quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Philokalia - São Maximos, o Confessor - Da ilusão para a Verdade

Deus, que criou toda a natureza com sabedoria e que plantou secretamente em cada ser inteligente o conhecimento de Si mesmo como seu primeiro poder, como um generoso Senhor deu a nós homens um desejo natural e um anseio por Ele, combinando-o de uma maneira natural com o poder de nossa inteligência. Usando nossa inteligência, lutamos para aprender com tranquilidade e sem nos desviarmos, a como atender esse desejo natural. Impelidos por isso somos levados a buscar a verdade, a sabedoria e a ordem manifestas harmoniosamente em toda a criação, aspirando atingir através delas Aquele de quem recebemos (através da graça) esse desejo.
O mundo é um lugar finito e possui uma estabilidade limitada. O tempo é um movimento circunscrito. E segue-se que o movimento das coisas vivas dentro do tempo está sujeito a mudanças. Quando a natureza vai além do tempo e do espaço de maneira interna e ativa - ou seja, quando ela vai além daquelas coisas que sempre acompanham os seres criados, como, por exemplo, um estado de estabilidade limitada e de movimento limitado – ela se une diretamente à Providência e encontra na Providência um princípio que por natureza é simples, estável, sem limitações e, portanto, completamente sem movimento.
Uma vez que a natureza existe no mundo de um modo temporal, seu movimento está sujeito à mudança por causa da estabilidade limitada do mundo e de seu compromisso com a alteração e a corrupção através da passagem do tempo. Quando a natureza vem a existir em Deus através de sua unidade essencial com Aquele no qual ela foi criada, ela passa a possuir uma estabilidade provida sempre de mobilidade e de uma forma de movimento estável e imutável gerado eternamente ao redor daquilo que é um, único e sempre o mesmo.
Nosso Senhor é verdadeiramente uma luz para os gentis (ref. Isa. 49-6) – através do verdadeiro conhecimento Ele abre os olhos de suas mentes, fechados por terem estado na escuridão da ignorância. Ademais, através de Sua conduta divina Ele tornou-se um nobre exemplo de virtude aos fiéis, tornando-se um modelo e padrão. Olhando para Ele como o autor de nossa salvação, nós atingimos as virtudes ao O imitarmos em nossa conduta, na medida em que for possível para nós.
Nosso intelecto possui o poder de apreensão através do qual ele percebe as realidades inteligíveis; ele também possui a capacidade para a união que transcende sua natureza e que o une com aquilo que está além de seu escopo natural. É através dessa união que as realidades divinas são apreendidas, não por meio de nossas capacidades naturais, mas em virtude do fato de que transcendemos completamente a nós mesmos e pertencemos inteiramente a Deus. É melhor pertencer a Deus do que a nós mesmos, pois é sobre aqueles que pertencem a Deus que os dons divinos são outorgados.
Assim como a ignorância divide aqueles que estão iludidos, a presença da luz espiritual une e aproxima aqueles a quem ela ilumina. Ela torna-os perfeitos e trazem-nos de volta para aquilo que realmente existe; converte-os de uma multiplicidade de opiniões unindo seus pontos de vista variados, ou melhor, suas fantasias, em um conhecimento espiritual puro, simples e verdadeiro preenchendo-os com uma luz unificadora.
O conhecimento espiritual une o conhecedor com o conhecido, enquanto a ignorância é sempre uma causa de mudança e auto divisão no ignorante. Portanto, nada, de acordo com as escrituras, mudará aquele que crê a partir do alicerce de sua fé verdadeira, onde reside a permanência de sua identidade imutável e inalterável. Pois aquele que foi unido com a verdade tem a segurança de que tudo está bem consigo, mesmo que a maioria das pessoas repreendem-no por estar fora de si. Pois sem que notem ele moveu-se da ilusão para a verdade da fé real e ele sabe com certeza que não corre nenhum risco, tal como dizem as pessoas, mas que através da verdade – simples e imutavelmente a mesma – ele foi libertado das agitações flutuantes e volúveis das múltiplas formas da ilusão.
A função da filosofia prática é purificar o intelecto de todas as fantasias veementes. A função da contemplação natural é a de iniciar o intelecto no conhecimento verdadeiro que é encontrado nas coisas criadas de acordo com o qual elas possuem existência. A função da teologia mística  é de através da graça tornar o intelecto semelhante a Deus e igual a Ele, na medida do possível, de modo que ele fique totalmente alheio a qualquer coisa além de Deus devido a seu estado transcendente.

Um comentário:

jeferson disse...

http://www.abandono.com/oracion_contemplativa.htm

Neste site, alguns bons arquivos sobre oraçao.

Encontrei nele 'A Nuvem do Não-Saber', por exemplo.