sexta-feira, 30 de julho de 2010

Meher Baba - Assimilação das Verdades Divinas e a Dinâmica do Progresso Espiritual

Assimilação das Verdades Divinas


O início da vida espiritual é marcado e ajudado pela meditação em geral, que não se preocupa exclusivamente com elementos específicos selecionados da experiência, mas que, em seu escopo abrangente, busca entender e assimilar as Verdades divinas da vida e do universo. Quando o aspirante está interessado em problemas mais amplos da natureza última da vida e do universo e começa a pensar sobre elas, pode-se dizer que ele se lançou em tal meditação.
Muito do que está incluído na filosofia é o resultado de tentar desenvolver uma compreensão intelectual da natureza última da vida e do universo.
A compreensão puramente intelectual das Verdades divinas permanece frágil, incompleta e indecisiva, devido às limitações das experiências que podem estar disponíveis como fundação das estruturas de especulação. A meditação filosófica que consiste num pensar livre e sozinho não conduz a resultados conclusivos. Ela muitas vezes leva a diversos sistemas ou opiniões conflitantes, no entanto, o pensamento filosófico não é sem valor. Além de levar até certa medida o aspirante ao reino do conhecimento, ele provê uma disciplina intelectual que lhe permite receber e compreender as Verdades divinas, quando acontece dele entrar em contato com elas através daqueles que as conhecem. O modo mais fecundo de meditação geral consiste em estudar as verdades reveladas sobre a vida e o universo. Este modo de compreender e assimilar as Verdades divinas pode começar ao ouvir ou ler exposições da Verdade divina, que têm sua fonte nos Mestres de sabedoria.
Os discursos ou os escritos do Avatar e dos Mestres Perfeitos, estejam eles vivos ou sendo do passado, são objetos apropriados para este tipo geral de meditação, porque a assimilação das Verdades divinas reveladas através deles permite que o aspirante traga sua vida a um alinhamento com o propósito de Deus no universo. As verdades divinas são mais facilmente compreendidas e assimiladas quando elas são passadas diretamente para o aspirante por um mestre vivo. Essas comunicações pessoais do Mestre tem um poder e uma eficácia que a informação recebida pelos aspirantes através de outras fontes não podem ter. A palavra torna-se viva e potente por causa da vida e da personalidade do Mestre. Assim, muitas escrituras enfatizam a necessidade de ouvir as Verdades divinas diretamente através da palavra falada de um Mestre. O modo geral de meditação que depende de escutar as exposições das Verdades divinas é, sem dúvida, o melhor, quando o aspirante tem a oportunidade de contactar um mestre vivo e ouvi-lo. Nem sempre é possível, entretanto, para o aspirante contactar e ouvir um mestre vivo. Em tais casos, a meditação através da leitura tem algumas vantagens que lhe são próprias. Para a maioria dos aspirantes, a meditação através da leitura não tem praticamente nenhum substituto adequado, porque começa a partir de exposições escritas que estão disponíveis em qualquer momento que seja conveniente. A meditação que se inicia a partir da leitura sobre as Verdades reveladas tem essa vantagem especial de ser facilmente acessível para a maioria dos aspirantes.
A meditação através da leitura tem suas desvantagens pois a maioria das exposições escritas das Verdades divinas são destinadas para o estudo intelectual ao invés da assimilação através da meditação. As dificuldades que os aspirantes experimentam neste contexto devem-se, ou ao fato de que o método de meditação não está adaptado ao assunto, ou a alguma falha no método, o que o torna mecânico e sem inspiração, ou à falta de manejo ou à imprecisão do objeto utilizado para meditação.
A forma de meditação que começa a partir de leitura sobre as Verdades divinas tem três fases:
1. Na primeira fase, o aspirante terá que ler a exposição diariamente e, simultaneamente, pensar bem sobre ela.
2. Na segunda fase, a leitura propriamente dita torna-se desnecessária, mas o tema do assunto de exposição é revivido mentalmente e pensado a respeito constantemente.
3. Na terceira etapa é completamente desnecessário que a mente reviva as palavras da exposição seja separadamente ou consecutivamente, e todo o pensamento discursivo sobre o assunto chega ao fim. Nesse estágio da meditação, a mente não fica mais ocupada com qualquer linha de pensamento e tem uma percepção clara, espontânea e intuitiva das Verdades sublimes expressas na exposição.


A dinâmica do progresso espiritual

O progresso espiritual começa quando há uma mudança radical no panorama da pessoa mundana. O indivíduo mundano vive principalmente para o corpo e mesmo naquelas atividades que não parecem ter referência direta com o corpo, em última análise, sua força motriz fundamental é encontrada nos desejos relacionados com o corpo. Por exemplo, uma pessoa vive para comer, ela não come para viver. Ela ainda não descobriu qualquer propósito que claramente transcenda o corpo, assim, o corpo e seus confortos se tornam o centro de todas as suas atividades. Mas quando ela descobre valores nos quais a alma é predominante, o corpo prontamente é relegado a segundo plano. A manutenção do corpo torna-se então para ela meramente instrumental para a realização de um propósito maior. Seu corpo, que tinha sido anteriormente um obstáculo à verdadeira vida espiritual, torna-se um instrumento para a liberação da vida superior. Nesta fase, a pessoa atende suas necessidades corporais, sem sentimento especial de auto-identificação, como o motorista de um carro que coloca combustível e água no carro para que ela possa continuar indo. O início do avanço espiritual é condicionado pela busca daquele objetivo para o qual o homem vive, objetivo para o qual ele, inconscientemente, ama e odeia e para o qual ele passa por diferentes alegrias e sofrimentos. Embora ele possa se sentir mexido pela força do incompreensível e irresistível destino divino, pode levar um longo tempo antes que ele chegue ao topo da montanha da Realização da Verdade, e o caminho está sempre cheio de armadilhas e precipícios escorregadios. Aqueles que tentam chegar a esse topo da montanha tem que subir cada vez mais alto. E mesmo que uma pessoa consiga escalar grandes alturas, o menor erro de sua parte pode mandá-lo para o início novamente. Portanto, o aspirante nunca está seguro a menos que ele tenha a vantagem da ajuda e da orientação de um mestre perfeito, que conhece os meandros do caminho espiritual e que pode não apenas proteger o aspirante de uma possível queda, mas conduzi-lo para a meta da Realização sem recaídas desnecessárias. O aspirante que tenta alcançar a meta carrega consigo todos os Sanskaras que ele acumulou no passado. Mas durante a intensidade de seu desejo espiritual, eles permanecem em suspenso e ineficazes por aquele período. Vez por outra, porém, quando há um afrouxamento dos esforços espirituais, os Sanskaras até agora suspensos de ação reúnem forças novas e, se arrumando em uma nova formação, constituem grandes obstáculos para o avanço espiritual do aspirante.
Isto pode ser ilustrado pela analogia de um rio. A poderosa corrente de um rio carrega consigo grandes quantidades de lodo do fundo e das margens. Enquanto essas quantidades estão suspensas na água elas não prejudicam o fluxo do rio, embora possam retardá-lo. Quando a corrente se torna mais lenta nas planícies, e particularmente na direção da foz, esse volume tende a se depositar no leito do rio e formar enormes ilhas ou deltas. Esses últimos não só obstruem a corrente, mas muitas vezes desviam-na ou mesmo dividem-na em pequenos córregos e, em geral, enfraquecem a força do poderoso rio. Ou ainda, quando o rio está em cheia, ele varre todos os obstáculos de árvores, arbustos e lixo em seu caminho, mas quando esses se acumulam até um certo grau, podem constituir um sério obstáculo para o fluxo do rio. Da mesma forma, o caminho do progresso espiritual é frequentemente bloqueado por obstáculos de sua própria criação e esses só podem ser retirados com a ajuda do Mestre.
A ajuda do Mestre é mais eficaz quando o aspirante renuncia a sua vida-ego em favor da vida plena que o Mestre representa. Uma completa auto-rendição é muito difícil de conseguir, e ainda assim a condição mais essencial do progresso espiritual é a diminuição do egoísmo para o mínimo. O objetivo do progresso espiritual não é a quantidade de "trabalhos", mas a qualidade da vida livre da consciência-ego. Se o aspirante tem muitas coisas boas a seu crédito, que ele reivindica como sendo suas, o seu ego prende-se aos resultados e isso constitui um obstáculo formidável para a vida ilimitada. Daí vem a futilidade de rituais e cerimônias, atos de caridade e boas obras, renúncia externa e penitências, quando esses estão enraizados na consciência-ego.
Por conseguinte, é mais necessário para o aspirante manter-se livre da idéia de "eu faço isso e eu faço aquilo.” Isso não significa que o aspirante deva evitar todas as atividades por medo de desenvolver essa forma de ego. Ele pode ter que assumir uma vida de ação para desgastar o ego que ele já desenvolveu. Dessa forma, ele fica preso em um dilema: se ficar inativo, não fará nada para romper a prisão de sua vida centrada no ego, e se levar a uma vida de ação, ele será confrontado com a possibilidade do ego ser transferido para esses novos atos. Para o avanço espiritual o aspirante tem de evitar esses dois extremos e ainda assim levar uma vida de ação criativa.
Trilhar o caminho espiritual não é como montar um cavalo selado, mas é como caminhar sobre o fio de uma espada. Uma vez que um cavaleiro está montado no cavalo, ele fica praticamente em repouso, sentado com certa facilidade lhe é requerido muito pouco esforço ou atenção para prosseguir. Trilhar o caminho espiritual, no entanto, requer máxima atenção e cuidado já que o caminho não oferece lugares de parada ou espaço para a expansão da vida centrada no ego. Quem entra no caminho não pode nem permanecer onde está, nem pode se dar ao luxo de perder o equilíbrio. Ele é, portanto, como alguém que tenta andar no fio afiado de uma espada. Para evitar a inação de um lado e o orgulho da ação do outro, é necessário que o aspirante construa da seguinte forma um ego provisório e de trabalho que irá ser totalmente subserviente ao Mestre. Antes de começar qualquer coisa, o aspirante pensa que não é ele quem está fazendo aquilo, mas é o Mestre que está fazendo com que as coisas sejam feitas usando-o como meio. Depois de fazer a tarefa ele não ficará reivindicando os resultados da ação ou irá apreciá-los, mas ficará livre deles, oferecendo-lhes ao Mestre. Ao treinar sua mente dessa maneira, ele consegue criar um novo ego que, embora seja apenas provisório e de trabalho, é amplamente capaz de se tornar uma fonte de confiança, sentimento, entusiasmo e "espírito" que a ação verdadeira deve expressar. Esse novo ego é espiritualmente inofensivo, uma vez que retira sua vida e ser do Mestre, o qual representa o Infinito. E quando chega o momento, ele pode ser jogado fora como um traje.
Existem, portanto, dois tipos de ego – um que só pode acrescentar às limitações da alma e o outro que ajuda na sua emancipação. A passagem do ego limitante mundano para o estado de ausência de ego da vida infinita, reside inteiramente na construção de um ego provisório gerado pela fidelidade incondicional ao Mestre. A construção de um novo ego totalmente subserviente ao Mestre é indispensável para a dinâmica do progresso espiritual. O aspirante estava acostumado a derivar prazer na vida de seu ego limitado e uma transição imediata da vida de ação egoísta para e essa vida de ação sem ego é impossível de ser feita sozinho e também não é aconselhável. Se fosse requerido que o aspirante imediatamente evitasse todas as formas de consciência-ego, ele teria que voltar a um estado de passividade negativa, sem qualquer expressão de alegria. Ou, teria que procurar expressão através de atividade que seria apenas automática, como a de uma máquina sem vida e, portanto, ele não poderia derivar qualquer sentido de satisfação. O problema real é que o aspirante tem que abandonar a sua vida do ego limitado e entrar na ilimitada vida sem ego, sem cair em um coma, onde haveria um declínio da vida. Tal coma poderia dar um alívio temporário da limitação da vida centrada no ego, mas não poderia iniciar o aspirante na infinidade da atividade sem ego. Esta é a razão pela qual na maioria dos casos o avanço espiritual tem de ser muito gradual e, muitas vezes, leva várias vidas. Quando uma pessoa parece ter tomado passos largos em sua evolução espiritual, às vezes ela apenas limitou-se a recapitular o avanço já conseguido em vidas anteriores, ou tenha havido a intervenção especial de um Sadguru. Em situações normais, o avanço do aspirante tem que ser gradual. A distância entre a vida limitada do ego e a vida ilimitada sem ego tem de ser coberta por estágios graduais de transformação do ego, de modo que o egoísmo seja substituído por humildade, os desejos surgentes substituídos por um crescente contentamento e o egoísmo seja substituído por amor altruísta.
Quando o ego é totalmente subserviente ao mestre, ele não apenas é espiritualmente inofensivo, mas é indispensável e contribui diretamente para o avanço espiritual do aspirante, porque ele lhe traz cada vez mais perto do Mestre através da vida de serviço altruísta e amor. O contato interior constante com o Mestre que ele assegura, torna-o particularmente receptivo à ajuda especial que somente o Mestre pode dar.
O aspirante que renuncia a vida de um ego desenfreado e separatista em favor de uma vida de auto-rendição ao Mestre está operando, através deste novo ego subserviente, como um instrumento nas mãos do Mestre.
Na realidade, o Mestre está trabalhando através dele. Assim como um instrumento tem uma tendência a ficar fora de ordem enquanto está sendo colocado em uso, o aspirante também fica suscetível a dar errado no seu trabalho no mundo. De vez em quando o instrumento tem que ser limpado, revisado, reparado e corrigido. Da mesma forma, o aspirante, que durante o seu trabalho vem a desenvolver novos problemas, complicações e abrigos para o ego-pessoal tem de ser colocado em funcionamento para que possa avançar. O aspirante que se alista no serviço do Mestre pode ser comparado com uma vassoura com a qual o Mestre varre o mundo limpando suas impurezas. A vassoura está fadada a acumular a sujeira do mundo, a menos que seja limpada de novo e de novo e receba uma nova base ela torna-se menos eficiente no decurso do tempo. Cada vez que o aspirante vai ao Mestre, é com novos problemas espirituais. Ele pode se ver capturado em novas complicações relacionadas com um desejo por honra, riquezas ou outras coisas mundanas que fascinam o homem. Se ele as perseguir, poderá obtê-las, mas ele poderá se distanciar da meta de experimentar Deus, na qual ele colocou seu coração. Somente através da intervenção do Mestre tais doenças espirituais podem ser curadas. Essa tarefa de curar as doenças espirituais é comparável à realização de uma operação por um cirurgião que remove imediatamente a própria causa que vinha minando as energias vitais de um paciente. Se uma pessoa desenvolve doenças físicas e se queixa, ela deve ir ao médico; e se ela desenvolve problemas espirituais, deve ir ao Mestre. Assim, o contato periódico com o Mestre é muito necessário ao longo do processo do avanço espiritual. O Mestre ajuda o aspirante de suas próprias maneiras invencíveis, que não têm paralelo nas maneiras do mundo. De modo a ser o destinatário dessa ajuda, o aspirante deve fazer um esforço real para se render à vontade divina do Mestre. O ego pessoal, que o aspirante renunciou em sua primeira rendição ao Mestre, pode reaparecer em um novo aspecto mesmo dentro do ego artificial cujo propósito é ser completamente subserviente ao Mestre e criar desordem em seu trabalho regular. Assim, essa nova ressurreição do ego-pessoal limitado do aspirante precisa ser combatida através de nova rendição ao Mestre. A série de ressurreições sucessivas do ego pessoal tem que ser acompanhada por uma série de novos atos de rendição ao Mestre. O progresso de uma rendição para outra rendição ainda maior é um progresso de uma conquista menor para uma maior. As formas mais completas de rendição representam os estados superiores de consciência, uma vez que asseguram uma maior harmonia entre o aspirante e o Mestre. Assim, a vida infinita do Mestre Perfeito pode fluir através do aspirante em medida mais abundante. O avanço espiritual é uma sucessão de uma rendição atrás de outra até que a meta da rendição final da vida centrada no ego separada é completamente alcançada. Apenas a rendição final é completa. É a contrapartida da união definitiva em que o aspirante torna-se um com o Mestre. Portanto, num certo sentido, a rendição mais completa ao Mestre é equivalente à realização da Verdade, que é o objetivo final de todo o avanço espiritual.

Philokalia - Nikitas Stithatos - Três estágios do caminho espirital


Existem três estágios no caminho espirital: o purgativo, o iluminativo e finalmente o místico, através dos quais somos aperfeiçoados. O primeiro diz respeito aos iniciantes, o segundo àqueles no estágio intermediário e o terceiro aos perfeitos. É através desses três estágios consecutivos que ascendemos, crescendo em estatura de acordo com Cristo e atingindo 'o estado de Homem Perfeito, à medida da estatura da plenitude de Cristo.' (Ef. 4:13)


O estágio purgativo refere-se àqueles recentemente engajados na batalha espiritual. Ele é caracterizado pela rejeição do ser materialista, libertação do mal material e empossamento do ser regenerado renovado pelo Espírito Santo (Col. 3:10). Ele envolve aversão pela materialidade, a atenuação da carne, o evitamento de qualquer coisa que ative a mente para as paixões, arrependimento pelos pecados cometidos, o dissolvimento com lágrimas do sedimento amargo deixado pelo pecado, a regulação de nossa vida de acordo com a generosidade do Espírito e a limpeza do interior do copo através do remorso (Mat.23:26) – o intelecto – de toda mancha da carne e do espírito (2Cor.7:1), para que ele possa então ser preenchido com o vinho do Logos que alegra o coração do purificado (Sal.104:15), e possa ser trazido ao rei dos poderes celestiais para Ele saboreá-lo. Seu objetivo final é que deveríamos ser forjados no fogo da luta ascética, lavando a ferrugem do pecado e escaldando com aço e temperando na água do remorso, para que como espadas possamos efetivamente cortar as paixões e os demônios. Atingindo esse ponto por meio de longa luta ascética, apagamos o fogo dentro de nós, amordaçamos as paixões brutas, tornamo-nos fortes em Espírito em vez de fracos (Heb.11:33), e como outro Jó conquistamos o tentador através de nossa resistência paciente.


O estágio iluminativo refere-se àqueles que como resultado de suas lutas atingiram o primeiro estágio de dissipação. Ele é caracterizado pelo conhecimento espiritual dos seres criados, pela contemplação de suas essências interiores e comunhão no Espírito Santo. Envolve a purificação do intelecto pelo fogo divino, a abertura noética dos olhos do coração e o nascimento do Logos acompanhado pelas sublimes intelecções do conhecimento espiritual. Seu objetivo final é a elucidação da natureza das coisas criadas pelo Logos da Sabedoria, a compreensão dos assuntos humanos e divinos e a revelação dos mistérios do reino dos Céus (Luc.8:10). Aquele que atingiu esse ponto através da atividade interior do intelecto, como outro Elias (2Reis2:1), conduz a carruagem de fogo através da quaternidade das virtudes e enquanto ainda vivo é elevado ao reino noético e atravessa os céus, uma vez que ele elevou-se acima da solidão do corpo.


O estágio místico e perfeito refere-se àqueles que já passaram por todas as coisas e chegaram 'à medida da estatura da plenitude de Cristo'. Ele é caracterizado pela transcendência da esfera dos poderes demoníacos e de todas as coisas entre a terra e a lua, através do alcance das mais altas posições celestiais, aproximando-se da luz primordial e compreendendo as profundezas de Deus através do Espirito. Ele envolve imergir nosso intelecto contemplativo nos princípios interiores da providência, justiça e verdade, e também a interpretação do simbolismo arcano, parábolas e passagens obscuras nas Escrituras Sagradas. Seu objetivo final é a nossa iniciação nos mistérios ocultos de Deus e sermos preenchidos pela inefável sabedoria através da união com o Espírito Santo, de modo que cada um se torne um sábio teólogo na grande Igreja de Deus, iluminando os outros com o significado interior da teologia. Aquele que atingiu esse ponto através da mais profunda humildade e compunção, como outro Paulo, foi apanhado no terceiro céu da teologia e ouviu coisas indescritíveis as quais aquele que ainda está dominado pelo mundo sensorial não é permitido ouvir (2Cor12:4); e ele experimenta bênçãos indizíveis, que nenhum olho viu e nenhuma ouvido ouviu (1Cor4:1), pois ele é porta-voz de Deus, e através das palavras ele comunica esses mistérios para as outras pessoas; e nisso ele encontra abençoado repouso. Pois ele está agora aperfeiçoado no Deus perfeito, unido na companhia dos outros teólogos com os poderes angélicos supremos dos Querubins e Serafins, nos quais reside o princípio da sabedoria e do conhecimento espiritual.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

São Teófanes o Recluso - A Arte da Oração

A dualidade do Homem e os dois tipos de oração


O homem é dual: exterior e interior, carne e espírito. O homem exterior é visível, da carne, mas o homem interior é invisível, espiritual – ou como nomeou o Apóstolo Pedro: “... o homem oculto do coração, que não é corruptível, … um espírito dócil e silencioso” (1pedro iii.4). E São Paulo refere-se a essa dualidade quando diz: “Mas embora nosso homem externo pereça, ainda assim o homem interno é renovado” (2cor.iv.16). Aqui o Apóstolo fala claramente sobre o homem interno e o homem externo. O homem externo é composto de muitos membros, mas o homem interno chega à perfeição através de sua mente – através da atenção a si mesmo, temor a Deus e através da Graça de Deus. Os trabalhos do homem exterior são visíveis, mas os do homem interior são invisíveis, de acordo com o Salmista: “o homem interior e o coração estão muito fundo” (Salmo lxiii.7). E São Paulo o Apóstolo diz: “Quem, pois, entre os homens conhece o que é do homem, senão o espírito do homem que está nele?” (1cor.ii 11). Apenas aquele que experimenta o mais íntimo dos corações e as partes internas conhece todos os segredos do homem interior.

O treinamento, portanto, deve ser duplo, externo e interno: externo ao ler livros, interno em pensamentos de Deus; externo no amor pela sabedoria, interno no amor por Deus; externo em palavras, interno em oração; externo em agudeza do intelecto, interno no aquecimento do espírito; externo em técnica, interno em visão. A mente exterior “se enche de orgulho” (i cor. Viii 1), a interna humilha-se; a exterior é cheia de curiosidade, desejando saber tudo, a interna presta atenção a si mesma e não deseja nada além do que conhecer a Deus, falando com Ele como Davi falou quando disse: “Meu coração diz a teu respeito: 'procura sua face!' É Tua face, Senhor, que eu procuro, não me escondas a Tua face.” (salmo xxvii 8-9). E também: “como o cervo bramindo por águas correntes assim minha alma brame por Ti, ó meu Deus!” (salmo xlii 2).

A oração, do mesmo modo, é dupla, exterior e interior. Há a oração feita abertamente e a oração secreta; a oração com os outros e a oração solitária; oração empreendida como um dever e a oração oferecida voluntariamente, que acontece em segredo, não tem hora fixa, sendo feita quando quer que você queira, sem obrigações, simplesmente quando o espírito move você. O primeiro tipo é oferecido de pé, parado; o segundo, não apenas de pé ou caminhando, mas também deitado, ou, resumindo, sempre – quando quer que aconteça de você elevar sua mente a Deus. O primeiro é feito na companhia dos outros, performado na igreja ou em alguma ocasião especial numa casa quando várias pessoal estão reunidas; mas o segundo é realizado quando você está sozinho fechado no seu aposento particular (ou quarto), de acordo com a palavra do Senhor: “quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu pai que está lá, em segredo” (Mat.vi 6).

O aposento particular também é duplo, externo e interno, material e espiritual: o lugar material é de madeira ou pedra, o quarto espiritual é o coração ou a mente. Portanto, o quarto material permanece sempre fixo no mesmo lugar, mas o espiritual você carrega dentro de você onde quer que você vá. Onde quer que o homem esteja, seu coração estará sempre com ele, e, então, tendo coletado seus pensamentos dentro de seu coração, ele pode se fechar lá dentro e orar para Deus em segredo, esteja ele falando ou escutando, esteja entre poucas pessoas ou entre muitas. A oração interior, se vem ao espírito de um homem quando ele está com outras pessoas, não demanda o uso dos lábios ou de livros, nenhum movimento da língua ou som da voz: e o mesmo é verdadeiro quando você está sozinho. Tudo o que é necessário é elevar sua mente a Deus e descender fundo dentro de si mesmo e isso pode ser feito em qualquer lugar.

O quarto material de um homem que é silencioso abrange apenas o próprio homem, mas o quarto interior espiritual também contém Deus e todo Reino dos Céus, de acordo com as palavras do Próprio Cristo no Evangelho: 'O reino de Deus está dentro de vós' (Luc.xvii 21). Explicando esse texto, São Makarios do Egito escreveu: 'O coração é um recipiente muito pequeno, porém todas as coisas estão contidas nele: Deus está lá, os anjos estão lá e também estão lá a vida e o Reino, as cidades celestiais e os tesouros da graça'.

O homem precisa fechar-se no quarto interno de seu coração com mais frequência do que ele precisa ir à igreja e deve coletar todos os seus pensamentos lá, deve colocar sua cabeça perante Deus, orando a Ele em segredo com todo o calor de seu espírito e com fé vívida. Ao mesmo tempo ele também deve aprender a voltar seus pensamentos para Deus de tal maneira que torne-se apto a desenvolver-se em um homem perfeito.


União amorosa com Deus

Primeiro de tudo é necessário entender que é o dever de todo Cristão – especialmente aqueles que se dizem dedicados à vida espiritual – lutar sempre e de toda maneira para ser unido com Deus, seu criador, amante, benfeitor e seu bem supremo, através de Quem e por Quem eles foram criados. Isso porque o centro e o propósito final da alma, que Deus criou, tem que ser Deus Ele mesmo apenas e nada mais – Deus do Qual a alma recebeu sua vida e sua natureza e por Quem ela deve viver eternamente. Pois todas as coisas visíveis na terra que são amáveis e desejáveis – riquezas, glória, esposa, filhos, em suma, tudo deste mundo que é lindo, doce e atrativo – não pertencem à alma mas apenas ao corpo, e sendo temporárias, vão passar tão rápido quanto uma sombra. Mas a alma, sendo eterna por sua natureza, pode atingir descanso eterno apenas no Deus Eterno: Ele é seu bem mais elevado, mais perfeito do que toda a beleza, doçura e amabilidade, e Ele é seu lar natural, de onde ela veio e para onde ela deve retornar. Pois assim como a carne vinda da terra retorna para a terra, também a alma vinda de Deus retorna a Deus e reside com Ele. Pois a alma foi criada por Deus de modo a residir com Ele para sempre, portanto nesta vida temporária devemos diligentemente buscar a união com Deus, de modo a sermos considerados dignos de estarmos com Ele e Nele eternamente na vida futura.

Nenhuma unidade com Deus é possível exceto através de um amor extremo. Isso podemos ver da história no Evangelho da mulher que era uma pecadora: Deus em Sua grande piedade garantiu a ela o perdão dos seus pecados e uma firme união com Ele, 'pois ela amava muito' (Luc.vii 47). Ele ama aqueles que amam a Ele, abre caminho para aqueles que O buscam e abundantemente garante totalidade de alegria para aqueles que desejam desfrutar o Seu amor.

Para acender em seu coração tal amor divino, para se unir com Deus em uma união inseparável de amor, é necessário para um homem orar frequentemente, elevando sua mente à Ele. Pois, assim como a chama aumenta quando é constantemente alimentada, também a oração, feita com frequência, com a mente residindo cada vez mais profundo em Deus, desperta o amor divino no coração. E o coração, posto em chamas, irá aquecer todo o homem interior, irá iluminá-lo e ensiná-lo, revelando para ele toda sua sabedoria desconhecida e oculta, tornando-o como um serafim flamejante, permanecendo sempre perante Deus dentro de seu espírito, sempre olhando para Ele dentro de sua mente e tirando dessa visão a doçura da alegria espiritual.


A oração deveria ser curta, mas frequentemente repetida.



Daqueles que têm experiência em elevar sua mente a Deus, aprendi que no caso da oração feita pela mente a partir do coração, uma oração curta, repetida frequentemente, é mais quente e mais útil do que uma longa. A oração longa também é muito útil, mas apenas para aqueles que estão quase atingindo a perfeição, não para os iniciantes. Durante a oração comprida, a mente do inexperiente não pode manter-se por muito tempo diante de Deus e geralmente é derrotada por sua própria fraqueza e mutabilidade, e é atraída para coisas externas, de modo que o aquecimento do espírito rapidamente esfria. Tal oração já não é mais uma oração, mas apenas distúrbio da mente, por causa dos pensamentos vagando aqui e ali. Por outro lado, a oração curta porém frequente tem mais estabilidade, porque a mente imersa em Deus por um curto período, pode realizar isso com maior calor. Portanto o Senhor também diz: 'Quando orares, não uses vãs repetições' (Mat. Vi 7), pois não é pela sua prolixidade que você será ouvido. E São João da Escada também ensina: 'Não tente usar muitas palavras para que sua mente não fique distraída pela busca das palavras. Porque de uma sentença curta, o Publicano recebeu a piedade de Deus e uma breve afirmação de crença salvou o Ladrão. Uma multidão excessiva de palavras na oração dispersa a mente em sonhos, enquanto que uma palavra ou uma sentença curta ajuda a coletar a mente'.

Mas alguém pode perguntar: 'Por que o Apóstolo diz na Epístola aos tessalonicenses: “Orai sem cessar”?' (1Tess. V 17).

Usualmente nas Escrituras Sagradas, a palavra 'sempre' é usada no sentido de 'frequentemente', por exemplo: 'os sacerdotes entravam sempre na primeira tenda, para realizar o serviço para Deus' (Heb.ix.6): isso significa que os sacerdotes entravam na primeira tenda em certas horas fixas e não que eles entravam lá incessantemente de dia e de noite; eles entravam frequentemente, mas não ininterruptamente. Mesmo se os sacerdotes estivessem o tempo todo na igreja, mantendo vivo o fogo que veio dos céus e adicionando combustível a ele para que ele não se extinguisse, eles não ficavam fazendo isso todos ao mesmo tempo, mas sim em turnos, como vemos de São Zacarias: 'Ele desempenhava as funções sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe' (Luc.i.8). Devemos pensar do mesmo modo a respeito da oração, a qual o Apóstolo ordena que seja feita incessantemente, pois é impossível para o homem permanecer em oração dia e noite sem interrupção. Afinal, tempo também é necessário para as outras coisas, para os cuidados necessários para a administração de nossa casa, precisamos de tempo para trabalhar, para falar, tempo para comer e beber, tempo para descansar e dormir. Como é possível orar incessantemente senão ao orar frequentemente? A oração frequentemente repetida pode ser considerada oração incessante.

Consequentemente não deixe que sua oração frequentemente repetida porém curta seja expandida em muitas palavras. Isso é também o que os Padres Sagrados aconselham. Em seu comentário sobre o Evangelho de São Mateus (vi.7), São Theophylatos afirma: 'Você não deveria fazer orações longas, pois é melhor orar pouco porém frequentemente.' E São João Crisóstomo em seu comentário sobre as Epístolas de Paulo, observa: 'aquele que diz muito na oração, não ora, mas favorece a fala inútil'. São Theophylatos também diz em sua interpretação de Mateus vi.6: 'Palavras supérfluas são conversa fiada'. O Apóstolo disse bem: 'prefiro dizer cinco palavras com minha compreensão... do que dez mil palavras numa língua desconhecida' (1Cor.xiv.19): ou seja, é melhor orar a Deus de maneira breve mas com atenção, do que pronunciar inúmeras palavras sem atenção, em vão, enchendo o ar de barulho.

Este é um outro sentido no qual as palavras do Apóstolo devem ser interpretadas. 'Ore sem cessar' (1Tess.v.17) devem ser tomadas no sentido da oração realizada pela mente: o que quer que um homem esteja fazendo, a mente pode estar sempre direcionada para Deus e dessa forma ela pode orar para Ele incessantemente.

Portanto comece agora, Ó minha alma, pouco a pouco, o treinamento estabelecido para você, comece em nome do Senhor, de acordo com a instrução do Apóstolo: 'E o que quer que fizerdes em palavra ou feito, fazeis tudo em nome do Senhor Jesus' (Col.iii.17). Faça tudo, ele quer dizer, não primeiramente para seu próprio benefício, mesmo que espiritual, mas pela glória de Deus; e assim em todas as suas palavras, feitos e pensamentos, o nome do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, será glorificado.

Mas antes de começar, explique para si mesmo brevemente o que é oração. Oração é voltar a mente e os pensamentos na direção de Deus. Orar significa permanecer diante de Deus com a mente, mentalmente contemplá-Lo sem se desviar, e conversar com Ele com medo e esperança reverentes.

E então colete todos os seus pensamentos, deixando de lado todos os cuidados mundanos externos, dirija sua mente para Deus, concentrando-a completamente Nele.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Hazrat Inayat Khan - O Poder da Repetição

Por milhares de anos o segredo da repetição tem sido conhecido pelos místicos. Eles descobriram que o maior mistério estava escondido sob a forma da repetição; e a ciência do mantrayoga, por exemplo, foi fundada sobre esse princípio pelos Yogis da Índia, enquanto que os Sufis trabalharam por muito tempo nas terras da Síria, da Palestina e do Egito, com a ciência da repetição de palavras.
O que nos atrai mais é a repetição de toda a experiência que tivemos. Se você tem o hábito de ir ao parque, você talvez tenha feito uma associação com um banquinho ali e você sempre será atraído por ele quando você vai ao parque. Você experimentou o magnetismo do lugar. Pode haver um lugar melhor, mas no lugar que você se sentou uma vez você vai sentar-se novamente, e quanto mais você se sentar ali, mais você será atraído para lá. Assim, há canções simples que você ouviu na sua infância, elas já estão perdidas em sua memória. Você se tornou um grande amante da música, mas quando essa música que você ouviu na sua infância é cantada uma vez, ela traz uma nova alegria e uma vontade de ouvi-la novamente, não se pode compará-la à melhor música do mundo! Há também coisas que a pessoa come ou algum cheiro que ela sente que tem um perfume, e depois de tê-los experimentado uma, duas ou três vezes eles crescem na pessoa. Ela começa a gostar tanto que quem nunca experimentou fica surpreso ao pensar que alegria há em gostar de uma coisa dessas. Esse também é o efeito da repetição.
Amizade, familiaridade, se tornar conhecido de alguém, todos esses são repetições.
Às vezes a pessoa se sente muito desconfortável num trem ao encontrar-se entre pessoas que não conhece, mas depois de tê-los visto por um tempo ela se torna tão habituada à sua presença que isso desperta simpatia nela e ela faz amizades. Dessa forma, a vida inteira está baseada no princípio da repetição. Portanto, as coisas que nos ajudam a sermos iluminados e a alcançarmos a espiritualidade são prescritos pelos sábios para serem repetidas.
É por causa de mal-entendido que na religião protestante as pessoas se prendem a uma sugestão de Cristo contra "vãs repetições”. Mas isso não foi dito contra as repetições, foi contra as repetições vãs. O clero protestante, no entanto, pegou essa idéia e fez dela uma ditado contra a repetição. Assim, em países como a Suíça e outros lugares onde há um espírito calvinista, as pessoas muitas vezes não entendem isso. Ainda assim, toda a vida se baseia na repetição. Mesmo ir à igreja e fazer orações é repetição.
Hoje, nesta era material, uma onda está chegando em que as pessoas estão começando a reconhecer de um ponto de vista psicológico, uma idéia usada por Coué, que, ao repetir: 'Você está bem, você está bem, você está bem', a pessoa fica bem. As pessoas vão para casa com essa idéia sobre a qual os místicos de todas as eras pensaram, e dizem: "De alguma forma é útil”. Quanto mais elas entenderem isso, mais vão descobrir que há muito na repetição, uma vez que a explorarem.
Na Índia havia uma empregada em nossa casa que gostava de cantar uma canção cujas palavras eram: "Como o meu destino mudou hoje”. Durante uma semana ela cantou durante o dia todo e no final, ela caiu da varanda e morreu. O destino mudou para pior.
Havia um imperador mongol, Bahadur Shah, que era um poeta requintado sob o heterônimo de Zafar, era o maior poeta de seu tempo. Ele escrevia poesias tristes e morreu numa tristeza absoluta.
Também posso dizer sobre minha própria experiência: ao viajar na Holanda, fui com um amigo - um homem muito prático e sagaz - almoçar em sua casa de campo. No trem eu contei para ele como uma vez eu tinha perdido minha estação e por isso me afastei do lugar onde eu deveria ter descido. Ao dizer isso, realmente perdemos a nossa estação e em vez de chegar para o almoço, chegamos para o jantar. Isso mostra que tudo o que repetimos tem uma ação psicológica.
Bom presságio e mau presságio também dependem de repetição. Se você conta para uma pessoa sobre um acidente quando ela está entrando em seu automóvel, isso significa que você coloca as rodas do seu carro na rota que leva a um acidente.
Por que o sucesso se repete e por que o fracasso se repete? Há sempre sucesso atrás de sucesso e fracasso atrás de fracasso. Isso também é repetição que forma um ritmo. Não há nada que ajude mais a trazer sucesso do que o sucesso, e uma vez que você fracassou, você fracassará repetidamente. Se eu quisesse aprofundar esse assunto, eu diria que o movimento do mundo é também a repetição da qual um ritmo é formado. O nascer e o pôr do sol, o crescer e o minguar da lua, a mudança das estações, o ritmo que as ondas assumem e a velocidade com que o vento sopra, tudo isso funciona de acordo com a lei da repetição. Sendo que a repetição é um movimento - um movimento móvel, pois vai para a frente – desse modo ela é usada até mesmo pelos místicos como o maior segredo para o progresso espiritual ou o sucesso material.
Há muitas maneiras de concentração, mas a melhor maneira é a repetição de uma palavra. Por exemplo, se a pessoa quer se concentrar no equilíbrio, ela não pode criar uma forma disso diante de sua mente, pois isso é uma abstração. Mas se ela fecha os olhos, separando-se de todas as outras coisas e repete para si mesma: "equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio, equilíbrio”, naturalmente, cada vez que ela repete “equilíbrio” isso cria um retrato em seu interior, uma imagem do equilíbrio, e em tudo o que ela faz ela vê essa imagem refletida. Assim, sua vida torna-se o equilíbrio.
Muitas vezes os pais, não sabendo disso, chamam uma criança de “malcriada”. A criança fica impressionada com isso, ela sabe que ela é malcriada, portanto, continua sendo desobediente. Assim também é com amigos e parentes e com todos aqueles que nos rodeiam. Não sabendo o efeito psicológico de nossa fala, em vez de melhorá-los podemos torná-los piores. Se você diz ao seu parceiro de negócios: "Não é desonesto o que você fez? ', Isso significa que você tornou essa pessoa desonesta. A primeira coisa que ela fez foi menos desonesta, você completou a desonestidade ao dizer isso. Todo tipo de acusação de desonestidade, da falta de gentileza ou de afeição ou de amor, torna assim a pessoa que você acusou. Ignorantes disso, muitas vezes as pessoas se alegram dizendo para as outras, coisas que elas querem ver mudadas nelas. Se você disser a alguém: "você tem sido muito grosseiro comigo', ou "você não foi justo", ou "muito cruel ", você torna a pessoa mais cruel, mais injusta, mais grosseira e a pessoa não pode mudar isso. Teria sido muito melhor não ter dito nada, não ter tentado tornar essa pessoa melhor! Tudo o que você acusa, você piora pela repetição de palavras.
Acusar é dar vida a algo. Se você não tomar conhecimento das coisas, elas morrem porque você não lhes deu vida. Ao notá-las você dá vida a coisas que podem não ser rentáveis para você. Existe o homem simples, o inteligente e o sábio. O simples não vê dentro da natureza humana, o inteligente vê e o que ele vê ele diz, o sábio vê e não diz nada, e é isso que o torna sábio.
No Oriente, eles dão grande consideração aos nomes dados às crianças, aos cavalos, aos animais, porque aquela palavra é repetida tantas vezes e essa repetição traz o mesmo resultado que o nome indica. Quando você dá a uma pessoa o nome de fortuna e ela é sempre chamada assim, ela deve tornar-se afortunada. Por isso não quero dizer que o Sr. Armstrong é sempre um homem forte. Eu só gostaria de dizer que o nome tem um grande efeito pela própria razão de ser repetido.
Existem sábios, aqueles que têm se concentrado e cuja mente é poderosa e, quando dão um certo nome a alguém com um certo significado, esse nome tem um grande efeito. É como dar a vida que há no nome e aquela vida começa a crescer na pessoa; é como plantar uma semente na terra e aquele plantio gerar flores e frutas. O significado que está no nome funciona depois de dias e anos, e produz os resultados mais maravilhosos. A partir do momento em que o nome é dado toda a vida é mudada. Se for dado por uma pessoa com poder e inspiração tem um efeito maravilhoso.
Quanto ao desenvolvimento espiritual, há diversas influências que podem ser consideradas como influências espirituais e precisamos de tais influências nós em nossa vida, tal como a influência da bondade, da compaixão, a influência da providência, da inspiração, da cura, da saúde, da sabedoria, do poder, e assim por diante. Essas sendo influências espirituais, os místicos têm nomes para cada uma dessas influências e eles chamam-lhes de: os nomes sagrados de Deus. Há talvez uma centena de nomes do tipo ou mais, que os místicos usam e cada um desses nomes tem sido praticado por eles durante milhares de anos. O efeito desses nomes, por vezes, funciona maravilhosamente.
Em Hyderabad, certa vez aconteceu que um sábio queria encontrar o rei e não conseguia. O secretário do rei lhe disse: "O rei está muito ocupado para atender a todos que vêm aqui". O sábio disse: "Tudo bem. Como o rei não vai me receber, eu vou receber o rei.” Pela repetição de um determinado nome sagrado em cerca de seis semanas surgiu uma condição que fez o rei ir visitar o sábio.

Eu mesmo vi o seguinte: há apenas alguns meses atrás, aconteceu um caso de um jovem que estava prestes a noivar para se casar com uma princesa. Mas tudo estava em sua mente, fora nada seguia nessa direção. O Estado era contra o noivao, a Igreja era contra, a família era contra e a própria condição financeira do homem era contrária. Portanto, não havia chance de parte alguma. Esse jovem em desespero queria cometer suicídio. Então ele entrou em contato com um professor espiritual e lhe disse: "Não há nenhuma saída no mundo exceto o suicídio". O professor disse: "Há um caminho. Repita esta palavra e tudo ficará bem". Em três meses todas as dificuldades e os problemas desapareceram. Ele alcançou o desejo de seu coração. Não há nada que não possa ser realizado se a pessoa tem fé. Quando a pessoa tomou essa direção, veio a conhecer o benefício que vem da lei da repetição.
Quando uma pessoa repete algo para si mesma, seja uma palavra boa ou uma palavra ruim, qualquer que seja ela, está gravando essa idéia em seu íntimo e essa idéia é refletida no espaço (akaska). Em cada pessoa que ela encontra isso será refletido. Por exemplo, se uma pessoa que repete: "gentileza, gentileza, gentileza”, encontrar o homem mais cruel do mundo, a gentileza que está gravada em seu coração será refletida sobre o homem e esse homem não poderá deixar de agir com gentileza. Além disso, uma pessoa que tenha repetido 'getileza' tantas vezes em sua vida, quem quer que ela encontrar vai dizer: 'Essa é uma pessoa amável", porque ao dizer 'gentileza', ela se tornou gentil.
É claro que a pessoa pode exagerar, pode fazer isso de forma errada e isso deve ser evitado. Ela pode tentar experimentar isso antes de estar madura o suficiente para experimentá-lo. Por exemplo, a pessoa pode ouvir esta palestra e ir até um banco e dizer: "dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro", e, em seguida, vir a mim e dizer: "Eu repeti dinheiro milhares de vezes, mas o dinheiro não veio!" Essa pessoa não procedeu corretamente. Além disso, fazer uso de uma coisa tão maravilhosa para a realização de coisas mundanas é muito tolo, porque a vida é uma oportunidade e quando essa oportunidade for perdida, ela será perdida para sempre. Quando usamos este conhecimento para as coisas que não valem a pena, então o tempo é perdido. Por isso, isso só prova valer a pena se for utilizado para a obtenção de conhecimento espiritual. Se usarmos esse segredo para a realização das coisas mundanas, não saberemos se são boas ou ruins para nós. Muitas vezes adoraríamos ter isto ou aquilo, mas se não é bom para nós, podemos muito bem não ter tais coisas. O melhor é o princípio moral que lemos na Bíblia: "Buscai primeiro o reino de Deus, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.”
A fim de buscar o reino de Deus não é necessário abrir mão das coisas do mundo. Quer as tenhamos ou não, a primeira coisa é buscar o reino de Deus. Ouvi muita gente dizer: "Se a minha situação financeira ficar boa pelo resto da minha vida, vou começar a trabalhar em linhas espirituais, se a situação com o dinheiro estiver tudo bem, eu farei isso". Compreendo perfeitamente que é necessário pensar na situação financeira, é razoável que seja assim. Mas, ao mesmo tempo, quando olhamos para a vida que está passando - este momento que temos nunca virá novamente! - Quando pensamos que deixamos passar a nossa vida somente em busca de coisas mundanas, e que esperar antes de olhar para algo maior talvez seja tarde demais. As coisas mundanas duram apenas enquanto a vida do corpo dura: em um momento ela desaparece. Quem sabe para as mãos de quem a riqueza acumulada irá. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que Salomão, com toda a sua riqueza não era menos inteligente. Nós não precisamos abandonar todas as coisas; ao buscar a Deus não precisamos perder as coisas da Terra, todas elas seguem. Mas não se deve dizer: "Depois que eu tiver terminado minhas aquisições, então vou seguir o caminho espiritual". Esse é um sonho que pode nunca ser realizado. Se você quer seguir o caminho espiritual, você deve segui-lo agora, neste momento e ao mesmo tempo pensar sobre as obrigações mundanas. Pode-se muito bem ganhar dinheiro e se beneficiar disso e experimentar todo o conforto que estiver disponível. Não importa, contanto que se persiga o caminho espiritual.
Agora você pode perguntar: "De que modo se chega ao conhecimento espiritual através da repetição? É ao repetir o nome de Deus que a pessoa chega ao conhecimento espiritual? Não necessariamente, mas, ao repetir uma determinada coisa você esquece de si mesmo. Esquecendo de si você está se esquecendo do falso ser, e no esquecer o falso ser é que reside o segredo da Realização espiritual. Além da Realização espiritual, mesmo o segredo das grandes obras de músicos e poetas foi que eles esqueceram de si em seu trabalho. Para dar vida a algo a pessoa tem que fazer um sacrifício, e na Realização espiritual é pelo sacrifício do falso ser que ela chega ao Ser real (que lembra do Si mesmo Real). Há muitos que têm medo e dizem: 'Se perdermos a nós mesmos, o que ganharemos? É apenas uma perda!' Não é perder o seu verdadeiro Ser, mas a falsa concepção de si mesmo. É como uma pessoa que está sonhando. Ela está tão interessada no sonho que, se alguém vem acordá-la, ela diz: "Não, não, deixe-me dormir". Ela esquece que acordar será uma outra experiência, o seu grande interesse está no sonho. Assim é com algumas pessoas, elas têm medo de perder a si mesmas e se esquecem que é apenas a falsa concepção de si mesmas que perdem.
Ao imaginar o ideal espiritual muitas pessoas ficam com muito medo, como alguém que fica com medo no topo de uma montanha alta quando olha ao redor o imenso espaço. Isso lhes dá medo porque sempre viram horizontes estreitos. O horizonte amplo tem um efeito que lhes dá um choque. É o mesmo com aqueles que estão acostumados com a falsa concepção do ser. A melhor maneira de perder a si mesmo é pela repetição de uma determinada palavra sagrada que nos faz perder progressivamente a concepção do falso ser, expressando ao mesmo tempo a idéia do Ser real - uma base sobre a qual a vida será construída para sempre e para a eternidade.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Philokalia - São Gregório do Sinai - Instruções aos Aspirantes

Como guardar a mente


Você deveria saber que nenhuma pessoa pode guardar a mente por si mesma, se não for guardada pelo Espírito. A mente não pode ser guardada, não por causa de sua natureza móvel, mas porque através da negligência ela adquiriu o hábito de vagar e dar voltas aqui e ali. Quando através da transgressão dos mandamentos Daquele que nos regenerou nos tornamos separados de Deus, perdemos nossa união com Ele e destruímos em nosso sentimento um sentimento mental Dele. Uma mente assim inclinada e afastada de Deus é levada prisioneira para toda parte. E não há meios de reconquistar sua estabilidade exceto ao arrepender-se a Deus e unir-se com Ele através de frequentes e pacientes orações e ao mentalmente confessarmos nossos pecados para Ele a cada dia. Deus imediatamente perdoa aqueles que pedem perdão com humildade e contrição e que incessantemente invocam Seu nome sagrado. Quando através desse trabalho na oração a ação da oração torna-se estabilizada no coração, então a oração começa a manter a mente próxima, preenche-na com alegria e não deixa que ela se torne prisioneira. Entretanto, os devaneios dos pensamentos ocorrem mesmo após isso, pois os pensamentos se submetem completamente apenas àqueles que são perfeitos no Espírito Santo e que, através de Jesus Cristo, atingiram o estado livre de devaneios.


Como afastar os pensamentos


Nenhum iniciante jamais pode mandar embora um pensamento se Deus não mandá-lo embora. Apenas os fortes são capazes de lutar contra eles e bani-los. Mas nem mesmo eles alcançam isso por si mesmos, mas com a ajuda de Deus erguem-se para gladiar com eles, armados com Suas armas. Desse modo, quando os pensamentos vêm, chame nosso Senhor Jesus Cristo, frequente e pacientemente e eles irão se retirar, pois não podem suportar o aquecimento do coração produzido pela oração e fogem como se espantados pelo fogo. São João da Escada nos diz para açoitar nossos inimigos com o nome de Jesus; pois nosso Deus é fogo que devora o mal. O senhor é rápido em ajudar e rapidamente irá vingar aqueles que sinceramente chamarem-No dia e noite. Mas aquele que não possui a ação da oração pode conquistar os pensamentos de outra maneira, imitando Moisés. Pois se ele levanta e eleva seus olhos e mãos para o céu (Exod.xvii II) Deus manda embora os pensamentos. Após isso ele deveria novamente se sentar e pacientemente retornar a sua oração. Esse método é para o homem que ainda não atingiu a ação da oração. Mas até mesmo o homem que atingiu o método da oração, quando as paixões corpóreas como a preguiça e a luxúria, paixões graves e violentas, se agitam nele, ele frequentemente deve levantar-se e levantar suas mão para o céu para buscar ajuda contra elas. Ainda assim, para evitar a ilusão ele não deve fazer isso por muito tempo, mas um pouco depois deve sentar-se novamente, para impedir o inimigo de seduzir sua mente ao mostrar algum fantasma para ele. Pois apenas os puros e perfeitos podem ter uma mente a salvo de perigos.


A necessidade da auto-observação e da lembrança de Deus


Isaías o Eremita disse: 'Restrinja a mente irrestringível que se encontra espalhada e dispersa pelo poder do inimigo, o qual, através de nossa negligência, retornou mais uma vez após o Batismo à nossa alma indolente, juntamente com mais outros espíritos maus, de modo que, como disse o Senhor: “o último estado do homem se tornasse pior do que antes” (Mat. Xii 45) Em outro lugar é dito: “Um monge deveria ter a memória de Deus no lugar da respiração” ou como ainda em outro: “O amor da pessoa por Deus deveria vir primeiro do que a respiração”. São João da Escada nos aconselha: “Faça com que a lembrança de Jesus se combine com suas respirações – e então você conhecerá os benefícios do silêncio.” O Apóstolo afirma: “eu vivo, no entanto já não sou eu, mas é Cristo que vive em mim”, agindo e respirando a vida Divina (Gal. ii 20). O Senhor também diz: “o vento sopra onde ele é desejado” (João iii 8) tomando seu exemplo do sopro do vento físico. Purificados pelo batismo recebemos o noivado do Espírito, que deifica aqueles que compartilham nele e aumenta suas estaturas. Mas uma vez que negligenciamos os mandamentos - os guardiões da graça, mais uma vez caímos nas paixões e ao invés do sopro do Espírito Santo, nos tornamos preenchidos com o alento dos maus espíritos, a causa de toda a nossa desordem. Mas aquele que preservou o Espírito e foi purificado por Ele, é aquecido por Ele, inspirado pela vida Divina e então fala através Dele, pensa através Dele e se move através Dele, de acordo com as palavras do Senhor: “Pois não sereis vós que falareis, mas o Espírito do vosso Pai que falará em vós” (Mat. x.20). Da mesma maneira aquele que tem em si um espírito oposto ao Senhor e é possuído por ele, fala e age contra o Senhor.





Nós afirmamos que existem oito principais objetos da contemplação: o primeiro é Deus, invisível e sem forma, não-criado e sem começo, a causa de tudo o que existe, uma Deidade transubstancial em três pessoas; o segundo é a hierarquia e a ordem dos poderes imateriais; o terceiro – a composição das coisas visíveis; o quarto – o subsídio e a provisão Divina para o ordenamento de cada detalhe dos processos do Universo Criado, através do advento da Palavra; o quinto - a ressurreição geral; o sexto – a terrível segunda vinda de Cristo; o sétimo – o tormento eterno; o oitavo – o reino dos céus. Os quatro primeiros já se passaram e aconteceram, os quatro últimos estão ainda por vir e ainda não se manisfestaram, mas são claramente contemplados e reconhecidos por aqueles que alcançaram completa pureza da mente através da graça. Que aquele que aborda isso sem a luz da graça fique sabendo que apenas constrói fantasias e não contempla; uma vez que, enredado pelo espírito dos sonhos e das fantasias ele é apenas um sonhador.


É impossível para qualquer um aprender por si mesmo a arte da virtude, embora alguns tem usado sua própria experiência como um professor. Pois agir por suas próprias inclinações em vez de seguir os conselhos daqueles que já tiveram êxito, leva à uma opinião elevada sobre si mesmo. Pois se “O Filho não pode fazer nada por si mesmo, mas só o que Ele vê o Pai fazer; pois tudo o que Ele faz, o Filho faz igualmente' (João v 19), e o Espírito 'não falará de si mesmo' (João xvi 13), quem pode pensar que alcançou tais alturas da virtude que não necessita da orientação de alguém no meio dos mistérios? Em sua presunção tal homem parece mais louco do que virtuoso. Portanto, a pessoa deve escutar aqueles que experimentaram por si mesmos as dores e os labores da virtude ativa e praticá-la sob sua orientação, isto é, jejuns famintos, abstinências amargas, vigílias pacientes.

.

A razão verdadeira, tal como a que possuía o homem no início, não pode ser possuída ou adquirida por homem nenhum, que primeiro não tenha se purificado e se tornado desprovido de paixões. Somos privados da pureza pelas tendências irracionais dos sentidos, e do estado sem paixões – pelo estado corrompido da carne.

.

A razão verdadeira pertence apenas àqueles que se tornaram santos por adquirirem pureza. Ninguém que é sábio nas palavras jamais teve razão pura, porque desde o nascimento, deixaram seus poderes racionais serem corrompidos por pensamentos impróprios. O espírito sensorial e prolixo da sabedoria desta era, tão rico em palavras, que cria a ilusão de um grande conhecimento mas na verdade enche a pessoa dos pensamentos mais indomados, tem seu reduto nessa prolixidade, que priva o homem da sabedoria essencial, da verdadeira contemplação e do conhecimento do um e indivisível.

.

Por conhecimento da verdade, entenda a apreensão direta da verdade através da graça. Todos os outros pensamentos deveriam ser chamados de manifestações dos significados da verdade e demonstrações de suas aplicações.

.

Aqueles que perdem a graça, sofrem essa perda através de sua falta de fé e negligência, e aqueles que a adquirem novamente, o fazem através da fé e do zelo. Esses últimos movem-se adiante passo a passo, mas as anteriores voltam direto para trás.

.

Cair numa insensibilidade como de uma pedra é o mesmo que morrer; da mesma forma também estar cego na mente é o mesmo que perder a visão dos olhos físicos. Pois aquele que caiu na insensibilidade é privado da força doadora da vida e aquele cuja mente está cega é privado da luz Divina através da qual um homem pode ver e pode ser visto.

.

Apenas uns poucos recebem poder e sabedoria de Deus. Pois sabedoria significa compartilhar nas bênção Divinas e poder é mostrá-las. Mas esse compartilhar e passar para os outros é uma atividade realmente Divina, além dos poderes do homem.

.

Um verdadeiro santuário, mesmo antes da vida por vir, é um coração livre de pensamentos, tornado ativo pelo Espírito. Pois ali tudo é dito e feito espiritualmente. Aquele que não atingiu certo estado, embora por causa de algumas virtudes ele possa ser uma pedra apropriada para ser usada para construir um templo para Deus, não é ele mesmo um templo nem um celebrante do Espírito.

.

O homem é criado incorruptível e como tal ele será erguido dos mortos; mas nem imutável nem ainda mutável, mas possuindo poder de acordo com a inclinação de seu desejo de mudar ou de não mudar. O desejo não tem poder de dar à natureza o caráter de completa imutabilidade, essa última é a marca da futura deificação imutável.

.

A corrupção é nascida da carne. Alimentar, excretar matérias supérfluas e manter sua cabeça orgulhosamente mesmo quando deitado para dormir são características dos animais e das bestas selvagens das quais co-participamos; pois, através da transgressão nos tornamos semelhantes às bestas e perdemos as bênção naturais dadas a nós por Deus, nos tornando como bestas em vez de seres racionais, e animais em vez de divinos.

.

Aqueles que recebem a graça são pessoas que conceberam o Espírito e são ativos com Ele. Mas acontece deles jogarem longe a semente Divina seja pelas quedas ou por estarem viúvos de Deus através da comunhão com o inimigo escondido dentro deles. O abandono da graça é trazido pela ação das paixões (se a pessoa tira prazer da ação das paixões), e a graça é finalmente perdida através do cometimento dos pecados. Pois uma alma amante das paixões e dos pecados é privada da graça, varre-a para longe e se torna viúva; a partir daí ela se transforma em morada das paixões, se não dos demônios, tanto neste mundo quanto no próximo.


.

É ordenado que o homem deve colocar antes de todas as coisas o mandamento – lembrar de Deus – do qual é dito: “lembra-te do Senhor teu Deus” (Deut. Viii 18). Pois, pelo reverso daquilo que pode nos destruir, ficaremos seguros. O que nos destrói é o esquecimento de Deus, que encobre os mandamentos na escuridão e nos despoja de todo o bem.

.

Aquele que busca entender os mandamentos sem cumprir os mandamentos, e adquirir tal entendimento através de aprendizado e leitura, é como um homem que toma uma sombra como verdade. Pois a compreensão da verdade é dada àqueles que se tornaram participantes na verdade (que experimentaram-na ao vivê-la). Aqueles que não são participantes na verdade, que não são iniciados nela, quando buscam esta compreensão, traçam-na de uma sabedoria distorcida.

.

Assim como os olhos físicos olham para letras escritas e recebem conhecimento delas através dos sentidos, também a mente, quando se torna purificada e retorna a seu estado original, olha para Deus e recebe conhecimento Divino Dele. Em vez de um livro ela tem o Espírito, em vez de uma caneta, pensamento e língua (“minha língua é a caneta' diz o salmo xlv I); em vez de tinta – luz. Mergulhando o pensamento na luz, de modo que o próprio pensamento se torna luz, a mente, guiada pelo Espírito, traça palavras nos corações puros daqueles que escutam. Então ele entende as palavras: “E eles serão ensinados de Deus” (João vi 45), e “ele que ensina ao homem o conhecimento” (Salmo xciv 10)

.

Entenda que a lei dos mandamentos significa fé direta agindo no coração. Pois a fé dá a luz a todo mandamento e traz a iluminação às almas, que desse ponto em diante produzem frutos da verdade e da fé ativa: abstinência, amor, como o fim da perfeição, e humildade como um dom especial de Deus, segurando-os firmemente unidos.

.

Ortodoxia real é o verdadeiro conhecimento das coisas visíveis e invisíveis: visíveis, isto é, sensoriais; invisíveis, isto é, do pensamento, intelecto, espírito e Deus.

.

O objetivo final da Ortodoxia é o conhecimento puro dos dois dogmas da fé – A Trindade e a Dualidade; contemplar e conhecer a Trindade como indivisível e ainda assim não fundida; conhecer a Dualidade como as duas naturezas de Cristo unidas em uma pessoa – ou seja, conhecer e professar nossa fé no Filho de Deus tanto antes da incarnação, como depois da incarnação, louvá-Lo em Suas duas naturezas e dois testamentos não-fusionados, uma Divina e a outra humana.

.

As três propriedades imutáveis e invariáveis das três Pessoas da Santíssima Trindade deveriam ser corretamente professadas: o caráter não-gerado, o gerado e a procissão: o Pai não-gerado e sem começo, O Filho, gerado e também sem começo, e o Espírito Santo, eternamente coexistindo, que procedeu do Pai e é concedido pelo Filho.

.

A Trindade é simples unidade; ela não está fusionada – é três em um. O Deus Um tri-hipostático tem três hipóstases perfeitamente distintas em Si mesmo.

.

Deus é conhecido e entendido em tudo em três hipóstases. Ele mantém todas as coisas e fornece para todas as coisas através de Seu Filho no Espírito Santo, e nenhum Deles, onde quer que seja invocado, é citado ou pensado como existindo aparte ou separadamente dos outros dois.

.

Da mesma forma, o homem tem mente, palavra e espírito; e a mente não pode existir sem a palavra, nem a palavra sem o espírito, mas os três estão sempre um no outro, e ainda assim existem em si mesmos. A mente fala por meio das palavras e as palavras são manifestadas através do espírito. Esse exemplo mostra que o homem carrega em si mesmo uma frágil imagem do protótipo inefável, a Trindade, assim demonstrando que ele foi feito à imagem de Deus.

.

A mente é o Pai, a palavra o Filho, o espírito é o Espírito Santo, como os divinos padres ensinam nesse exemplo, expondo o ensinamento dogmático da Trindade consubstancial e pré-existente, do Deus uno em três Pessoas, desse modo transmitindo a nós a verdadeira fé como uma âncora para a esperança. De acordo com as Escrituras, conhecer o Deus uno é a raiz da imortalidade e conhecer o domínio do três-em-um é a verdade total e completa.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Hafiz - Três Poemas


A lembrança mergulha a taça em Seu luminoso poço do céu.



Frequentemente a mente fica atormentada e consegue negar


A beleza toda-penetrante de Deus.



Quando o grande trabalho da lembrança é esquecido.



Acorrentei cada um de meus átomos dançantes


A um assento divino na Taberna do Amado.



O que aprendi estou tão ávido para compartilhar:



Todo mal vai confessar que era apenas uma mentira


Quando os dourados esforços do seu amor


Levarem o vinho precioso até sua boca.



A Lembrança de nosso querido Amigo


Afunda o cálice da alma em Deus.



Veja, meus doces esforços e Sua Graça Sublime


Transformaram agora a Criação em um único dedo de minha mão


E das vastas reservas em meu coração e em minhas palmas



Hafiz oferece Deus


__________________________________________

.

Foi lindo, foi tão lindo uma noite


Em que todos nós começamos a esperar ouvir


Deus falar.



Nas ondas que fluíam na direção dos campos do moinho,


Das bocas dos ornamentos do céu dependurados


Murmurando em códigos da luz,


De um lampejo das plantas e das crianças brincando com amor radiante.



A existência era tão linda uma noite


Que começamos todos a esperar que nosso Amado falasse



No mais elevado dos sentidos de nossas asas


Que estavam aturdidos tentando compreender o divino


Através desses pequenos filtros orgânicos,


Que estavam aturdidos ao ter um lampejo da realidade


Dos milhares de componentes milagrosos


A cada momento e a cada passo.



Mas não podemos,


Ainda não podemos ouvir Deus sibilando internamente,


Por isso choramos.


E iremos chorar todos de alguma forma,

até que consigamos.


_____________________________________________

.

Há tantas posições de Amor:



Cada curva num galho,


As milhares de maneiras diferentes que


Seus olhos podem nos abraçar,


As infinitas formas que sua mente pode desenhar,


A orquestra de essências da primavera,


As correntes de luz em combustão


Como lábios apaixonados,


O rodar da saia da Existência


Cujas pregas contém outros mundos,



Cada suspiro seu que vai de encontro ao


Inconcebível Corpo Onipresente Dele.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

P. D. Ouspensky - O Raio da Criação / A Lei de Três / A Lei de Sete

Falei sobre o estudo do homem e o estudo do mundo em que vive o homem, em primeiro lugar, a fim de encontrar o lugar do homem no universo e, em segundo, para tentar entender por que o homem é o que ele é e por que ele não pode ser diferente, porque ele está nessas circunstâncias. Não podemos encontrar respostas para todas essas questões estudando o homem separado do universo, temos que estudar o homem em paralelo com o universo. Num certo sentido, o homem é análogo ao universo. Se tomarmos o universo como um todo e o homem em relação a ele, então certas leis compreenderemos melhor ao estudar o homem e algumas outras leis compreenderemos melhor ao estudar o universo. Em relação ao estudo do universo, você deve antes de tudo compreender o método que usamos: estudamos o universo baseado no princípio de escala num sentido muito simples. Por exemplo, sua própria casa onde você vive, você a conhece numa escala proporcional ao seu corpo, mas a cidade em que você vive você não conhece na mesma escala, você a conhece numa escala muito menor, conhece apenas as partes dela que você precisa conhecer, lugares onde você tem de ir. Algumas partes você conhece bem, outras não tão bem, e, provavelmente, não há nenhuma parte que você conheça tão bem como a sua casa. E você conhece a Inglaterra numa escala ainda menor. O mesmo princípio é usado em geografia e astronomia. Por exemplo, estudamos a terra numa escala porque vivemos na terra, mas todos os outros planetas do Sistema Solar tomamos juntos, porque não precisamos estudá-los separadamente. De uma maneira ou de outra eles afetam a nossa vida, mas esses são apenas os planetas do Sistema Solar que conhecemos. Planetas de outros sistemas que nós não estudamos, nós consideramos apenas os sóis com tudo o que está incluído na influência desses sóis. Mais tarde você vai se encontrar exemplos desse método como sendo diferente de outros métodos. Normalmente, as pessoas não pensam sobre isso, estudam o universo inteiramente aparte do estudo do homem. Dessa forma, elas acumulam uma certa quantidade de conhecimento, mas é conhecimento desconexo.
Segundo este método, diferentemente dos métodos usuais, estudamos o homem como parte da vida orgânica na terra. A vida orgânica é uma espécie de película sensível que cobre a Terra e serve a um propósito definido. Em geral, podemos dizer que serve o propósito da comunicação, porque sem ela, o sol, os planetas e a lua não poderiam se comunicar com a terra suficientemente, e sem a ajuda da vida orgânica muitas coisas seriam perdidas. A vida orgânica captura as vibrações vindas do exterior e as transfere para a terra. Dessa forma, os homens, os animais, as plantas, cada um deles desempenha seu papel.
Estamos aqui na terra. A vida orgânica, da qual fazemos parte, está sob certas influências de todos os planetas, também estamos sob certas influências do sol, estamos sujeitos a certas influências de todos os sóis e, talvez, sob influências de todos os mundos. É claro, as influências de todos os mundos para o homem individual é muito pequena, mas sabemos que influências vêm do sol. Não sabemos muito sobre as influências da lua, mas ela desempenha um papel muito importante na vida orgânica, e sem entender como tudo está conectado e como a vida orgânica do homem sobre a terra está conectada com os planetas e o sol, não podemos compreender a posição do homem e sua vida presente como ela é. Por exemplo, é impossível compreender uma expressão que é usada em relação ao homem sem entender esse diagrama, a expressão que o homem vive em um lugar muito ruim do universo e que muitas coisas que consideramos injustas, contra as quais lutamos ou tentamos lutar, são realmente o resultado dessa posição da vida orgânica na terra. Se estivéssemos na lua seria ainda pior, não haveria possibilidade de desenvolvimento. Na terra há uma possibilidade de desenvolvimento, isso significa que podemos desenvolver certas partes de nós.
Muito pouco das influências planetárias vem a nós. Geralmente as influências planetárias são apenas sentidas pelas massas de pessoas, assim, as influências planetárias são responsáveis por guerras, revoluções e coisas desse tipo, mas o homem individual está muito pouco sob as influências planetárias, porque a parte que pode ser afetada pelas influências planetárias no homem é pouco desenvolvida. Essa parte não desenvolvida é a essência.
Até certo ponto o homem também está sob a influência do sol e ele pode estar sob influências muito mais elevadas se ele desenvolver os centros superiores* e se tornar conectado a eles. Assim, o desenvolvimento significa passar de um tipo de influências para outro tipo de influências. Atualmente, estamos mais particularmente sob a influência da lua. Podemos vir a estar sob a influência dos planetas, do sol e outras influências se nos desenvolvermos. Temos de nos tornar mais e mais conscientes para ficarmos sob essas influências.
É preciso encontrar analogias na vida cotidiana. Em condições ordinárias há uma grande quantidade de influências maiores e menores, algumas vezes a pessoa está mais livre, outras vezes menos livre. Ao utilizarmos o princípio de escala, o que está mais perto de nós é estudado numa escala maior, o que está mais longe de nós é estudado numa escala menor.
Já a definição do princípio de relatividade em um sentido psicológico é: a lei de acordo com a qual cada fase da experiência é influenciada por todos as fases dela. Assim, cada fase da existência da terra é influenciada por todas as experiências anteriores no Raio da Criação. O homem vive sob um grande número de leis: físicas, fisiológicas, biológicas, leis criadas pelo homem, etc, até chegarmos às leis da vida pessoal e, finalmente, ao 'eu' imaginário que é a lei mais importante que governa a nossa vida e nos faz viver na não-existente sétima dimensão. Numerosas forças atuam sobre nós a qualquer momento. Agora as pessoas são principalmente controladas pela imaginação. Nós nos imaginamos diferentes do que somos e isso cria ilusões. Mas existem leis necessárias. Estamos limitados a certos alimentos e certo ar, a uma certa temperatura, etc. Somos tão condicionados pelas influências que temos muito pouca possibilidade de liberdade. É necessário mudar a nossa atitude interior.

Devemos olhar para o Raio de Criação de muitos lados diferentes. Somente quando essa idéia for entendida será possível resolver as coisas. A idéia do Raio da Criação não usa fatos novos, apenas os dispõe de forma diferente. Certos fatos como o fato de que vivemos na terra, que terra é um dos planetas, que os planetas fazem parte do Sistema Solar e coisas como essas que são óbvias, mas, quando pensamos sobre o mundo em que vivemos, ordinariamente não as colocamos na mesma posição. No entanto, a disposição é necessária para a solução de todo problema comum, na aritmética ordinária, por exemplo, você tem que dispor seu material de uma determinada maneira e a maneira de dispor esse material inclui uma certa compreensão da maneira de resolver este problema. Isso se chama - enunciado do problema, assim, o Raio da Criação é também uma espécie de enunciação do problema de como definir o lugar do homem no mundo. Isso não apenas significa o lugar exato do homem, mas também a relação deste lugar com o maior número de pontos de referência possível. Dessa forma, encontramos o lugar do homem na terra e o estabelecemos, e então o lugar da lua, e, em seguida, dos planetas, do sol e assim por diante. Dessa maneira podemos nos compreender uns aos outros quando falamos sobre o mundo.
A dificuldade aparecerá talvez apenas com relação ao Absoluto, mas começando com todos os mundos não pode haver nenhuma dúvida sobre os fatos. O Raio de Criação deve ser entendido como um instrumento para um pensar novo. O pensamento velho é o nº 1, é principalmente imitação; o nº 2 - é emocional, baseia-se em simpatias e antipatias, o nº 3 – é o pensar lógico, não pode ser aplicado a coisas maiores. O pensar nº. 4 é o início de um pensamento que, pouco a pouco, ordena todas as contradições. O Raio de Criação é um método que elimina as contradições.
Na vida comum uma idéia sempre contradiz a outra. Há sempre duas teorias sobre tudo. Como por exemplo: o universo surgiu ou foi criado? Foi criado de acordo com um plano ou é um caos com ilhas organizadas? Os eventos são acidentais ou predestinados? Em um nível lógico a pessoa aceita uma teoria em um sentido, uma outra teoria num outro sentido, mas não se pode dizer qual é verdadeira. Todas são verdadeiras, mas apenas num certo sentido. A mente humana não pode inventar nada que seja absolutamente falso, há sempre alguma semelhança com a verdade em tudo o que ela inventa. Como por exemplo ao inventar um novo animal. Todas essas teorias: vontade / mecanicidade; acidente / predestinação; evolução / criação por vontade, estão todas corretas, cada uma em seu próprio lugar. O Raio da Criação mostra onde e como cada uma delas está correta. Em primeiro lugar, o Raio da Criação é estudado do ponto de vista da linguagem, mas muitas outras idéias também estão conectadas com o Raio de Criação.

O Raio da Criação pode ser considerado como uma oitava descendente, tomando-a como uma sucessão de eventos. O intervalo Dó-Si é preenchido pela Vontade do Absoluto. Quanto ao intervalo de Fá-Mi, a natureza tem fornecido aqui um instrumento que dá um choque adicional entre os planetas e a terra. Sem esse choque certas vibrações não passariam abaixo dos planetas, elas seriam refletidas pela terra. Para esse fim, uma máquina especial de caráter cósmico foi criada.
Essa máquina é a vida orgânica na terra. A vida orgânica desempenha um papel muito importante no Raio da Criação, ela garante a transmissão de energia e torna possível o crescimento do Raio da Criação. O ponto de crescimento do Raio é a lua. A idéia é que a lua se torna como a terra e a terra se torna como o sol; então, outra lua vai aparecer e assim isso continuará até um certo ponto. Mas isso está um pouco além de nós. A vida orgânica é uma espécie de aparelho receptor para receber influências planetárias vindas dos planetas do Sistema Solar. Ao mesmo tempo, fazendo esse trabalho, serve como um meio de comunicação entre a Terra e os planetas, a vida orgânica alimenta a lua. Tudo o que vive serve aos propósitos da terra, tudo o que morre alimenta a lua. Isso soa estranho a princípio, mas quando entendermos as leis que regem a vida orgânica, as leis sob as quais ela está baseada, vamos entender que toda a vida orgânica está baseada em uma lei muito dura, a lei que uma classe come a outra classe. É um arranjo muito cruel, mas torna a vida biológica não apenas auto-suficiente, mas permite-lhe alimentar a lua e servir para a transmissão de energias. Desta forma, ela serve aos propósitos dos mundos maiores, dos planetas, da terra, e do fim do Raio da Criação, a lua. Assim, a vida orgânica é útil para muitas finalidades.
Toda vida orgânica na terra desempenha um certo papel cósmico e tem um propósito cósmico. A vida orgânica está vinculada ao seu lugar. O homem, sendo tão pequeno, está menos vinculado, é mais livre e pode escapar. Se ele não escapar, enquanto vive, ele é alimento para a terra, e quando ele morre, é alimento para a lua. A lua alimenta-se da vida orgânica, quando ela se desintegra a lua suga tudo o que é importante para ela. Dessa forma a lua cresce. A vida orgânica é organizada em princípios severos: ela come a si mesma. E a lua come tudo. Desta forma, o Raio da Criação mostra como tudo está interconectado, tudo existe não para si mas para diversos propósitos diferentes. Há muitos outros lados da vida orgânica. A vida orgânica começa no Sol (a oitava, sol-lua). O Mi da segunda oitava entra em Mi (terra). Podemos ver como a vida orgânica entra na terra e desempenha um papel importante na estrutura da superfície da terra. A lua tira algo da vida orgânica que constitui a energia da vida: alguma energia elétrica, magnética, química, uma espécie de energia radiante que é chamada de a alma das coisas.
A questão surge: como podemos provar isso? Poderemos encontrar algumas provas mais tarde, por analogia, ao estudar o homem, porque a idéia é que o homem é construído sobre os mesmos princípios que o Raio da Criação. Há muitas coisas que não podemos provar de forma objetiva, mas talvez possamos encontrar provas estudando a nós mesmos.

Certa vez uma pergunta foi feita sobre porque a Vontade do Absoluto não se manifesta em nosso mundo. A Lei do Absoluto é a Sua Vontade. Esse tipo de disposição do material mostra que a Vontade do Absoluto, diferentemente das leis mecânicas deste mundo, não pode ser manifestada neste mundo, porque seria necessário para ela destruir todos os outros mundos que estão entre eles. Tente pensar sobre isso, é muito importante. Até uma certa medida, podemos compreender essa idéia ao encontrar em nós mesmos momentos de "vontade" e momentos de continuação mecânica. Eu quero dizer "vontade" no sentido em que a palavra é usada na vida cotidiana, em conversas comuns, não do ponto de vista da vontade criadora. Em certos momentos na vida você tem que fazer esforços e depois disso as coisas simplesmente acontecem, elas prosseguem, uma após a outra. Por exemplo, você está dormindo e não quer levantar-se, em seguida, você faz o esforço para se levantar, depois, por um longo tempo, as coisas acontecem sem nenhum esforço, seguem naturalmente. Ou, vamos supor que você tem que escrever uma carta e faz um esforço, pega a caneta. Se você olhar a partir desse ponto de vista, você verá que a Vontade do Absoluto não pode vir através da mecanicidade, mas ela inicia o rolar da bola.
O Raio da Criação dá a possibilidade de estudar alguns princípios muito importantes como o princípio da relatividade e o princípio de escala, sem os quais é impossível compreender o mundo. O princípio de escala é uma coisa simples. A idéia é que podemos saber muito mais do que normalmente sabemos se estudarmos as coisas comensuráveis com relação a nós e que têm relação conosco de alguma forma, e as coisas que estão mais distantes de nós e não tem nenhuma relação definida com nossa vida, de uma forma mais abstrata, em menor escala. Desta forma, podemos obter toda a quantidade necessária de conhecimento sem aprender muito, podemos saber tudo o que é necessário e esse conhecimento vai incluir muito poucas coisas inúteis. Somente desta forma você obtém a quantidade necessária de conhecimento, porque se aprender tudo indiscriminadamente, você não saberá as coisas necessárias.
O princípio da relatividade entra quando começamos a compreender que vivemos sob diferentes leis. Não estamos sob um conjunto de leis, mas sob quantidades de leis diferentes.
Um tempo atrás foi colocada a pergunta: "Quais são as 48 leis?" Se tomarmos 48 leis, temos de compreender que cada uma delas é um grande sistema de leis. Um deles são as leis físicas que existem na terra, outro, por exemplo, leis biológicas, e assim por diante. Nós sabemos algo sobre as leis físicas e biológicas, mas existem muitas leis sobre as quais não sabemos nada. Por exemplo, existem as leis cósmicas que não pertencem às três leis da própria Terra, estão relacionadas com alguma esfera maior e governam certas coisas que do nosso ponto de vista parecem triviais e insignificantes. Por exemplo, existe uma lei definida que cada classe de seres vivos só pode comer um certo tipo de alimento (de uma certa densidade até uma certa densidade). O homem pode comer coisas que estão entre determinadas densidades, entre determinadas qualidades e ele não pode mudar isso, assim como ele não pode mudar o ar que respira ou a temperatura na qual ele pode existir. Há muitas coisas como essas, são todas leis sob as quais o homem vive. Mas há muitas coisas a esse respeito não podemos saber, muitas coisas que não sabemos sobre as condições em que vivemos.


Segundo a Lei de Três, nenhum evento pode acontecer sem a concordância de três forças. Existem três ordens de tríades: 1-2-3 / 2-1-3 / 3-1-2 / 1-3-2 / 2-3-1 / 3-2-1
A Lei de Três deve ser entendida de uma forma mais complicada do que parece à primeira vista. É bem verdade que existem três forças. Deve ser entendido que elas não diferem uma da outra como atividade e passividade diferem em nossa idéia comum desses termos. Ativa e passiva são ambas ativas, uma força não pode ser passiva, são todas ativas. Mas há uma certa diferença na sua atividade em um determinado momento e essa diferença cria toda a gama de variedade no mundo. Ao mesmo tempo, cada força, que é agora ativa, no momento seguinte, em outra tríade, pode tornar-se passiva, ou neutralizante, e essa mudança de forças, onde uma torna-se outra, cria todos os fenômenos que observamos. Mas mesmo isso não é suficiente. É necessário compreender que existem combinações definidas de forças. Todos os fenômenos que observamos, nossas próprias ações, as ações das outras pessoas, tudo o que observamos pode ser dividido em classes definidas. Esses diferentes tipos de acontecimentos não têm nada em comum, eles têm resultados diferentes, precisam de esforços diferentes, e assim por diante. Essas divisões são muito difíceis porque as classes são muito grandes, ao mesmo tempo, não vemos a terceira força, vemos apenas os resultados.
Podemos distinguir dois tipos de ação, se algo for dito sobre elas. Por exemplo, em primeiro lugar, algum tipo de ação violenta, como a queima de uma casa com um fósforo. Outra atividade é a construção de uma casa. A ação com a qual a casa é queimada não é suficiente para construir uma casa. O terceiro tipo é mais difícil de ver. As ações pertencentes ao primeiro tipo são as ações violentas ou acontecimentos naturais. Quase todos os eventos biológicos pertencem ao primeiro tipo. Assim, a primeira tríade não significa apenas violência, há muitas coisas simples da vida que pertencem a essa categoria, tais como nascimento, morte e coisas assim. A maior parte da atividade humana pertence ao segundo tipo, embora muito dela pertença ao primeiro tipo. O segundo tipo sempre significa esforço ou sacrifício.
O primeiro tipo são ou fenômenos naturais, ou violência. Quando dizemos que as coisas acontecem naturalmente, isso significa que acontecem pela primeira tríade. Houve uma pergunta uma vez: "Se as coisas acontecem naturalmente, se estamos naturalmente sob 48 leis, devemos tentar mudar?” Mas toda a nossa vida consciente, intencional, significa luta contra o natural. Se quisermos apenas seguir o que é natural nunca passaremos deste ponto morto onde estamos.
Talvez alguém possa encontrar um exemplo do terceiro tipo. No Novo Testamento e provavelmente em outros escritos, talvez você possa encontrar referências do terceiro tipo de tríade. Por exemplo: "Tereis misericórdia e não sacrifício” - isso se refere ao terceiro tipo, essa seria uma ação pela terceira tríade (mas a palavra 'misericórdia' não está correta, ela tem um sentido completamente diferente).
A tríades que começam com a terceira força nós não podemos distinguir. Os fenômenos da vida como o nascimento, a morte, etc seguem na maior parte pela primeira tríade. Determinados fenômenos em nosso organismo acontecem pela segunda tríade. Nós devemos entender que as coisas podem ser de tipos e origens muito diferentes: como construir e queimar - não é a mesma ação. Atualmente, podemos estudar apenas duas tríades. Às vezes, sem saber, podemos usar a terceira tríade. Quando chegarmos a um estado em que pudermos usá-la conscientemente, seremos capazes de "fazer".
Pergunta: É melhor estar sob menos influências?
Sr. Ouspensky: Ou pior. Energia, vontade, entendimento, consciência podem ser criados somente através de esforço.
Pode-se observar as leis ao considerarmos como exemplo homem, animal, vegetal e mineral. O homem é mais livre. Atualmente, é apenas uma liberdade imaginária, mas ele pode adquirir liberdade real.
P: Você usou a palavra "esforço" em conexão com o segundo tipo de tríade?
Sr. O: Sim, esforço e sacrifício. Em certos casos, como mais tarde você vai ver no corpo humano, o trabalho prossegue sem esforço visível, porque é uma matéria e maquinário altamente organizados. Mas mesmo aí esforço é necessário em certos momentos.
P: O senhor poderia dar um exemplo de pessoas que tomam uma oitava descendente por ascendente?
Sr. O: Suponha que encontramos selvagens, pessoas selvagens, pensamos que são primitivos, e desses povos primitivos começa a se desenvolver civilização e cultura. Mas não percebemos que na maioria dos casos, eles são descendentes de pessoas cultas. Muitas vezes tomamos degeneração por evolução.
P: A escala ascendente sempre significa melhoria?
Sr. O: Mais uma vez, pode ser ou não pode. A idéia de evoluções mecânicas é o pior tipo de especulação, nós nunca tivemos quaisquer fatos para defendê-la, ninguém nunca viu um único pequeno exemplo de uma tal evolução. Isso significaria a formação de unidades mais complexas a partir de menos complexas, só por si. Seria o mesmo que esperar uma casa crescer, por si só, a partir de uma pilha de tijolos.
P: Qual é a interação entre a terra e a lua?
Sr. O: A ação da lua em nossa vida é puramente mecânica. Seria mais simples de entender se você assumir que a lua age por si mesma, por puro peso, em nossa vida, e recebe energias mais altas, matérias mais elevadas, que pouco a pouco tornam-a viva. Se lembrarmos os quatro tipos de energias: mecânica, vida, psíquica e consciente, então isso significa que a lua atua por energia mecânica, simplesmente pelo seu peso, como um eletro-ímã.
P: A Lei de Três trabalha em eventos de sucessão?
Sr. O: Sim, o tempo todo, mas as forças mudam o seu valor, o que era ativo torna-se passivo e o que era passivo torna-se neutralizante.
P: Se considerarmos os eventos, poderemos dizer que eles são de um tipo diferente de acordo com a força que opera por meio deles?
Sr. O: Sim, sem dúvida, segundo qual tríade opera, os eventos serão bastante diferentes. É interessante, você sabe, pois todos sabemos, por exemplo, como a mesma frase, as mesmas palavras, podem ter um significado bastante diferente de acordo com quem diz. Se uma pessoa disser, terá um significado, mas se outra pessoa disser, isso terá um significado diferente. Ou até mesmo a mesma pessoa pode dizê-la em momentos diferentes e o significado será diferente.
Tudo isso só parece complicado, mas logo você vai ver que é muito simples. Não há novas informações em todas estas coisas, ou muito pouco, mas com a ajuda dessa linguagem seremos capazes de falar de coisas novas, sem essa linguagem é quase impossível, porque nossas palavras são vagas demais, não são definidas o suficiente.

A Lei de Três significa que existem três forças originais no mundo e que cada evento, cada fenômeno é o resultado de três forças reunidas. Quando as três forças não se encontram, não há nenhum evento, nada acontece. As três forças são chamadas de positiva, negativa e neutralizante. A positiva e a negativa podemos observar em muitas manifestações diferentes. A força neutralizante, não estamos acostumados a ver, embora a sua presença seja muito clara em fenômenos fisiológicos e psicológicos. Se sabemos sobre a existência necessária dessa força, após observação, começamos a percebê-la, mas quando não sabemos não nos damos conta que esse terceiro elemento está lá. É um assunto muito grande, por isso é suficiente se você se lembrar disso e tentar encontrar três forças em cada ação. Às vezes você pode ter sucesso. Isso nos refuta à filosofia indiana na verdade, só que nela isso está tão misturado com comentários que é difícil encontrar sua forma original.

Agora temos de tentar compreender a segunda grande lei cósmica, a Lei de Sete. As tríades referem a eventos, cada evento separado, seja grande ou pequeno, significa alguma reunião das três forças. Ao falar da Lei de Três, falamos sobre a origem dos acontecimentos, agora vamos falar sobre como eles desenvolvem-se um do outro. Uma sucessão de eventos procede de acordo com a Lei de Sete, a Lei das Oitavas.
Nós tomamos o mundo como um mundo de vibrações. De uma maneira bastante elementar, notaremos ao observarmos essas vibrações, que elas não continuam da mesma forma como começaram. Ou as vibrações aumentam ou diminuem, há uma certa irregularidade na sua diminuição ou aumento. Se tomarmos o aumento das vibrações, observaremos que em um período entre um certo número de vibrações e o dobro desse número, há dois lugares ou momentos em que as vibrações desaceleram, e então começam de novo. Em seguida, verificamos que este aumento prossegue com uma certa irregularidade medida. Essa irregularidade medida foi calculada e colocada em uma certa fórmula. Essa fórmula que expressa uma lei cósmica, foi aplicada mais tarde à música na forma de escala maior. Mas, primeiro, existia como uma fórmula de uma determinada lei cósmica.
Todas as coisas no mundo acontecem de acordo com esse esquema. Há um desvio da linha de desenvolvimento, acontece com todas as nossas atividades quando não conhecemos essa lei e não sabemos como usá-la. Mais tarde você vai ver que existem muitas oitavas na nossa máquina. Nós chegamos à conclusão de que não usamos todas as nossas forças. Por que? Num certo ponto da oitava, há um intervalo em que as forças não passam. Se quisermos estar conscientes, temos de encontrar esse lugar e fazer um esforço especial. Como resultado, teremos atividade interna em vez de abrandamento e seguiremos com mais força ainda. Então, temos de encontrar um segundo lugar. Se dermos dois choques em nosso organismo, começamos a desenvolver. O primeiro choque é a lembrança de si.
No estudo dos eventos, se falamos de cada evento separadamente, temos que entender as tríades, a qual tríade cada evento pertence e assim por diante. Se falarmos sobre a sucessão dos eventos, temos de conhecer as oitavas descendentes e ascendentes. Sem saber se é ascendente ou descendente, é impossível entendê-las, e isso é o que acontece no pensamento comum, porque as pessoas estudam as oitavas ascendentes e tomam-nas como descendentes e vice-versa.

Então, se imaginarmos o mundo como um mundo de vibrações indo em direções diferentes, energias diferentes, todas as vibrações indo para cima ou para baixo. Suponha que nós tomamos esta linha aqui como vibrações crescentes de 500-1000:

Na distância entre os dois pontos podemos observar dois fenômenos muito interessantes. Embora as vibrações cresçam e aumentem em freqüência, elas não aumentam regularmente. Elas aumentam por um tempo, então diminuem, em seguida, aumentam novamente e diminuem novamente. Portanto, há dois lugares onde elas diminuem. Essa é a Lei de Sete. Em certo período, foi criada uma fórmula dessa lei, que é uma representação de uma lei cósmica. Foi mostrada como uma escala musical, onde dois semitons faltando mostram exatamente essa desaceleração em dois intervalos entre as sete notas. É mais fácil observar essa Lei de Sete nas ações humanas. Você pode ver que quando as pessoas começam a fazer algo, a estudar, a trabalhar, depois de algum tempo, sem qualquer razão aparente, seus esforços diminuem, o trabalho desacelera e se não houver algum esforço especial em um dado momento ele muda sua direção. Há uma mudança pequena, mas real na força interior. Então, depois de algum tempo, novamente, há um afrouxamento e, novamente, se não houver um esforço especial, uma mudança de direção. Ela pode mudar completamente e ir em uma direção totalmente diferente, ainda que pareça ser a mesma coisa. Há muitas fases da atividade humana que respondem exatamente a essa descrição. Elas começam de uma forma e sem perceber vão para uma direção exatamente oposta. Numa disposição cósmica podemos tomar essa lei assim:

Esta é uma oitava descendente. O intervalo entre Dó e Si é coberto em uma forma especial que não é necessário entrar em detalhes neste esquema. A vida orgânica, a parte em que vivemos, ocupa o segundo intervalo. Então você vê que se esses intervalos são conhecidos e se um método de criar algum esforço ou arranjo especial for utilizado nesses locais, é possível evitar essas quebras na oitava. Tudo acontece em oitavas. Nenhuma vibração, movimento ou atividade acorre de outra forma. As escalas variam de modo que não podemos segui-las, mas podemos ver o resultado delas, o resultado dessa Lei das Oitavas. Mesmo o trabalho físico interno do organismo está sob essa lei. Com certos tipos de esforço podemos produzir esses semitons que faltam e dessa forma mudar o trabalho da nossa máquina. Por exemplo, você se lembra que falamos sobre a lembrança de si, o esforço para se estar consciente, de lembrar de si mesmo? Mais tarde eu vou explicar-lhes como esse esforço para lembrar de si muda muitas coisas no trabalho químico do organismo. Falemos agora mais sobre a matéria a partir da qual o universo é feito. No início, tomamos a definição comum de energia e matéria. Um certo tipo de energia opera num determinado tipo de matéria. Qualquer tipo de matéria se torna um pouco diferente quando a força ativa trabalha através dela, quero dizer, torna-se diferente da mesma matéria que esteja conduzindo força passiva ou neutralizante. Pegue o ferro: quando a força ativa trabalha através ele, é um tipo de ferro, quando a força passiva funciona através dele, o ferro é diferente. Se o mesmo ferro é tomado e nenhuma força estiver operando através dele, é uma quarta espécie de ferro. Todos esses quatro tipos de ferro, quatro tipos de matéria, têm nomes diferentes, eles são chamados de carbono, oxigênio, nitrogênio ou hidrogênio, de acordo com qual força opera através dela. Qualquer matéria que não tem relação com uma tríade pode ser chamada de hidrogênio, em outras palavras, é matéria que não tem nenhuma relação com qualquer outra coisa. Mas em uma tríade qualquer matéria pode ser chamada de carbono, oxigênio ou nitrogênio.
Vou mostrar-lhes uma determinada tabela de Hidrogênios onde será possível, apenas através de figuras, ter definições muito exatas de todas as matérias de acordo com as suas funções em relação ao homem.


Então, se a força ativa opera através da matéria, neste sistema ela é chamada de carbono, se a força passiva trabalha através dela, é chamada de oxigênio, se a força neutralizante trabalha através dela é chamada de nitrogênio e se for tomada sem relação com qualquer força, é chamada de hidrogênio. É necessário lembrar que cada matéria, cada elemento ou composto, pode ser chamado de hidrogênio. Vamos falar separadamente sobre as forças (primeira, segunda e terceira) e as matérias (carbono, oxigênio, nitrogênio e hidrogênio). É necessário lembrar que cada tipo de matéria (madeira, ferro, etc) pode ser de carbono, oxigênio, etc. Agora tomemos o Raio de Criação em três oitavas ou radiações:
Absoluto-sol; terra-sol; terra-lua. Cada nota apresenta uma determinada camada da matéria. Conforme desce de escala, torna-se mais e mais densa. A matéria mais leve está no nível do Dó. As vibrações são também mais rápidas no nível do Dó. Em seguida tornam-se mais lentas.
A primeira tríade da tabela é: -C- 1 1 1 Si -O- 2 3 2 -N- 3 2 3 > H6
As forças se dispõe na relação: 1-2-3 e trabalham no carbono, oxigênio e nitrogênio. Mas o nitrogênio, pela densidade, está entre o carbono e o oxigênio, de modo que quando o triângulo começa a se formar é preciso colocá-las na ordem 1-3-2. Quando as matérias se dispõe nessa ordem, um evento acontece. O total será - H6. A partir da primeira tríade surge uma segunda tríade. A segunda tríade surge da força neutralizante que se torna ativa. Portanto elas devem se colocar novamente na ordem 1-2-3. Essa mudança de local da matéria na tríade é o que produz ação. Esses hidrogênios representam todas as camadas da matéria em relação à máquina humana. A escala é maior do que na química comum e muitas matérias diferentes entram em um hidrogênio. Essa terceira escala nos servirá para o estudo da máquina humana.

A máquina humana deve ser considerada como uma fábrica de produtos químicos de três andares que recebe matérias-primas e as transforma em matéria mais fina. No estado do homem nº 1, 2 e 3*, a fábrica trabalha de forma não econômica e gasta em si mesma tudo o que ela produz. A partir das matérias-primas recebidas em vinte e quatro horas ela produz combustível para seus diferentes motores. Mas em outras vinte e quatro horas tudo o que ela produz é gasto.

A fábrica recebe três tipos de matéria-prima: os alimentos (incluindo a água), o ar e as impressões. As impressões também são matéria ou energia. Com cada impressão, por menor que seja, uma certa quantidade de energia entra em nós. A partir da combinação dos três alimentos a fábrica produz tudo o que é necessário para seu trabalho e desenvolvimento. Mas como se encontra atualmente, tudo é gasto e não resta nada para o desenvolvimento. Se, no entanto, através de treinamento e método, uma certa economia é exercida, algumas determinadas matérias são armazenadas na fábrica. Quando uma quantidade suficiente dessas matérias se acumula, outros processos se iniciam, o que significa desenvolvimento. Para isso, em primeiro lugar, a economia é necessária, e, em segundo, o aumento da produção. Com alguns esforços no momento correto é possível aumentar a produção. Mas o esforço deve ser permanente.

No estudo das três oitavas no organismo humano, temos que contar com três intervalos. A natureza forneceu um choque para apenas um intervalo, mas não para os outros dois. Para os outros dois temos de produzir o choque necessário por nossos próprios esforços. É necessário compreender o significado desses hidrogênios, saber o que eles são. O alimento é H768. Uma grande variedade de matérias está na forma de H768. E ainda assi, na realidade, o leque de matérias que podem servir como alimento para o homem é muito limitado. O H384 é a água, os líquidos. O H192 é o ar que o homem respira. O H96 é muitas coisas. Por exemplo, é o sangue arterial, o ar muito quente ou ar muito rarefeito, etc. Os H48, H24, H12 e H6 são todos impressões.

Mas as impressões acima de H48 não são uma regra e sim uma exceção. O homem nº 1, 2, 3 tem impressões 48 e nem mesmo faz muito uso delas, como veremos. As impressões entram como 48 e param porque neste lugar não há carbono 12 correspondente. O Carbono 12 pode ser trazido para cá através de um esforço especial. Se conhecermos esse momento e pudermos fazer esse esforço, ele trará carbono 12 a este lugar e a oitava poderá desenvolver-se adiante. Ao mesmo tempo, ele toca o Mi 48 da oitava do ar e permite que ela se desenvolva fornecendo o choque necessário. Sem esse esforço apenas uma quantidade infinitesimal do terceiro alimento (Dó 48) passa adiante. É o suficiente para a vida mas não é o suficiente para o desenvolvimento. Assim, podemos dizer que o Dó 48 não se desenvolve além disso. O segundo choque traz as três oitavas para Si 12, Mi 12 e Sol 12.
Si 12 e Mi 12 não podem se desenvolver adiante. Sol 12 desenvolve-se em La 6, mas é um Lá muito pequeno porque vem do ar. Mas Mi e Si, que são muito poderosos, param aqui. Um esforço especial é necessário para transformá-los em Fá 6 e Dó 6. A natureza desses esforços nós começamos a estudar desde o primeiro dia. O primeiro é a lembrança de si e a auto-observação. O segundo é a luta contra as emoções negativas. Essa é a nossa alquimia interior, a transmutação de metais inferiores em metais preciosos. Mas toda essa alquimia está dentro de nós, não fora. Até Fá 96 e Ré 96 o diagrama pode ser acompanhado psicologicamente.
A fisiologia ordinária mostra ainda mais detalhes do que esse diagrama. O alimento que entra na boca encontra-se com a saliva e depois no estômago com os sucos gástricos, então no intestino com os sucos intestinal. Em seguida, ele é absorvido no sangue venoso, é transportado para o fígado, atravessa do coração para os pulmões, é oxidado lá e se torna sangue arterial H96. O estudo dos hidrogênios e sua relação uns com os outros também ajuda a compreender os centros e suas velocidades diferentes. O centro intelectual trabalha com H48, o centro motor com H24, o centro emocional deveria trabalhar com H12, mas ele nunca recebe o combustível correto e nunca funciona como deveria. Se pudéssemos fazê-lo trabalhar mais rápido, isso significaria uma grande diferença nas percepções, etc. Então, até 96, podemos acompanhar o processo e descrevê-lo em detalhe. Além de 96, não podemos acompanhar o processo fisiologicamente. Após 96, podemos estudar o quadro de nutrição apenas psicologicamente.
Psicologicamente podemos estabelecer a diferença entre 48 e 24, 24 e 12. Mas isso precisa de observação. Quando pudermos distinguir a diferença entre certas percepções e sentimentos seremos capazes de compreender qual hidrogênio está operando. Nosso objetivo é voltar de novo para a psicologia, mas com melhor material e com armas melhores de modo a sermos capazes de estabelecer a posição de cada fenômeno em relação a outros fenômenos.


*Para a melhor compreensão de alguns termos utilizados por Ouspensky é recomendada a leitura do livro: "A Pscologia da Evolução Possível ao Homem", que encontra-se no início do blog.