sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Jalaluddin Rumi - 24 Poemas



Sou aquele tipo de carga 
Que não foi muito bem equilibrada. 

Desabo na grama, 
para pastar 
onde quer que eu caia. 

Por centenas de milhares de anos, tenho sido pó 
flutuando e voando à mercê do ar, 
frequentemente esquecendo um dia ter 
vivido nesse estado, 

mas quando durmo 
migro de volta pra ele. Desvencilho-me 
da cruz de quatro ramificações do tempo e do espaço, 

Saio desta sala de espera. 

Entro em um pasto enorme. 

Mamo o leite dos milênios. 

Todos fazem isso de maneiras diferentes, 
Sabendo que decisões conscientes 
e memória pessoal 
são lugares muito pequenos para morar, 
Cada ser humano é carregado à noite 
Para um adorável lugar nenhum, 
ou durante o dia, 
Absortos em algum trabalho. 

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Eu recebi um copo que tem dentro a fonte do sol, 

É um amigo em ambos os mundos, 
como a fragrância do âmbar dentro do cheiro do almíscar. 

Meu papagaio da alma fica animado com doçura. 

Batidas de asas, 

uma porta se abrindo ao sol. 

Você já viu o mercado onde se vendem cabeças cozidas: 
é dessa forma que é, 

uma maneira de ver além do interior e do exterior. 

Um burro vagueia pelo signo de Touro. 

Os heróis não ficam alinhados nas fileiras por muito tempo. 

Eu parti para Tabriz, 
embora meu barco esteja ancorado aqui. 


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Na sua luz, aprendo a amar. 

Na sua beleza, 
como fazer poemas. 

Você dança dentro do meu peito 
onde ninguém lhe vê, 
mas às vezes eu vejo, 
e essa visão se torna esta arte. 


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O som dos tambores eleva-se no ar, 
sua pulsação, meu coração. 

Uma voz dentro da batida diz: 

"Eu sei que você está cansado, 
mas venha, este é o caminho. ” 


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Você está com ciúmes da generosidade do oceano? 

Por que você se recusaria a dar esse amor a alguém? 

Os peixes não guardam o líquido sagrado em copos! 

Eles nadam na enorme liberdade fluida. 


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A experiência espiritual é uma mulher modesta 
que olha com amor para um homem. 
É um grande rio onde patos vivem felizes 
e os corvos se afogam. 

A tigela visível das formas 
contém alimentos que são nutritivos 
e também uma fonte de azia.
 
Há uma presença invisível que honramos 
e que dá os presentes.
 
Você é a água. 
Nós somos a pedra de moinho. 
Você é o vento. 
Nós somos poeira transformada em formas. 
Você é espírito. 
Nós somos o abrir e fechar de nossas mãos. 
Você é a claridade. 
Somos essa linguagem que tenta descrevê-la. 
Você é uma alegria. 
Somos todas as diferentes formas de risada. 

Qualquer movimento ou som é uma profissão da fé, 
como o moinho girando 
está explicando como ele acredita no rio! 

Nenhuma metáfora pode dizer isso, 
mas não consigo parar de apontar para a beleza. 
Cada momento e cada lugar dizem: 

“Coloque este desenho no seu tapete!” 


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Uma formiga se apressa ao longo de uma eira 
com seu grão de trigo, 
movendo-se entre enormes pilhas de trigo, 
sem saber da abundância em toda a sua volta. 

Ela pensa que seu grão solitário 
é tudo o que há para amar. 

Assim, escolhemos uma pequena semente 
à qual devemos nos dedicar. 

Este corpo, um caminho ou um professor. 

Olhe mais longe e mais amplamente. 
A essência de cada ser humano pode ver, 
e aquilo que esse olho-essência capta, 
o ser se torna. 

Saturno. 

Salomão! 

O oceano derrama-se num jarro, 
e você pode dizer que ele nada dentro 
do Peixe! 

Este mistério pacifica o seu anseio 
e cria o caminho de casa. 


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Afrodite cantando ghazals. 

Um céu com listras douradas. 

Um bambu que encontra água na pedra. 

Jesus sentado quietamente perto dos animais.
 
Uma noite tão tranquila. 


Isso é o suficiente, 
sempre foi verdade. 
Apenas não temos visto isso. 


A poupa já usa uma coroa tufada. 
Para cada formiga é dado 
seu cinto elegante no nascimento. 

Esse amor que sentimos 
se derrama através de nós 
como uma música devocional. 

A fonte do agora está aqui 


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Lembro-me dos filhos de Uzayr, 
que estavam procurando o pai. 

Eles envelheceram, 
e seu pai milagrosamente rejuvenesceu! 

Eles o encontram e perguntam: 
“Perdoe-nos, senhor, mas o senhor viu Uzayr? 
Nós ouvimos que ele deveria estar vindo por esta estrada hoje." 
“Sim,” diz Uzayr, 
"Ele está bem atrás de mim." 

Um de seus filhos responde: 
"Boas notícias". 
O outro cai no chão. 
Ele reconheceu seu pai. 

“O que você quer dizer com notícias? 
Já estamos diante da doçura de sua presença.” 

Para a mente existe tal coisa como notícias, 
ao passo que para o conhecimento interior, 
tudo está no meio de seu acontecimento. 
Para os que duvidam, isso é uma dor. 
Para os crentes, é o evangelho. 


Para o amante e o visionário, 
é a vida como está sendo vivida. 


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A alma: 
um amplo céu a escutar com milhares de velas. 


Quando qualquer coisa é vendida, 
a alma é dada no dinheiro: 
pessoas esperando na porta, 
uma escada apoiada em um telhado, 
alguém descendo. 
A praça do mercado 
iluminada com compreensão. 

O escutar abre sua boca maravilhada. 


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O canto dos pássaros, 
o vento, 
a face da água. 

Cada flor, 
lembrando o cheiro: 

eu sei que você está por perto. 


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Isto é agora. 
Agora é. 
Não adie até então. 

Ascenda o fogo.
Sente-se à cabeceira da mesa. 
Mergulhe sua colher na tigela. 

Sente-se ao lado de seu amor 
e faça sua alma desperta servir o vinho. 

Ramos ao vento da primavera, 
A dança fácil do jasmim e do cipreste. 

O tecido para mantos verdes foi cortado da pura ausência. 
Você é o alfaiate, 
acomodado entre os produtos da loja, 
costurando discretamente. 


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Você ouviu que o inverno acabou? 

O manjericão e os cravos 
não podem conter suas risadas. 

O rouxinol, de volta de sua peregrinação, 
foi feito mestre do canto sobre todos os pássaros. 
As árvores estendem seus galhos parabenizando. 

A alma 
Passa dançando pela porta do rei. 

As anêmonas ficam coradas porque viram a rosa nua. 

A Primavera, 
a única Juíza justa, 
entra no tribunal 
e vários ladrões de dezembro roubam. 

Os milagres do ano passado logo serão esquecidos. 
Novas criaturas espiralam 
da não-existência, 
galáxias espalhadas ao redor de seus pés. 
Você as conheceu? 


Você ouve o menino Jesus cantando no berço? 

Uma única flor de narciso 
foi nomeada inspetora dos Reinos. 

Um banquete é estabelecido. 

Ouça. 

O vento está servindo o vinho! 
O amor costumava se esconder dentro de imagens. 
Não mais! 

O pomar pendura suas lanternas. 

Os mortos vêm tropeçando em mortalhas. 

Nada pode ficar atado ou emprisionado. 

Você diz: “Termine este poema aqui e 
espere o que vem a seguir. ” 

Eu vou. 
Poemas são comentários grosseiros 
para a música que somos. 


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Os filósofos têm dito que amamos música 
porque ela se assemelha aos sons das esferas da união. 

Já fizemos parte de uma harmonia antes, 
então esses momentos de agudos e graves 
mantêm nossas lembranças frescas. 

Mas como isso pode acontecer 
dentro desses corpos densos 
cheio de esquecimento, dúvida e pesar? 

É como a água passando por nós. 
Torna-se ácida e amarga, 
mas na forma de urina retém qualidades aquosas. 

Pode apagar um fogo! 

Portanto, há essa música fluindo por nossos corpos 
que pode dosar a inquietação. 

Ouvindo o som, ganhamos força. 
O amor acende com a melodia. 
A Música alimenta a compostura do amante 
e dá forma à imaginação. 

A Música respira no fogo pessoal 
e torna-o mais aguçado. 

O poço é fundo. 
Um homem com sede sobe em uma nogueira 
que cresce ao lado de um lago 
e joga as nozes uma a uma no lindo lugar. 
Ele ouve atentamente o som 
enquanto elas batem na água 
e observa as bolhas. 

Um homem mais racional dá o conselho: 
"Você vai se arrepender de fazer isso. 
Você está tão longe da água que, 
no momento em que descer para colher as nozes, 
a água as terá levado." 

Ele responde: 
"Não estou aqui para comer nozes, 
quero a música elas fazem quando acertam a água. ” 


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Neste momento, 
esse amor vem descansar em mim, 
muitos seres em um ser. 

Em um grão de trigo, 
milhares de feixes. 
Dentro do buraco da agulha, 
uma noite giratória de estrelas. 

A conta transparente no centro muda tudo. 

Não há limites para o meu amor agora. 


Você já ouviu falar que há uma janela 
que se abre de uma mente para outra, 

mas se não houver muro, 
não há necessidade de encaixar a janela 
ou o trinco. 


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Dentro deste novo amor, 
morra. 

Seu caminho começa do outro lado. 

Torne-se o céu. 

Leve um machado para a parede da prisão. 

Escape. 

Vá embora, 
como alguém que repentinamente 
tornou-se colorido. 

Faça isso agora. 

Você está coberto por uma nuvem espessa. 

Deslize para fora. 

Morra, 
e fique quieto. 
A quietude é o sinal mais seguro de que você morreu. 

Sua antiga vida era uma fuga frenética do silêncio. 

A lua cheia silenciosa surge agora. 



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Fiquem juntos, amigos. 
Não se espalhem e durmam. 

Nossa amizade é feita de estarmos acordados. 

A roda d'água aceita a água e gira 
e se doa, chorando. 

Dessa forma fica no jardim, 
enquanto outra roda 
rola por um leito seco de rio 
procurando o que pensa que deseja. 

Fique aqui, 
palpitando a cada momento 
como uma gota de mercúrio. 


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Depois de dias de banquete, 
jejue. 

Depois de dias dormindo, 
fique acordado uma noite. 

Após esses tempos de contação de histórias amargas, 
piadas e considerações sérias, 
devemos nos dar dois dias entre as camadas de baklava 
na reclusão quieta 
onde a alma adoça e prospera mais do que com a linguagem. 


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Um certo Sufi rasgou suas vestes de tristeza, 

e o rasgo trouxe tanto alívio 
que ele deu ao manto o nome de faraji, 
que significa rasgado, 
ou felicidade ou aquele que traz alegria 
de ser aberto. 
Vem do radical faraj, 
que também se refere aos órgãos genitais, 
masculino e feminino. 

Seu professor entendeu a pureza daquela ação, 
enquanto os outros apenas notaram 
a aparência esfarrapada. 

Se você quer paz e pureza, 
arranque as coberturas!
 
Este é o propósito da emoção, 
permitir que uma beleza radiante 
flua através de você. 

Chame-a de espírito, elixir 
ou de acordo original entre você e Deus. 

A abertura para isso dá paz, 
uma canção sobre estar vazio, 
puro silêncio. 

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A generosidade do solo 
absorve nossa compostagem 
e cultiva a beleza. 

Tente ser mais parecido com o solo. 
Retribua melhor, 
como a terra dura devolve uma espiga de milho, 
uma flor, uma cevada, 
este belo punhado de aveia. 

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Não dê ouvidos a nada do que eu digo. 

Devo entrar no centro do fogo. 

O fogo é meu filho, 
mas devo ser consumido 
e tornar-me fogo. 

Por que há crepitação e fumaça? 
Porque a lenha e as chamas 
ainda falam uma da outra. 

“Você é muito densa. Vá embora!" 

“Você está vacilando demais. 
Eu tenho uma forma sólida. ” 

Na escuridão, 
esses amigos continuam discutindo. 
Como um andarilho sem rosto. 
Como o pássaro mais poderoso que existe, 
sentado em seu poleiro, 
recusando-se a se mover. 

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Você destruiu minha loja, 
 minha casa 
e agora meu coração, 
mas como posso fugir daquilo que me dá vida? 

Estou cansado de preocupações pessoais, 
apaixonado pela arte da loucura! 
Rasgue minha vergonha 
e mostre o mistério. 

Quanto tempo mais terei que me preocupar 
com a autocontenção e o medo? 

Amigos, é assim: 
somos franjas costuradas dentro do forro de um manto. 
Em breve seremos afrouxados, 
os fios da costura serão arrancados. 

O amado é um leão. 
Somos um cervo de patas mancas.

 Considere quais escolhas nós temos. 


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O amor vem com uma faca, 
não com alguma pergunta tímida, 
e não temendo por sua reputação! 

Eu digo essas coisas desinteressadamente. 
Aceite-as da mesma maneira. 

O amor é um louco, 
trabalhando em seus esquemas selvagens, 
arrancando suas roupas, 
correndo pelas montanhas, 
bebendo veneno 
e agora escolhendo silenciosamente a aniquilação. 

Uma pequena aranha 
tenta embrulhar uma enorme vespa. 

Pense na teia de aranha tecida 
na caverna onde Maomé dormiu! 

Existem histórias de amor 
e existe uma destruição no amor. 

Você tem caminhado à beira do oceano, 
segurando suas vestes para mantê-las secas. 

Você deve mergulhar nu e no fundo,
 muito mais fundo, 
mil vezes mais fundo! 

O amor flui para baixo. 

O solo se submete ao céu e sofre o que vier. 

Diga-me, 
a terra é pior por ceder assim? 

Não coloque cobertores sobre o tambor! 
Abra completamente. 
Deixe que seu ouvido do espírito 
ouça o murmúrio apaixonado da cúpula verde. 

Que as cordas do seu manto sejam desamarradas. 

Estremeça neste novo amor 
além de tudo 
acima e abaixo. 

O sol nasce, 
mas para onde vai a noite? 

Eu não tenho mais palavras. 

Deixe a alma falar 
com a articulação silenciosa de um rosto. 




8 comentários:

editor disse...

delícias transcendentais. Obrigado.

Ander disse...

Maravilhas que na forma de palavras retratam na tela mental o esboço de um sentir.

Google disse...

Um ano sem publicar nada...o que houve?

Ricardo Melito disse...

Vou publicar em breve! Desculpem essa ausência…

Ricardo Melito disse...

Vou publicar em breve! Desculpem essa ausência…

Ricardo Melito disse...

Vou publicar em breve! Desculpem essa ausência…

Unknown disse...

Amei seu trabalho.

Anônimo disse...

Excelente,agradeço essa sua generosidade por se dedicar a traduzir e nos dar acesso a esses textos tao pouco conhecidos por aqui.Muito bom.