quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ramesh S. Balsekar - A natureza da Consciência


Pergunta: Essa 'fonte' da qual você fala, é separada em cada individuo ou é algo que encobre todo mundo?
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Ramesh: É algo que encobre a todos. Está dentro de todos, de todo objeto.
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P: Uma parte é separada e dada para mim e outra parte para outra pessoa?
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R: Não, não. É tudo um. Essa é a totalidade da qual os místicos têm falado a respeito por centenas de anos, e que os cientistas têm falado desde que a mecânica quântica foi desenvolvida. Tudo o que há, é essa totalidade e unidade que não pode ser separada.
A Consciência impessoal é o Shiva ou Atman, ou o Ser, como Ramana Maharshi costumava dizer. E o jiva ou o ser que é o “ser egoísta”, é a consciência identificada. O que Ramana Maharshi costumava dizer é que a Consciência é o oceano todo. A Consciência universal ou o Ser, é o oceano e o jiva ou a consciência identificada é uma bolha. Mas a bolha em si, enquanto permanece uma bolha, está aparentemente separada. Entretanto, o que é a bolha senão água? E quando a bolha estoura, para onde ela vai? Ela se torna o oceano.
Quando a compreensão acontece, não faz diferença quais palavras são usadas ou que mestre as usou. Cada mestre usou palavras diferentes apenas por uma razão: sua audiência era diferente, as circunstâncias diferentes, as pessoas diferentes e os tempos diferentes.
Nisargadatta me disse uma vez e fiquei surpreso quando ele disse: 'Muitos de meus colegas não gostam do que eu digo, pois eu não estou repetindo como um papagaio as palavras que meu guru usava. O que sai de meus lábios é o que você precisa, não o que os meus colegas e eu precisamos.” O que me surpreendeu foi quando ele adicionou: “Quando você falar, o que você dirá não será uma repetição do que eu estive dizendo”. Assim, muitas pessoas que costumavam ir ao Nisargadatta não gostam do que eu digo. Eles falam: “Isso não é o que o Maharaj disse!” É claro que não é o que ele disse!

P: De acordo com o que você diz, a Consciência é todas as coisas.

R: Sim.

P: A Consciência criou o 'eu'?

R: Sim. O 'eu' não é nada além da Consciência. A forma é uma outra questão. Mas o 'eu' ainda é a Consciência que criou a identificação dentro do corpo na forma de um 'eu'.

P: Se o sentido de 'eu' vem da Consciência, a Consciência está ali, não é?

R: Ela está ali. Ela está aqui, e estará aqui mesmo quando este organismo corpo-mente não estiver aqui. Esse é o ponto. É por isso que a questão básica do Zen é: “Qual era a sua face original? Qual era a sua natureza real antes de os seus pais nascerem?” Sua natureza verdadeira não começou com o seu nascimento e não irá perecer com a morte do corpo.

P: No livro 'Antes da Consciência', Nisargadatta Maharaj diz: “a Consciência é tudo o que há”. Ele diz isso uma porção de vezes, mas às vezes ele fala da Consciência de uma maneira negativa, que deveríamos ir antes da Consciência. Ele fala dela de duas maneiras diferentes, como o Absoluto e como algo que está nos impedindo. Ele sugere que temos de ir além da Consciência. Eu não entendo.

R: A Consciência, quando ele fala dela como um obstáculo, é a Consciência identificada. Antes da Consciência é a Consciência-em-repouso, que é a nossa natureza real. Então ele fala sobre o 'numenal' e o fenomenal. Na fenomenalidade, este sentido de presença é o estado desperto, e é quando sua mente está ativa. Então o sentido de presença que ele considera ser uma obstrução, é o sentido de presença no estado desperto, que implica a contínua conceitualização da mente. A mente não conceitualiza, não pode conceitualizar no sono profundo, porque o sentido de presença está ausente. No 'Antes da Consciência', o que ele fala a respeito, é a ausência de ambos, a presença do sentido de presença e da ausência do sentido de presença onde a questão da Consciência não surge de maneira alguma. Pois no estado de repouso, a Consciência nem mesmo está ciente de si mesma.

P: Por que ela não está ciente de si mesma?

R: Porque não existe 'outro' (algo separado) para estar ciente.

P: Então, o antes da Consciência é a Consciência-em-repouso? E não significa a ausência dela. Não é apenas a pura Consciência?

R: É a pura Consciência. Esse estado não está negando a Consciência. Ele nega essa alternância da presença e da ausência da Consciência que ocorre apenas na fenomenalidade, portanto está negando a própria fenomenalidade.

P: Quem é que faz essa negação da fenomenalidade?

R: É a mente. Portanto, a Realidade última só pode existir quando ocorre a negação do próprio negador. Quando a própria mente é negada, não há nenhuma 'pessoa' para negar. Não há nenhuma 'pessoa' para pensar sobre um conceito a respeito da realidade. Esse é um estado onde nenhum conceito é possível.

P: Essa é a pura Consciência?

R: Sim, você pode chamá-la de pura Consciência, Consciência-em-repouso.

P: Anterior à consciência identificada?

R: Contanto que você a entenda, não há necessidade de nenhuma palavra.

P: Ela também é impura?

R: A partir do momento em que você a nomeia pura Consciência, ela fica impura.

P: Você diz que isto é “tudo um mundo de sonhos, uma ilusão”, e que nós criamos toda manifestação. Ao mesmo tempo você diz que para que a mente e a Consciência possam aparecer, tem de haver um corpo. O que vem primeiro, o corpo ou a Consciência?

R: Tudo o que existe é a consciência. Naquele estado original chame-o de realidade, chame-o de absoluto, chame-o de um nada, naquele estado não havia razão de estar ciente de nada. Assim a Consciência-em-repouso não estava ciente de si mesma. Ela tornou-se ciente de si mesma apenas quando esse repentino sentimento 'Eu Sou' surgiu. O 'Eu Sou' é o sentimento impessoal de estar ciente. E foi aí que a Consciência-em-repouso tornou-se Consciência-em-movimento, quando a energia potencial tornou-se energia de fato. Elas não são duas. Nada separado sai da energia potencial.
A Consciência-em-movimento não está separada da Consciência-em-repouso. A Consciência-em-repouso torna-se a Consciência-em-movimento, e esse momento que a ciência chama de Big Bang o místico chama de o repentino surgimento da consciência (awareness).

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