acordo com o estágio que ocupam, pois ele é um livro objetivo, e todos devem entender algo nele. Uma pessoa entende uma parte, outra entende mil vezes mais. Agora, encontre uma maneira de colocar sua atenção em entender tudo de Belzebu. Essa será sua tarefa, e é uma boa maneira de fixar atenção real. Se você puder colocar atenção real no Belzebu, você poderá ter uma atenção real na vida. Vocês não sabiam desse segredo. No Belzebu há tudo, eu disse isso - até mesmo como fazer uma omelete, dentre outras coisas, é explicado - e ao mesmo tempo não há uma palavra em Belzebu sobre culinária. Portanto, coloque sua atenção sobre Belzebu, outra atenção além dessa a que você está acostumado, e você ficará apto a ter a mesma atenção na vida.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Philokalia - Teófanes o recluso (1815–1894) - Esforço e Graça


A completa serenidade da mente é um presente de Deus, mas essa serenidade não é dada sem nossos próprios e intensos esforços. Você não irá alcançar nada por seus próprios esforços apenas, ainda assim, Deus não lhe dará nada a menos que você trabalhe com toda sua força. Essa é uma lei inquebrantável.

Possa o Senhor dar-lhe a bênção de um intenso desejo de ficar internamente diante de Deus. Busque e encontrará. Busque a Deus: tal é a regra inalterável para o avanço espiritual. Nada vem sem esforço. A ajuda de Deus está sempre pronta e sempre perto, mas é dada apenas àqueles que buscam e trabalham, e apenas àqueles buscadores que, após colocarem todas as suas forças à prova, então clamam com todo seu coração: Senhor, ajude-nos. Enquanto você se apegar mesmo que a uma pequena esperança de atingir algo por suas próprias forças, o Senhor não interferirá. É como se ele dissesse: “Você espera suceder por si mesmo – Muito bem, continue tentando! Mas não importa quanto tempo você tentar, não irá alcançar nada.” Possa o Senhor dar-lhe um espírito contrito, um coração humilde e contrito.

Busque e encontrará. Mas o que é para ser buscado? Uma comunhão viva e consciente com o Senhor. Isso é dado pela graça de Deus, mas também é essencial que nós mesmos tenhamos que trabalhar, que nós mesmos devamos vir de encontro a Ele. Como? Ao lembrar sempre de Deus, o Qual está perto do coração e mesmo presente dentro dele. Para ter sucesso nessa lembrança é aconselhável acostumar a si mesmo à continua repetição da prece de Jesus: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim”, mantendo na mente o pensamento da proximidade de Deus e Sua presença no coração. Mas também deve ser entendido que por si mesma a Oração de Jesus é apenas uma oração oral externa, a oração interna é ficar diante de Deus, continuamente clamando por Ele sem palavras.
Por esse meio, a lembrança de Deus será estabelecida na mente e o auxílio de Deus estará na sua alma como o sol. Se você coloca algo frio no sol, esse algo vai ficar cada vez mais quente, da mesma maneira sua alma será aquecida pela lembrança de Deus, que é o sol espiritual. O que segue-se disso irá providencialmente aparecer.
Sua primeira tarefa é adquirir o hábito de repetir a Oração de Jesus incessantemente. Portanto comece e continuamente repita e repita, mas o tempo todo mantenha diante de si o pensamento de Nosso Senhor. E nesse ponto reside tudo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Hazrat Inayat Khan - A vida silenciosa

A vida absoluta da qual surgiu tudo o que é sentido, visto e percebido, e dentro da qual tudo submerge novamente no devido tempo, é uma vida silenciosa, sem movimento e eterna que dentre os Sufis é chamada de Dhat. Todo movimento que surge originário dessa vida silenciosa é uma vibração e um criador de vibrações. Dentro de uma vibração são criadas muitas vibrações.
Como movimento causa movimento, dessa forma a vida silenciosa se torna ativa numa certa parte, e cria a cada momento mais e mais atividade, perdendo dessa forma a paz da vida silenciosa original. É o grau de atividade dessas vibrações que contam para os vários planos de existência. Esses planos são imaginados como diferentes uns dos outros, mas na realidade eles não podem ser inteiramente separados e soltos uns dos outros. A atividade das vibrações torna-os mais grosseiros, e assim a terra é nascida dos céus.
Os reinos mineral, vegetal, animal e humano são mudanças graduais de vibrações, e as vibrações de cada plano diferem umas das outras em seu peso, largura, comprimento, cor, efeito, som e ritmo.
O homem não é apenas formado de vibrações, mas ele vive e move-se nelas: elas o circundam assim como o peixe é circundado pela água, e ele as contém dentro de si assim como um tanque contém água. Seus diferentes humores, inclinações, afazeres, sucessos e falhas, e todas as condições da vida dependem de uma certa atividade de vibrações, sejam elas pensamentos, emoções ou sentimentos. É a direção da atividade das vibrações que conta para a variedade de coisas e seres. Essa atividade vibratória é a base da sensação e a fonte de todo prazer e dor; seu sessar é o oposto da sensação. Todas as sensações são causadas por um certo grau de atividade de vibração.
Existem dois aspectos de vibrações: finas e grosseiras, ambas contendo vários níveis. Algumas são percebidas pela alma, outras pela mente e outras ainda pelo olho. O que a alma percebe são as vibrações dos sentimentos, o que a mente concebe são as vibrações dos pensamentos, o que os olhos vêem são as vibrações solidificadas de seu estado etéreo e transformadas em átomos que aparecem no mundo físico, constituindo os elementos éter, ar, fogo, água e terra. As vibrações mais finas são imperceptíveis mesmo para a alma. A própria alma é formada dessas vibrações; é a atividade delas que a torna consciente.
A criação começa com a atividade da consciência, que pode ser chamada de vibração, e cada vibração começando da sua fonte original é a mesma, diferindo apenas em seu tom e ritmo causados por um grau de força maior ou menor por trás dela. No plano do som a vibração causa diversidade de tom, e no mundo dos átomos diversidade de cor. É ao se ajuntarem que as vibrações se tornam audíveis, mas a cada passo na direção da superfície elas se multiplicam e, conforme avançam, elas se materializam.
O som dá à consciência uma evidência de sua existência, embora seja de fato a própria parte ativa da consciência que se transforma em som. O conhecedor, por assim dizer, torna-se conhecido para si mesmo; em outras palavras a consciência presta testemunho à sua própria voz. E, portanto, o som atrai o homem. Todas as coisas sendo derivadas e formadas de vibrações têm um som escondido dentro delas assim como o fogo está escondido dentro da pedra de produzir faíscas. E cada átomo do universo confessa pelo seu tom: “Minha única origem é o som”. Se qualquer corpo sólido ou sonoro for golpeado ele irá responder de volta: “Eu sou som”.
O som tem seu nascimento, morte, sexo, forma, planeta, Deus, cor, infância, juventude e idade. Mas aquele volume de som que está no abstrato – além da esfera do concreto – é a origem e a base de todo o som.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Siddharameshwar Maharaj - A raiz do nascimento

Quando a pessoa é iluminada pelo ensinamento dado pelo Sadguru, todos os quatro corpos (o físico, o sutil, o causal, e o Turya ou o grande corpo causal) são dissolvidos. Então, tudo se torna falso. De fato já é falso. Apenas “Um Estado” chama tudo de falso. Após deixar de lado todas as coisas, a mente se torna absorvida no “Um”. Então a pessoa torna-se aquilo que era o objetivo a ser alcançado. Torna-se aquela morada final da “liberdade total” (Sayujya Mukti). A pessoa torna-se a proprietária daquela “liberdade total”. Aquilo que permanece após abandonar o que é visível, é Brahman. Na ignorância, o observador e o observado são duas coisas. Quando aquilo que é observado for dissolvido, o observador ficará sozinho (sem nenhum objeto de observação). Aquilo é Brahman. No sono profundo, o ignorante desfruta daquele estado sem objetos inconscientemente, quando ele deixa para trás o mundo visível. Não se pode viver sem desfrutar desse contentamento. Aquele que não tem um sono apropriado, certamente irá abandonar o corpo, que é o “descanso final” da morte. O estado de sono profundo é uma necessidade tanto dos pobres como dos ricos. A felicidade do sono profundo é comum a todas as criaturas. Um homem pode possuir um milhão de rúpias ou pode estar esperando por um milhão de rúpias de alguém, mas ambos serão iguais no sono profundo. O maior pecador e o Yogi são iguais no sono profundo.
“Aquilo” que está além do visível, é o Ser (Self). Se discernirmos apropriadamente, o universo não é como ele parece ser. A ignorância é o que é falso, e tratá-la como Verdade também é ignorância. Conhecer o falso como falso, reconhecer o que é irreal é Conhecimento. Conhecer a realidade é Conhecimento Verdadeiro, mas considerar o irreal como sendo real é Ignorância. Os sábios vêem o falso como falso e experimentam adequadamente. Uma montanha é apenas uma acumulação de terra, não uma montanha. Quando você olha a cidade de Mumbai, a terra que é a essência, a realidade, não é vista. Se você a vê como terra, então Mumbai como uma cidade desaparece da sua vista. A liberação é reconhecer o que é verdadeiro e o que é falso. Tratar o falso como verdadeiro é aprisionamento. Aquele que abandona este mundo, conhecendo-o como falso, não retornará. Aquele que está convencido de que o mundo é falso, não tem desejo de retornar. Entretanto, o desejo não vai abandonar aquele que pensa que o mundo é verdadeiro. O desejo daqueles que não necessitam mais do mundo, morre. Ninguém mais os compele a tomar nascimento. A pessoa toma nascimento, ou nasce, de acordo com seu próprio desejo. A pessoa faz hoje as preparações para o seu próximo nascimento. Para aquele que é ignorante há a esperança de que ao menos ele terá felicidade no próximo nascimento. A pessoa ignorante diz: “O que mais eu farei se não tomar nascimento”. Há muitos que fazem doações para a caridade por causa de sua crença de que outro nascimento seja inevitável. Aqueles que são inteligentes sabem que esta aparência do mundo é falsa, tornando-se sem desejos e livres.
Medite no ensinamento dado pelo Sadguru e seguro-o bem perto do seu coração. Não se esqueça que você é o “Ser Um”. Ouça o Guru e medite sobre suas palavras com extremo respeito. Aquele que não fizer isso certamente mata-se a si mesmo. Aquele que tem que viver neste mundo não deveria extinguir “a lâmpada do conhecimento”. Aquele que mantém-se com a grande afirmação “eu sou Brahman”, é quem está intitulado para a liberação. Posteriormente, esse conceito, a observação de rituais e a própria grande afirmação, todos desaparecerão. Então, não há nem o visível nem o invisível. O “Estado Natural” é alcançado. A meditação, e o manter qualquer objeto na mente, ambos acabam. A imaginação é dissolvida. Ela submerge no não-conceitual. Então aquele que era chamado de “Sr. Tal e tal”, é Brahman, e apenas a consciência permanece. Isso é chamado de “Brahman sutil”. Esse é o Estado Natural. O sonho acaba e junto com ele todas as pessoas no sonho também desaparecem. Só Ele permanece. O prolongado sonho se vai e Brahman permanece sozinho. Então, somente Brahman sutil, que é pura Consciência, permanece. O aprisionamento do mundo, bem como o pecado e o mérito são todos terminados. As aparências terminam e apenas o observador permanece. Aquele que não tem nascimento é liberado. A ilusão manteve-o preso no triste ciclo de nascimentos e mortes, mas agora tudo isso é dissolvido. O Sadguru como a “brilhante luz do sol da liberdade” o encontrou, e a ele foi dada sua “própria natureza original”. Ele está convencido sobre Brahman sem ir e vir para nenhum lugar.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ramesh S. Balsekar - O ego

O que é a escravidão? A escravidão é – “eu” sou uma pessoa separada, com livre arbítrio e responsável por minhas ações, e portanto, “eu” devo fazer boas coisas. O que é a escravidão? O ego é a escravidão. “Quem” fica feliz ou “quem” fica infeliz? O ego, o sentido de que se pode fazer. O corpo não pode ficar feliz ou triste. Portanto, aquele que fica feliz ou infeliz é o ego. E o que é a liberação? Liberação é a liberdade do senso alternado de alegria e tristeza. Liberação é a compreensão total e final no coração de que não há um fazedor, nem um experimentador.
Toda religião lhe pede para que se livre do ego, mas “aquele” para quem as religiões falam para se livrar do ego, é o ego. É falado para o ego se livrar do ego! Mas o ego não vai cometer suicídio. Portanto, a questão realmente é: Quem criou o ego? Que temos que nos livrar do ego, de acordo. Mas quem criou o ego? Você não criou o ego. De onde poderia o ego ter vindo? De onde ele poderia ter vindo exceto da Fonte! Se você chama essa Fonte de Consciência ou Energia Primordial, de Deus ou de Ciência (awareness) não faz diferença, contanto que você entenda que é a Fonte – Uma sem uma segunda.

Portanto, o ego também veio da Fonte. É por isso que eu chamo o ego de Hipnose Divina. A hipnose é: “eu” considero a mim mesmo um ser separado com um sentido de que posso fazer. Por que a Fonte criou o sentido de separação? Porque sem a separação as relações inter-humanas não aconteceriam. É apenas por causa dessa separação que nós temos amizade e inimizade, amor e ódio. Tudo isso acontece apenas porque cada indivíduo considera a si mesmo um ser separado. E sem as relações inter-humanas a vida como a conhecemos não aconteceria.
Lembre-se, a Fonte tendo criado o ego, ou a Hipnose Divina, está no processo de remover a hipnose em alguns poucos casos, não em todos os casos. Então o ego – o sentido de separação, a Hipnose Divina, o sentido de fazedor individual – basicamente foi destruído no caso de poucos organismos corpo-mente chamados de sábios.

O que permanece no caso do organismo corpo-mente chamado de sábio? A programação permanece. É por isso que você pode ter dez sábios, e em cada caso o sentido de fazer pessoal foi demolido, mas eles tem vidas diferentes. Por que? Porque a programação é diferente. Em outras palavras, embora o ego tenha sido destruído, a Fonte continua a usar aqueles organismos corpo-mente dos sábios da mesma maneira que a Fonte usa os outros organismos corpo-mente – introduzindo um estímulo e trazendo uma resposta. Portanto, os organismos corpo-mente dos sábios continuam a funcionar exatamente como antes mas sem o sentido de autoria das ações e sem o sentido de separação.
Se o organismo corpo-mente do sábio tem a programação de ter o pavio curto, então aquele sábio antes da liberação costumava ficar bravo muito rápido. E depois da iluminação o sábio continua a ficar bravo muito rápido. A programação é para a braveza surgir. A única diferença é que antes o sábio costumava dizer, “eu não deveria ficar bravo com meus amigos. Meus amigos não gostam disso. Me disseram para não ficar bravo pois assim minha pressão arterial iria subir, então tenho que controlar minha braveza”. Tudo isso era o envolvimento do ego, que costumava aparecer antes do ego ser destruído. O que acontece depois do ego ser destruído? Quando a braveza surge o sábio não diz, “eu estou bravo, eu não deveria ficar bravo.” Ele não diz isso. A braveza que surgiu e o efeito dela são meramente testemunhados, incluindo-se as consequências. Por outro lado, se algo está acontecendo e a compaixão surge, anteriormente o ego diria, “eu sou um homem compassivo e as pessoas deveriam me respeitar”. Mas depois que o ego é destruído não há tal pensamento. O sábio não pensa assim. Tudo o que ele vê é a compaixão surgindo e tomando o seu curso.
A compaixão do sábio pode tomar qualquer forma. Ao encontrar alguém machucado ele pode fazer um curativo nessa pessoa, ou ao ver alguém passando necessidade ele pode dar-lhe algum dinheiro. Então a compaixão surge e toma seu próprio curso, mas o sábio nunca está envolvido naquela ação como sendo uma ação sua. Essa é a única diferença de acordo com o meu conceito. O sentido de autoria das ações foi apagado para sempre. Ele apenas testemunha as coisas acontecendo não como as “minhas” ações ou as ações de alguma pessoa. Se a ação de algum outro organismo corpo-mente machuca o sábio, o machucado estará lá. Mas sabendo que ninguém faz coisa alguma, que a Consciência é tudo o que existe, o sábio não pode odiar ninguém. A quem ele irá odiar? Todas as ações são ações de Deus ou se você quiser colocar de uma maneira diferente, todas as ações são o funcionamento impessoal da Consciência. Então “quem” o sábio irá odiar? A Consciência? Deus?
Com o ego tendo sido destruído o sábio não fica orgulhoso, o sábio não se sente culpado, não odeia nem inveja ninguém. Portanto, a ausência de culpa, orgulho, raiva, inveja, torna a vida pacífica. E é para esse fim que a busca toda tem sido – a paz no estado desperto que existe no estado de sono profundo. Meu conceito de toda a busca espiritual é: ter aquela paz que prevalece durante o sono profundo mesmo durante o estado desperto, durante nossa vida diária de trabalho. E esse tipo de paz prevalece em nossa vida diária se isto acontecer: se não houver ego para sentir culpa, orgulho, raiva ou inveja.
Cada evento, cada pensamento, cada sentimento que diz respeito a qualquer “indivíduo” é um movimento na consciência, trazido pela Consciência (Brahman).
Cada coisa ou objeto no universo manifesto é um produto da Consciência, tanto durante a ilusão, quando a manifestação parecia ser “real”, como depois da realização da verdade. Não somos nada além da Consciência e nunca fomos nenhuma outra coisa. Talvez seria mais fácil de “entender” a Verdade se fosse concebido que nunca houve nenhum “nós” em momento algum, e tudo o que existe – e tudo o que sempre existiu – é a Consciência. “Nós” pensamos sobre nós mesmos, consciente ou inconscientemente, como seres sencientes e, portanto, como separados da manifestação: nós somos o sujeito e o resto da manifestação é o objeto. A realidade é que “nós” como fenômeno manifestado, somos na verdade nada além de uma parte do universo manifestado. O que nos faz pensar de nós mesmos como separados é o fato que o aparente universo torna-se conhecido a nós, como seres sencientes, através da senciência operando através das faculdades cognitivas. Essa “senciência”, como um aspecto da própria Consciência, é uma manifestação direta da “mente total”. E é por isso que não conseguimos nos livrar do profundo sentimento de que “eu” sou diferente da aparência manifesta. E assim de fato somos, mas a ilusão (Maya) consiste no fato de que em vez de considerarmo-nos coletivamente como a senciência que nos capacita reconhecer a manifestação (incluindo os seres sencientes) que apareceu na Consciência, consideramos a nós mesmos como entidades individuais separadas. E aí reside nosso sofrimento e prisão. Tão logo haja a realização (o despertar para o fato) que nós não somos entidades separadas, mas sim a própria Consciência (com a senciência atuando como um meio para reconhecer a manifestação), a ilusão de separação – a causa de nosso sofrimento e aprisionamento – desaparecerá. Há então uma percepção clara de que não manifestos, somos Númenos (a realidade em sua essência), e enquanto manifestos, somos aparência – não mais separados do que substância e forma (o ouro e os ornamentos de ouro). A manifestação surge do não-manifesto e no devido tempo submerge de volta no não-manifesto. Os seres humanos como indivíduos são realmente muito irrelevantes, exceto, é claro, como personagens ilusórios de uma peça num sonho que é conhecido como vida.