terça-feira, 11 de agosto de 2009

Hazrat Inayat Khan - O poder da palavra

Abandonei a minha música porque havia recebido dela tudo o que tinha que receber. Para servir a Deus a pessoa deve sacrificar a coisa mais querida para ela, e eu sacrifiquei minha música, a coisa mais querida para mim.
Eu compus músicas, cantei, e toquei Vina. Praticando essa música alcancei um estágio onde pude tocar a música das esferas. Então cada alma se tornou para mim uma nota musical e toda a vida se tornou música. Inspirado por isso eu falei com as pessoas e aqueles que eram atraídos pelas minhas palavras escutavam-nas ao invés de escutar minhas músicas.
Agora, se faço algo, é afinar almas em vez de instrumentos, harmonizar pessoas em vez de notas. Se há algo na minha filosofia, é a lei da harmonia: que a pessoa deve colocar-se em harmonia consigo mesma e com os outros.
Descobri em cada palavra um certo valor musical, uma melodia em cada pensamento, harmonia em cada sentimento e tenho tentado interpretar a mesma coisa com palavras simples e claras para aqueles que costumavam escutar minha música.
Toquei Vina até que meu coração transformou-se nesse mesmo instrumento. Então ofereci esse instrumento ao Músico divino, o único Músico existente. Desde então tornei-me Sua flauta, e quando Ele escolhe Ele toca Sua música. As pessoas me dão crédito por essa música que, na realidade, não deve-se a mim, mas ao Músico que toca Seu próprio instrumento.
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Existe um poder da palavra que está de acordo com a iluminação da alma, pois com isso, aquela palavra não vem da mente humana, aquela palavra vem das profundezas, vem de trás; aquela palavra vem de alguma parte misteriosa que está escondida da mente humana. E é em conexão com essas palavras que lemos nas escrituras sobre 'espadas de fogo' ou 'línguas de fogo'. Tenha sido dita por um poeta, tenha vindo de um profeta, quando aquela palavra saiu de seu coração flamejante, ela então surgiu como uma chama. Em conformidade com o Espirito divino que está nela, aquela palavra tem vida, poder e inspiração. Pense nas palavras vivas dos tempos antigos, pense nas palavras vivas que lemos nas escrituras, nas palavras vivas dos santos, dos iluminados! Elas vivem e viverão para sempre. São como uma música que pode ser chamada de mágica, uma mágica para todos os tempos. Quando quer que aquelas palavras forem repetidas elas têm aquela mágica, aquele poder.
O que os sábios de todos os tempos disseram – aquelas palavras foram guardadas pelas pessoas, por seus pupilos. Em qualquer parte do mundo que tenham nascido ou vivido, o que eles deixaram cair como palavras foi apanhado como pérolas reais e guardado como escrituras.

As palavras intuitivas têm surgido como expressões repentinas das almas que realizaram Deus, almas que se sintonizaram com todo o universo. Qualquer palavra ou frase que saia da boca delas é algo que tem um poder muito maior do que as palavras que todo mundo utiliza. Mas aparte de uma pessoa espiritual, você já não viu na sua vida diária que talvez haja uma pessoa entre os seus amigos, entre seus conhecidos, cuja palavra tem peso, tem poder, enquanto que outra pessoa diz milhares de palavras que entram por um ouvido e saem pelo outro? Numa pessoa sua boca fala, na outra pessoa seu coração fala, na outra sua alma fala. Existe uma grande diferença.
Alguém pode perguntar: 'Como uma pessoa espiritual pode intuitivamente trazer uma palavra que tenha poder?' A resposta é que existe a possibilidade de uma alma tornar-se tão sintonizada com todo o universo, que ela escuta, por assim dizer, a voz das esferas. Portanto, o que ela diz vem como um eco do universo todo. A pessoa que está sintonizada com o universo torna-se como um instrumento sem cordas; o que vem dela é a voz do universo.
O mundo para um místico é como um domo, um domo que faz ecoar tudo o que é falado nele. Aquilo que é falado pelos lábios atinge os ouvidos, mas aquilo que é falado pelo coração atinge o coração. A palavra alcança tão longe quanto a origem da qual ela surgiu, depende de que fonte ela veio, de que profundidade ela surgiu. Os Sufis de todas as eras têm portanto dado a maior importância para a palavra, sabendo que a palavra é a chave para o mistério de toda a vida, o mistério de todos os planos de existência. Não há nada que não seja efetuado, não há nada que não seja alcançado ou conhecido através do poder da palavra. Portanto, no esoterismo ou misticismo a palavra é o tema central e principal.
O que é a palavra? A palavra é apenas o que falamos? Não, essa é a palavra da superfície. Nosso pensamento é uma palavra, nosso sentimento é uma palavra, nossa voz, nossa atmosfera é uma palavra. Existe um ditado: 'O que você é fala mais alto do que aquilo que você diz'. Isso mostra que o homem não fala sempre, mas sua alma fala sempre.

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