domingo, 22 de setembro de 2013

Hazrat Inayat Khan - O Impulso Divino


Meu tema esta noite é o impulso divino. A primeira pergunta a ser considerada no que se refere a esse assunto é: De onde é que todo impulso vem? Cada movimento, cada vibração, cada onda tem uma única fonte. Vemos uma referência na Bíblia sobre esse assunto, quando é dito: "E o Verbo era Deus" (João 1:1). O verbo significa vibração e vibração significa movimento. Entre os hindús no Vedanta, Nada Brahma significa Deus o som. A vibração foi o aspecto primeiro ou original de Brahma, o Criador.
No Alcorão Ele disse Seja, e tudo se tornou. Cada impulso, cada ação em qualquer plano de existência tem sua origem em uma única fonte. Vou citar outra Sura do Alcorão onde é dito: "Deus é todo poder. Não há nenhum outro poder além de Deus." Todas as coisas que são feitas são feitas com o Seu poder. E agora vem a pergunta: Se todas as escrituras dizem isso, onde é que Satanás entra? Qual é o significado por trás do poder de Satanás? Outro poder é sugerido além do poder de Deus e às vezes o poder atribuido a Satanás parece mais forte do que o poder atribuido a Deus. Esse é um enigma para muitos que se perguntam: Onde é que a ação de Satanás entra?
A explicação encontra-se no entendimento da metafísica e das leis da natureza. Existe uma lei chamada de lei natural e tudo o que vem dirigido pela lei da natureza é harmonioso. Os jardins que o homem pode fazer parecem por um momento melhorar as florestas, mas no final ao examinarmos o jardim com suas estruturas artificiais ele prova ser limitado em beleza e harmonia. A inspiração que obtemos nas florestas, nos desertos, etc, é muito maior do que num jardim feito pelo homem, pois aqui o homem tornou a inspiração limitada, pois a vida que ele irradia é limitada.
 O homem faz uma lei e descobre que não pode obedecê-la, então ele faz uma outra lei e nunca fica satisfeito, pois ele não leva em conta a lei da natureza, da paz e da harmonia. Os homens dizem que a natureza é cruel, sim, mas o homem é muito mais cruel do que os animais. Os animais nunca destruiram tantas vidas quanto os homens têm feito. A natureza com toda a sua crueldade aparente não pode comparar-se com a crueldade, a ignorância e a injustiça do homem.
Jesus Cristo disse: "Seja feita a Vossa vontade" (Mat. 6:10). Há muito para aprendermos nesse dizer. O homem cria um outro mundo no qual vive, diferente do plano de Deus, das leis da natureza e dessa forma não é feita a vontade de Deus. A oração ensina ao homem que ele deve descobrir qual é a vontade de Deus. Não é necessário para os animais e as aves descobrirem a vontade de Deus, pois eles são dirigidos pelo impulso da natureza, eles estão mais perto da natureza do que o homem. A vida do homem é tão distante da vida da natureza e desse modo cada movimento é difícil. Nós não vemos isso agora. Com todo o nosso conhecimento tornarnos a vida cada vez mais complicada e assim o conflito torna-se cada vez maior. Para cada pessoa, jovem ou velha, rica ou pobre, a vida é uma luta difícil, pois nós nos afastamos cada vez mais do impulso que vem direto da fonte da qual todo impulso vem.
Do ponto de vista metafísico, existem diferentes ritmos que descrevem a condição do homem, falados no Vedanta como Sattva, Rajas e Tamas. Sattva refere-se a um ritmo harmonioso, Rajas é um ritmo que não está em perfeita harmonia com a natureza e Tamas é um ritmo que é caótico e destrutivo por natureza, e cada impulso que vem ao homem enquanto nesse ritmo caótico é seguido por resultados destrutivos. Qualquer impulso que vem quando a pessoa está no impulso proveniente de Rajas é realizado, mas o impulso que vem quando ele está no ritmo de sattva é inspirado e está em harmonia com o ritmo do universo.
A vida ativa do homem dá pouco tempo para a concentração e para colocar a mente e o corpo numa condição em que ele possa experimentar o ritmo que dá inspiração e que vá de encontro com a vontade de Deus. Essa experiência vem em resposta à oração de Cristo: "Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no Céu." Ao produzir essa condição da mente e do corpo, a pessoa sintoniza-se com a um certo tom que é harmonioso e celestial e no qual a vontade divina é feita facilmente, como é feita no céu. É nesse ritmo apenas que a vontade de Deus pode ser feita.
Não foi nenhum preconceito contra o mundo que fez os grandes sábios abandonarem o mundo e irem para as florestas e cavernas. Eles foram a fim de sintonizarem-se com esse ritmo no qual eles pudessem experimentar o céu. O céu não é um país ou um continente, é um estado, uma condição dentro de nós mesmos, somente experimentada quando o ritmo está em perfeita ordem de operação. Se sabemos disso, percebemos que a felicidade é uma propriedade do próprio homem. O homem é o seu próprio inimigo, ele busca a felicidade na direção errada e nunca encontra. É uma ilusão contínua. O homem pensa: Se eu tivesse isso ou aquilo eu seria feliz para sempre e ele nunca chega a isso, porque persegue uma ilusão em vez da verdade. A felicidade só pode ser encontrada dentro, e quando o homem sintoniza-se ele encontra tudo o que sua alma anseia dentro de si mesmo.
A natureza de cada impulso é tal que ele passa por três fases e após o processo de três fases ele se realiza como um resultado. Seja ele certo ou errado, traga benefícios ou desvantagens, assim que o impulso surge de dentro ele passa por três fases. Não há impulso que no seu início seja errado ou sem propósito ou desarmonioso, pois na soma total de todas as coisas, todos os impulsos tem a sua finalidade. É nossa visão limitada que julga. A justiça por trás é tão grande que no resultado final tudo se encaixa em seu devido lugar. Mas no processo através do qual o impulso passa, ele torna-se certo ou errado, não no início ou no fim, pois o início tem um propósito e o fim responde à demanda.
Essa é uma questão da metafísica e é preciso estudá-la a partir de diferentes pontos de vista ou a pessoa ficará muito confusa. O homem com seu conhecimento limitado está pronto para condenar ou admirar e milhares de vezes ele falha em julgar corretamente. Todas as grandes almas que tiveram a Realização perceberam isso. Cristo disse: "Não julgueis, e não sereis julgados" (Mat. 7:1). Então a tolerância vem e quando percebemos o que está por trás do impulso, dizemos muito pouco.
O primeiro processo por meio do qual o impulso surge está na região do sentimento, e, nessa região, o impulso é reforçado ou destruído. O sentimento pode ser amor, ódio, bondade, justiça, etc, mas qualquer que seja o sentimento, quando o impulso surge, ele pode ganhar força para seguir em frente ou ele é destruído. Por exemplo, uma pessoa pode ter um grande sentimento de bondade, então em algum momento o impulso de vingança pode aparecer, mas ele é destruído. Outra pessoa tem um grande sentimento de amargura predominante, mas se o impulso de perdoar surgir, ele será destruído antes de sequer tocar a razão.
Ou a pessoa tem um grande sentimento de amargura e o impulso de fazer um serviço de bondade vem, ele será destruído antes de atingir o reino do pensamento, ou se o impulso eleva-se até atingir a região do pensamento, a pessoa pensa: Por que eu deveria ajudar, por que eu deveria servir? Será que ele merece, ele vai se beneficiar com isso, isso é certo? Todos estes problemas são resolvidos nessa região.
Em seguida, vem o terceiro, o reino da ação. Se a mente consume o impulso, ele não vai mais longe, mas se a mente permite que ele prossiga, ele vem para a região de ação e é realizado como um resultado.
E agora a pergunta é: como sábios e pensadores distinguiram o impulso divino entre os diferentes impulsos que surgem no coração do homem. Primeiro temos que entender o que significa a palavra divino. Divino em um estado de perfeição. Esse estado é experimentado por Deus através do homem, em outras palavras, quando o homem elevou-se para o estágio de desenvolvimento onde ele pode ser o instrumento perfeito de Deus, quando nada de seu próprio ser fica no caminho contra o impulso direto que vem de dentro, aquele espírito pode ser chamado de perfeito. A coisa mais preciosa, que é o propósito da vida do homem, é chegar a esse estado de perfeição no qual ele pode ser o instrumento perfeito de Deus. Uma vez que um homem tenha alcançado esse estágio, ele primeiro começa a dar-se conta disso em alguns momentos, então, conforme ele se desenvolve, por tempos maiores; e aqueles que se desenvolvem ainda mais, passam a maior parte de seu tempo nessa realização, em seguida, o sentimento e o pensamento já não atrapalham mais o impulso divino, pois eles surgem livremente e resultam em um propósito divino.
A mensagem dos profetas e mestres de todos os tempos tem sido ensinar ao homem como fazer as pazes com Deus. O cumprimento do propósito da vida está em harmonizar-se com Deus e isso é feito ao distinguir o impulso divino.
A pergunta: Como se pode distinguir o impulso divino, é respondida que é assim como na música pode-se distinguir uma nota verdadeira de uma falsa, o acorde harmonioso do acorde discordante. É apenas uma questão de treinamento auditivo. Quando o ouvido é treinado pode-se descobrir a menor discordância, quanto maior o músico, mais capaz ele é de descobrir a harmonia e a discórdia, a nota verdadeira e a nota falsa.
Muitos pensam que o que chamamos de certo ou errado, bom ou ruim, é algo que aprendemos ou adquirimos. Isso é verdade quando trata-se de um certo e errado criado pelo homem, mas do certo ou errado da natureza toda criança pequena tem um sentido. A criança sente uma vibração errada de imediato. A criança sente se os seus arredores são harmoniosos ou desarmoniosos. Mas o homem confunde-se de modo que ele não pode mais distinguir com clareza. Para o homem aprender a saber por si mesmo é um grande avanço no caminho espiritual. Quando o homem tem clareza quanto ao sentimento que ele recebe de cada impulso, ele avançou muito. Há alguns que dizem após o resultado: “eu sinto muit.”. Mas aí é tarde demais. Não houve um verdadeiro treinamento do ouvido.
O impulso divino é um impulso cheio de amor, ele traz felicidade, é criador de paz. A dificuldade é que o homem não observa o início do impulso, apenas observa o resultado. Ele é como alguém intoxicado e com o tempo, assim como acontece com um homem embriagado, ele fica confuso e deprimido, há luta e contenda, mas o homem não nasceu para isso. Ele nasceu para a felicidade. A paz, o amor, a bondade e a harmonia são partes do seu próprio ser; e quando uma pessoa está infeliz isso significa que ela se perdeu, ela não sabe onde ela está.
Os homens estão procurando por fenômenos, querem milagres, comunicação com fantasmas ou espíritos. Procuram por algo complexo e ainda a coisa mais simples e mais valiosa na vida é encontrar o nosso verdadeiro Ser.  

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Eu acredito que todos os homens são irmãos. No outro dia eu estava em um dos restaurantes em moema, e eu disse a um amigo meu esta filosofia. Ele concordou.