quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Significados Ocultos e Linguagem Figurada nos Escritos de G. I. Gurdjieff

Para aqueles interessados nas idéias do Sr. Gurdjieff e que desejam aprofundar-se no seu precioso ensinamento, no link: http://oarautodobemquevira.blogspot.com/p/significados-ocultos-e-linguagem.html estão traduzidos os três primeiros capítulos desse estudo sério e profundo dos escritos dele.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Philokalia - São Gregório do Sinai - A escuridão da ignorância

A noite das paixões é a escuridão da ignorância. Ou, alternadamente, a noite é o estado que gera as paixões, onde o príncipe da escuridão governa e onde as bestas dos campos, os pássaros do ar e as criaturas rastejantes da terra têm sua morada, esses últimos sendo termos alegóricos para os espíritos errantes que visam apoderar-se de nós para nos devorar (Sal. 104:20).


Alguns pensamentos distrativos precedem a atividade das paixões e outros seguem-nas. Tais pensamentos precedem as fantasias, enquanto as paixões são subsequentes às fantasias. As paixões precedem os demônios, enquanto que os demônios seguem as paixões.


A causa e a origem das paixões é a má utilização das coisas. Tal má utilização resulta da perverção de nosso caráter. A perversão expressa a propensão da vontade e o estado de nossa vontade é testado pela provocação demoníaca. Dessa forma, os demônios são permitidos pela providência divina a demonstrar para nós o estado específico de nossa vontade.


O veneno mortal da picada do pecado é o estado carregado de paixões da alma. Pois se por sua própria livre escolha, você se permite ser dominado pelas paixões, você desenvolverá uma propensão firme e imutável para o pecado.


As paixões são nomeadas de diversas maneiras. Elas são divididas entre aquelas que pertencem ao corpo e aquelas que pertencem à alma. As paixões corpóreas são subdivididas entre aquelas que envolvem sofrimento e aquelas que são pecaminosas. As paixões que induzem o sofrimento são ainda subdivididas entre aquelas que estão conectadas com doenças e aquelas conectadas com a disciplina corretiva. As paixões pertencentes à alma são divididas de acordo com se elas afetam o aspecto apetitivo, inflamatório ou inteligente da alma. Aquelas conectadas com a inteligência são subdivididas naquelas que afetam a imaginação e aquelas que afetam a compreensão. Dessas, algumas são o resultado do mal uso deliberado das coisas, outras sofremos contra nossa vontade, por necessidade, e por essas não temos culpa.


As paixões que pertencem ao corpo diferem daquelas que pertencem à alma; aquelas que afetam a faculdade apetitiva diferem das que afetam a faculdade inflamatória, e as da inteligência diferem daquelas do intelecto e da razão. Mas todas se intercomunicam e colaboram entre si, as paixões corpóreas com as da faculdade apetitiva, as paixões da alma com as da faculdade inflamatória, as paixões da inteligência com aquelas do intelecto, e as paixões do intelecto com aquelas da razão e da memória.


As paixões da faculdade inflamatória são a raiva, a animosidade, os gritos, o mal temperamento, a auto-afirmação, o menosprezo, a jactância e assim por diante. As paixões da faculdade apetitiva são a avidez, a devassidão, a libertinagem, a insaciedade, a auto-indulgência, a avareza e o amor-próprio, que é o pior de todos. As paixões da carne são a impudicícia, o adultério, a sujeira, a depravação, a injustiça, a glutonia, a indiferença, a ostentação, o auto-adornamento, a covardice, e assim por diante. As paixões da inteligência são a falta de fé, a blasfêmia, a malícia, a astúcia, a indiscrição, a duplicidade, o abuso, o bater boca, a tendência de censurar, a caluniação, a conversa fiada, a hipocrisia, a mentira, o falar mal, o papo furado, a falsidade, o sarcasmo, o pavonear-se, o amor pela popularidade, o sonhar acordado, o perjúrio, a fofoca e assim por diante. As paixões do intelecto são a auto-presunção, a pomposidade, a arrogância, a querela, a inveja, a auto-satisfação, a contenciosidade, a desatenção, a fantasia, a fabricação, a fanfarronice, a vanglória e o orgulho, o início e o fim de todos os vícios. As paixões da razão são o estremecimento, a distração, a fascinação, o obscurecimento, a cegueira a abdução, a provocação, a conivência no pecado, o preconceito, a perversão , a instabilidade da mente e coisas similares. Em suma, todos os vícios não-naturais que misturam-se com as três faculdades da alma, assim como todas as virtudes naturalmente coexistem dentro dela.

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Quão eloquente é Davi quando ele fala para Deus em êxtase: “Teu Conhecimento é maravilhoso de mais para mim, eu não posso alcançá-lo” (Sal.139:6), pois ele excede meu conhecimento débil e minhas forças débeis. Quão incompreensível é, de fato, até mesmo esta carne na maneira como foi constituída: ela também é triádica em cada detalhe e ainda assim uma harmonia única abrange seus membros e partes.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

P. D. Ouspensky - Consciência Moral, Amortecedores, Traço Principal

Sr. Ouspensky: O que é moralidade? É a compreensão das leis de conduta? Não é suficiente. Se dissermos, como um selvagem ou como nossos amigos os bolcheviques dizem: 'Se você rouba de mim é ruim, mas se eu roubar de você é bom', não é moral, é um mero comportamento selvagem. Porque a moral começa quando temos um sentimento de bom e ruim em relação às nossas próprias ações e somos capazes de sacrificar o que é ruim, de não fazemos o que consideramos ser ruim e fazer o que consideramos ser bom.
O que é bom? E o que é ruim? Geralmente, nesta primeira fase, o homem toma os princípios morais de idéias religiosas, filosóficas ou científicas, ou simplesmente adota tabus convencionais. Ele acredita que algumas coisas são boas e algumas coisas são ruins. Mas essa é a moralidade subjetiva, porque o que é bom em um país é ruim em outro. Por exemplo, eu dei o exemplo antes da vingança pela honra familiar. Em alguns países recusar essa vingança de sangue é considerado muito imoral. Portanto, tudo é relativo e subjetivo. Tudo o que pode ser dito sobre a moralidade comum é que ela não tem qualquer fundamento, nenhuma base. Algumas pessoas dizem que a destruição de uma vida é definitivamente ruim. Mas por que é melhor matar um porco do que um homem?
E, por que, em um caso um homem pode matar e em outro não? Tudo o que é conhecido sobre a moralidade comum é cheio de contradições. O objetivo deste sistema (as idéias apresentadas pelo Sr. Gurdjieff) é levar o homem à consciência moral objetiva. A consciência moral é uma certa qualidade que existe em todo homem normal. É realmente uma expressão diferente da mesma qualidade da Consciência. Apenas a consciência trabalha mais o lado intelectual e a consciência moral mais sobre o lado moral: ela ajuda a perceber o que é bom e o que é ruim na conduta da pessoa. Como funciona a consciência moral? Unindo emoções. Nós podemos experimentar no mesmo dia um grande número de emoções contraditórias, agradáveis ou desagradáveis, sobre o mesmo assunto, até mesmo uma após a outra, ou mesmo simultaneamente. E nós não notamos isso por causa da falta de consciência moral. Os amortecedores impedem que um 'eu' ou uma personalidade veja a outra. Mas em um estado de consciência moral um homem não pode deixar de ver todas essas contradições. Se na parte da manhã ele disse uma coisa, à tarde outra, à noite ainda outra, ele vai se lembrar disso. Mas na vida ele não vai se lembrar disso, ou ele irá insistir que não sabe o que é bom e o que é ruim. O caminho para a consciência é através da destruição dos amortecedores. Os amortecedores podem ser destruídos através da lembrança de si, da não-identificação, etc.
A idéia da consciência moral e a idéia dos amortecedores necessita de um longo estudo. Mas o que pode ser entendido desde o início, se quisermos falar sobre o lado moral, é que um homem deve ter um sentido de certo e errado. Se ele não tiver, nada pode ser feito. Ele deve começar com um certo senso moral, um senso de certo e errado, para conseguir mais. Ele deve entender, em primeiro lugar, a relatividade da moral comum, e, em segundo, ele deve perceber a necessidade de um certo e errado objetivo. Quando ele perceber a necessidade de um certo e errado permanente e objetivo, ele vai olhar para as coisas do ponto de vista do sistema.
O sistema começa com a possibilidade de um estado objetivo de consciência, e, portanto, de verdade objetiva. O sistema diz que em um estado de consciência objetiva o homem pode conhecer a verdade objetiva.
Em nosso entendimento comum a verdade objetiva refere-se mais ao lado intelectual da vida. Um homem pode dizer que quer saber também do lado religioso, o lado moral, estético, etc. O sistema explica que os homens de diferentes níveis: nº. 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 estão em uma posição diferente. Há diferentes níveis de religião, nº. 1, nº. 2, nº. 3, nº. 4, etc. E há moralidade nº. 1, 2, 3, 4, 5, etc. Isso não significa que estão erradas, mas que uma não pode ser explicada pelas outras. Cristo, se o considerarmos, deveria ser homem n.º 8. Ele não pregou a inquisição. Mas se seu ensinamento é distorcido pelos homens nº. 1, 2 e 3 e utilizado para fins criminosos, isso não pode ser atribuído a Cristo.
Voltando novamente à moralidade, um homem deve, em primeiro lugar, ter um senso moral. Em segundo lugar, ele deve ser suficientemente cético com relação à moralidade ordinária e os princípios morais ordinários. Ele deve entender que não há nada geral, nada permanente neles, deve entender que eles mudam de acordo com as convenções, com o local e o período. E, em terceiro lugar, ele deve compreender a necessidade de moralidade objetiva. Se entender essas três coisas, então vai encontrar uma base para distinguir o que é certo e o que é errado em relação a cada coisa separada, e irá distinguir o que é criminoso do que não é. Pois há padrões definidos, se iniciamos corretamente. A coisa toda é começar do ponto de vista certo. Se começarmos de um ponto de vista errado, não encontraremos nada.
Pergunta: Como posso confiar em meu próprio senso de certo e errado?
Sr. O: Você não pode confiar ou desconfiar. Ele está aí. Esse não é o ponto. Você pode apenas hesitar e ficar em dúvida em relação ao objeto. Certamente, sem conhecimento, sem desenvolvimento, sem a consciência moral objetiva não se pode dizer definitivamente se é certo ou errado, mas você pode estar a caminho disso.
P: Você disse que a consciência moral objetiva é a unidade de emoções. Poderia explicar melhor isso?
Sr. O: É a capacidade de ver todas as emoções ao mesmo tempo. Você tem muitas emoções opostas e muitas verdades opostas e você nunca vê as contradições. Você deve começar por observar como um sentimento contradiz o outro. Se você não observou isso, não conseguirá ver o que quero dizer. Você tem muitas opiniões, visões e sentimentos contraditórios.
Num momento gosta de algo, num outro momento odeia aquilo, etc. Mas você não percebe isso. Você não pode separá-los.
P: Eles estão separados por diferentes momentos do tempo?
Sr. O: Eles podem existir ao mesmo tempo.
P: Se adotarmos um critério, seria saber se uma determinada coisa ajuda ou atrapalha a consciência?
Sr. O: O critério deve estar em conexão com o sistema. Sem um sistema (não me refiro apenas a este sistema, mas você deve ter um sistema), você não pode julgar. Você pode ter um sentimento de certo e errado, mas você não saberá. Portanto, você deve ser guiado por um sistema.
P: Você faz uma distinção entre o que é criminoso e o que é muito ruim?
Sr. O: É difícil falar a respeito de palavras.
P: Eu não consigo visualizar um estado onde vemos tudo de uma vez.
Sr. O: Você não pode. Nós não podemos ter consciência moral objetiva, assim como não podemos ter consciência. Mas quanto mais nos tornarmos conscientes, mais frequentemente virão momentos onde começaremos a sentir a consciência moral. Porém, atualmente a consciência moral objetiva é teórica para nós, não podemos experimentar com ela.
P: Há algo na religião cristã incompatível com o este sistema?
Sr. O: Cristo ensinou no nível do homem nº. 8. Então o que podemos saber sobre a religião cristã? É uma questão de níveis.
P: Refiro-me à visão aceita correntemente.
Sr. O: Não existe uma visão aceita. As pessoas sempre discutem sobre a interpretação do ensinamento cristão. Quantas guerras, quantas discussões aconteceram por causa de coisas pequenas! Da mesma forma, eu acho que é uma boa idéia para ilustrar, o fato da revolução russa ter sido proveniente de uma discussão no século XVII que surgiu na Igreja Russa. Algumas pessoas disseram que você tinha que fazer o sinal da cruz com dois dedos e outras diziam que era com três. Como resultado, criou-se dois sectos e destruiu-se a possibilidade da existência da classe média na Rússia. E a ausência da classe média foi a causa da revolução.
Se você pegar o Novo Testamento original ele é incompreensível para nós. Nós não sabemos o seu real significado. Conhecemos apenas palavras e interpretações diferentes delas. Temos de chegar aos fatos, aonde realmente estamos.
P: Você poderia falar mais sobre o certo e errado objetivos em conexão com o sistema?
Sr. O: Se fizermos uma idéia geral sobre isso será inútil, porque seria superficial de mais. Eu dei um exemplo: mecanicidade e consciência. Há muitos outros exemplos.
P: Percebo que a moralidade comum não existe, mas não consigo encontrar nada além.
Sr. O: Você deve perceber que ela não existe, que é contraditória.
P: Mas se eu não consigo encontrar nada além disso?
Sr. O: Se você perceber isso, a partir deste ponto você pode começar. Você não pode encontrar em um dia. É necessário o desenvolvimento da consciência (consciousness) e da consciência moral (conscience). O caminho para a compreensão da moralidade objetiva é através do desenvolvimento da consciência moral.
P: A lembrança de si ajuda nisso?
Sr. O: Este é o caminho.
P: Mas ela é diferente?
Sr. O: Certamente. A lembrança de si é apenas uma tentativa, apenas o primeiro passo para a consciência. Mas, eventualmente, leva a isso.
P: De que modo seremos diferentes com a consciência despertada?
Sr. O: Você não estará tanto no poder dos amortecedores. Adormecido você está completamente sob o domínio dos amortecedores. Os amortecedores são dispositivos mecânicos que nos impedem de ver a verdade. Destrua os amortecedores e você começará a ver a verdade. Talvez seja muito desagradável.

P: Como é que se começa a despertar a consciência moral?

Sr. O: Não mentindo para si mesmo.
P: Então a realização da verdade destrói todos os amortecedores?

Sr. O: Não, amortecedores devem ser destruídos antes.
P: A percepção emocional da verdade varia de acordo com a pessoa? Uma pessoa tem uma visão diferente da outra.
Sr. O: Isso não pode ocorrer em se tratando da consciência moral. Será a mesma coisa. A pessoa não aprende o que é a verdade. Ela apenas a vê se a consciência moral começa a despertar. Mas é preciso começar a remover amortecedores reais.
P: O despertar de consciência moral é acompanhado da aprendizagem do objetivo real?
Sr. O: Como se pode aprendê-lo sem isso? O método não é inventado.
P: É uma questão de sensibilidade?

Sr. O: Talvez muita sensibilidade sem os amortecedores.
P: Quando você diz que a consciência moral é a compreensão emocional da verdade, a verdade é uma abstração?
Sr. O: Não, é um fato, não uma abstração.
P: Sobre uma questão específica de um determinado momento?
Sr. O: Sim, caso específico, relação específica, sempre específico.
P: Se sentimos a consciência moral, pode haver amortecedores ao mesmo tempo?
Sr. O: Ou é um ou o outro, não ambos ao mesmo tempo.
P: Podemos saber por nós mesmos que estamos mentindo para nós mesmos?
Sr. O: Você sempre sabe. Mas isso não impede que aconteça.
P: Por que não podemos parar de mentir para nós mesmos? É preguiça?
Sr. O: Simplesmente é agradável.
P: O que é um amortecedor? A convicção religiosa é um amortecedor?
Sr. O: Nós nunca falamos sobre coisas religiosas. Não, é uma espécie de auto-proteção do próprio homem para evitar a verdade.
P: Os amortecedores não significam falta de compreensão?
Sr. O: Não, geralmente a pessoa sabe do que ela está se protegendo.
P: Significa o desejo de não compreender?
Sr. O: Isso mesmo. Às vez dou exemplos. Muito tempo atrás havia um homem em Moscou que estava sempre atrasado. Seu amortecedor era que ele nunca se atrasava. Ele estava tão certo disso, que depois de ter criado o amortecedor ele podia se atrasar quantas vezes quisesse.
P: Uma pessoa mecânica pode desenvolver o equivalente de amortecedores que a tornem incapaz de desenvolver a consciência?
Sr. O: As coisas mecânicas se desenvolvem mecanicamente. Mas as coisas opostas só podem ser desenvolvidas de forma consciente.
P: A consciência moral é principalmente a percepção de que estamos dormindo?
Sr. O: Não, não, você deve começar com a consciência. Nós não podemos nos lembrar de nós mesmo. Não estamos cientes de nós mesmos. A pessoa precisa ter êxito nos seus esforços de estar mais consciente de maneira consistente. Quanto tempo podemos estar conscientes de nós mesmos? Um segundo é melhor que nada. Mas você não pode fazer muito com isso. Você não pode aprender chinês aprendendo uma palavra por dia.
P: A consciência moral entra em jogo apenas em relação a outras pessoas?
Sr. O: Lampejos são possíveis. Muito antes de termos o controle da consciência podemos ter vislumbres de consciência moral.
P: O conteúdo da consciência moral muda continuamente?
Sr. O: A direção sim, o conteúdo não. Um dia você encontra uma aplicação, outro dia, outra. A consciência lhe morde.

P: Qual é a natureza da verdade que a nossa consciência reconhece?

Sr. O: A consciência percebe verdades simples em relação às pessoas, ao que elas dizem e fazem.
P: Existem graus de consciência moral?
Sr. O: É igual à consciência (consciousness). Quanto tempo você pode se lembrar a si mesmo? Um minuto, dois minutos? É o mesmo com a consciência moral (conscience).
P: O que é especialmente importante fazermos a fim de despertar a consciência moral?
Sr. O: Falamos sobre muitas coisas. É útil pensar: o que a lembrança de si é? por que não podemos nos lembrar? Você não pode viver de uma coisa apenas. Há muitas coisas que ajudam o despertar da consciência. O estudo dos amortecedores, por exemplo.
P: Nós nos iludimos sobre o despertar da consciência quando não fazemos nada a respeito?
Sr. O: Correto. É necessário sacudi-la um pouco.
P: Como é que começamos a estudar os amortecedores?
Sr. O: Tente entender primeiro o que são os amortecedores.

P: Temos que parar de mentir para nós mesmos em primeiro lugar?
Sr. O: É muito útil. Comece com isso e num período relativamente curto você chegará a isso.
P: Podemos pensar nos amortecedores como contradições em nóNegritos mesmos?
Sr. O: Não, as contradições são o resultado dos amortecedores.
P: O objetivo deste trabalho é nos ajudar a chegar ao despertar pleno da consciência moral?
Sr. O: Não se pode colocar especificamente assim. No caminho para ter consciência (consciousness) você tem que despertar a consciência moral (conscience). Caso contrário, você vai tropeçar em alguma coisa. Você pode descrever o propósito do trabalho como o despertar da consciência (consciousness).
P: Os amortecedores são uma forma de mentir para nós mesmos?
Sr. O: Como pode um amortecedor existir sem isso? Nem o próprio homem, nem os outros percebem que é uma mentira.

P: Como é que um amortecedor começa a se desenvolver?
Sr. O: Uma criança pode cair e isso pode criar um amortecedor, ela pode dizer: "eu nunca caio".


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Sr. Ouspensky: Podemos entender o que a mecanicidade é e todo o horror da mecanicidade, apenas quando fazemos algo horrível e percebemos plenamente que foi a mecanicidade em nós que nos fez fazer aquilo. Se tentarmos encobrir isso, encontrarmos desculpas e explicações, nunca iremos percebê-la. É preciso ser muito sincero consigo mesmo para poder vê-la. Isso pode machucar muito, mas temos de aguentar e tentar entender que somente ao confessarmos inteiramente primeiro a nós mesmos e talvez, em seguida, às outras pessoas, se formos instruídos a fazê-lo, é que poderemos evitar de repetir aquilo de novo e de novo. Nós podemos até mesmo mudar os resultados através da compreensão total e completa e ao não tentar esconder. Essa é a única maneira possível. Se ficamos com medo disso, se ficamos negativos e ressentidos quando somos informados sobre o assunto e quando nos pedem para sermos sinceros a esse respeito, jamais haverá alguma chance e alguma possibilidade para nós de escaparmos dos tentáculos da mecanicidade. Somos escravos dela mas podemos diminuir a sua força através de grande sofrimento. Se tentarmos evitar o sofrimento, se tentarmos convencer-nos de que nada realmente aconteceu e de que as coisas podem seguir assim como vinham acontecendo antes, não apenas nunca escaparemos, mas ficaremos cada vez mais mecânicos, e muito em breve chegaremos a um estado tal que não haverá nenhuma possibilidade para nós e nenhuma chance. Na vida é sempre assim. Mas no trabalho sobre si há uma chance. Somente a sinceridade e o reconhecimento completo do fato e de seus resultados inevitáveis, pode nos ajudar a encontrar e destruir os amortecedores com a ajuda dos quais enganamos a nós mesmos. Os amortecedores, nesse caso, são sempre relacionados com a auto-justificação e com a auto-desculpa. Às vezes a auto-piedade é adicionada a eles, às vezes o ressentimento com as outras pessoas, às vezes acusações e maus sentimentos. "Eles me fizeram fazer isso", "não tínhamos a intenção de fazê-lo”. Ou, podemos dizer e repetir para nós mesmos que, afinal, isso não é importante (o que também é uma expressão de amortecedor). As pessoas podem fazer coisas realmente terríveis, tendo convencido a si mesmas de que aquilo não é importante.

Pergunta: O que são os amortecedores?
Sr. O: Falaremos disso um pouco mais tarde. Entretanto, só posso dizer isso: os amortecedores estão conectados com a consciência moral. Consciência é uma palavra que usamos em geral no sentido convencional, querendo dizer uma espécie de hábito emocional educado. Realmente, a consciência moral é uma capacidade especial que todos possuem mas que ninguém pode usar no estado de sono desperto. Mesmo se sentirmos a consciência moral por um momento, acidentalmente, isso será uma experiência muito dolorosa, tão dolorosa que imediatamente queremos nos livrar dela. Pessoas que têm lampejos dela ocasionalmente, inventam todos os tipos de métodos para se livrarem desse sentimento. É a capacidade de sentir, ao mesmo tempo, tudo o que sentimos em momentos diferentes. Tente entender que todos esses diferentes "eus" têm sentimentos diferentes. Um 'eu' sente que gosta de algo, enquanto outro odeia aquilo e um terceiro 'eu' é indiferente. Mas nós nunca sentimos eles ao mesmo tempo porque entre eles existem essas coisas chamadas de amortecedores. Por causa deles nós não podemos usar a consciência moral, não podemos sentir ao mesmo tempo duas coisas contraditórias que sentimos em momentos diferentes. Se acontecer de um homem sentir isso, ele sofrerá. Então, os amortecedores em nosso estado atual são até mesmo coisas necessárias, sem as quais um homem ficaria louco. Se ele entende-los e preparar-se, depois de algum tempo poderá começar a destruir as contradições e destruir os amortecedores.
P: Qual é a natureza dos amortecedores?

Sr. O: É difícil descrever. Quando aprender a observar os amortecedores você vai conhecer a sua natureza. Mas posso dar alguns exemplos. Às vezes, os amortecedores são convicções muito profundas através das quais o homem não pode ver a si mesmo.
P: Um amortecedor que separa duas personalidades opostas sempre consiste de duas idéias, uma correspondente a cada personalidade?
Sr. O: Os amortecedores não são idéias. São apenas amortecedores. Algo que não pode ser descrito, é uma questão para sua observação sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Eles podem ter uma frase que torne impossível ver de uma personalidade para outra, mas não são as idéias.
P: Por que usamos o termo "amortecedor" e não, por exemplo, a palavra "desculpas"?
Sr. O: Porque não é desculpa. É apenas um amortecedor. Há uma grande diferença entre dar desculpas e um amortecedor. As desculpas podem ser diferentes a cada vez. Se a desculpa é sempre a mesma, então torna-se um amortecedor. Você tem de pensar sobre as desculpas, encontrá-las. O amortecedor está sempre lá.
P: Os amortecedores seriam os meios de despertar a consciência moral, em caso afirmativo, de que tipo?
Sr. O: Não, esta é uma troca que a mente mecânica pensa. Os amortecedores ajudam a manter a consciência moral adormecida, portanto, não podem ser considerados como ajuda.
P: O que você quis dizer quando disse que muitas coisas desagradáveis podem acontecer se a consciência moral não estiver pronta para despertar?
Sr. O: Isso é o que eu quis dizer. O resto, quando acontecer você vai saber.
P: Para despertar a consciência moral não temos de eliminar os amortecedores?
Sr. O: Quando os amortecedores são apenas sacudidos, a consciência desperta.
P: Como podemos descobrir quais são os nossos amortecedores?
Sr. O: Às vezes é possível. Se a pessoa tiver a idéia correta sobre os amortecedores, ela poderá encontrar os seus.

P: Existe alguma coisa permanente em nós?

Sr. O: Há duas coisas, os amortecedores e as fraquezas que às vezes são chamadas de traços, são realmente fraquezas, todo mundo tem uma, duas ou três fraquezas particulares e todos têm certos amortecedores em si mesmos, estão cheios de amortecedores, mas alguns são particularmente importantes, eles entram em todas as suas decisões e todos os seus entendimentos e assim por diante. Isso é tudo que é permanente em nós, e é sorte para nós que não haja mais nada permanente, pois essas coisas podem ser mudadas. Os amortecedores são artificiais, eles não são orgânicos, são adquiridos principalmente por imitação; as crianças começam a imitar os adultos e criam amortecedores e alguns são criados pela educação despercebidamente; os traços, as fraquezas, podem ser descobertos às vezes, e se a pessoa conhece seu traço e se começa a mantê-lo em mente e lembrar-se dele, então poderá encontrar um determinado momento em que possa não agir a partir do traço. Os traços são muito interessantes, essas fraquezas, pois às vezes elas têm formas simples como por exemplo a preguiça, mas em alguns casos assumem formas tão bem dissimuladas que não existem palavras comuns para descrevê-los, têm de ser descritos por algum tipo de diagrama ou desenho, ou coisas desse tipo. Podemos falar em algum momento, mas vai ser em um grupo menor, quando será mais fácil falar sobre os traços, mas essas são as únicas coisas permanentes em nós, e essa é a nossa sorte, porque se houvesse algo mais de permanente seria impossível mudarmos.

P: Como podemos confiar em nosso próprio julgamento sobre os traços?
Sr. O: Você não pode, isso tem de ser falado para você e então você não vai acreditar no que lhe falaram, você vai dizer: 'tudo menos isso!' Mesmo se aceitar e não argumentar, você não vai ver a importância disso, pois, os traços são coisas muito engraçadas, todo mundo tem muitos traços, mas todos têm dois ou três que são particularmente importantes, pois eles entram em todas as decisões, todas as definição, cada coisa subjetivamente importante - tudo passa por eles, todas as percepções e todas as reações, mas é muito difícil perceber o que isso significa porque você está tão acostumado a eles que não os percebe, mesmo que sejam desenhados num quadro-negro.
P: Podemos encontrá-los através de observação?
Sr. O: A improbabilidade é muito grande, estamos demasiadamente dentro deles, não temos perspectiva o bastante. Mas o trabalho real, o trabalho sério, começa apenas a partir do traço. Isso não significa que seja absolutamente necessário, em muitos casos o traço não pode ser definido, será uma definição tão complicada que não terá nenhum valor prático. Nesse caso, é suficiente fazer a divisão geral "Eu e Ouspensky”, é necessário apenas entender o que é “eu” e o que é “Ouspensky”, qual deles é mentira e qual é sou eu mesmo. Mesmo se você admitir essa possibilidade de divisão, você vai colocar o que você gosta e o que não gosta, se gostar, você vai dizer que é o 'eu' e se não gostar vai dizer que não é. É um trabalho longo, não pode ser encontrado de uma vez, devem haver algumas indicações que possam ajudar a encontrar, por exemplo, se você formulou a sua meta em relação a este trabalho, se você disser "quero ser livre', essa é uma definição muito boa, mas o que é necessário? É necessário ter os resultados e compreender primeiro de tudo que você não é livre. Se você entender até que extensão você não é livre e se formular seu desejo de ser livre, então você vai ver em si mesmo que parte de si mesmo quer ser livre e que parte não quer ser livre, esse é o começo.
P: O traço principal deve necessariamente ser ruim?
Sr. O: Ele é a fraqueza principal, infelizmente não podemos pensar que o nosso traço principal seria um poder principal porque não temos poderes.
P: Como pode ser uma fraqueza, se não há a não-fraqueza?

Sr. O: Significa mecanicidade, somos mecânicos em todas as coisas, mas nessa coisa em especial somos particularmente mecânicos e particularmente cegos, é por isso que é a fraqueza principal, outras coisas que não são fraquezas nós podemos ver. Quando você começar a dividir-se você vai ver o que é mecânico, os gostos e desgostos. Podemos ver isso em torno de nós, pode ser através de algum tipo de torção psicológica que produz esse efeito como quando um relógio está funcionando mais lento, mas não é uma necessidade mecânica para o relógio ir devagar.
P: Se não há as não-fraquezas, como você pode comparar?
Sr O: Eu não entendo, mas suponha que haja uma fraqueza que podemos observar, ela se manifesta, mas se ela desaparecer a manifestação desaparecerá. Suponha que a pessoa tem um mau hábito, então, se o hábito desaparecer a manifestação desaparecerá.
P: O que você chamaria de fraqueza - os padrões éticos?
Sr. O: Não, a coisa em que você é mais mecânico, certamente se você não pode ver onde você está absolutamente impotente, você está mais adormecido, mais cego, porque você sabe que há graus em tudo e em todas as qualidades ou manifestações em nós, todas têm diferentes graus, se não houvessem graus em nós mesmos seria muito difícil de estudar. Nós podemos nos estudar apenas porque tudo em nós existe em diferentes graus. Mesmo o traço não é sempre o mesmo, é quase sempre o mesmo, porque é mecânico, mas às vezes é mais definitivamente expressado, às vezes, em casos muito raros, é mostrado muito pouco, só assim ele pode ser encontrado. Mas essa é uma dificuldade sobre os traços; considere a mecanicidade, sim, você é mecânico, mas em alguns casos, às vezes somos mais mecânicos, às vezes menos mecânicos, se estamos doentes, por exemplo, tornamo-nos mais mecânicos de imediato, não podemos resistir ao mundo externo e às coisas do mundo externo, nem mesmo como podemos resistir normalmente.
P: O desejo de ser livre certamente não é uma fraqueza.
Sr. O: Há desejos e desejos. Suponha que uma pessoa percebe que ela deseja livrar-se de uma fraqueza, ao mesmo tempo ela não deseja aprender métodos de como se livrar das fraquezas, ela acha que pode fazer isso por si mesma, nesse caso essa será uma segunda fraqueza para ajudar a primeira fraqueza, então não haverá nenhum resultado.
P: Mas se alguém fizer um esforço constante?
Sr. O: Novamente isso pertencerá a outro lado de você, do que você chama de 'você'. Isso não significa que é poder ou força, é apenas a combinação de certos desejos, desejos de se livrar de algo. Se você perceber que algo está errado e você formular o desejo de se livrar disso, e se mantiver isso em mente um tempo suficientemente longo, então torna-se um determinado plano de ação, e se essa linha de ação for suficientemente prolongada, poderá alcançar resultados, apenas é necessário adicionar novamente que várias linhas diferentes de ação são necessárias para atingir os resultados, não apenas uma. Temos de trabalhar ao mesmo tempo sobre isso e sobre aquilo e aquilo mais, se trabalharmos apenas em uma linha é impossível ir a qualquer lugar.

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Sr. O: Eu quero explicar melhor sobre o traço principal, pois acho que às vezes esse termo não é usado no sentido correto. Como eu disse antes, é necessário pensar sobre a falsa personalidade e, em alguns casos, você pode ver definitivamente um tipo de traço principal que entra em tudo, como o eixo em torno do qual todo resto gira. Ele pode ser mostrado, mas a pessoa vai dizer: “absurdo, qualquer coisa mas isso não!" Ou, às vezes é tão óbvio que é impossível negar, mas com a ajuda dos amortecedores a pessoa pode esquecê-lo novamente. Eu conheço pessoas que deram um nome ao seu traço principal várias vezes e durante algum tempo lembraram dele. Então encontrei-as novamente e elas tinham esquecido, ou quando lembravam tinham uma cara, e quando tinham esquecido tinham uma outra cara e começavam a falar como se nunca tivessem falado sobre isso. Você deve aproximar-se disso por si mesmo. Quando sentir por si mesmo, então você saberá. Se for dito a você apenas, você sempre poderá esquecer.
P: É o mesmo que a falha principal?
Sr. O: Sim, é o traço principal da falsa personalidade.
P: Como chegamos a conhecer esse traço principal?
Sr. O: Ao estudar a falsa personalidade. Quando você encontrar muitas manifestações dela você poderá encontrar o traço.

P: Há alguma vantagem concreta em nos tornarmos mais conscientes e menos mecânicos?

Sr. O: Você deve decidir por si mesmo. Encontrar razões para isso. Primeiro entenda o que significa ser mais consciente e menos mecânico. Em seguida decida. Somente então, isso terá peso real. Se eu responder, será apenas a minha opinião. Há coisas que a pessoa deve decidir por si mesma, só então elas adquirem um significado real e mostram compreensão real.

P: Através de qual o centro funciona a consciência moral? Eu fiz uma coisa e me senti desconfortável. . . .
Sr. O: Depende do que você fez. Pode ser simplesmente um hábito mecânico, bom ou ruim, de destruir o que é desconfortável. Isso está baseado principalmente em hábitos de pensar mecânicos fornecidos pela educação, pelas regras de conduta ou regras morais. Na maioria dos casos nunca experimentamos a consciência moral. É uma sensação muito desagradável. Temos muitos amortecedores. Os amortecedores são partições entre as nossas atitudes emocionais. Consciência moral significa que você vê uma centena de coisas ao mesmo tempo; as partições desaparecem e você vê todas as contradições internas ao mesmo tempo. É muito desagradável.
P: Às vezes nós voluntariamente nos colocamos em algumas partições?
Sr. O: Não voluntariamente. Isso acontece. O princípio comum da vida é evitar sensações e percepções desagradáveis. Nós fugimos delas. Deste modo, criamos amortecedores internos. Se você vê as contradições uma em seguida da outra, elas não parecem contraditórias.
P: Alguém atinge esse estado de consciência?
Sr. O: Sim, se a pessoa chega à consciência moral. São manifestações diferentes da mesma coisa. É um processo longo. É sorte que seja longo, caso contrário, seria muito difícil para nós.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Hafiz - Sete Poemas


Eu costumava viver com a confusão

E a dor numa casa apertada.

Mas então, encontrei o Amigo

E comecei a embriagar-me
E a cantar a noite toda.

A confusão e a dor
Começaram a jogar sujo,

Fazendo ameaças,

Com uma conversa assim:

"Se você não parar com 'aquilo',

Com toda essa diversão,

Nós iremos embora.”

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Os guerreiros domaram as bestas

Em seus passados para que os cascos das patas da noite

Não pudessem mais quebrar a visão

Ricamente ornamentada do coração.

O inteligente e o valente

Abrem cada aposento no futuro e expulsam

Todos os fantasmas da mente que têm o mal hábito

De escarrar por toda parte.

Por um longo tempo o universo tem estado

Germinando em sua espinha

Mas apenas um Santo tem o talento e

A coragem de golpear

O gigante-passado e as ansiedades futuras.

O guerreiro

Sabiamente senta-se num círculo com outros homens

Reunindo a força para desmascarar

A Si mesmo.

Depois

Senta, doando,

Como um grande planeta iluminado

Na Terra.

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A lua começa a cantar

Quando todos estão adormecidos,

Os planetas jogam sobre seus ombros

Um manto brilhante e rodopiam

Para perto dela.

Uma vez perguntei para a lua:

“Por que você e seus doces amigos

Não se apresentam assim tão romanticamente

Para uma platéia maior?”

E o coro do céu inteiro ressoou:

"O preço da entrada para ver os trovadores sublimes

Falarem de amor

É acessível apenas àqueles

Que não se exauriram

Dividindo Deus o dia todo

E por isso precisam de descanso.

Os violinistas emocionados da Taverna

Que estão empoleirados no telhado

Não querem que suas notas invadam

Os ouvidos onde um contabilista vive

Com um lápis afiado guardando anotações

Das palavras que os outros em sua grande tristeza

Ou raiva podem ter dito a você.”

Hafiz sabe:

O sol permanecerá como seu melhor homem

E irá assobiar

Quando você tiver encontrado a coragem

De casar-se com o perdão.

Quando você tiver encontrado a coragem

De casar-se com o Amor.

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Por que se abster do amor

Quando sua alma, como um lindo cisne da neve,

Irá abandonar esse acampamento de verão?

Por que abster-se da felicidade

Quando seu coração,

Como um leão experiente à espreita,

Está se aproximando

E algum dia verá

Que a presa divina

Está Sempre Perto.

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Como será

O enterro do meu corpo?

O derramar de uma sagrada taça de vinho

Dentro da terna boca

Da terra

Fazendo

Meu doce Amante rir

Uma vez mais

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Sou como um viciado em ópio

Em meu anseio por um estado sublime,

Por aquele solo de Nada Consciente

Onde a Rosa sempre

Desabrocha.

Veja, o Amigo
Fez-me um grande favor
E arruinou minha vida tão completamente;

O que mais você esperava

Que ver a Deus causaria!

Das cinzas dessa moldura quebrada

Há um nobre filho em crescimento ansiando pela morte,

Pois,

Desde que nos encontramos pela primeira vez, Amado,

Tornei-me um estrangeiro

A todos os mundos,

Exceto àquele

No qual existe apenas Você

Ou – Eu.

Agora que o coração guardou

Aquilo que jamais pode ser tocado

Minha subsistência é Desolação Abençoada,

E dali eu clamo por mais solidão.

Eu sou solitário.

Sou tão solitário, querido Amado,

Pois Deus é a quintessencia da solidão,

O que é mais solitário do que Deus?

Hafiz,

O que é mais puro e mais solitário,

Magnificentemente Soberano,

Do que Deus?

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Um mímico está na forca

Por um crime que ele não cometeu.

Quando lhe é dada a última chance de falar,

Ele mantém-se fiel à sua arte.

Uma multidão de centenas reuniu-se

para ver sua última performance,

Sabendo que ele não iria falar.

O mímico pega do céu

Os círculos das esferas reluzentes,

Dispõe-nos sobre a mesa,

Expressando profundo amor

Pelo companheirismo e orientação que

Elas lhe deram por tantos anos.

Ele traz os mares diante de nossos olhos,

De algum modo uma barbatana dourada aparece,

Joga um spray de água.

Olhem, queridos, há uma chuva de turquesas.

Ele remove o coração de seu corpo e parece

Despertar toda a vida nesta Terra esplendida

Com uma ternura tão sagrada,

Que parece como se alguém estivesse dando à luz

Ao Cristo novamente.

Ele monta sua alma no corpo da Liberdade.

A grande Brisa sopra.

O sol e a lua unem as mãos,

Eles se prostram tão graciosamente

Que por um momento, por um momento

Todos sabem que Deus é real,

Assim, a língua caiu da boca deste mundo

Por dias.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Meher Baba - A busca por Deus


A maioria das pessoas nem sequer suspeita da real existência de Deus, e naturalmente não são muito entusiasmadas com relação a Deus. Há outros que, através da influência da tradição, pertencem a alguma fé ou outra e adquirem do meio que as cerca a crença na existência de Deus. Sua fé é apenas forte o suficiente para mantê-los vinculados a determinados rituais, cerimônias ou crenças, e isso raramente contém aquela vitalidade que é necessária para trazer uma mudança radical em toda sua atitude perante a vida. Há ainda outros que têm uma mente com inclinação filosófica e têm uma inclinação para acreditar na existência de Deus, seja por causa de suas próprias especulações ou por causa das afirmações dos outros. Para eles, no melhor dos casos, Deus é uma hipótese ou uma idéia intelectual. Essa crença morna em si nunca pode ser um incentivo suficiente para lançar a pessoa numa busca séria por Deus. Tais pessoas não sabem a respeito Deus a partir de conhecimento pessoal e para elas Deus não é um objeto de desejo intenso ou para o qual valha seu esforço.
Um verdadeiro aspirante não se contenta apenas com o conhecimento das realidades espirituais com base em boatos, nem fica satisfeito com o conhecimento puramente inferencial. Para ele, as realidades espirituais não são objeto de pensamento ocioso, e a aceitação ou rejeição dessas realidades é repleta de implicações importantes para a sua vida interior. Dessa forma, ele naturalmente insiste em obter conhecimento direto sobre elas.
Isso pode ser ilustrado por um fato ocorrido na vida de um grande sábio. Um dia ele estava discutindo temas espirituais com um amigo que estava muito avançado no caminho. Enquanto eles estavam envolvidos neste debate, sua atenção foi desviada para um corpo morto que estava sendo carregado onde eles estavam. "Este é o fim do corpo, mas não da alma", comentou o amigo. "Você viu a alma?" perguntou o sábio. "Não", respondeu o amigo. E o sábio manteve-se cético a respeito da alma, pois ele insistia em conhecimento pessoal.
Embora o aspirante não possa contentar-se com conhecimento de segunda mão ou com meras suposições, ele não fecha sua mente para a possibilidade de que podem haver realidades espirituais que não surgiram dentro de sua experiência. Em outras palavras, ele está consciente das limitações da sua própria experiência individual e se abstém de fazer dela a medida de todas as possibilidades. Ele tem uma mente aberta para todas as coisas que estão além do escopo de sua experiência. Ao mesmo tempo que ele não as aceita só por ter ouvido dizer, ele também não se apressa em negá-las. A limitação da experiência muitas vezes tende a restringir o alcance da imaginação, e assim, a pessoa passa a acreditar que não existem outras realidades além daquelas que possam ter vindo dentro do alcance de sua experiência passada. Mas, geralmente, alguns incidentes ou acontecimentos em sua própria vida, o levarão a sair de sua clausura dogmática e a tornar-se realmente de mente aberta.
Essa fase de transição também pode ser ilustrada por uma história da vida do mesmo sábio, que passou a ser um príncipe. Alguns dias após o incidente mencionado acima, enquanto ele andava a cavalo, deparou-se com um pedestre avançando em sua direção. Sendo que o caminho do cavalo foi bloqueado pela presença do pedestre, o sábio arrogantemente ordenou o homem que saísse do caminho. O pedestre recusou-se, então o sábio desceu do cavalo e a seguinte conversa ocorreu: "Quem é você?" perguntou o pedestre. "Eu sou o príncipe", respondeu o sábio. "Mas eu não conheço você como sendo o príncipe", disse o pedestre, e continuou: "Vou aceitá-lo como príncipe somente quando eu souber que você é um príncipe e não o contrário." Esse encontro despertou o sábio para o fato de que Deus pode existir mesmo que ele não O conheça por experiência pessoal; assim como ele era na verdade um príncipe, mesmo que o pedestre não soubesse disso por sua própria experiência pessoal. Agora que sua mente estava aberta para a possível existência de Deus, ele assumiu a tarefa de resolver essa questão de maneira séria e sincera.
Deus ou existe ou não existe. Se Ele existe, a busca por Ele é amplamente justificada. E se Ele não existe, não há nada a perder com a busca Dele. No entanto, o homem não volta-se para uma busca real por Deus como uma questão de uma empreitada voluntaria e alegre. Ele tem de ser levado a essa busca através de desilusões com as coisas mundanas que o fascinam e das quais ele não consegue desviar sua mente.
Uma pessoa comum está completamente absorta em suas atividades no mundo grosseiro. Ela vive através de suas múltiplas experiências de alegrias e tristezas, sem sequer suspeitar da existência da Realidade mais profunda. Ela tenta da melhor maneira que pode ter prazeres dos sentidos e evitar os diferentes tipos de sofrimento. "Comer, beber e alegrar-se" é a filosofia do indivíduo ordinário. Mas, apesar de sua incessante busca por prazer, ele não pode evitar totalmente o sofrimento, e mesmo quando consegue ter os prazeres dos sentidos, ele muitas vezes é saciado por eles. Enquanto ele diariamente passa dessa maneira por uma série de experiências variadas, muitas vezes surge alguma ocasião quando ele começa a se perguntar: "Qual é o ponto de tudo isso?" Tal pensamento pode surgir a partir de algum acontecimento desagradável para o qual a pessoa não está mentalmente preparada. Pode ser a frustração de alguma expectativa confiante, ou pode ser uma importante mudança em sua situação que exija um reajuste radical e um abandono das formas estabelecidas de pensamento e de conduta.
Geralmente, tal ocasião surge da frustração de algum desejo profundo. Se acontece de um desejo profundo enfrentar um impasse fazendo com que não haja a menor chance dele jamais ser atendido, a psique recebe um choque tão grande que já não pode aceitar o tipo de vida que vinha sendo aceito até agora sem questionamentos.
Sob tais circunstâncias uma pessoa pode ser conduzida ao desespero total. E se o tremendo poder gerado por essa perturbação da psique continua descontrolado e sem direção, pode até mesmo levar a uma perturbação mental grave ou à tentativa de cometer suicídio. Tal catástrofe vem sobre aqueles nos quais o desespero é aliado à negligência, pois eles permitem que os impulsos tenham domínio livre e pleno. O poder desenfreado do desespero só pode ocasionar destruição. O desespero de uma pessoa prudente em circunstâncias semelhantes, tem resultados completamente diferentes, porque a energia que ele libera é aproveitada de forma inteligente e é direcionada para um objetivo. No momento da tal desespero divino, uma pessoa toma a decisão importante de descobrir e realizar o objetivo da vida. Dessa forma, portanto, passa a existir uma verdadeira busca por valores duradouros. Daí em diante, a questão ardente que se recusa a ser silenciada é: "Isso tudo leva aonde?"
Quando a energia mental de um indivíduo fica, dessa maneira, centrada em descobrir o objetivo da vida, ele usa o poder do estado de desespero criativamente. Ele não pode mais se contentar com as coisas passageiras desta vida, e fica totalmente cético quanto aos valores comuns que ele até então aceitava sem questionar. Seu único desejo é descobrir a Verdade a qualquer custo, ele não se contenta com qualquer coisa aquém da Verdade.
Esse estado de desespero divino é o começo do despertar espiritual, pois dá origem à aspiração pela Realização de Deus. No momento do desespero divino, quando tudo parece desabar, a pessoa decide assumir qualquer risco para verificar que significado há para sua vida por detrás do véu.
Todos os confortos habituais têm lhe falhado, mas ao mesmo tempo, sua voz interior se recusa a reconciliar-se completamente com a posição de que a vida é desprovida de qualquer sentido. Se ele não descobrir alguma realidade oculta que até agora ele não conheceu, então não há absolutamente nada pelo que valha a pena viver. Para ele, existem apenas duas alternativas: ou existe uma Realidade espiritual oculta, a Qual os profetas descreveram como Deus, ou tudo é sem sentido. A segunda alternativa é absolutamente inaceitável para toda a personalidade do homem, então ele deve tentar a primeira alternativa.
Deste modo, o indivíduo se volta para Deus quando ele está a uma certa distância dos assuntos mundanos.
No entanto, como não há acesso direto a esta realidade escondida que ele busca, ele inspeciona as suas experiências usuais para encontrar possíveis caminhos que levem a um além significativo. Assim, ele volta às suas experiências de costume, com o objectivo de obter alguma luz no caminho. Isso consiste em olhar tudo de um ângulo novo e implica numa reinterpretação de cada experiência. Ele agora não só tem experiências, mas tenta entender o seu significado espiritual. Ele não se preocupa apenas com aquilo que é, mas com o que aquilo significa na marcha em direção a esse objetivo oculto da existência.
Como resultado de toda essa cuidadosa reavaliação das experiências, ele adquire um insight que não podia vir a ele antes que começasse sua nova busca. A reavaliação de uma experiência resulta numa nova porção de sabedoria e cada adição de sabedoria espiritual necessariamente traz uma modificação da atitude geral da pessoa para com a vida. Assim, a busca puramente intelectual por Deus, ou a Realidade espiritual oculta, tem suas reverberações na vida prática de uma pessoa. Sua vida agora se torna um real experimento com os valores espirituais percebidos.
Quanto mais ele leva a cabo essa experimentação inteligente e proposital com sua própria vida, mais profunda torna-se a sua compreensão do verdadeiro sentido da vida. Até que finalmente ele descobre que, conforme ele está passando por uma transformação completa de seu ser, está chegando a uma verdadeira percepção do real significado da vida como ela é. Com uma visão clara e tranquila da real natureza e valor da vida, ele percebe que Deus, a Quem ele estava tão desesperadamente à procura, não é uma entidade estranha, nem oculta ou externa. Ele é a própria Realidade e não uma hipótese. Ele é a Realidade vista com um visão não obscurecida, aquela própria Realidade da Qual ele é uma parte e na Qual ele tem tido todo o seu ser e com o Qual ele é de fato idêntico.
Assim, embora comece buscando algo totalmente novo, ele realmente chega a uma nova compreensão de algo antigo. A jornada espiritual não consiste em chegar a um novo destino, onde uma pessoa ganha o que não possuía ou se torna o que não era. Consiste na dissipação de sua ignorância a respeito de si mesma e da vida, e no crescimento gradual daquela compreensão que se inicia com o despertar espiritual. A descoberta de Deus é uma vinda ao seu próprio Ser.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sri Ramakrishna - Conserve sua mente fixa em Deus


Ramakrishna: Eu vi que Ele e aquele que mora no meu coração são uma e a mesma Pessoa.
Narendra: Sim, sim! “Soham” - Eu sou Ele
R: Apenas uma linha divide os dois para que eu possa desfrutar da divina bem-aventurança.
N: As grandes almas, mesmo depois de sua própria libertação, mantêm o ego e experimentam o prazer e a dor do corpo, a fim de ajudar os outros a alcançarem a libertação.
Podemos usar a analogia do trabalho do operário. Nós fazemos o trabalho de operários por compulsão, mas as grandes almas o fazem pelo desejo de doar.
R: O telhado é claramente visível, mas é muito, muito difícil de alcançar. Mas se alguém que já chegou jogar uma corda, poderá fazer a outra pessoa subir.
Uma vez um sadhu de Hrishikesh veio a Dakshineswar e me disse: Que assombro! Há os cinco tipos de samadhi expressos em você.
Assim como um macaco sobe numa árvore e pula de um galho para outro, também Mahavayu, a Grande Energia, levanta-se no corpo saltando de um centro para o outro e a pessoa entrada em samadhi. Ela sente a Grande Energia que se ergue como se fosse o movimento de um macaco. Como um peixe nada na água e desliza com muita felicidade, Mahavayu vai subindo pelo corpo e a pessoa entra em samadhi. Ela sente a Grande Energia se elevando como se fosse o movimento de um peixe. Como um pássaro que pula de um galho para outro, Mahavayu sobe pela árvore do corpo, ora num galho e ora num outro. A pessoa sente a ascensão da Grande Energia como o movimento de um pássaro. Como o lento caminhar de uma formiga, Mahavayu eleva-se de um centro a outro. Quando alcança o Sahasrara, a pessoa entra em samadhi. Ela sente a Grande Energia que se eleva, como se fosse o movimento de uma formiga.
Como o rastejar de uma serpente, Mahavayu rasteja ao longo da coluna até o Sahasrara e a pessoa entra em samadhi. Sente como a subida da Grande Energia, como o movimento de uma cobra.
N: Buda não conseguia expressar em palavras o que tinha visto através de Tapasya. É por isso que algumas pessoas diziam que ele era um ateu.
R: Por que ateu? Ele não era um ateu. Apenas ele não podia colocar em palavras as suas experiências interiores. Você sabe o que significa "Buda"? Significa tornar-se um com Bodha, a Inteligência Pura, ao meditar sobre Aquilo que é da natureza da Pura Inteligência; é tornar-se a própria Pura inteligência.
N: Sim, senhor. Existem três tipos de Budas: Buda, Arhat e Bodhisattva.
R: Isso também é um jogo de Deus, um outro lila de Deus.
Por que alguém chamaria Buda de ateu? Quando a pessoa se compenetra em Swarupa, a verdadeira natureza do próprio Ser, ela atinge um estado que é algo entre asti e esy nasti - onde o mundo dos fenômenos existe e não existe ao mesmo tempo.
N: É um estado em que as contradições são descobertas. A combinação do hidrogênio e oxigênio produz água fria, e o mesmo hidrogênio e oxigênio são usados em uma tocha de oxi-hidrogênio.
Neste estado, a atividade e a inatividade são possíveis, ou seja, nesse estado a pessoa age de forma altruísta.
As pessoas comuns, absortas nos objetos dos sentidos, dizem que todas as coisas existem – asti. Mas os Mayavadis consideram o mundo como irreal, dizem não existe nada. A experiência de um Buda está além de "existência" e de 'não-existência'.
R: "Existência” e "não-existência" são atributos de Prakriti. A Realidade está além de ambos.
Krishna não é nada além do que Sat-chit-ananda (a existência, a consciência e a graça), Bhraman Invisível. As águas do oceano parecem azuis de longe, ao nos aproximarmos dela descobrimos que é incolor. Aquele que está dotado com atributos é também sem atributos. O absoluto e o relativo pertencem à mesma Realidade.
Por que Krishna é tribhanga, dividido em três partes? Por causa de seu amor por Radha.
Aquele que é Brahman também é Kali, adiashakti, que cria, preserva e destrói o universo. Aquele que é Krishna é o mesmo que Kali. A raiz é uma, tudo isso é Sua diversão e jogo.
Deus pode ser visto através da mente pura e da inteligência pura. Por causa da luxúria e da cobiça a mente torna-se impura.
A mente é tudo. É como um lençol branco que acabou de chegar da lavanderia. Ela assume a cor que for tingida. O conhecimento é da mente e a ignorância também é da mente. Quando é dito que uma determinada pessoa tornou-se impura, significa que a impureza tingiu sua mente.
A pessoa não precisa ter medo do mundo após a obtenção da visão de Deus. Vidya e Avidya (conhecimento e ignorância) existem em Sua Maya, mas a pessoa torna-se indiferente a elas depois de Realizar a Deus. Ela compreende perfeitamente após ter atingido o estado de um Paramahamsa.



Pergunta: Como deveríamos viver no mundo?
Ramakrishna: Cumpra todos os seus deveres mas mantenha sua mente fixa em Deus. Viva com todos - esposa, filhos, pai, mãe – e sirva-os. Trate-os como seus bem amados, mas saiba do fundo de seu coração que eles não lhe pertencem.
Uma empregada na casa de um homem abastado realiza todos os afazeres domésticos, porém seus pensamentos estão fixados em seu próprio lar em sua aldeia natal. Ela cria os filhos do patrão como se fossem dela. Ela até fala deles dizendo “meu Rama” “minha Hari”. Mas intimamente ela sabe muito bem que eles não lhe pertencem de modo algum.
A tartaruga se move por toda parte na água, mas você imagina onde estão os pensamentos dela? Lá na praia onde estão seus ovos. Cumpra com todos os seus deveres no mundo mas conserve sua mente fixa em Deus.
Se entrar no mundo sem primeiro haver cultivado o amor a Deus, você se encontrará cada vez mais enredado. Você vai sentir-se oprimido por seus perigos, aflições e pesares e quanto mais pensar nas coisas mundanas, mais apegado a elas você ficará.
Primeiro é necessário esfregar suas mãos com azeite e só então abrir a jaca, caso contrário, seu leite pegajoso grudará em sua mão. Consegue primeiro o azeite do amor divino e em seguida ponha suas mãos nos deveres do mundo.
Mas para alcançar esse amor divino você tem de se retirar em solidão. Para obter manteiga do leite, você tem que deixá-la decantar numa vasilha num lugar isolado, se você agitá-la, o leite não irá coalhar. Assim, você deve deixar de lado todos os outros deveres e sentar-se tranquilo para bater a coalhada. Só então obterá a manteiga.
Depois, meditando em Deus em solidão, a mente adquire conhecimento, desapego e devoção. Porém esta mesma mente descende se reside no mundo. No mundo a só um pensamento: mulher e ouro (luxúria e cobiça). O mundo é água e a mente o leite. Se verter leite dentro da água, eles se unirão, você não conseguirá encontrar o leite puro. Entretanto, é necessário coalhar o leite e batê-lo até convertê-lo em manteiga. Então, quando essa manteiga for colocada na água, ela flutuará. Portanto, pratique a disciplina.
P: Sim, senhor. Acabo de ler um texto em sânscrito intitulado: “Prahdha Chandrodaia”. Fala a respeito do discernimento.
R: Sim, discernimento sobre os objetos. Considere, por exemplo, o que há no dinheiro ou em um corpo belo? Com discernimento você perceberá que até mesmo o corpo de uma mulher bela consiste de ossos, carne, gordura e outros elementos desagradáveis. Por que haveria um homem de abandonar a Deus e dirigir sua atenção a coisas desse tipo? Por que haveria de esquecer de Deus por causa delas?
P: É possível ver a Deus?
R: Sim, seguramente. Vivendo em solidão de vez em quando, repetido o nome de Deus, cantando Suas glórias e discernindo entre o real e o irreal – esses são os meios de utilizados para Vê-Lo.
P: Sob que condição vemos a Deus?
R: Clama ao Senhor com um coração intensamente ardente e seguro que você O verá. As pessoas vertem uma jarra de lágrimas por suas famílias e pelos assuntos mundanos. Nadam em lágrimas por causa de dinheiro. Mas quem chora por Deus? Chame-O com um clamor verdadeiro.



Clama a tua Mãe Shyama com um clamor verdadeiro, ó mente minha!
E como Ela poderá evitar-lhe?
Como pode Shyama não aparecer?
Como pode sua mãe Kali manter-se distante?
Ó mente minha, se você tem fervor, leva para Ela uma oferenda de flores e folhas de hibisco;
Ponha sua oferenda a Seus pés e mistura com ela a pasta perfumada de sândalo do Amor.


O anseio é como a aurora cor de rosa. Após o amanhecer o sol nasce. O anseio é seguido pela visão de Deus.
Deus se revela ao devoto que se sente atraído por Ele com uma força combinada dessas três atrações: a atração que um homem sente pelas posses materiais, a atração de uma mãe por seu filho e a atração de uma mulher casta por seu marido. Se alguém se sente atraído por Ele com uma força comparada à força combinada dessas três atrações, através disso poderá alcançá-Lo.
Em outras palavras, é necessário amar a Deus como uma mãe ama seu filho, como a mulher casta o ama seu marido e um homem mundano ama as riquezas. Junte essas três forças no amor, esses três poderes de atração e entregue-os todos a Deus. Então, certamente você O verá.
Nós precisamos rogar com um coração ardente. O gatinho só sabe chamar sua mãe miando: "Miau, miau!". Ele fica satisfeito em qualquer lugar que sua mãe o coloca. Às vezes a gata pode colocá-lo na cozinha, às vezes no chão e às vezes numa cama. Quando está sofrendo sozinho ele grita: "miau, miau!" Isso é tudo o que ele sabe. Mas quando a mãe ouve este grito, onde quer que seja, ela vem ao seu gatinho.

É muito difícil cumprir com seus deveres no mundo. Se a pessoa gira rápido de mais, fica tonta e desmaia, mas não há tal temor se ela faz isso amarrada a um poste. Cumpra com seus deveres mas não esqueça de Deus. Você poderia perguntar: “Se a vida no mundo é tão difícil, então qual é o caminho?” O caminho é a constante prática.
Em Kamarpukur vi as mulheres das famílias de carpinteiros processarem o arroz na máquina de descascar. Elas estão sempre temerosas que o triturador esmague seus dedos e ao mesmo tempo elas amamentam seus filhos e fazem negócios com os clientes. Uma mulher imoral cumpre seus deveres em casa, mas sua mente o tempo todo permanece em seu amante.
Mas a pessoa necessita de disciplina espiritual para obter tal estado mental, temos de rogar a Deus em solidão de vez em quando. Você pode executar as tarefas mundanas após para conseguir o amor de Deus.
Por que não seria possível levar uma vida espiritual no mundo? Mas é extremamente difícil. Para vir aqui cruzei a ponte de Baghbazar, com quantas correntes ela está sendo sustentada! Nada vai acontecer se uma delas for cortada porque há muitas outras que a manterão firme no lugar. Da mesma forma, há muitos laços em um homem mundano, não há maneira de se livrar de todos eles, exceto pela graça de Deus.

São heróis na verdade, aqueles que podem lembrar de Deus no meio de suas atividade mundanas. São como aqueles que se esforçam para realizar a Deus enquanto carregam pesadas cargas sobre suas cabeças. Tais homens são realmente heróis. Podemos dizer que isso é extremamente difícil. Mas há algo que não possa ser feito, por mais difícil que seja, com a graça de Deus? Sua graça torna possível até o impossível. Se colocamos uma lâmpada num quarto que tem permanecido às escuras durante mil anos, isso ilumina o quarto pouco a pouco? O quarto é iluminado por completo de imediato.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Kabir - Cinco Poemas



O caminho do Bhakti sopra de uma maneira delicada.


Nesse caminho não há pedir e nem não pedir.


O ego simplesmente desaparece no momento que você o toca.


A alegria de olhar para ele é tão imensa


que você simplesmente mergulha e costeia ao redor como um peixe na água.


Se alguém precisa de uma cabeça o amante salta para oferecer a sua.


Os poemas de Kabir tocam os segredos desse Bhakti.




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Vamos partir para o país onde vive o Convidado.


Lá o jarro está repleto de água


mesmo que não seja possível afundá-lo no rio.


Lá os céus estão sempre azuis,


e ainda assim a chuva cai sobre a terra.


Você tem um corpo? Não fique sentado na varanda!


Vá para fora e caminhe na chuva!


A lua do outono flutua no céu todos os meses lá,


E soaria tolo mencionar apenas um sol -


lá a luz vem de vários deles.


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Entre o consciente e o inconsciente, a mente


colocou um balanço:


todas as criaturas, até mesmo as supernovas,


oscilam entre essas duas árvores


e elas nunca cedem.


Anjos, animais, insetos aos milhões,


também o sol e a lua girando,


as eras se vão e isso prossegue.


Tudo está oscilando: céu, terra, água, fogo,


e o secreto lentamente desenvolvendo um corpo.


Kabir viu isso por quinze segundos


e isso tornou-o um servo para toda a vida




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Vastas manadas de leões despercebidas


Igualmente, longas fileiras de cisnes.


Rubis não vêm aos montes.


O asceta caminha pela estrada sozinho.


Não existem florestas só de sândalo.


Alguns oceanos não têm pérolas.


Uma pessoa espiritual é rara neste mundo.


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Por que nós dois jamais iríamos querer nos separar?


Assim com a folha do ruibarbo vive flutuando na água,


vivemos como o grande e o pequeno.




Assim como a coruja abre seus olhos a noite toda para a lua,


vivemos como o grande e o pequeno.




Esse amor entre nós remete aos primeiros seres humanos,


ele não pode ser aniquilado.


Aqui está a idéia de Kabir:


assim como o rio dá a si mesmo para o oceano,


o que está dentro de mim move-se para dentro de você.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Lao Tzu - Tao te Ching - A Nascente Eterna


Quando as pessoas vêem algumas coisas como belas,
outras coisas tornam-se feias.
Quando as pessoas vêem algumas coisas como boas,
outras coisas tornam-se más.

O ser e o não-ser criam um ao outro.
O difícil e o fácil dão suporte um ao outro.
O curto e o longo definem um ao outro.
O superior e o inferior dependem um do outro.
O antes e o depois seguem um ao outro.

Portanto, o Mestre
age sem fazer nada
e ensina sem dizer nada.
As coisas surgem e ele as deixar vir;
As coisas desaparecem e ele as deixa ir.
Ele tem mas não possui,
age mas não cria expectativas.
Quando seu trabalho é concluído, ele o esquece.
É por isso que ele dura para sempre.

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Você pode dissuadir sua mente de seus devaneios
e manter-se com a unicidade original?
Você pode deixar seu corpo maleável
como o de uma criança recém nascida ?
Você pode purificar sua visão interior
até que não veja nada que não seja luz?
Você pode amar as pessoas e guiá-las
sem impor-lhes sua vontade?
Você pode lidar com os assuntos mais vitais
deixando os eventos tomarem seu curso?
Você pode dar um passo atrás de sua própria mente
e assim entender todas as coisas?

Dar à luz e nutrir,
ter sem possuir,
agir sem expectativas,
guiar e não tentar controlar:
essa é a virtude suprema.

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O Tao é chamado de a Grande Mãe:
vazio e ainda assim inexaurível,
ele dá à luz a mundos infinitos.

Está sempre presente dentro de você.
Você pode usá-lo de qualquer maneira que quiser.

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O Tao é como uma nascente:
que é usada mas nunca seca.
É como o vácuo eterno:
preenchido de infinitas possibilidades.

Ele está oculto mas sempre presente.
Não sei quem deu à luz a ele.
Ele é mais antigo que Deus.
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O Tao é infinito, eterno.
Por que ele é eterno?
Ele nunca nasceu,
portanto jamais poderá morrer.
Por que é infinito?
Ele não tem desejos para si próprio,
dessa forma está presente para todos os seres.

O mestre fica atrás,
é por isso que ele está à frente.
Ele é desapegado de todas as coisas,
por isso ele é um com todas elas.
Porque ele abandonou a si mesmo.
Ele é perfeitamente realizado.