Deus, que criou toda a natureza com sabedoria e que plantou
secretamente em cada ser inteligente o conhecimento de Si mesmo como seu
primeiro poder, como um generoso Senhor deu a nós homens um desejo natural e um
anseio por Ele, combinando-o de uma maneira natural com o poder de nossa
inteligência. Usando nossa inteligência, lutamos para aprender com
tranquilidade e sem nos desviarmos, a como atender esse desejo natural.
Impelidos por isso somos levados a buscar a verdade, a sabedoria e a ordem
manifestas harmoniosamente em toda a criação, aspirando atingir através delas Aquele
de quem recebemos (através da graça) esse desejo.
O mundo é um lugar finito e possui uma estabilidade limitada.
O tempo é um movimento circunscrito. E segue-se que o movimento das coisas
vivas dentro do tempo está sujeito a mudanças. Quando a natureza vai além do
tempo e do espaço de maneira interna e ativa - ou seja, quando ela vai além
daquelas coisas que sempre acompanham os seres criados, como, por exemplo, um
estado de estabilidade limitada e de movimento limitado – ela se une
diretamente à Providência e encontra na Providência um princípio que por
natureza é simples, estável, sem limitações e, portanto, completamente sem
movimento.
Uma vez que a natureza existe no mundo de um modo temporal,
seu movimento está sujeito à mudança por causa da estabilidade limitada do mundo
e de seu compromisso com a alteração e a corrupção através da passagem do
tempo. Quando a natureza vem a existir em Deus através de sua unidade essencial
com Aquele no qual ela foi criada, ela passa a possuir uma estabilidade provida
sempre de mobilidade e de uma forma de movimento estável e imutável gerado
eternamente ao redor daquilo que é um, único e sempre o mesmo.
Nosso Senhor é verdadeiramente uma luz para os gentis (ref.
Isa. 49-6) – através do verdadeiro conhecimento Ele abre os olhos de suas mentes,
fechados por terem estado na escuridão da ignorância. Ademais, através de Sua
conduta divina Ele tornou-se um nobre exemplo de virtude aos fiéis, tornando-se
um modelo e padrão. Olhando para Ele como o autor de nossa salvação, nós atingimos
as virtudes ao O imitarmos em nossa conduta, na medida em que for possível para
nós.
Nosso intelecto possui o poder de apreensão através do qual
ele percebe as realidades inteligíveis; ele também possui a capacidade para a
união que transcende sua natureza e que o une com aquilo que está além de seu
escopo natural. É através dessa união que as realidades divinas são apreendidas,
não por meio de nossas capacidades naturais, mas em virtude do fato de que
transcendemos completamente a nós mesmos e pertencemos inteiramente a Deus. É
melhor pertencer a Deus do que a nós mesmos, pois é sobre aqueles que pertencem
a Deus que os dons divinos são outorgados.
Assim como a ignorância divide aqueles que estão iludidos, a
presença da luz espiritual une e aproxima aqueles a quem ela ilumina. Ela
torna-os perfeitos e trazem-nos de volta para aquilo que realmente existe;
converte-os de uma multiplicidade de opiniões unindo seus pontos de vista
variados, ou melhor, suas fantasias, em um conhecimento espiritual puro,
simples e verdadeiro preenchendo-os com uma luz unificadora.
O conhecimento espiritual une o conhecedor com o conhecido,
enquanto a ignorância é sempre uma causa de mudança e auto divisão no ignorante.
Portanto, nada, de acordo com as escrituras, mudará aquele que crê a partir do alicerce
de sua fé verdadeira, onde reside a permanência de sua identidade imutável e
inalterável. Pois aquele que foi unido com a verdade tem a segurança de que
tudo está bem consigo, mesmo que a maioria das pessoas repreendem-no por estar
fora de si. Pois sem que notem ele moveu-se da ilusão para a verdade da fé real
e ele sabe com certeza que não corre nenhum risco, tal como dizem as
pessoas, mas que através da verdade – simples e imutavelmente a mesma – ele foi
libertado das agitações flutuantes e volúveis das múltiplas formas da ilusão.
A função da filosofia prática é purificar o intelecto de
todas as fantasias veementes. A função da contemplação natural é a de iniciar o
intelecto no conhecimento verdadeiro que é encontrado nas coisas criadas de
acordo com o qual elas possuem existência. A função da teologia mística é de através da graça tornar o intelecto
semelhante a Deus e igual a Ele, na medida do possível, de modo que ele fique
totalmente alheio a qualquer coisa além de Deus devido a seu estado transcendente.
Um comentário:
http://www.abandono.com/oracion_contemplativa.htm
Neste site, alguns bons arquivos sobre oraçao.
Encontrei nele 'A Nuvem do Não-Saber', por exemplo.
Postar um comentário