sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Phiokalia - São Gregório do Sinai (séc. XIII)

Os Discursos são proferidos a todos os seres sencientes para serem usados, e assim como o valor derivado de diferentes tipos de alimentos varia, o mesmo acontece com o lucro do discurso à alma e à satisfação dele derivada. A palavra de um ensinamento atua como um professor que molda a disposição da alma e as palavras derivadas da leitura são como 'águas tranquilas', que alimentam-na; a palavra que vem da prática é como as "verdes pastagens"(salmo 23-2,5), tornando-a mais fértil; a palavra da graça é como uma taça que transbordou matando a sede da alma e tornando-a feliz e a alegria indescritível da graça é como "fazer o rosto brilhar com o óleo"(salmo 104-15), que alegra o coração e preenche-o de luz.

Na verdade, a alma não só contém-no em si mesma como a própria vida, mas quando ela escuta este tipo de ensinamento de outros, entende imediatamente, uma vez que ambos são guiados pelo amor e pela fé - quando um escuta com fé e o outro ensina com amor, falando das virtudes, sem arrogância ou vaidade. Então, a alma aceita a palavra do ensinamento como um professor, a palavra da leitura como um nutridor, a palavra derivada da prática (a palavra mais íntima), como o mais belo adorno da noiva, a palavra iluminadora do Espírito como a palavra do noivo, unindo-se à noiva e fazendo-a feliz. Cada palavra, proveniente dos lábios de Deus, ou é uma palavra da boca dos santos tornada ativa pelo Espírito, ou a mais deleitável inspiração do Espírito que não todos, mas apenas alguns, são dados a desfrutar. Pois, embora todos os seres inteligentes desfrutem das palavras, há muito poucos neste mundo que se alegram com as palavras do Espírito. A maior parte sabe apenas pela memória as diversas formas de palavras espirituais; eles só podem participar das mesmas dessa forma, uma vez que não podem ainda apreender diretamente a Palavra de Deus, aquele verdadeiro pão da vida por vir. Pois, apenas lá esse pão é oferecido em abundância para aqueles que são dignos de todo o tipo de apreciamento, pois nunca é consumido, gasto e nem roubado.

Se um homem não tem sensibilidade espiritual, seus sentidos não podem saborear a doçura das coisas divinas. Pois, assim como um homem cujos sentidos estão apagados não pode perceber as coisas sensoriais, não vê, não escuta, não sente cheiro, sendo bastante fraco ou semi-morto; um homem, que através de paixões tem mortificado os poderes naturais de sua alma, torna-os insensíveis para a ação dos, e a comunhão com, os mistérios do Espírito. Pois aquele que é espiritualmente cego, surdo e insensível, está morto no Espírito, uma vez que Cristo não habita nele e ele próprio não age e se desloca em Cristo.

Igualmente aos poderes da alma, esses sentidos têm uma semelhante, se não idêntica ação, especialmente quando são saudáveis. Então os sentidos vêem as coisas sensoriais claramente, ao passo que os poderes da alma discernem coisas mentais, especialmente quando eles estão livres das investidas de Satanás, o qual declara guerra contra a lei mental e espiritual. Mas quando eles são transformados em um pelo Espírito, e têm apenas uma perspectiva, então sabem direta e essencialmente o que é divino e o que é humano, claramente discernindo a sua natureza e seu significado, e vêem, tão claro quanto possível, a única causa de tudo - a Trindade.

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